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Questões discursivas sobre racismo estrutural, história da sexualidade.
Tipologia: Provas
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Universidade Estadual de Feira de Santana Departamento de Filosofia e Ciências Humanas Disciplina – CHF 823 – Ciências Sociais e Saúde - Curso - Odontologia Professor André Almeida Uzêda - (monitora Fernanda Serra – 2023.1) Discente: Raissa Pereira da Silva Das 19 questões apresentadas o aluno deverá responder APENAS DUAS QUESTÕES, sendo obrigatoriamente uma do bloco A e outra do bloco B. BLOCO A Medicalização : 5 -Comente sobre os impactos da medicalização escolar na infância e na formação da identidade das crianças. R. A medicalização busca identificar e intervir em condutas consideradas anormais ou desviantes às regras de conformidade e ordem social, classificando questões de ordem social, política ou cultural como doenças. Essa intervenção se faz presente em todas as fases da vida através dos saberes médicos e biológicos combinados à psiquiatria, com o objetivo de classificar todos os desvios presentes em um corpo e higienizá-los. A combinação entre higienismo, psiquiatria, psicologia e pedagogia marca historicamente as práticas de intervenção sobre a infância e sobre os problemas enfrentados pelas crianças ao ingressarem no universo escolar, sendo responsáveis pela formação da identidade das crianças. A busca incessante por diagnósticos médicos e psiquiátricos para comportamentos considerados anormais na infância, se tornou um dispositivo importante na explicação e intervenção dos processos de escolarização e educação considerados “problemáticos”. A intervenção na infância resultou na ideia da criança anormal, difícil de lidar, abestada e instável. Todos esses conceitos caracterizaram grande parte do discurso higienista entre os séculos XIX e XX. A nossa cultura classificou as crianças como inocentes, dependentes, imaturas, não responsáveis pelos seus atos e todos os comportamentos desviantes de uma criança foram escalados por adultos. A construção da noção de infância produziu uma diferenciação e separação entre crianças e adultos, passando a ser entendida como um período especial de dependência e de preparação para ingressar no mundo adulto, no qual a escola foi a grande responsável pelos cuidados da criança. Desde então, a grande questão para o universo escolar tem sido a figura da criança indisciplinada, desequilibrada e impulsiva, dentre tantas outras denominações, que marcou a construção da literatura médica-pedagógica sobre a criança anormal. O alto índice de reprovação escolar no Brasil e no mundo é evidente em dados, mas quando questionado recai sobre a criança ou adolescente a culpa pelo seu baixo desempenho. É culpa da criança que não prestou atenção, que não leu corretamente, que não estava presente, que não soube escrever, que não fica sentada quieta por horas seguidas, dentre outros motivos, mas jamais a culpa é da instituição escolar ou do ensino no qual essa criança tem acesso. É criado todo um processo de culpabilização dessa criança por ela não aprender ou se comportar corretamente como se é esperado na escola, e transformado em um diagnóstico de transtorno de déficit de atenção, dislexia, hiperatividade e receitado um medicamento, a ritalina. A droga da obediência, enquanto faz efeito no corpo dessa criança medicalizada transforma seu comportamento para o que seria adequado em sala de aula, ou seja, a
criança irá atingir a adequação dos parâmetros externos, aqueles que buscam condutas que não desviem da ordem, parâmetros de normalidade. Espera-se de uma criança de menos de 10 anos que ela saiba ler, escrever, tocar instrumentos, ser poliglota e adepta a esportes, tudo isso seguindo a obediência e mansidão, caso essa criança não apresente o que se espera dela ela está doente, é tratada como se houvesse um problema e ela aceita essa condição não sendo oferecidas opções. E aqui partimos de outro ponto, a perda da subjetividade dessa criança, pois quando se afirma a ela “você é desatenta”, porque por algum tempo não estava atenta no que foi lhe imposto ou estava atenta a outra coisa, se constrói na cabeça dessa criança que ela não é capaz de ser atenciosa, que ela é esquecida ou até mesmo descuidada. A construção da identidade da criança passa por essas pequenas afirmações que são impostas a ela através da medicalização, comportamentos anormais já são o suficiente para que seja taxado de problemático e a terapia é a única salvação para ela, e assim começa a busca para tratar essa anormalidade no neurologista, no psiquiatra ou psicólogo. É preciso disseminar que o diagnóstico para comportamentos desviantes tira o foco do real problema e ninguém mais se responsabiliza. Para promover a saúde de uma criança é preciso levar em conta quem ela é, que família ela pertence, sua cultura, padrão de consumo, ambiente no qual vive, sua condição socioeconômica e ampliar as opções terapêuticas. De acordo com De Souza (2010), os proponentes das abordagens biológicas para os desafios na educação enxergam a patologização desse processo como um direito. A criança tem o direito de receber atendimento, diagnóstico e medicamentos. A família tem o direito de estar ciente do problema (patológico) da criança, e, acima de tudo, é responsabilidade do governo cobrir os custos para a realização desses procedimentos (De Souza, 2010). O adolescente que questiona é diagnosticado com Transtorno Opositor Desafiador, para a família não há necessidade de buscar o porque aquele adolescente questiona, pergunta, procura a mudança, ele é apenas uma pessoa difícil e tudo se resume a um diagnóstico. Os diagnósticos de transtornos de aprendizagem são vinculados a uma visão que desconsidera