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Guias e Dicas
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Terapia Ocupacional em Neonatologia em São Paulo, Teses (TCC) de Terapia ocupacional

Tese sobre TOS nas unidades de terapia intensiva neonatal

Tipologia: Teses (TCC)

2020

Compartilhado em 24/01/2020

raqueli-b-viecili-3
raqueli-b-viecili-3 🇧🇷

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CATIA MARI MATSUO
Terapia Ocupacional e a produção de cuidado
em uma unidade de cuidados intermediários neonatais
no município de São Paulo
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo para obtenção do
título de Mestre em Ciências
Programa de Ciências da Reabilitação
Área de concentração: Intervenção Social em
Terapia Ocupacional
Orientadora: Profª. Drª. Sandra Maria Galheigo
São Paulo
2016
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Baixe Terapia Ocupacional em Neonatologia em São Paulo e outras Teses (TCC) em PDF para Terapia ocupacional, somente na Docsity!

CATIA MARI MATSUO

Terapia Ocupacional e a produção de cuidado

em uma unidade de cuidados intermediários neonatais

no município de São Paulo

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Ciências da Reabilitação Área de concentração: Intervenção Social em Terapia Ocupacional Orientadora: Profª. Drª. Sandra Maria Galheigo

São Paulo

CATIA MARI MATSUO

Terapia Ocupacional e a produção de cuidado

em uma unidade de cuidados intermediários neonatais

no município de São Paulo

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa de Ciências da Reabilitação Orientadora: Profª. Drª. Sandra Maria Galheigo

São Paulo

Ao meu esposo, Alex, o companheiro-mor nesta jornada para além de qualquer espaço e tempo... Ao meu veterano, seu segundo mestrado em Ciências! Às nossas famílias, das quais se originou o prazer de estudar, que compreenderam e apoiaram as minhas ausências, porque eu precisava me dedicar ao mestrado... Aos bebês, que desde o início da existência lutam pela sua vida... e para aqueles que só permanecem no coração...

Agradecimentos

Como resultado de um projeto coletivo, agradeço por todas as pessoas que passaram pela minha vida e impulsionaram cada passo necessário para seguir esta trajetória do mestrado. À querida e admirada orientadora, profa. Dra. Sandra Maria Galheigo, pela coautoria deste percurso desde o vir-a-ser mestranda. Ao demonstrar com gestos e compartilhar generosamente seus conhecimentos, mostrou como vivenciar a academia de uma maneira humanamente possível, numa solidariedade que transcendia os motivos acadêmicos, entre uma xícara de chá e outra. Às professoras Eliane Dias de Castro, Erika da Silva Dittz, Eucenir Fredini Rocha pelas valiosas contribuições trazidas durante o exame de qualificação, as quais expandiram as possibilidades da construção deste trabalho. Às professoras Marisa Takatori, Solange Tedesco, Fernanda G. Moreira, Kelsy Areco e Eli, pelos encontros pré-acadêmicos e o apoio ao ingresso do mestrado. Às queridas Aline, Priscila, Rejane, Tâmara e Larissa, minhas irmãzinhas em mestrado, por todo o apoio e pelo enriquecimento teórico-conceitual, e existencial, pelos cuidados singulares umas com as outras e as extensas risadas. Às queridas Mayu, Patty, Dri, Jey, Lissa, Bu e Lu; às “Surpreendentes”, Mirela, Midori e Ayu; aos queridos Jaq e Cassi, Julinda, Ti e Artur, pela amizade duradoura, mesmo que à distância. À querida Mayuri Hassano, fiel escudeira como Sancho. Aos bebês e famílias atendidos, pela confiança do cuidado e pelo aprimoramento profissional, pessoal e humano. Ao Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, o Leonor, especialmente, à equipe multiprofissional, por compartilhar o cotidiano de trabalho durante os anos em que fui funcionária, e pelas colaborações nesta pesquisa. “Gracias a la vida que me ha dado tanto”... (Mercedez Sosa)

Folha de aprovação

Matsuo CM. Terapia Ocupacional e a produção de cuidado em uma unidade de

cuidados intermediários neonatais no município de São Paulo. Dissertação

apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Mestre em Ciências.

