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Guias e Dicas
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Psicologia do desenvolvimento - Adolescência Santrock cap 1,2,3,4, Traduções de Psicologia Cognitiva

Livro de desenvolvimento humano , cap 1 , 2 , 3 , 4

Tipologia: Traduções

2019
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Compartilhado em 16/11/2019

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beatriz-anjos-9 🇧🇷

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Perspectiva histórica
Objetivo de aprendizagem 1 Descrever a perspectiva
histórica da adolescência.
História inicial
Os séculos XX e XXI
Estereotipação dos adolescentes
Uma visão positiva da adolescência
Os adolescentes pelo mundo
Objetivo de aprendizagem 2 Discutir os adolescentes
pelo mundo.
A perspectiva global
A natureza do desenvolvimento
Objetivo de aprendizagem 3 Resumir
processos, períodos, transições e questões sobre o
desenvolvimento relacionados à adolescência.
Processos e períodos
Transições no desenvolvimento
Questões sobre o desenvolvimento
A ciência do desenvolvimento
adolescente
Objetivo de aprendizagem 4 Caracterizar a ciência do
desenvolvimento adolescente.
Ciência e método científico
Teorias do desenvolvimento adolescente
Pesquisa do desenvolvimento adolescente
capítulo 1 INTRODUÇÃO
esboço do capítulo
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Perspectiva histórica

Objetivo de aprendizagem 1 Descrever a perspectiva histórica da adolescência.

História inicial Os séculos XX e XXI Estereotipação dos adolescentes Uma visão positiva da adolescência

Os adolescentes pelo mundo

Objetivo de aprendizagem 2 Discutir os adolescentes pelo mundo. A perspectiva global

A natureza do desenvolvimento

Objetivo de aprendizagem 3 Resumir processos, períodos, transições e questões sobre o desenvolvimento relacionados à adolescência.

Processos e períodos Transições no desenvolvimento Questões sobre o desenvolvimento

A ciência do desenvolvimento

adolescente

Objetivo de aprendizagem 4 Caracterizar a ciência do desenvolvimento adolescente.

Ciência e método científico Teorias do desenvolvimento adolescente Pesquisa do desenvolvimento adolescente

capítulo 1 INTRODUÇÃO

esboço

do capítulo

36 J O H N W. S A N T R O C K

J

effrey Dahmer teve uma infância e uma adolescência problemáticas.

Seus pais brigavam constantemente antes de se divorciarem. Sua mãe

tinha problemas emocionais e idolatrava seu irmão mais novo. Ele achava que seu pai o ne- gligenciava, e havia sido abusado sexualmente por outro menino quando tinha 8 anos. Mas a maioria das pessoas que passou por infância e adolescência dolorosas não se transforma em serial killers, como aconteceu com Dahmer. Dahmer matou sua primeira vítima em 1978 com um haltere e outras 16 pessoas antes de ser preso e sentenciado a cumprir 15 penas de prisão perpétua. Uma década antes do primeiro assassinato de Dahmer, Alice Walker, que posteriormente ganharia um Prêmio Pulitzer por seu livro A Cor Púrpura, passava seus dias lutando contra o ra- cismo no Mississipi. Oitava filha de agricultores, Walker conheceu os efeitos brutais da pobreza. Apesar de todas as desvantagens, ela seguiu em frente até se tornar uma escritora premiada. Walker escreve sobre pessoas que, como ela mesma diz, “têm sucesso, que vêm do nada. Pes- soas que triunfam.” Considere também a mudança de vida de Michael Maddaus (Broderick, 2003; Masten, Obradovic e Burt, 2006). Durante sua infância e sua adolescência em Mineápolis, sua mãe era alcoolista e seu padrasto o abusava. Ele lidava com isso passando cada vez mais tempo nas ruas, tendo sido preso mais de 20 vezes por delinquência, sendo internado com frequência em centros de detenção e raramente indo à escola. Aos 17 anos, ele se alistou na Marinha e a experiência o ajudou a adquirir autodisciplina e esperança. Após sua breve passagem pela Marinha, concluiu o supletivo e começou a ter aulas na universidade comunitária. Entretanto, continuava a ter algumas recaídas com drogas e álcool. Um momento decisivo, quando estava se tornando adulto, aconteceu no dia em que ele entregava mobília na casa de um cirurgião. O cirurgião se interessou em ajudá-lo e a sua orientação levou Michael a ingressar voluntaria- mente num centro de reabilitação e, posteriormente, a trabalhar juntamente com um neuro- cirurgião. Por fim, ele se formou, ingressou na faculdade de medicina, casou e começou uma família. Hoje, Michael Maddaus é um cirurgião de sucesso. Uma das suas atividades de volunta- riado mais gratificantes é contar sua história a jovens problemáticos. O que leva um adolescente como Jeffrey Dahmer, tão promissor, a cometer atos brutais de violência e outro, como Alice Walker, a transformar pobreza e trauma numa rica produção literá- ria? Como podemos tentar explicar como um indivíduo igual a Michael Maddaus pode se trans- formar, a partir de uma infância e uma adolescência abaladas por abuso e delinquência, em um cirurgião de sucesso, enquanto outros parecem ficar tão perturbados por incômodos menores na vida? Por que alguns adolescentes são como um furacão – bem-sucedidos na escola, envolvidos numa rede de amigos e cheios de energia – enquanto outros estão sempre na margem, como meros espectadores da vida? Se você alguma vez já se perguntou o que faz os adolescentes se destacarem, você já se fez a pergunta central que exploramos neste livro.

apresentação

Adolescência, 14ª edição, é uma janela para a natureza do desenvolvimento da adolescência – a sua e a de todos

os outros adolescentes. Neste capítulo, você lerá sobre a história dessa área, as características dos adolescentes

de hoje, tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo, e a forma como os adolescentes se desenvolvem.

1 Perspectiva histórica

História inicial Os séculos XX e XXI Estereotipação dos adolescentes Uma visão positiva da adolescência

OA1 Descrever a perspectiva histórica da adolescência.

Como tem sido retratada a adolescência em diferentes momentos da história? Quando começou o estudo científico da adolescência?

HISTÓRIA INICIAL

Na Grécia antiga, os filósofos Platão e Aristóteles fizeram comentários sobre a natureza da ju- ventude. De acordo com Platão (século IV a.C.), o raciocínio não pertence à infância e aparece

Foto de Jeffrey Dahmer no ensino médio.

Alice Walker.

Dr. Michael Maddaus, aconselhando um jovem problemático.

“De maneira alguma a adolescência é uma simples época da vida.”

JEAN ERSKINE STEWART, Escritor americano, século XX

38 J O H N W. S A N T R O C K

Mais de meio século depois dos achados de Mead em Samoa, seu trabalho foi criticado como tendencioso e propenso ao erro (Freeman, 1983). A crítica atual argumenta que a adolescência samoana é mais estressante do que Mead sugeriu e que a delinquência tam- bém aparece entre os adolescentes samoanos, assim como entre os adolescentes ocidentais. Apesar da controvérsia quanto aos achados de Mead, alguns pesquisadores defenderam o trabalho dela (Holmes, 1987).

