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O lago das lágrimas - Emily Rodda - Deltora Quest 1-Vol.2, Notas de estudo de Química

DELTORA É UMA TERRA DE MONSTROS E MAGIA... Lief, Barda e sua rebelde companheira Jasmine saíram numa perigosa busca para encontrar as sete pedras preciosas roubadas do mágico Cinturão de Deltora. O topázio dourado já foi encontrado. Mas o reino de Deltora somente será libertado do poder do cruel Senhor das Sombras quando todas as pedras tiverem sido recolocadas no Cinturão. Para encontrar a segunda pedra, os três heróis devem viajar pelas terras governadas pela monstruosa feiticeira Thaega

Tipologia: Notas de estudo

2010
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DELTORA É UMA TERRA DE MONSTROS E MAGIA...

Lief, Barda e sua rebelde companheira Jasmine saíram numa perigosa busca para encontrar as sete pedras preciosas roubadas do mágico Cinturão de Deltora. O topázio dourado já foi encontrado. Mas o reino de Deltora somente será libertado do poder do cruel Senhor das Sombras quando todas as pedras tiverem sido recolocadas no Cinturão. Para encontrar a segunda pedra, os três heróis devem viajar pelas terras governadas pela monstruosa feiticeira Thaegan. A jornada está repleta de traições, trapaças e perigos e, no final, eles precisarão enfrentar o hediondo guardião do encantado Lago das Lágrimas.

SUMÁRIO

A ponte As três perguntas Verdades e mentiras O resgate O terror Nij e Doj Sustos Olhos muito abertos A passagem Raciocínio rápido A caminho de Raladin Música O Lago das Lágrimas Soldeen A feiticeira A luta pela liberdade

que conheceram em sua primeira aventura nas temíveis Florestas do Silêncio. Nas Florestas, eles descobriram os fantásticos poderes de cura do néctar dos Lírios da Vida. Eles também conseguiram encontrar a primeira pedra — o topázio dourado, símbolo da lealdade, que tem o poder de fazer os vivos entrar em contato com o mundo espiritual, além de outros poderes que nossos heróis ainda não compreendem. Agora, continue a leitura...

Lief, Barda e Jasmine caminhavam. A manhã estava fresca e luminosa: o céu era azul-claro, o sol se insinuava entre as árvores e iluminava com faixas douradas a trilha sinuosa que percorriam. Os sombrios perigos das florestas do silêncio haviam ficado para trás. "Num dia lindo como este", Lief pensou, caminhando ao lado de Barda, "seria fácil acreditar que tudo estava bem em Deltora". Longe da cidade devastada e apinhada de Del, longe da patrulha dos Guardas Cinzentos e do sofrimento do povo que vivia faminto e aterrorizado, era mesmo quase possível esquecer que o reino era dominado pelo Senhor das Sombras. Mas esquecer seria tolice. O interior era magnífico, mas o perigo rondava toda a estrada que conduzia ao Lago das Lágrimas. Lief espiou para trás e encontrou o olhar de Jasmine. Ela não queria vir por esse caminho e o criticara com todas as forças. Agora, caminhava tão leve e silenciosamente como sempre fazia, mas seu corpo estava rígido e a boca apertada numa linha reta e dura. Naquela manhã, prendera os

