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Este curso traz os aspectos essenciais dos rastreamentos (screenings, também conhecidos como check-ups), uma forma de prevenção cada vez mais utilizada na atenção primária à saúde (APS) e apresenta as melhores evidências e práticas para que o profissional da saúde possa recomendar (e também deixar de recomendar) rastreamentos para seus pacientes, adultos e crianças, nas mais variadas situações.
Tipologia: Resumos
Oferta por tempo limitado
Compartilhado em 03/10/2019
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F l o r i a n ó p o l i s , S C U F S C 2 0 1 7
que podem causar mais mal do que bem. A P4 é muito importante no caso do manejo das recomendações e das demandas por rastreamentos. Esperamos que você possa usufruir deste módulo, aprimorar a sua prática profissional e adquirir mais clareza, segurança e competência para manejar as situações e pressões cada vez mais frequentes na APS em que ações preventivas, e particularmente os rastreamentos, estão envolvidos.
Ronaldo Zonta Armando Henrique Norman Charles Dalcanale Tesser Marina P. Galhardi Nuno de Mattos Capeletti
preventivos. Entretanto, neste módulo você vai entender que os rastreamentos são uma forma particularmente problemática e complexa de ação preventiva que exige muito cuidado na sua recomendação, tanto por parte dos gestores do sistema como dos profissionais da APS. Embora os rastreamentos tenham o potencial de produzir benefícios às pessoas e à coletividade - e pareçam ser simples de implementar, devido ao aspecto protocolar de suas recomendações - a maioria deles tende a produzir danos. Entender esses danos, muitos deles difíceis de serem reconhecidos pelos usuários e por você profissional de saúde, é um pré-requisito para que se possa evitar ao máximo situações e práticas que facilitam sua ocorrência. Isso requer uma mudança de atitude para a prática da prevenção quaternária (P4), que tem por objetivo evitar o excesso de intervenções
Caro aluno,
Seja bem-vindo!
Este módulo apresenta e discute aspectos
essenciais dos rastreamentos ou screenings,
também conhecidos como check-ups,
uma forma de prevenção cada vez mais
utilizada na atenção primária à saúde (APS).
Além disso, você irá conhecer as melhores
evidências e práticas para recomendar
(e também deixar de recomendar)
rastreamentos para seus pacientes adultos
e crianças nas mais variadas situações,
assim como refletir sobre a organização do
processo de trabalho para melhor atender
essas demandas.
A existência de algumas diretrizes oficiais
que mencionam a prevenção como prioritária
na APS tende a construir uma cultura
acrítica que supervaloriza ações e cuidados
literatura científica a partir dos conceitos da epidemiologia clínica e medicina baseada em evidências.
rastreamento, check-up, detecção precoce e prevenção quaternária.
rastreamento na população.
realização de todo escopo de estratégias de rastreamento e a organização do processo de trabalho na atenção primária.
Esta unidade apresenta e discute aspectos
essenciais dos rastreamentos ou screenings,
também conhecidos como check-ups, uma
forma de prevenção cada vez mais utilizada na
atenção primária à saúde (APS). A existência
de algumas diretrizes oficiais que mencionam
a prevenção como prioritária nesse ambiente
de saúde tende a construir uma cultura
acrítica que supervaloriza ações e cuidados
preventivos. Entretanto, nesta unidade você vai
entender que os rastreamentos são uma forma
particularmente problemática e complexa de
ação preventiva que exige muito cuidado na sua
recomendação, tanto por parte dos gestores do
sistema como dos profissionais da APS.
Embora os rastreamentos tenham o
potencial de produzir benefícios às pessoas
e à coletividade – e pareçam ser simples de
implementar, devido ao aspecto protocolar
de suas recomendações – a maioria deles
tende a produzir danos.
Figura 1 – Rastreamento: como proceder adequadamente?
Entender esses danos, muitos deles difíceis de serem reconhecidos pelos usuários e por você, profissional da saúde, é um prerrequisito para que se possa evitar ao máximo situações e práticas que facilitam sua ocorrência. Isso requer uma mudança atitudinal para a prática da prevenção quaternária (P4), que tem por objetivo evitar o excesso de intervenções que possam causar mais mal do que bem. A P4 é muito importante
significa peneirar. Os orifícios da tela da
peneira têm relação com as características
operativas de cada exame de rastreamento,
isto é: sensibilidade e especificidade.
A sensibilidade é a capacidade de um exame
ser positivo quando testado entre as pessoas
previamente doentes (verdadeiros positivos).
Um teste com sensibilidade de 90% significa
que 10% dos casos serão falsos negativos
(pessoas com a patologia, porém com exame
negativo). Desse modo, um exame com grande
sensibilidade é importante para detectar o maior
número possível de indivíduos com a patologia.