Visão intervencionista Embora a adolescência tenha uma base biológica, como argu- mentou G. Stanley Hall, ela também possui uma base sociocultural, como sustentava Margaret Mead. Na verdade, as condições sócio-históricas contribuíram para a emergên- cia do conceito de adolescência. De acordo com a visão intervencionista, a adolescência é uma criação sócio-histórica. Especialmente importante para esta visão da adolescência são as circunstâncias históricas do começo do século XX, época em que foi aprovada a legislação que assegurou a dependência dos jovens e deixou mais administrável o seu mo- vimento em direção à esfera econômica. Essas circunstâncias sócio-históricas incluíam: um declínio na aprendizagem, o aumento da mecanização durante a Revolução Industrial, o que elevou o nível das habilidades requeridas dos trabalhadores e exigiu uma divisão especializada do trabalho, a separação entre trabalho e casa, escolas divididas por idade, urbanização, o aparecimento de grupos de jovens como a YMCA (ACM) e os Escoteiros e os escritos de G. Stanley Hall. Escolas, trabalho e economia são dimensões importantes da visão intervencionista da adolescência. Alguns estudiosos argumentam que o conceito de adolescência foi inventado, principalmente, como um subproduto do movimento para criar um sistema de educação pú- blica compulsória. Sob esse ponto de vista, a função do ensino médio é transmitir habilidades intelectuais para os jovens. Entretanto, outros estudiosos argumentam que o objetivo princi- pal do ensino médio é inserir os jovens na esfera econômica. Segundo esta visão, a sociedade estadunidense conferia o status de adolescência aos jovens através da legislação de cuidados à criança (Lapsley, Enright e Serlin, 1985). Ao desenvolver leis especiais para os jovens, os adultos restringiram suas opções, encorajaram sua dependência e tornaram sua entrada no mundo do trabalho mais administrável. Os historiadores agora chamam o período entre 1890 e 1920 de “era da adolescência”. Neste período, os legisladores aprovaram uma grande quantidade de legislações obrigatórias direcionadas aos jovens. Em praticamente todos os estados foram aprovadas leis que excluíam os jovens da maior parte dos empregos e exigiam que eles frequentassem o ensino médio. Boa parte dessa legislação previa sanções. Duas mudanças claras resultaram dessa legislação: redu- ção no emprego e aumento na frequência escolar entre os jovens. De 1910 a 1930, o número de jovens entre 10 e 15 anos empregados com remuneração caiu em torno de 75%. Além disso, entre 1900 e 1930, o número de estudantes no ensino médio aumentou substancialmente. Aproximadamente 600% mais indivíduos se formaram no ensino médio em 1930 do que em

  1. Vamos olhar mais de perto como as concepções da adolescência e as experiências dos adolescentes se modificaram com os tempos de constante mudança do século XX.

Outras mudanças nos séculos XX e XXI A discussão das mudanças históricas na forma como os indivíduos vivenciaram a adolescência envolve o direcionamento do foco para as mudanças nas gerações. Coort e é um grupo de pessoas que nasceram num momento similar na história e, consequentemente, compartilham experiências similares. Por exemplo, os indivíduos que vivenciaram a Grande Depressão quando adolescentes provavelmente serão diferentes de seus equivalentes adolescentes durante o período otimista posterior à Segunda Guerra Mundial, na década de 1950. Na discussão e na condução de pesquisas sobre tais variações históricas, é usado o termo efeitos de coorte, que se refere aos efeitos devidos à época do nascimento, à era ou à geração de uma pessoa, mas não propriamente à idade cronológica (Schaie, 2011; Schaie e Willis, 2012). Agora vamos explorar os potenciais efeitos de coorte no desenvolvimento dos ado- lescentes e adultos emergentes na última metade do século XX e primeira parte do século XXI. Décadas de 1950 a 1970 Por volta de 1950, o período do desenvolvimento referido como adolescência havia atingido a maioridade. Ele tinha não somente identidades físicas e sociais, mas também uma identidade legal, pois cada estado desenvolveu leis especiais para jovens entre as idades de 16 e 18 até os 20 anos. Conquistar um diploma universitário – o caminho para conquistar um bom emprego – estava nas mentes de muitos adolescentes durante a

visão intervencionista Visão de que a adoles- cência é uma criação sócio-histórica. Especial- mente importantes neste ponto de vista são as circunstâncias sócio-históricas do começo do século XX, época em que foi aprovada uma legis- lação que assegurava a dependência dos jovens e tornava o seu movimento de entrada na esfera econômica mais administrável. efeitos de coorte Refere-se aos efeitos devidos a data de nascimento, era ou geração de uma pessoa, não propriamente à idade cronológica.

A D O L E S C Ê N C I A 39

década de 1950, assim como casar, formar uma família e se estabilizar na vida com o luxo que era exibido nos comerciais de televisão. Embora a busca dos adolescentes por uma educação superior tenha continuado na dé- cada de 1960, a muitos adolescentes afro-americanos não somente era negada uma educação universitária como eles também recebiam um ensino médio inferior. Os conflitos étnicos na forma de motins e discussões se disseminaram, e os estudantes em idade universitária esta- vam entre os participantes mais barulhentos. Os protestos políticos chegaram ao seu auge no final da década de 1960 e início da década de 1970, quando milhões de adolescentes reagiram violentamente ao que eles consideravam participação imoral dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Em meados dos anos 1970, os protestos radicais dos adolescentes começaram a diminuir junto com o envolvimento norte- -americano no vietnã. Esses protestos foram substituídos pelo aumento da preocupação ado- lescente com sua ascensão por meio do rendimento escolar, universitário ou treinamento vocacional. Os interesses materiais começaram novamente a dominar a motivação dos ado- lescentes, enquanto os desafios ideológicos às instituições sociais começaram a retroceder. Na década de 1970, o movimento feminista modificou a descrição e o estudo da adoles- cência. Nos primeiros anos, as descrições da adolescência eram mais pertinentes aos rapazes do que às moças. Os objetivos relacionados tanto à família quanto à carreira que as adoles- centes possuem hoje eram em grande parte desconhecidos das garotas da década de 1890 e inicio dos anos 1900.

Mileniais Em anos recentes, a cultura popular foi atribuindo rótulos às gerações. O rótu- lo mais recente é mileniais, a geração nascida depois de 1980, os primeiros a atingirem a maioridade e começarem o novo milênio entrando na idade adulta. Duas características dos mileniais se destacam: (1) sua diversidade étnica e (2) sua conexão com a tecnologia. Uma análise recente também descreveu seus integrantes como “confiantes, autoexpressivos, libe- rais, otimistas e abertos à mudança” (Pew Research Center, 2010, p. 1). Como sua diversidade étnica aumentou em relação às gerações anteriores, muitos ado- lescentes mileniais e jovens adultos são mais tolerantes e de mente aberta do que seus equi- valentes das gerações anteriores. Uma pesquisa indicou que 60% dos adolescentes de hoje dizem que seus amigos incluem pessoas de grupos étnicos diversos (Teenage Research Unli- mited, 2004). Outra pesquisa encontrou que 60% dos norte-americanos entre 18 e 29 anos tinham namorado alguém de um grupo étnico diferente do seu (Jones, 2005). Outra mudança importante que caracteriza os mileniais é o impressionante crescimento no uso das mídias e da tecnologia (Brown e Bobkowski, 2011). De acordo com uma análise,

eles são a primeira geração da história que está “sempre conectada”. Impregnados pela tecno- logia digital e pelas mídias sociais, eles tratam seus aparelhos multitarefas quase como uma ex- tensão do próprio corpo – para o bem ou para o mal. Mais de 8 em cada 10 dizem que dormem com um telefone celular ao lado da cama, prontos para desepejar textos, chamadas telefônicas, músicas, notícias, vídeos, jogos e toques musicais para despertar. Mas, às vezes, a conveniência produz tentações. Quase dois terços admitem trocar mensagens de texto enquanto dirigem. (Pew Research Center, 2010, p. 1).