cabelos para trás com uma tira de tecido que arrancara das roupas esfarrapadas. Sem a moldura habitual de cachos castanhos, o rosto parecia muito pequeno e pálido, e os olhos verdes davam a impressão de ser enormes. A pequena criatura peluda que chamava de Filli segurava-se ao ombro dela e guinchava nervosamente. Kree, o corvo, batia as asas desajeitadamente em meio às árvores que os rodeavam, como se não quisesse ficar no solo nem se afastar muito. Naquele momento, Lief percebeu, assustado, o quanto estavam receosos. "Jasmine, porém, foi tão corajosa nas Florestas", ele lembrou, virando rapidamente para a frente. "Ela arriscou a vida para nos salvar". De fato, aquela parte de Deltora era perigosa; mas, por outro lado, naqueles dias do Senhor das Sombras, havia perigo por toda parte. O que aquele lugar tinha de tão especial? Haveria algo que ela não lhes contara? Ele se lembrou da discussão que ocorrera quando os três companheiros decidiam para onde iriam após deixar as Florestas do Silêncio. — É loucura ir para o norte por aqui — Jasmine insistiu, os olhos faiscando. — A feiticeira Thaegan domina essa região. — Essa sempre foi a fortaleza dela, Jasmine — Barda salientou, paciente. — No entanto, muitos viajantes atravessaram essas terras no passado e viveram para contar a história. — Hoje, Thaegan é dez vezes mais poderosa do que antes! — Jasmine exclamou. — O mal atrai o mal, e o Senhor das Sombras aumentou a força dela. Agora ela está inflada pela vaidade e também pela perversidade. Se viajarmos para o norte por aqui, estaremos condenados. Lief e Barda fitaram-se. Ambos haviam ficado satisfeitos quando Jasmine decidira deixar as Florestas do Silêncio e unir-se a eles na busca pelas pedras perdidas do Cinturão de Deltora. Fora graças a ela que não tinham sucumbido nas Florestas. Fora graças a ela que a primeira pedra, o topázio dourado, estava agora preso ao Cinturão que Lief usava escondido debaixo da camisa. Eles sabiam que os talentos de Jasmine seriam extremamente úteis à medida que avançassem na busca das seis pedras restantes. Contudo, Jasmine havia vivido de acordo com os recursos que tinha à mão sem precisar agradar a ninguém além de si mesma. Ela não estava acostumada a seguir os planos de terceiros e não tinha receio de expressar seus sentimentos abertamente. Agora, Lief percebia, um tanto aborrecido, que haveria momentos em que Jasmine seria uma companheira desagradável e indisciplinada.

Lief parou, rígido, o coração acelerado, enquanto Jasmine o seguia na curva. Ele a ouviu respirar fundo quando ela, também, viu o que os esperava adiante. O homem de olhos dourados percebeu a presença deles, mas não se moveu. Apenas ficou ali, à espera. Ele não usava nada além de uma tanga e, no entanto, o vento não o fazia tiritar de frio. Ele estava tão imóvel que, não fosse o fato de estar respirando, poderia ser confundido com uma estátua. — Ele está enfeitiçado — Jasmine sussurrou, e Kree emitiu um leve som queixoso. Eles avançaram com cuidado. O homem os observava em silêncio. Quando finalmente pararam à sua frente na beira do abismo terrível, ele ergueu a espada num sinal de advertência. — Queremos passar, amigo — Barda disse. — Afaste-se. — Vocês devem responder às minhas perguntas — o homem respondeu com voz baixa e grave. — Se acertarem, poderão passar. Se errarem, terei de matá-los. — Sob as ordem de quem? — Jasmine quis saber. — Da feiticeira Thaegan — esclareceu o homem. Sua pele pareceu estremecer ao som desse nome. — Certa vez, tentei enganá-la a fim de salvar um amigo da morte. Agora estou fadado a guardar esta ponte até que a verdade e a mentira se transformem numa coisa só. Quem vai aceitar o meu desafio? — ele indagou, o olhar passando de um a outro. — Eu — ofereceu-se Jasmine, livrando-se da mão de Barda que a prendia e dando um passo à frente. A expressão de temor havia desaparecido de seu rosto e fora substituída por outra que Lief não reconheceu de imediato. E, então, surpreso, percebeu que era pena. — Muito bem. — O homem gigantesco olhou para baixo. No chão havia uma fileira de gravetos.