Aprovada em: //_____

Banca Examinadora

Prof(a) Dr(a).: Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Prof(a) Dr(a). : Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Prof(a) Dr(a).: Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Prof(a) Dr(a). :

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Sumário

  • I. APRESENTAÇÃO...................................................................................................
  • II. NORTEADORES POLÍTICOS E TEÓRICO-CONCEITUAIS DA PESQUISA
    • 2.1. POLÍTICAS DIRIGIDAS À SAÚDE MATERNA E INFANTIL E ÀS AÇÕES EM NEONATOLOGIA
      • 2.1.1. Políticas de atenção à saúde materna e infantil: um recorte histórico
      • Ocupacional 2.1.2. O Sistema Único de Saúde, os programas de saúde materna e infantil e a inserção da Terapia
    • NEONATOLOGIA 2.2. APORTES TEÓRICOS E CONCEITUAIS PARA A ATUAÇÃO HUMANIZADA E INTEGRAL EM
      • 2.2.1. As necessidades sociais e de saúde enquanto norteadoras do cuidado
      • 2.2.2. A integralidade enquanto imagem-objetivo da atenção em saúde
      • 2.2.3. A humanização do cuidado enquanto qualificação da atenção em saúde
  • INTEGRATIVA DA LITERATURA III. TERAPIA OCUPACIONAL EM UNIDADES DE NEONATOLOGIA: UMA REVISÃO
    • 3 .1. METODOLOGIA DA REVISÃO DE LITERATURA
    • 3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
      • 3.2.1. Caracterização da produção
      • 3.2.2. Conteúdo dos artigos: apresentação e discussão
      • 3.2.2.1. A intervenção da Terapia Ocupacional junto ao neonato
      • 3.2.2.2. A intervenção da Terapia Ocupacional junto à família
      • plena 3.2.2.3. O papel da Terapia Ocupacional em neonatologia: sínteses e diretrizes para a intervenção
      • 3.2.2.4. Capacitação do terapeuta ocupacional para o trabalho em neonatologia
      • 3.2.3. Considerações finais da revisão integrativa da literatura
  • IV. OBJETIVOS
  • V. METODOLOGIA
  • VI. RESULTADOS E DISCUSSÃO
    • UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS COMUM E O SERVIÇO DE TERAPIA OCUPACIONAL 6 .1. CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO: O HOSPITAL MATERNIDADE LEONOR MENDES DE BARROS, A
      • 6 .1.1. Caracterização do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros
      • 6.1.2. Caracterização da Unidade de Cuidados Intermediários Comum
      • Maternidade Leonor Mendes de Barros 6.1.3. Caracterização do serviço e o cotidiano de atendimento de Terapia Ocupacional no Hospital
      • 6.1.3.1. Aspectos históricos
      • Mendes de Barros 6.1.3.2. Funcionamento do Setor de Terapia Ocupacional no Hospital Maternidade Leonor

LISTA DE ACRÔNIMOS E SIGLAS

AC (^) Alojamento conjunto AIDPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância AIS (^) Ações Integradas de Saúde AME Aleitamento materno exclusivo BLH Banco de Leite Humano BP (^) Baixo peso CLT Consolidação das Leis do Trabalho CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde CNS (^) Conferência Nacional de Saúde COFFITO Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional CPMI Coordenação de Proteção Materno-Infantil CPN Centro de Parto Normal DAMI Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância DATASUS Departamento de Informática do SUS DINSAM Divisão de Saúde Materno-Infantil DNCr Departamento Nacional da Criança DNS Departamento Nacional de Saúde EBP Extremo baixo peso ECA Estatuto da Criança e do Adolescente ESF (^) Estratégia Saúde da Família HMLMB Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros HumanizaSUS Política Nacional de Humanização do SUS IHAC (^) Iniciativa Hospital Amigo da Criança IHI Seção de Higiene Infantil e Assistência à Infância INPS Instituto Nacional de Previdência Social INSS (^) Instituto Nacional do Seguro Social IRA Programa de Assistência e Controle das Infecções Respiratórias Agudas LBA (^) Legião Brasileira de Assistência LOPS Lei Orgânica da Previdência Social MBP Muito baixo peso NAMPS (^) Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social NIR Núcleo Integrado de Reabilitação NOB Normas Operacionais Básicas ONU (^) Organização das Nações Unidas OPAS Organização Pan-americana de Saúde OSS Organização Social de Saúde PACD (^) Programa de Acompanhamento ao Crescimento e Desenvolvimento PAISC Programa de Assistência Integral à Criança PAISM Programa de Assistência Integrada da Saúde da Mulher PAS (^) Plano de Atenção à Saúde PIAM Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno e Orientações para o Desmame PND Plano Nacional de Desenvolvimento PNH Política Nacional de Humanização PNHAH Programa Nacional de Humanização do Atendimento Hospitalar PNI Programa Nacional de Imunização PNPHN Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento PSF Programa de Saúde da Família PTS Projeto Terapêutico Singular RN Recém-nascido

RNPT Recém-nascido pré-termo ROP (^) Retinopatia da prematuridade SAMU Serviço de Ambulância Móvel Unificado SES Secretaria de Estado da Saúde SINPAS (^) Sistema Nacional de Previdência Social SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SM Seio materno SMLD Seio materno livre demanda SNN Sucção não nutritiva SNPES/MS Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde SNS Sistema Nacional de Saúde SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS Sistema Único de Saúde TANU Triagem auditiva neonatal universal TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TO (^) Terapia Ocupacional TRO Programa de Assistência e Controle das Doenças Diarreicas UBS Unidade Básica de Saúde UCINCa (^) Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru UCINCo Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UTIN (^) Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Fluxograma da seleção de artigos e outras produções para a revisão integrativa de literatura

Figura 2 Comparação entre número de publicações por países no período de 1986 a 2016.