Conforme citado, provavelmente, existem aspectos positivos e negativos sobre como a revolução tecnológica está afetando os jovens. A tecnologia pode oferecer um conjunto muito rico de conhecimentos que, se usados de uma forma construtiva, podem melhorar a educação dos adolescentes (Smaldino, Lowther e Russell, 2012; Taylor e Fratto, 2012). No entanto, o possível aspecto negativo da tecnologia foi capturado num livro recente, The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future (Or: Don’t Trust Anyone Under 30 ( A Geração Mais Burra: Como a Era Digital Em- burrece os Jovens Americanos e Ameaça Nosso Futuro [Ou: Não Confie em Ninguém com Menos de 30 Anos] ), escrito pelo professor de inglês Mark Bauerlein, da Emory University (2008). Dentre os temas do livro, está o de que muitos jovens de hoje estão mais interes- sados na recuperação da informação do que na formação da informação, não leem livros e não estão motivados para ler, não conseguem escrever corretamente sem um revisor orto- gráfico e se encapsularam num mundo de iPhones, troca de mensagens de texto, Facebook, YouTube, MySpace, Grand Theft Auto (a introdução do vídeo em 2008 trouxe um resultado de vendas de 500 milhões de dólares na primeira semana, tolhendo a venda de outros filmes e vídeos) e outros contextos de tecnologia. No que diz respeito a reter informações gerais

mileniais Geração nascida depois de 1980, a primeira a atingir a maioridade e a começar o novo milênio entrando na idade adulta. Duas características dos mileniais se destacam: (1) sua diversidade étnica e (2) sua conexão com a tecnologia.

A D O L E S C Ê N C I A 41

generalizações baseadas em informações sobre um grupo limitado de adolescentes, em ge- ral de grande visibilidade. Alguns adolescentes desenvolvem confiança em suas capacidades, apesar dos estereótipos negativos a seu respeito. E alguns indivíduos (como Alice Walker e Michael Maddaus, discutidos na abertura deste capítulo) triunfam sobre pobreza, abuso e outras adversidades.

UMA VISÃO POSITIVA DA ADOLESCÊNCIA

A estereotipação negativa dos adolescentes é exagerada (Lerner et al., 2011; Lewin-Bizan, Bowers e Lerner, 2011; O’Connor et al., 2010). Em um estudo transcultural, Daniel Offer e colaboradores (1988) não encontraram apoio para tal visão negativa. Os pesquisadores ava- liaram a autoimagem de adolescentes pelo mundo – Estados Unidos, Austrália, Bangladesh, Hungria, Israel, Itália, Japão, Taiwan, Turquia e Alemanha Ocidental – e descobriram que pelo menos 73% dos adolescentes tinham uma autoimagem positiva. Os adolescentes eram auto- confiantes e otimistas quanto ao seu futuro. Embora houvesse algumas exceções, em geral, os adolescentes eram felizes na maior parte do tempo: aproveitavam a vida, percebiam-se como capazes de exercer o autocontrole, valorizavam trabalho e escola, expressavam confiança na sua sexualidade, apresentavam sentimentos positivos em relação às suas famílias e achavam que tinham capacidade de enfrentar os estresses da vida – não exatamente o retrato de uma adolescência do tipo turbulência e estresse.

Velhos séculos e novos séculos Para muitas pessoas do século passado, nos Estados Unidos e em outras culturas ocidentais, a adolescência era percebida como um período problemático na vida, de acordo com a representação de G. Stanley Hall (1904) de turbulência e estresse. Mas, conforme o estudo recém descrito, a maioria dos adolescentes não chega nem perto de ser perturbada e problemática como sugere o estereótipo popular. O fim de um velho século e o começo do seguinte pode estimular a reflexão sobre o que foi, assim como as visões do que poderia e deveria ser. No campo da psicologia em geral, e no seu subcampo do desenvolvimento adolescente, os psicólogos fizeram a retrospecti- va de um século em que a disciplina se tornou excessivamente negativa (Seligman e Csi- kszentmihalyi, 2000). A psicologia havia se transformado em uma ciência demasiadamente austera, na qual as pessoas eram frequentemente caracterizadas como vítimas passivas. Os psicólogos estão agora buscando um foco no lado positivo da experiência humana e uma maior ênfase na esperança, no otimismo, nos traços individuais positivos, na criatividade e nos valores grupais e cívicos positivos, tais como responsabilidade, educação, civilidade e tolerância (King, 2011).

Caso você esteja preocupado com o que vai ser da geração mais jovem, saiba que ela vai crescer e começar a se preocupar com a geração mais jovem. ROGER ALLEN Escritor americano contemporâneo

Os adolescentes têm sido muito estereotipados negativamente? Explique.

42 J O H N W. S A N T R O C K

Percepções geracionais e equívocos As percepções que os adultos têm da adolescência surgem de uma combinação de experiência pessoal e representações da mídia, nenhuma das quais produz uma imagem objetiva de como os adolescentes típicos se desenvolvem (Feld- man e Elliot, 1990). Parte da tendência a presumir o pior sobre os adolescentes provavelmen- te envolve a memória curta dos adultos. Os adultos frequentemente retratam os adolescentes de hoje como mais problemáticos, menos respeitosos, mais autocentrados, mais assertivos e mais aventureiros do que eles eram. Entretanto, em termos de gostos e maneiras, os jovens de todas as gerações pareceram radicais, amedrontados e diferentes dos adultos – diferentes na aparência, em como se com- portam, na música de que gostam, no estilo dos seus cabelos e nas roupas que escolhem. É um grande erro confundir o entusiasmo dos adolescentes para experimentar novas identidades e para se envolver ocasionalmente em episódios de comportamento abusivo com hostilidade em relação aos padrões parentais e sociais. O acting out e o teste dos limites são as formas como os adolescentes avançam em direção à aceitação, em vez de rejeição, dos valores parentais.

Desenvolvimento positivo dos jovens O que tem sido chamado de desenvolvimento po- sitivo dos jovens (DPJ) na adolescência reflete a abordagem da psicologia positiva. O desen- volvimento positivo dos jovens enfatiza os pontos fortes e as qualidades positivas dos jovens e as trajetórias desenvolvimentais que são esperadas para eles (Benson e Scales, 2009, 2011; Larson, 2011; Larson e Angus, 2011; Sullivan e Larson, 2010). O desenvolvimento positivo dos jovens foi especialmente promovido por Jacqueline Lerner e colaboradores (2009), que recentemente descreveram os “Cinco Cs” do DPJ:

  • Competência, envolve ter uma percepção positiva das próprias ações em áreas de do- mínio específico – social, acadêmica, física, carreira, etc.
  • Confiança , consiste em ter uma noção positiva global de autoestima e autoeficácia (uma noção de que se pode dominar uma situação e produzir resultados positivos).
  • Conexão , caracteriza-se pelas relações positivas com os outros, incluindo família, amigos, professores e indivíduos da comunidade.
  • Caráter, inclui o respeito pelas regras sociais, compreensão do certo e do errado e integridade.
  • Cuidado/compaixão, inclui demonstrar preocupação emocional com os outros, espe- cialmente com aqueles que estão em sofrimento.