o fato de que a vida escolar é atravessada e constituída por uma porção de fatores sociais, coletivos e afetivos, deslocando assim a questão para o indivíduo e patologizando-o. O agrupamento de sintomas que classificam os transtornos têm se tornado cada vez maior e com isso o uso indiscriminado de medicamentos em crianças que são diagnosticadas erroneamente acompanha esse números, uma situação preocupante pois o indivíduo muitas vezes é atropelado com questões externas que o entristece, desanima ou estressa, é silenciado, as causam não importam o que importa é tranquilização dos pais ou tutores e não a funcionalidade desses comportamentos. Não existe medicamento que torne a criança mais inteligente, apenas que a deixa mais focada e obediente, ela não questiona, ela passa a seguir o padrão e o normal. Muitas vezes é adicionado mais problemas aos que já existiam quando se medicaliza uma criança, é preciso considerar também as reações adversas que se somam com o constante uso desses medicamentos estimulantes. É importante salientar também, a família como instância central da medicalização, a colocação em prática da medicalização não deve ser atribuída aos médicos principalmente, esta é definida, em primeiro lugar, como uma forma de vigilância dos comportamentos incorretos e patogênicos da criança, no seio familiar, e essa vigilância é exercida pelos próprios pais. Foucault fala sobre a valorização da sexualidade da criança, mais exatamente a atividade masturbatória da criança e o corpo da criança em perigo sexual ligado pela preocupação com a sexualidade infantil. O processo de medicalização consiste na transformação da família em agente de vigilância e controle disciplinar ao mesmo tempo que o controle médico é exercido no exterior do seio familiar sustentados pela preocupação
regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo padrão ótimo. Se pensarmos na época feudal ou da escravidão, a repressão sobre um corpo se dava quando, por exemplo, esse escravo não estava bem ou fazia algo fora do padrão e era repreendido com chibatadas e diversas outras formas de punição. Mas com conglomerados urbanos se tornou necessário a gestão dessa população, já que a repressão pela violência não era mais suficiente, foi preciso buscar conhecer como aquela população trabalhava, afinal quando se pensa em gerir um população facilmente pode ser relacionado a gerir uma fábrica, onde os trabalhadores precisam ter seus corpos disciplinados e falar de corpo é falar sobre sexualidade. Partindo deste pressuposto, concluiu-se que a sexualidade precisava ser exposta ao gestor, quem está à frente das tomadas de decisões e não mais restrita ao quarto do casal. Então Foucault analisa como houve a incitação da sexualidade, agora chegou o momento de falar sobre para se caso aquele corpo apresentar algum desvio ele passe a demonstrar e rapidamente seja controlado, consertado. Como controlar uma coisa que está escondida entre quatro paredes? Como operar economicamente a sexualidade se ela está restrita ao ambiente familiar? O poder agora assumiu uma lógica diferente, ele não irá manter os aspectos da hipótese repressiva e sim analisar e controlar o que há de escondido sobre o corpo humano. Entre os séculos 18 e 19 o sexo vai ser absorvido por discursos que querem analisá-lo e conhecê-lo, sendo incitado pelas ciências médicas e psicológicas, caso um indivíduo apresente improdutividade ou perturbações pelas suas pulsões sexuais ele deve ser analisado e tratado para que volte a funcionar segundo um padrão ótimo. Essa necessidade de saber, a vontade de saber que nomeia a obra de Foucault, é o que resulta em resultados analíticos, normatizações e regulações. A sexualidade passa a ser esquadrinhada cientificamente e absorve antigos preconceitos e os desenvolve na forma de verdades científicas, como a categorização de tudo que fugia da normalidade e do padrão como doença. A homossexualidade não seria um pecado, e sim uma doença, a mulher que apresenta desejos sexuais é uma doente e todas essas doenças deveriam ser tratadas, higienizadas. A criminologia, por exemplo, vai dizer que as pessoas com tendência a criminalidade possuem sexualidade despudorada, a biologia que segue uma cadeia evolutiva vai afirmar que a homossexualidade vai contra a evolução e todas as “anormalidades” serão categorizadas: mulheres viciadas em sexo, crianças precoces, loucos morais, neuróticos genitais, degenerados, invertidos e homossexuais. Por conseguinte, diante de todas as pautas que foram discutidas percebemos que o poder agora opera pelo saber e não pelo silêncio, um poder que tem vontade de saber para que possa operar melhor todos os corpos, isso é indiscutível. Teremos médicos, psicanalistas, psiquiatras e outros profissionais espalhando discursos preconceituosos mas com vocabulários científicos, reforçando as problemáticas que Foucault trouxe em seu livro. Um exemplo disso, são as falas do psiquiatra Cesare Lombroso sobre a mulher, partindo da premissa de que ela possui frieza sexual e não gosta de sexo. O poder também vai passar a operar economicamente sobre os corpos estimulando a sexualidade ao mesmo passo que a indústria vai exercer influência sobre tudo que busca estimular o corpo em volta do sexo, através da pornografia, objetos sexuais, exercícios e padronização do corpo, medicações e outros estímulos. A sexualidade vai ter influência sobre a biopolítica, aquela política de higiene pública, saúde pública e contingência de doenças sexualmente transmissíveis, inicialmente disseminando muitas fakes news, que inclusive fomentou a morte de milhares de homossexuais. A vontade de saber sobre a sexualidade vai ser pauta política e o próprio estado começará a se interessar pelo sexo, nunca fomos Vitorianos, talvez.