Figura 3 Distribuição da produção das três maiores pesquisadoras em neonatologia brasileiras no período de 1986 a 2016.

Figura 4 Categorização por tipo de produção dividido por países de afiliação dos autores (1986 a 2016)

Figura 5 Distribuição dos tipos de produção das três maiores pesquisadoras de neonatologia brasileiras (1986 a 2016)

Figura 6 Categorização da produção por temas por país de afiliação dos autores (1986 a 2016)

Figura 7 Número de pacientes atendidos, atendimentos realizados e procedimentos realizados por mês na UCINCo (julho de 2013 a junho de 2014).

Figura 8 Distribuição dos procedimentos realizados na UCINCo, a partir da análise da estatística do setor de TO (julho de 2013 a junho)

Figura 9 Proposta de atuação da Terapia Ocupacional em uma UCINCo: um modelo integrativo da Terapia Ocupacional junto a neonatos hospitalizados, a partir da perspectiva da integralidade e da humanização do cuidado

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Características descritivas dos artigos incluídos na revisão da literatura: terapia ocupacional e neonatologia (1986-2014)

Quadro 2 Uma semana típica de trabalho da terapeuta ocupacional no HMLMB

Quadro 3 Caracterização da clientela da UCINCo, a partir da observação sistemática

Quadro 4 Caracterização do atendimento do setor de Terapia Ocupacional na UCINCo, conforme análise de prontuários do setor

Quadro 5 Caracterização do trabalho em equipe, a partir de análise documental do setor de Terapia Ocupacional e da semana típica de trabalho

Quadro 6 Profissionais entrevistados renomeados 105 Quadro 7 Percepções da equipe sobre o trabalho da TO na UCINCo 106

a prática da Terapia Ocupacional em uma UCINCo e sistematizar a produção do cuidado oferecida, a partir de uma perspectiva da integralidade e da humanização do cuidado em diálogo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. Descritores : terapia ocupacional; serviço hospitalar de terapia ocupacional; recém-nascido; terapia intensiva neonatal; cuidados integrais de saúde; humanização da assistência

Matsuo CM. Occupational therapy and the production of care in a special care

neonatal unit in the city of São Paulo. [Dissertation]. São Paulo: “Faculdade de

Medicina, Universidade de São Paulo”; 2016.

The practice of Occupational Therapy in neonatal units is a field still expanding. Although a practice has existed in Brazil for more than three decades, the occupational therapist is still not recognized as a member of the essential team of neonatal units. The Brazilian scientific production in the field is still incipient and dialogues a little with the principles and guidelines of the Unified Health System. The objective of this research is to study the Occupational Therapy practice in special care neonatal unit (SCNU) and to carry out notes and proposals for comprehensive and humanized care. This is a qualitative study with a case study design on an Occupational Therapy intervention in a public maternity hospital in the city of São Paulo. The study comprises three stages that make use of different methodological resources, namely: (i) Characterization of the hospital, the SCNU and the Occupational Therapy Service, through documentary analysis, systematic observation and reflexive journal; (ii) Study of the perception of health professionals about the role of occupational therapist in the SCNU, by means of semi-structured interviews; (iii) Study of the Occupational Therapy practice with babies and their families, based on three case studies with health needs of different complexities, by documentary analysis of medical records. The theoretical frameworks guiding the case study derived from Collective Health and the integrative literature review on Neonatal Occupational Therapy. The results were written in two stages: presentation and discussion of the field work, plus a reflection on a practice, correlating its challenges, potentials and obstacles; presentation of an integrative model for Occupational Therapy practice in a SCNU, from the understanding of the care needs and the construction of a unique therapeutic project for three neonates with different social and health complexity conditions. The proposed integrative model consists of three axes that articulate each other to meet the social and health needs of hospitalized neonates and their families, situated at the interface between the hospital and social contexts. The first axis focuses the care of the hospitalized neonate, via promoting self-organization, development, and environment adjustments. The second axis focuses on issues regarding the mother / family of the neonate, seen as either as subject or mediators of care, to whom listening, holding, intervention and guidance for the care of the baby are offered. Axis 3 concentrates the construction of the healthcare network during hospitalization and post- discharge. The purpose of this study was to systematize a production of Occupational Therapy care in neonatal units, from a perspective of comprehensive and humanized care in a dialogue with the principles and guidelines of the Unified Health System. Descriptors : occupational therapy; occupational therapy department, hospital; newborn; intensive care, neonatal; comprehensive health care; humanization of assistance.