Lerner e colaboradores (2009) concluíram que, para desenvolver essas cinco caracte- rísticas positivas, os jovens precisam ter acesso a contextos sociais positivos – como pro- gramas para desenvolvimento de jovens e atividades organizadas para jovens – e a pessoas competentes – como professores interessados, líderes comunitários e mentores. Explora- remos melhor os programas para desenvolvimento de jovens no Capítulo 9; no Capítulo 13 examinaremos a ênfase de Peter Benson na importância dos recursos desenvolvimentais para a melhoria do desenvolvimento juvenil, que reflete a abordagem do desenvolvimento positivo dos jovens. Uma ênfase recente no movimento para estimular o estudo do desenvolvimento positivo dos jovens, em vez de apenas os riscos e desafios com os quais os jovens se defrontam, é o

conexão com o desenvolvimento Desenvolvimento dos jovens. Muitas atividades e organizações para jovens proporcionam aos adolescentes oportunidades de de- senvolverem qualidades positivas. Cap. 9, p. 309

conexão COM OS ADOLESCENTES

Querendo ser tratado como uma pessoa ativa

Muitas vezes, os adolescentes são vistos como um problema com o qual

ninguém realmente quer lidar. Por vezes, as pessoas ficam intimidadas e

se tornam hostis quando os jovens estão dispostos a desafiar sua autori-

dade. É como se estivem sendo desrespeitosos. Os adolescentes, muitas

vezes, não são tratados como uma pessoa ativa e como pensadores inova-

dores que serão os líderes de amanhã. Os adultos têm o poder de ensinar

à geração mais jovem sobre o mundo e permitir que sintam que podem se

expressar nesse mundo.

— Zula, 16 anos

Brooklyn, Nova Iorque

Que perspectiva sobre o desenvolvimento adolescente este comentário parece adotar?

44 J O H N W. S A N T R O C K
  • No Oriente Médio, muitos adolescentes não podem interagir com pessoas de outro sexo, mesmo na escola.
  • Os jovens na Rússia estão se casando mais cedo para legitimar a atividade sexual.

Assim, dependendo da cultura que está sendo observada, a adolescência pode envolver muitas experiências diferentes (Cheah e Yeung, 2011; Patton et al., 2010). As rápidas mudanças globais estão alterando a experiência da adolescência, apresentan- do novas oportunidades e desafios à saúde e ao bem-estar dos jovens. Por todo o mundo, as experiências dos adolescentes podem ser diferentes, de acordo com gênero, famílias, escolas, amigos e religião. No entanto, algumas tradições adolescentes permanecem em várias cultu- ras. Brad Brown e Reed Larson (2002) resumiram algumas dessas mudanças e tradições dos jovens pelo mundo:

  • Saúde e bem-estar. A saúde e o bem-estar dos adolescentes melhoraram em algu- mas áreas, mas não em outras. De um modo geral, atualmente menos adolescentes morrem de doenças infecciosas e desnutrição do que no passado (UNICEF, 2011). Entretanto, muitos comportamentos adolescentes que comprometem a saúde (es- pecialmente uso de drogas ilícitas e sexo sem proteção) continuam em níveis que colocam os jovens em sério risco no que diz respeito a problemas de desenvolvimento (Hyde e DeLamater, 2011). Um crescimento considerável dos índices de HIV em ado- lescentes ocorreu em muitos países da África subsaariana (UNICEF, 2011). Quase dois terços das mortes entre adolescentes no mundo ocorrem em apenas duas regiões, a África subsaariana e o sudeste da Ásia, embora apenas 42% dos adolescentes de todo o mundo vivam nessas regiões (Fatusi e Hindin, 2010).
  • Gênero. Pelo mundo, as experiências dos adolescentes do sexo masculino e femini- no continuam a ser muito diferentes (Eagly e Wood, 2011; UNICEF, 2011). Exceto em alguns poucas áreas, como o Japão e países ocidentais, os rapazes têm muito mais acesso a oportunidades educacionais do que as moças. Em muitos países, as adolescentes têm menos liberdade para seguir uma variedade de carreiras e para ter atividades de lazer do que os rapazes. As diferenças de gênero na expressão sexual são disseminadas, especialmente em lugares como Índia, sudeste da Ásia, América Latina e países árabes, onde existem muito mais restrições sobre a ativi- dade sexual das garotas adolescentes do que dos rapazes. Essas diferenças de gêne- ro parecem diminuir com o passar do tempo. Em alguns países, as oportunidades educacionais e de carreira para as mulheres estão se expandindo, e em algumas partes do mundo o controle sobre as relações amorosas e sexuais das garotas está diminuindo.

Escola muçulmana só para meninos no Oriente Médio.

Adolescentes indianos numa cerimônia de casamento.

conexão COM OS ADOLESCENTES

Doly Akter, melhorando as vidas das adolescentes das favelas de Bangladesh

Doly Atker, 17 anos, vive numa favela em

Dhaka, Bangladesh, onde os esgotos transbor-

dam, o lixo apodrece nas ruas e as crianças são

subnutridas. Quase dois terços das mulheres

jovens em Bangladesh se casam antes dos 18

anos. Doly organizou recentemente um clube

apoiado pela UNICEF em que as garotas vão

de porta em porta para monitorar os hábi-

tos de higiene das casas na sua vizinhança. O

monitoramento conduziu a uma melhoria na

higiene e na saúde das famílias. O grupo de

Doly também conseguiu impedir o casamento

de várias crianças, reunindo-se com os pais e

convencendo-os de que os casamentos não são

do interesse das suas filhas. Ao conversar com

os pais na sua vizinhança, as garotas do clube

enfatizam o quanto é importante para suas

filhas permanecerem na escola e como fazer

isso melhora o seu futuro. Doly diz que as ga-

rotas do seu grupo da UNICEF estão muito mais

conscientes dos seus direitos do que suas mães

jamais estiveram (UNICEF, 2007).

Que insights os adolescentes ocidentais podem ter a partir da experiência de crescimento muito diferente de Doly?

Doly Atker, uma garota de 17 anos de Ban- gladesh, está altamente motivada para me- lhorar as vidas dos jovens no seu país.

A D O L E S C Ê N C I A 45
  • Família. Um estudo recente revelou que em 12 países ao redor do mundo (África, Ásia, Austrália, Europa, Oriente Médio e as Américas) os adolescentes validaram a impor- tância do apoio parental em suas vidas (McNeely e Barber, 2010). Entretanto, as varia- ções nas famílias nos diferentes países também caracterizam o desenvolvimento ado- lescente. Em alguns países, os adolescentes crescem em famílias muito unidas, com extensas redes de parentesco que oferecem uma rede de conexões e refletem um modo tradicional de viver. Por exemplo, em países árabes, “são ensinados aos adolescentes códigos de conduta e lealdade rígidos” (Brown e Larson, 2002, p. 6). Entretanto, em países ocidentais como os Estados Unidos, muitos adolescentes crescem em famílias reconstituídas e novas famílias. A parentalidade em muitas famílias dos países ociden- tais é menos autoritária do que no passado. Outras tendências que estão ocorrendo em muitos países por todo o mundo “incluem maior mobilidade da família, migração para áreas urbanas, membros da família trabalhando em cidades ou países distantes, famí- lias menores, menos lares com família estendida e aumento no emprego das mães” (Brown e Larson, 2002, p. 7). Infelizmente, muitas dessas mudanças podem reduzir a capacidade das famílias de dedicar tempo e recursos para os adolescentes.
  • Escola. Em geral, o número de adolescentes na escola nos países em desenvolvimento está aumentando. No entanto, escolas em muitas partes do mundo – especialmente África, sul da Ásia e America Latina – ainda não proporcionam educação a todos os adolescentes (UNICEF, 2011). Na verdade, nos últimos anos, houve um declínio na porcentagem de adolescentes latino-americanos com acesso aos ensinos médio e su- perior (Welti, 2002). Além disso, muitas escolas não desenvolvem com os estudantes as habilidades de que eles precisam para terem sucesso no trabalho adulto.
  • Amigos. Algumas culturas atribuem aos amigos um papel mais forte na adolescência do que outras (Bagwell e Schmidt, 2011; B.B. Brown e Larson, 2009). Na maioria das nações ocidentais, os amigos figuram com proeminência na vida dos adolescentes, em alguns casos assumindo responsabilidades que em outras ocasiões seriam assumidas pelos pais. Entre os jovens de rua na América do Sul, a rede de amigos serve como uma família substituta que apoia a sobrevivência em ambientes perigosos e estressan- tes. Em outras regiões do mundo, como em países árabes, os amigos têm um papel muito restritivo, especialmente para as garotas.