Na prática, um exame altamente sensível,
quando negativo, descarta a patologia rastreada.
A especificidade é a capacidade de um
exame ser negativo quando testado entre as
pessoas previamente sadias (verdadeiros
negativos). Especificidade de 90% significa que
10% dos casos serão falsos-positivos (exames
positivos sem a patologia presente). Um exame
com grande especificidade é importante para excluir dos resultados positivos as pessoas saudáveis. Na prática, um exame altamente específico quando positivo é útil para confirmar a patologia rastreada. Especificidade e sensibilidade nunca são 100%, logo há sempre margem de erro. Além do mais, o entendimento do rastreamento enquanto peneiramento distancia essa atividade do pensamento de que rastrear é igual a diagnosticar. Aplicar testes de rastreamento significa apenas a fase inicial de peneiramento de um grupo populacional que deverá ser submetido a outras etapas para receber o diagnóstico final e o respectivo tratamento, se cabível, envolvendo todas as possibilidades, falhas e danos possíveis decorrentes do processo. A figura a seguir sintetiza a dinâmica e o fluxo cíclico dos rastreamentos, com as situações possíveis deles decorrentes: a) rastreamento negativos (bonecos verdes
que passam pela peneira); b) situações limítrofes, que requerem monitoramento mais de perto e comum repetição mais frequente do rastreamento (boneco marcado com retângulo roxo); c) pessoas com rastreamento negativo que adoecem (situação do falso negativo e dos que adoecem entre um rastreamento e outro (boneco marcado em vermelho); d) rastreamento positivo (bonecos laranjas, que são submetidos a testes adicionais
Figura 2 – Dinâmica dos processos de rastreamento
Limítrofe: monitoramento
Teste negativo: desenvolveu a doença (possível falso negativo ou patologia mais agressiva que se desenvolveu no período inter-rastreamento)
teste positivo mais testes
Condições limítrofes: seguimento e suporte
Confirmado o diagnóstico: tratamento
Confirmação negativa (falso- positivo)
Teste negativo: fazer periodica- mente enquanto indicado
Os programas “não organizados”, também chamados de
rastreamento oportunístico, carecem de processos avaliativos bem
estruturados de cada etapa e de seguimento dos pacientes desde
a fase inicial do rastreamento (convite) até as fases de diagnóstico
e tratamento da patologia em questão. Assim, os programas não
organizados de rastreamento têm potencial iatrogênico maior quando
comparados com os programas organizados (BRASIL, 2010).
de forma oportunística (por livre procura do paciente ou por indicação pelo profissional durante uma consulta qualquer), sem um programa adequado e organizado de garantia de qualidade. Isso leva a uma falta de controle de qualidade em relação às indicações dos testes, ao modo de rastrear, ao acesso rápido ao exame de rastreio, à complementação diagnóstica e ao tratamento. Isso pode fazer com que mesmo os rastreamentos cujas recomendações sejam bem fundamentadas passem a causar mais danos que benéficos. Para você entender a complexidade e as consequências do rastreamento nos programas organizados e nas práticas oportunísticas, vamos dar um passo atrás e fazer uma breve revisão sobre conceitos e classificações de ações preventivas e suas características e relações.
Prevenir significa, grosso modo, agir ou comportar-se no presente para evitar eventos indesejáveis no futuro. No caso do binômio saúde-doença, pretende-se impedir adoecimentos, suas consequências/complicações e mortes evitáveis. São quatro as classificações das ações preventivas que merecem ser conhecidas pelos profissionais da APS:
No Brasil, na grande maioria das vezes realizamos rastreamento
A prevenção primária é a ação preventiva
que ocorre antes do adoecimento e visa evitá-
lo ou atenuá-lo (LEAVELL; CLARK, 1976).
Alguns exemplos típicos são as vacinações,
escovar os dentes, fluoretar a água potável.