I. APRESENTAÇÃO

Trabalhar em uma maternidade, para olhares leigos ou superficiais, pode

transmitir uma ideia de tranquilidade e trazer a visão de que se está em um ambiente

envolvido pela alegria do nascer, do dar à luz a vida e propício para receber um novo

membro da sociedade. Porém, a realidade de uma maternidade pública que atende

gestantes de alto risco é permeada por expectativas, inquietações, ansiedades vividas

por muitas mulheres (Shimizu et al., 2011). O sofrimento materno ocorre na

ambivalência dos sentimentos em relação ao nascimento do filho, pelo desejo que a

criança seja saudável e pelo temor do nascimento de um bebê doente ou com

malformação (Dittz et al., 2006). O cotidiano destas mulheres é atravessado por

angústias diante do risco da perda ou da vivência de uma gestação desejada que é

interrompida por um parto prematuro, um aborto ou óbito fetal, por uma gestação

conscientemente não planejada e/ou indesejada com a qual não se sabe como lidar,

e ainda, pela situação de vulnerabilidade física, psíquica e social em que muitas

dessas mulheres se encontram (Shimizu et al., 2011).

Uma importante ruptura ocorre, além da separação concreta do cordão

umbilical pelo nascimento do bebê: a puérpera, mulher que acabou de dar à luz,

recebe a alta hospitalar, mas seu bebê permanece internado. Na fragilidade emocional

da separação à dor física decorrente do parto, estas mulheres que retornaram a sua

casa levam consigo o vazio do ventre e a intermitente preocupação com o bebê que

deixaram no hospital.

Os bebês, separados de suas mães logo após o nascimento, podem

experimentar essa ausência prolongada de maneira ainda mais intensa. Alguns dos

neonatos são imediatamente encaminhados da sala de parto para a unidade de

terapia intensiva neonatal (UTIN) ou para a unidade de cuidados intermediários

neonatais comum (UCINCo) para que uma equipe especializada dê continuidade ao

atendimento do recém-nascido (RN).

Daí se inicia uma nova rotina em que, embora busque responder às

necessidades de sobrevida do RN, não permite, na maior parte das vezes, que se

faça a transição entre a vida intrauterina e a imersão no ar ambiente de maneira

tranquila, especialmente na descoberta das sensações físicas que se misturam com

a de desamparo e desalento pela ausência materna prolongada. Diariamente, a

existência imprime marcas na pele, nos sentidos e no vir-a-ser deste bebê.

O nascimento prematuro de um bebê traz consigo necessidades de saúde

específicas. Em sua tese de doutorado, Meyerhof (1996) discute sobre a

especificidade do organismo de um bebê pré-termo, o modo como ele funciona e que

a questão da sua sobrevivência se tornou possível devido aos avanços do campo da

neonatologia. Há um importante risco de que este neonato venha a ter consequências

no desenvolvimento neurológico subsequente (Brazelton, 1984), sendo que, apesar

dos avanços tecnológicos e científicos, cerca de 25% dos bebês que requerem

assistência neonatal intensiva são estimados como tendo alto risco em relação a

comprometimentos neurológicos ou atraso de desenvolvimento (Als, 1986). Drillien et

al.(1980) apontam que metade dos neonatos pré-termo e pequenos para a idade

gestacional teriam alguma dificuldade na aprendizagem.

Os neonatos internados na unidade neonatal podem receber a visita dos pais

e este contato é encorajado. É o momento em que alguns dos genitores “marinheiros

de primeira viagem” experimentam a construção do papel parental e se apropriam dos

cuidados do seu bebê. Mesmo aqueles que já tiveram outros filhos e que não

precisaram permanecer internados após o nascimento, sofrem uma importante

ruptura do cotidiano familiar, pois é sabido que a separação prolongada entre mãe e

bebê e o período de internação hospitalar prolongada do RN na unidade neonatal,

especialmente na UTIN, pode acarretar dificuldades para que se estabeleça o vínculo

afetivo da mãe com seu bebê (Arbaitman, 1995). Ao mesmo tempo, não poder

aconchegar o bebê no colo pode ser uma experiência muito frustrante para a mãe

(Gurgel; Rolim, 2005).

Na primeira visita nas unidades neonatais, o ambiente de uma UTIN, por

exemplo, pode parecer ameaçador aos pais. Porém, se as equipes multiprofissionais

dos setores criarem mecanismos para o acolhimento dos genitores, existe maior

possibilidade de amparo, especialmente para a puérpera, a qual, muitas vezes,

também está convalescendo do parto (Gurgel; Rolim, 2005).

O nascimento de um filho prematuro ou a sua hospitalização podem provocar

uma ruptura do cotidiano familiar, o que se configura como uma situação de crise