Em resumo, as vidas dos adolescentes são caracterizadas por uma combinação de mu- dança e tradição. Pesquisadores encontraram semelhanças e diferenças nas experiências dos adolescentes em diferentes países (Fatusi e Rindin, 2010; Larson, Wilson e Rickman, 2009). No Capítulo 12, discutiremos melhor essas experiências transculturais.

Revisar Conectar Refletir OA2 Discutir os adolescentes pelo mundo.

Revisar

  • Qual é o status dos jovens de hoje?
  • Como a adolescência está mudando para os jovens por todo o mundo?

Conectar

  • Você acha que os adolescentes de outros países experimentam a estereotipação, conforme descrito anteriormente neste ca- pítulo? Em caso positivo, por quê e como?

Refletir sua jornada de vida pessoal

  • De que maneira a sua adolescência foi provavelmente parecida ou diferente da adolescência dos seus pais e avós?

3 A natureza do desenvolvimento

Processos e períodos Transições no desenvolvimento Questões sobre o desenvolvimento

Resumir processos, períodos, transições e questões sobre o desenvolvimento relacionados à adolescência.

OA

Em certos aspectos, cada um de nós se desenvolve como todos os outros indivíduos; em outros aspectos, cada um de nós é único. Na maior parte do tempo, nossa atenção está focada em nos- sas peculiaridades individuais, mas os pesquisadores que estudam o desenvolvimento são atraí- dos tanto pelas nossas características compartilhadas quanto por nossas características únicas.

Meninos de rua no Rio de Janeiro.

A D O L E S C Ê N C I A 47

Elas desenvolvem prontidão para a escola (seguir instruções, identificar letras) e passam muitas horas brincando e com os amigos. A primeira série marca tipicamente o fim da segunda infância. A terceira infância é o período do desenvolvimento que se estende desde aproximada- mente os 6 até os 10 ou 11 anos. Neste período, as crianças dominam as habilidades fun- damentais de leitura, escrita e aritmética, e são formalmente expostas a um mundo muito maior e à sua cultura. As aquisições se tornam o tema central do desenvolvimento, e a criança aumenta o autocontrole.

Adolescência Como sugere nossa linha do tempo desenvolvimental, já ocorreram um desenvolvimento e algumas experiências consideráveis antes de um indivíduo atingir a adolescência. Nenhum menino ou menina entra na adolescência como uma folha em branco, com apenas um código genético para determinar pensamentos, sentimentos e comportamentos. Em vez disso, a combinação de hereditariedade, experiências infantis e experiências da adolescência determina o curso do desenvolvimento adolescente. Durante a leitura deste livro, tenha em mente esta continuidade do desenvolvimento entre a infân- cia e a adolescência. Uma definição de adolescência requer uma consideração não apenas da idade, mas tam- bém das influências sócio-históricas: lembre-se da nossa discussão da visão intervencionista da adolescência. Com o contexto sócio-histórico em mente, definimos adolescência como o período de transição entre a infância e idade adulta que envolve mudanças biológicas, cogniti- vas e socioemocionais. Uma tarefa essencial da adolescência é a preparação para a idade adulta. Na verdade, o futuro de qualquer cultura depende do quanto essa preparação é efetiva. Embora a faixa etária da adolescência possa variar com as circunstâncias culturais e históricas, nos Estados Unidos e na maioria das outras culturas, a adolescência hoje começa aproximadamente entre 10 e 13 anos e termina por volta dos 19 anos. As mudanças bioló- gicas, cognitivas e socioemocionais da adolescência ocorrem desde o desenvolvimento das funções sexuais, passando pelos processos de pensamento abstrato, até a independência. Cada vez mais, os desenvolvimentistas descrevem a adolescência em termos de períodos iniciais e tardios. A adolescência inicial corresponde, grosso modo , aos anos finais do ensino fundamental e inclui principalmente as mudanças puberais. O fim da adolescência refere- -se aproximadamente à segunda metade da segunda década de vida. Interesses pela carreira, namoros e exploração da identidade estão frequentemente mais pronunciados no fim da ado- lescência do que na adolescência inicial. Os pesquisadores frequentemente especificam se os seus resultados se generalizam a toda a adolescência ou se são específicos da adolescência inicial ou do fim da adolescência. A antiga visão da adolescência era a de que este é um período de transição singular e uni- forme que resulta na entrada no mundo adulto. As abordagens atuais enfatizam uma variedade de transições e acontecimentos que definem o período, bem como o seu ritmo e sua sequência. Por exemplo, a puberdade e os eventos escolares são transições importantes que sinalizam a entrada na adolescência; concluir a escola e assumir o primeiro emprego em tempo integral são eventos de transição que sinalizam a saída da adolescência e a entrada na vida adulta. Hoje, os desenvolvimentistas não acreditam que a mudança termine com a adolescência (Park, 2011; Schaie e Willis, 2012). Lembre-se de que o desenvolvimento é definido como um processo que ocorre ao longo de toda a vida. A adolescência é parte do curso da vida e, como tal, não é um período isolado do desenvolvimento. Embora tenha algumas características

terceira infância Período do desenvolvimento que se estende desde aproximadamente os 6 até 10 ou 11 anos. adolescência Período do desenvolvimento de transição da infância para a idade adulta; envolve mudanças biológicas, cognitivas e socioemocionais. A adolescência começa apro- ximadamente entre 10 e 13 anos e termina por volta dos 19 anos. adolescência inicial Período do desenvolvi- mento que corresponde aproximadamente ao final do ensino fundamental e inclui principal- mente as mudanças puberais. fim da adolescência Período do desenvol- vimento que corresponde aproximadamente à última metade da segunda década de vida. Interesses pela carreira, namoros e exploração da identidade estão frequentemente mais pro- nunciados no fim da adolescência do que na adolescência inicial.

“Este é o caminho para a idade adulta. Você está aqui.” © Robert Weber/The New Yorker Collec- tion/cartoonbank.com

pressão dos amigos... crise emocional... garotas muito altas... pêlos nas axilas... está chegando e eu não consigo impedir.

PEDRA MEDITDAAÇÃO

O que está chegando?

A adolescência. E vem correndo na minha direção.

Mesmo? É! Desvie!

Eu gostaria!!

Bloom County utilizou com autorização de Berkeley Brethed, the Washington Post Writers Group e o Cartoonist Group. Todos os direitos reservados.