A prevenção secundária visa detectar o
adoecimento precocemente para tratá-lo com
cura, sobrevida e/ou qualidade de vida para o indivíduo (BRASIL, 2010). Atualmente, todavia, tem-se preferido cada vez mais falar em ‘diagnóstico oportuno’ em vez de detecção precoce, porque a diagnose precoce nem sempre é vantajosa para o paciente. Diagnóstico oportuno implica uma abordagem mais centrada na pessoa, no seu cuidado ao longo do tempo, visando benefícios e evitando danos. O processo de diagnóstico é uma ponderação de muitos fatores diferentes, variando entre pacientes e dependendo das suas singularidades. Frequentemente o diagnóstico não é um evento único, mas um processo em evolução, que deve viabilizar diagnose no momento certo para o paciente em particular em circunstâncias específicas. Portanto, é algo bem diferente do significado de diagnóstico precoce em geral e no sentido cronológico. Infelizmente, os dois termos frequentemente são usados
mais efetividade, maior brevidade, menor sofrimento e menores danos. Os protótipos da prevenção secundária são os rastreamentos e o diagnóstico (ou detecção) precoce. Este último visa fomentar a conscientização e a percepção precoce dos sinais de problemas de saúde entre usuários e profissionais. Seu pressuposto é de que a detecção de doenças em fase inicial oferece maiores chances de
CLARK, 1976). Por exemplo: reabilitar um
paciente com sequelas de acidente vascular
cerebral. A prevenção terciária se confunde
com o próprio cuidado clínico aos já adoecidos.
A prevenção quaternária (P4) é a ação visando
evitar danos iatrogênicos e medicalização
excessiva decorrentes do intervencionismo
biomédico, oferecendo alternativas eticamente
aceitáveis a esses pacientes. A P4 surgiu no final
do século XX na APS europeia e incide sobre a
atividade clínica e sanitária, incluindo os outros
níveis de prevenção (JAMOULLE, 2015). Ela diz
respeito à necessária autocontenção criteriosa
da ação profissional e institucional cujo potencial
de danos é sabidamente grande. Um exemplo de
ação de P4, tanto pelos profissionais como pelas
instituições de saúde, seria o desencorajamento
do rastreamento generalizado do câncer de
próstata na população masculina por meio
da dosagem de PSA (antígeno prostático
específico) e/ou toque retal (USPSTF, 2016).
Os níveis de prevenção de Leavell e Clark foram pensados unicamente a partir do saber médico clínico-epidemiológico, orientado pelo modelo da história natural das doenças, hoje sabidamente problemático. Por exemplo, duas situações questionam o modelo de história natural.
A P4 vem se tornando cada vez mais importante, devido ao grande poder de intervenção e de danos da ação clínico-sanitária, preventiva e curativa. Para os profissionais de saúde, ela demanda um grande aperfeiçoamento de habilidades de comunicação, de construção de vínculo e de capacidade de compar- tilhar decisões e informações com palavras simples acessíveis aos usuários. Por outro lado, exige uma renovada capacidade de crítica e de atualização téc- nica, hoje facilitada pela internet, sobretudo quanto às ações preventivas, como é o caso dos rastreamentos.
Aprenda mais sobre a prevenção quaternária, lendo os seguintes artigos: “Prevenção quaternária na atenção primária à saúde: uma necessidade do Sistema Único de Saúde”, disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/csp/v25n9/15.pdf, e “Prevenção Quaternária para a humanização da Atenção Primária à Saúde”, disponível em http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/artigos/mundo_saude/prevencao_quaternaria_ humanizacao_atencao_primaria.pdf.
História natural: questionamentos
incidentalomas
sobrediagnósticos
Acompanhe em detalhe:
sobretudo em exames de imagem de alta resolução, que em aproximadamente 80% das vezes não têm consequências clínicas (MARIÑO, 2015);
(inclusive câncer) que não teriam repercussão na vida da pessoa, mas que geram tratamentos, devido à impossibilidade de distinção entre casos que evoluiriam para uma doença clinicamente manifesta e aqueles que permaneceriam em estado de “latência” (TESSER; D’ÁVILA, 2016). Tais exemplos, cada vez mais comuns, são potenciais geradores de significativos danos iatrogênicos e de medicalização excessiva, devido às suas múltiplas cascatas de intervenções. Eles demandam fortemente P4.
A prevenção redutiva é a ação que diminui riscos e exposições
(já aumentados) decorrentes dos modos de vida modernos,
urbanos e industrializados, coletivos e/ou individuais. Trata-se
de reduzir a exposição aos produtos químicos na alimentação, o
multiprocessamento dos alimentos, o sedentarismo da vida urbana,
os riscos e a contaminação química tóxica ambiental e ocupacional,
a privação e a iniquidade socioeconômicas (hoje, sabidamente, um
risco e um determinante geral para a saúde-doença), o estresse, a privação do sono, o cansaço excessivo, o excesso de bebidas alcoólicas, o tabagismo, a obesidade etc.
Figura 4 – Prevenção: vida saudável
Exemplos de prevenção redutiva: estimular a mobilidade sustentável que implique em atividade física rotineira, orientar individualmente (e fomentar/viabilizar social e economicamente) uma alimentação diversificada sem agrotóxicos e com o mínimo de multiprocessamento industrial, aconselhar individualmente a redução do excesso de bebidas alcoólicas e proibir sua propaganda em