— Transforme 11 em oito sem excluir nenhum graveto — ele ordenou, ríspido. Lief sentiu o estômago revirar. — Essa não é uma pergunta justa! — Barda exclamou. — Não somos mágicos. — A pergunta foi feita — retrucou o homem sem piscar os olhos dourados. — E deve ser respondida. Jasmine estivera fitando os gravetos. De repente, agachou-se e começou a movê-los de um lado a outro. Seu corpo ocultava o que fazia e, quando tornou a se levantar, Lief abafou um grito. Ainda havia 11 gravetos, mas lia-se:

— Muito bem, disse o homem, no mesmo tom de voz. — Você pode passar. Ele se afastou e Jasmine avançou para a ponte. Contudo, quando Lief e Barda tentaram segui-la, ele barrou-lhes a passagem. — Somente quem responde pode passar — ele avisou. Jasmine virou-se e observou-os. Kree pairava sobre ela, as asas negras muito abertas. A ponte balançava perigosamente. — Continue — Barda bradou. — Nós a seguiremos. Jasmine assentiu, virou-se outra vez e começou a caminhar com leveza na ponte, com tanta indiferença como se estivesse num galho nas Florestas do Silêncio.

Ajoelhou-se no chão e, quando os versos foram repetidos, fez as contas com cuidado e anotou os números na terra com o dedo. Havia 13 crianças no total, mais 13 sapos, mais 26 vermes, mais 52 pulgas. Isso somava... 104. Lief verificou a conta duas vezes e abriu a boca para falar. Então, o coração bateu surdamente quando, no último momento, ele percebeu que quase cometera um erro. Havia se esquecido de acrescentar a própria Thaegan! Quase ofegante por causa do desastre iminente, ele se levantou. — Cento e cinco — ele disparou. Os estranhos olhos do homem pareceram faiscar. — A sua não foi uma boa resposta — ele afirmou. Estendeu a mão com a rapidez de um raio e agarrou Lief pelo braço com punho de aço. Lief espantou-se e sentiu o calor do pânico subir-lhe ao rosto. — Mas... a soma está correta — ele gaguejou. — As crianças, os sapos, os vermes e as pulgas... e a própria Thaegan: são 105, no total. — Sim — o homem concordou. — Mas você esqueceu o prato favorito de Thaegan. Um corvo, engolido vivo. Ele também se encontrava na caverna, vivo em seu estômago. A resposta é 106. A sua não foi uma boa resposta — ele repetiu, erguendo a espada curva. — Prepare-se para morrer.

Não foi uma pergunta justa — Lief gritou, lutando para libertar-se. — Você me enganou! Como eu poderia saber o que Thaegan gosta de comer? — Não é da minha conta o que você sabe ou não — disse o guarda da ponte. Ele ergueu a espada ainda mais alto até que a sua lâmina curva ficou na altura do pescoço de Lief. — Não! — gritou o garoto. — Espere! — Naquele momento de terror, ele só conseguia pensar no Cinturão de Deltora e no topázio. Se nada fizesse para evitar, aquele gigante de olhos dourados certamente o mataria e tiraria o Cinturão de seu corpo. Talvez, o entregasse a Thaegan. E então Deltora estaria eternamente perdida para o Senhor das Sombras. "Preciso atirar o Cinturão no abismo", pensou, desesperado. "Preciso me certificar de que Barda e Jasmine me vejam fazê-lo. Assim, eles terão alguma chance de encontrá-lo novamente". Se ele pudesse deter o gigante até conseguir jogar o Cinturão... — Você é falso e trapaceiro! — ele gritou, deslizando as mãos sob a camisa e procurando o fecho do Cinturão. — Não admira que esteja condenado a guardar esta ponte até que verdades e mentiras se transformem em coisas iguais. Como esperara, o homem parou. A raiva lhe iluminava o olhar. — Meu sofrimento não foi conquistado justamente — ele disparou. — Thaegan tomou minha liberdade por pura maldade e me condenou a ficar preso a este pedaço da terra. Se você está tão interessado em verdades e mentiras, jogaremos outro jogo. Os dedos de Lief ficaram paralisados sobre o Cinturão. Mas a ponta de esperança que percorrera o seu coração diminuiu e desapareceu ao ouvir as próximas palavras do inimigo. — Jogaremos para decidir de que forma você irá morrer — o homem esclareceu. — Você pode dizer uma coisa e nada mais. Se o que disser for verdade, vou estrangulá-lo