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únicas, o que acontece durante a adolescência está conectado com o desenvolvimento e as experiências da infância e da idade adulta (Collins, Welsh e Furman, 2009). Idade adulta Assim como na infância e na adolescência, a idade adulta não é um período homogêneo do desenvolvimento. Os desenvolvimentistas frequentemente descrevem três pe- ríodos do desenvolvimento adulto: idade adulta inicial, idade adulta intermediária e fim da idade adulta. A idade adulta inicial geralmente começa no final dos 19 anos e início dos 20, durando até os 30 anos. Esta é uma época de estabilização pessoal e independência econômica e na qual o desenvolvimento da carreira se intensifica. A idade adulta intermediária começa aproximadamente entre os 35 e 45 anos e termina em algum ponto aproximadamente entre os 55 e os 65 anos. Esse período é especialmente importante na vida dos adolescentes cujos pais já estão, ou estão prestes a entrar nele. A idade adulta intermediária é uma época de crescente interesse na transmissão de valores à próxima geração, aumento na reflexão sobre o significado da vida e maior preocupação com o próprio corpo. No Capítulo 8, “Famílias”, veremos como a maturação dos adolescentes e seus pais contribui para a relação pais-adolescente. Por fim, o ritmo e o significado do ciclo vital humano seguem seu curso até o fim da idade adulta, período do desenvolvimento que dura aproximadamente dos 60 ou 70 anos até a morte. Esta é uma época de adaptação à diminuição da força física e da saúde, à aposentadoria e à redução na renda. O exame da própria vida e a adaptação à mudança nos papéis sociais também caracterizam o fim da idade adulta, assim como a redução das responsabilidades e o aumento da liberdade. A Figura 1.2 resume os períodos do desenvolvimento ao longo da vida humana e suas faixas etárias aproximadas.

TRANSIÇÕES NO DESENVOLVIMENTO

As transições no desenvolvimento são momentos importantes na vida das pessoas. Tais transi- ções incluem a mudança do período pré-natal até o nascimento e primeira infância, da primei- ra infância até a segunda infância e da segunda infância até a terceira infância. Para os nossos

Os filhos dos filhos dos nossos filhos. Eles olham para nós como nós olha- mos para vocês; nós temos um paren- tesco por meio da nossa imaginação. Se somos capazes de nos tocarmos, é porque imaginamos a existência um do outro, nossos sonhos correndo para a frente e para trás ao longo de um cabo que se estende de um pe- ríodo até outro.

ROGER ROSENBLATT Escritor americano contemporâneo

idade adulta inicial Período do desenvolvi- mento que começa no final dos 19 anos ou início dos 20, durando até os 30 anos. idade adulta intermediária Período do de- senvolvimento que começa aproximadamente entre os 35 e 45 anos e termina entre aproxima- damente 55 e 65 anos. fim da idade adulta Período do desenvolvi- mento que dura aproximadamente dos 60 ou 70 anos até a morte.

Períodos do desenvolvimento Período pré-natal (concepção ao nascimento)

Primeira infância (nascimento até 18-24 meses)

Fim da idade adulta (60-70 anos até a morte)

Idade adulta intermediária (35-45 a 55-56 anos)

Segunda infância (2-5 anos)

Terceira infância (6-11 anos)

Idade adulta inicial (20 a 30 anos)

Adolescência (10-13 até 19 anos)

Processos do desenvolvimento

Processos biológicos

Processos cognitivos

Processos socioemocionais

FIGURA 1.

Processos e períodos do desenvolvimento. O desenrolar dos períodos do desenvolvimento na vida é influenciado pela interação dos processos biológicos, cognitivos e socioemocionais.

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crianças entram na adolescência, frequentam escolas maiores e mais impessoais do que as escolas por série do seu bairro. As conquistas se tornam um assunto sério e aumentam os de- safios acadêmicos. Também nesta época, a maturação sexual progredida produz um interesse muito maior nos relacionamentos amorosos. Os jovens adolescentes também experimentam maiores alterações de humor do que quando eram crianças. Em resumo, a transição da infância para a adolescência é complexa e multidimensional, envolvendo mudanças em muitos diferentes aspectos da vida de um indivíduo. A negociação bem-sucedida desta transição requer uma adaptação considerável e apoio de adultos atenciosos.

Da adolescência para a idade adulta Outra transição importante ocorre da adolescência para a idade adulta (Hamilton e Hamilton, 2009). Já foi dito que a adolescência começa na biologia e termina na cultura. Ou seja, a transição da infância para a adolescência inicia com a eclosão da maturação da puberdade, enquanto a transição da adolescência para a idade adulta é determinada pelos padrões culturais e pelas experiências. Adultez emergente Recentemente, a transição para a idade adulta vem sendo referida como adultez emergente, transcorrendo aproximadamente dos 18 aos 25 anos. Experimentação e exploração caracterizam o adulto emergente. Nesse ponto do desenvolvimento, muitos indi- víduos ainda estão explorando a carreira profissional a seguir, qual identidade querem ter e que estilo de vida desejam adotar (p. ex., permanecer solteiro, coabitar ou se casar). Jeffrey Arnett (2006) concluiu recentemente que as cinco características principais do adulto emergente são:

  • Exploração da identidade, especialmente no amor e no trabalho. Esta é a época du- rante a qual acontecem mudanças importantes na identidade para muitos indivíduos (Kroger, Martinussen e Marcia, 2010).
  • Instabilidade. As mudanças de residência atingem o auge nesta época, período duran- te o qual, frequentemente, existe instabilidade no amor, no trabalho e na educação.
  • Autofocado. De acordo com Arnett (2006, p. 10), os adultos emergentes “são autofo- cados no sentido de que têm poucas obrigações sociais, deveres e comprometimento com os outros, o que os deixa com muita autonomia para administrarem suas pró- prias vidas.”
  • Sentimento de ambivalência. Muitos adultos emergentes não se consideram adoles- centes nem adultos completos.
  • A idade das possibilidades , uma época em que os indivíduos têm a oportunidade de transformar suas vidas. Arnett (2006) descreve dois motivos pelos quais esta época é a idade das possibilidades: (1) muitos adultos emergentes estão otimistas em relação ao seu futuro; e (2) para os adultos emergentes que passaram por momentos difíceis durante o crescimento, esta idade representa uma oportunidade de encaminhar suas vidas numa direção mais positiva (Masten e Wright, 2009).

Pesquisas recentes indicam que esses cinco aspectos caracterizam não somente os in- divíduos nos Estados Unidos quando fazem a sua transição da adolescência para o início da idade adulta, mas também seus correspondentes nos países europeus e na Austrália (Buhl e Lanz, 2007; Sirsch et al., 2009). Embora a adultez emergente não caracterize o desenvol- vimento em todas as culturas, ela parece ocorrer naquelas em que é adiado o momento de assumir papéis adultos e responsabilidades (Kins e Beyers, 2010).

adultez emergente Período do desenvolvi- mento que ocorre aproximadamente dos 18 aos 25 anos; este período de transição entre a ado- lescência e a idade adulta é caracterizado por experimentação e exploração.

ATINGINDO
A
MAIORIDADE

Filho, o mundo está esperando por você. Vá buscá-lo.

Rhymes with Orange usado com autorização de Hillary Price, King Features Syndicate e o Cartoonist Group. Todos os direitos reservados.

A D O L E S C Ê N C I A 51

A vida fica melhor para os indivíduos quando eles se tornam adultos emergentes? Para ler sobre esta questão, veja o item Conexão com Saúde e Bem-Estar.

Tornar-se adulto É difícil determinar o momento exato em que um indivíduo se torna adul- to. Nos Estados Unidos, o marcador mais amplamente reconhecido da entrada na idade adulta é possuir um emprego em tempo integral mais ou menos permanente, o que geralmente acontece quando o indivíduo termina a escola – ensino médio para alguns, universidade para outros, pós-graduação ou, ainda, a escola técnica para outros. Outros critérios estão longe de ser claros. A independência econômica é um dos marcadores do status adulto, mas conquistá- -la é geralmente um longo processo. Os estudantes universitários estão cada vez mais vol- tando a morar com seus pais enquanto tentam se estabelecer economicamente. Um estudo longitudinal descobriu que aos 25 anos apenas um pouco mais da metade dos participantes estava totalmente independente da sua família de origem (Cohen et al., 2003). Entretanto, os achados mais impressionantes do estudo envolviam uma grande variação nas trajetórias individuais dos papéis adultos durante dez anos, dos 17 aos 27 anos; muitos dos participantes oscilaram entre o aumento e a diminuição da dependência econômica. Um estudo recente revelou que morar com os pais durante a adultez emergente retardou o processo de se tornar um adulto autossuficiente e independente (Kins e Beyers, 2010). Outros estudos nos mostram que assumir responsabilidade sobre si mesmo é provavel- mente um marcador do status adulto para muitos indivíduos. Em um dos estudos, mais de

conexão COM SAÚDE E BEM-ESTAR

Saúde e bem-estar se modificam na adultez emergente?

Como são a saúde e o bem-estar dos indivíduos na adultez emergente, em

comparação à adolescência? John Schulenberg e colaboradores (Johnston,

O’Malley e Bachman, 2004; Schulenberg e Zarrett, 2006) examinaram esta

questão. Em sua maior parte, a vida é melhor para os adultos emergentes.

Por exemplo, a Figura 1.3 mostra um aumento constante no bem-estar au-

torrelatado dos 18 aos 26 anos. A Figura 1.4 indica que correr riscos diminui

durante a mesma estrutura temporal.

Por que a saúde e o bem-estar dos adultos emergentes melhoram

em relação aos níveis da adolescência? Uma resposta possível é o au-

mento das escolhas individuais na sua vida diária e das decisões de vida

durante a adultez emergente. Este aumento pode conduzir os adultos a

mais oportunidades de exercer o autocontrole em suas vidas. Além dis-

so, como discutimos anteriormente, a adultez emergente oferece uma

oportunidade aos indivíduos que tiveram problemas de conduta durante

a adolescência de terem controle das suas vidas. Porém, a falta de estru-

tura e apoio que frequentemente caracteriza essa fase pode produzir um

declínio na saúde e no bem-estar de alguns indivíduos (Schulenberg e

Zarrett, 2006).

18 19–20 21–22 23–24 25–

34

36

38

40

42

44

Bem-estar

Idade (anos)

FIGURA 1.

Bem-estar durante a adultez emergente. Nota: Escores baseados em uma combinação de autoestima (8 itens), autoeficácia (5 itens) e apoio social (6 itens); as respostas possíveis variavam de discordo (1) até concordo (5).

18 19–20 21–22 23–24 25–

2,

2, 2,

2, 2,

3,

3,

3,

Exposição a riscos

Idade

FIGURA 1.

Exposição a riscos durante a adultez emergente. Nota: Os dois itens da Escala de Exposição a Riscos variavam de 1 (discordo) até 5 (concordo). O escore de exposição a riscos era a média dos dois itens que avaliavam se o adulto gostava de fazer coisas razoavelmente pe- rigosas e se gostava de fazer alguma coisa razoavelmente arriscada.

Que fatores os adultos emergentes podem controlar e que influenciam a melhora da sua saúde e do bem-estar em relação aos seus níveis como adolescente?

A D O L E S C Ê N C I A 53

inteligentes, vivenciaram maior qualidade na parentalidade e tinham menos proba- bilidade de terem crescido na pobreza ou em circunstâncias de baixa renda do que seus correspondentes que não se tornaram competentes quando adultos emergentes. Outra análise focou em indivíduos que ainda estavam apresentando padrões desadaptativos na adultez emergente, mas que tinham controle das suas vidas ao final da década dos 20 e início dos 30 anos. As três características compartilhadas por esses “maduros tardios” são: receber apoio dos adultos, serem engenhosos e apresentarem aspectos positivos de autonomia. Em outra pesquisa longitudinal, “o serviço militar, o casamento e as relações amorosas, a educação superior, a afiliação a uma religião e as oportunidades de trabalho podem ser oportunidades de momen- tos de decisão para uma mudança no curso da vida durante a adultez emergente” (Masten, Obradovic e Burt, 2006, p. 179).

A adolescência está durando muito tempo? Joseph e Claudia Allen (2009) intitu- laram seu livro recente como: Escaping the Endless Adolescence: How We Can Help Our Teenagers Grow Up Before They Grow Old ( Escapando da Adolescência Interminável: Como Podemos Ajudar Nossos Adolescentes a Crescerem Antes Que Fiquem Velhos ), e abriram o livro com um capítulo intitulado: “Os 25 anos são os novos 15?”. Eles argumentam que nas décadas mais recentes os adolescentes têm experimentado um mundo que apresenta mais desafios para o amadurecimento de um adulto competente. Nas suas palavras (p. 17),

gerações atrás, os jovens de 14 anos dirigiam, os de 17 iam para as forças armadas e mesmo adolescentes intermediários contribuíam com seu trabalho para a renda que ajudaria a manter sua família sem dívidas. Enquanto enfrentavam outros problemas, esses jovens apresentavam maturidade adulta muito mais rapidamente do que os de hoje, que estão notavelmente bem cuidados, mas afastados, em sua maior parte, de res- ponsabilidades, desafios e feedback do mundo adulto que estimulem o crescimento. Os pais da década de 1920 costumavam lamentar: “Eles crescem tão rápido.” Mas parece que isso foi substituído por: “Bem... Maria ainda está morando mais um pouco em casa enquanto se organiza”.

Os autores concluem que o que está acontecendo à geração atual de adoles- centes é que após a adolescência eles estão vivendo “mais adolescência” em vez de se lançarem adequadamente à idade adulta. Até mesmo aqueles adolescentes que tiveram boas notas e, posteriormente, como adultos emergentes continuaram a conquistar sucesso acadêmico na universidade, encontram-se na metade da década dos 20 anos sem ter indícios de como encontrar um emprego significativo, admi- nistrar suas finanças ou viver com independência. Os autores recomendam o seguinte para ajudar os adolescentes a amadurecer durante a sua jornada para a vida adulta:

  • Proporcionar a eles oportunidades de serem colaboradores. Ajudá-los a se afastar da posição de consumidores, criando experiências de trabalho mais efetivas (p. ex., aprendizado de um trabalho de qualidade) ou oferecendo oportunidades de aprendi- zado que permitam que os adolescentes contribuam de forma significativa.
  • Dar aos adolescentes um feedback direto e de qualidade. Não simplesmente enchê-los de elogios e de coisas materiais, mas deixá-los perceber como funciona o mundo real. Não protegê-los das críticas, sejam elas positivas ou negativas. Protegê-los apenas os deixa mal equipados para lidarem com os altos e baixos da realidade da vida adulta.
  • Criar conexões adultas positivas com os adolescentes. Muitos adolescentes negam a necessidade de apoio parental ou de uma ligação com os pais, mas eles precisam da ajuda para desenvolver maturidade na caminhada para a vida adulta. Ao explorarem um mundo social mais amplo do que o da infância, os adolescentes precisam estar conectados de forma positiva aos seus pais e a outros adultos para que consigam ma- nejar a autonomia de uma forma madura.
  • Desafiar os adolescentes a se tornarem mais competentes. Os adultos devem fazer me- nos coisas pelos adolescentes, na medida em que eles conseguem realizá-las por si pró- prios. Proporcionar oportunidades de se envolverem em tarefas que vão além do seu nível atual expande suas mentes e os ajuda a avançar no caminho até a maturidade.

conexão com o desenvolvimento Comunidade. O aprendizado do serviço está ligado a muitos resulta- dos positivos para os adolescentes. Cap. 7, p. 257

conexão com o desenvolvimento Famílias. Um apego seguro com os pais aumenta a probabilidade de que os adolescentes sejam socialmente competentes. Cap. 8, p. 282

Conectividade – boas relações percebidas e confiança nos pais, nos amigos e em alguns outros adultos Senso de lugar/integração social – estar conectado e ser valorizado por redes sociais mais amplas Vinculação a instituições pró-sociais/convencionais tais como escola, igreja e centros de desenvolvimento para jovens fora da escola Habilidade para transitar em múltiplos contextos culturais Comprometimento com o engajamento cívico

Boa saúde mental, incluindo autorrespeito positivo Boa autorregulação emocional e habilidade de enfrentamento Boas habilidades para solução de conflitos Motivação para o domínio e motivação para realizações positivas Confiança na própria eficácia pessoal Planificação Senso de autonomia pessoal/responsabilidade por si Otimismo associado a realismo Identidade pessoal e social coerente e positiva Valores pró-sociais e culturalmente sensíveis Espiritualidade e/ou senso de propósito na vida Forte caráter moral

Desenvolvimento social

Desenvolvimento intelectual

Desenvolvimento psicológico e emocional

Conhecimento das habilidades vitais e vocacionais essenciais Hábitos racionais da mente – habilidades para pensamento crítico e raciocínio Boa habilidade para tomar decisões Conhecimento profundo de mais de uma cultura Conhecimento das habilidades necessárias para transitar entre as múltiplas culturas Sucesso escolar

FIGURA 1.

Recursos pessoais que facilitam o desenvolvimen- to positivo dos jovens.

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QUESTÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento deve-se mais à natureza (hereditariedade) ou ao aprendizado (ambiente)? Ele é mais contínuo e regular ou descontínuo e em estágios? Está mais determinado pelas experiências precoces ou pelas experiências posteriores? Estas são três questões importantes levantadas no estudo do desenvolvimento adolescente.

Natureza e aprendizado A questão natureza-aprendizado envolve o debate sobre se o de- senvolvimento é primariamente influenciado pela natureza ou pelo aprendizado. Natureza refere-se à herança biológica de um organismo, e aprendizado às experiências ambientais. Os defensores da “natureza” argumentam que a influência mais importante no desenvolvimento é a herança biológica. Os defensores do “aprendizado” reivindicam que as experiências am- bientais são a influência mais importante. De acordo com os defensores da abordagem da natureza, assim como um girassol cresce de forma ordenada – a menos que esteja enfraquecido por um ambiente hostil – o ser humano também cresce de maneira ordenada. A variação de ambientes pode ser vasta, mas a abordagem da natureza argumenta que o modelo genético produz atributos comuns ao crescimento e ao desenvolvimento (Mader, 2011). Nós caminhamos antes de falarmos, falamos uma palavra antes de duas palavras, crescemos rapidamente na primeira infância e menos na segunda infância, experimentamos uma torrente de hormônios sexuais na puberdade, chegamos ao auge da nossa força física no final da adolescência e início da idade adulta e depois declinamos fisicamente. Os proponentes da natureza reconhecem que ambientes extremos – aqueles que são psicologica- mente estéreis ou hostis – podem debilitar o desenvolvimento. No entanto, eles acreditam que as tendências básicas do crescimento estão geneticamente entrelaçadas nos humanos. Em contrapartida, outros psicólogos enfatizam a importância do aprendizado ou das experiências ambientais no desenvolvimento (Grusec, 2011; Phillips e Lowenstein, 2011). As experiências percorrem uma gama que vai desde o ambiente biológico do indivíduo – nutri- ção, cuidados médicos, drogas e acidentes físicos – até o ambiente social – família, amigos, escola, comunidade, mídia e cultura. Alguns pesquisadores do desenvolvimento adolescente sustentam que, historicamente, tem sido colocada muita ênfase nas mudanças biológicas da puberdade como determinantes do desenvolvimento psicológico adolescente. Eles reconhecem que a mudança biológica é uma dimensão importante da transição da infância para a adolescência, encontrada em todas as espécies primatas e em todas as culturas do mundo. Entretanto, eles argumentam que os contextos sociais (aprendizado) também desempenham papéis importantes no desenvolvi- mento psicológico adolescente, papéis que até recentemente não receberam atenção adequa- da (Reich e Vandell, 2011; Russell, 2011).

Continuidade e descontinuidade Pense, por um momento, sobre o seu desenvolvimento. O seu crescimento até você chegar à pessoa que é hoje foi gradual, como o crescimento lento e cumulativo de uma muda até se tornar um carvalho gigante, ou passou por mudanças re- pentinas e distintas no crescimento, como a incrível mudança de uma larva que se transforma em borboleta (veja a Figura 1.6)? O tema da continuidade-descontinuidade discute até que ponto o desenvolvimento envolve mudanças graduais e cumulativas (continuidade) ou está- gios distintos (descontinuidade). Em sua maior parte, os desenvolvimentistas que enfatizam a experiência descreveram o desenvolvimento como um processo gradual e contínuo; os que enfatizam a natureza descreveram o desenvolvimento como uma série de estágios distintos. Em termos de continuidade, a primeira palavra de uma criança, embora aparentemente um acontecimento abrupto e descontínuo, é, na verdade, resultado de semanas e meses de crescimento e prática. Igualmente, a puberdade, embora também aparentemente abrupta e descontínua, é, na verdade, um processo gradual que ocorre ao longo de vários anos. Em termos de descontinuidade, cada pessoa é descrita como atravessando uma sequên- cia de estágios em que a mudança é qualitativa, em vez de quantitativamente diferente. Quan- do um carvalho se desenvolve desde uma muda até uma árvore gigante, ele se torna “mais” carvalho – seu desenvolvimento é contínuo. Quando uma larva se transforma numa borbole- ta, ela não se torna mais larva, ela se torna outro tipo de organismo, diferente – seu desenvol- vimento é descontínuo. Por exemplo, em algum ponto, a criança muda sua condição de não ser capaz de pensar abstratamente sobre o mundo para a de ser capaz. Esta é uma mudança qualitativa e descontínua no desenvolvimento, não uma mudança quantitativa e contínua.

Continuidade

Descontinuidade

FIGURA 1.

Continuidade e descontinuidade no desenvolvimento. O desenvolvimento humano é como uma muda crescendo gra- dualmente até se tornar um carvalho gigan- te? Ou ele é como uma larva que, repentina- mente, se transforma em uma borboleta?

questão natureza-aprendizado Questão que envolve o debate sobre se o desenvolvimento é primariamente influenciado pela herança biológica do organismo (natureza) ou por suas experiências ambientais (aprendizado). tema da continuidade-descontinuidade Tema relativo a se o desenvolvimento envolve uma mudança gradual e cumulativa (continuidade) ou estágios distintos (descontinuidade).