afinal. Um som interrompeu-lhe os pensamentos acelerados. Ele olhou a ponte e, para seu horror, percebeu que ela começava a se desintegrar. Sem pensar mais, saltou sobre ela, agarrou os corrimões de corda com ambas as mãos e correu como nunca imaginara ser capaz sobre o abismo assustador. Ele pôde ver Barda e Jasmine parados na beira do penhasco mais adiante, estendendo-lhe os braços. Ouviu suas vozes gritando. Atrás dele, as tábuas chocavam-se umas às outras, soltando-se de suas amarras e mergulhando no rio nas profundezas do abismo. Lief sabia que em breve a própria corda se soltaria e já a sentia cada vez mais frouxa. A ponte cedia e balançava loucamente enquanto ele corria. Ele só conseguia pensar em correr mais depressa, mas se encontrava apenas na metade do trajeto e não podia correr rápido o bastante. Agora, eram as tábuas que lhe escapavam de baixo dos pés! Ele tropeçava, caía, as cordas queimando-lhe as mãos que tentavam agarrar-se a elas. Ele pendia no ar, sem ter onde apoiar os pés. E, enquanto se encontrava ali, dependurado, indefeso e açoitado pelo vento, as tábuas à sua frente — as que eram o seu único caminho para a segurança — começaram a resvalar para os lados e caíram no rio. Dolorosamente, uma mão sobre a outra, ele começou a balançar-se nas cordas frouxas que eram tudo o que restava da ponte, tentando não pensar no que estava abaixo dele, no que aconteceria se ele se soltasse. "Estou jogando um jogo em Del", ele disse a si mesmo com fervor, ignorando a dor nos punhos fatigados. "Há uma vala enlameada sob meus pés. Meus amigos estão me observando e vão rir se eu cair. Tudo que preciso fazer é continuar — uma mão depois da outra.” Então, ele sentiu um solavanco e soube que as cordas, atrás dele, haviam se soltado do penhasco. No mesmo instante, foi sacudido para a frente e moveu-se rapidamente na direção da pedra nua do penhasco. Em segundos se chocaria contra ela e seus ossos se despedaçariam na rocha rosada. Ele ouviu o próprio grito e os gritos de Barda e Jasmine, flutuando ao vento. Fechou os olhos com força... Com um movimento rápido, algo enorme precipitou-se por baixo dele e o balanço nauseante foi interrompido quando sentiu algo macio e morno no rosto e nos braços. Ele estava sendo erguido cada vez mais para cima, e o forte bater de asas poderosas soava mais alto em seus ouvidos do que o vento.

Em seguida, foi agarrado por mãos ansiosas e tropeçou na poeira do solo firme. Seus ouvidos tilintavam. Ele pôde ouvir gritos e risos que pareciam muito distantes. Contudo, quando abriu os olhos, viu Jasmine e Barda inclinados sobre ele e deu-se conta de que eram eles que gritavam de alívio e felicidade. Lief sentou-se, fraco e atordoado, agarrado ao chão. Seu olhar encontrou os olhos dourados do grande pássaro que, se não fosse por Lief, ainda estaria preso à terra exercendo a função de guarda da ponte. Você me devolveu a vida, seus olhos pareciam dizer. Agora lhe devolvi a sua. Minha dívida com você está paga. Antes que Lief pudesse falar, o pássaro fez um movimento com a cabeça, abriu as asas e voou, reunindo-se aos companheiros mais uma vez e voando ao lado deles, prescrevendo voltas e gritando, para longe, ao longo do abismo. — Você sabia que ele era um pássaro — Lief disse a Jasmine mais tarde, enquanto prosseguiam devagar. Embora ainda estivesse dolorido e fraco, havia se recusado a descansar muito tempo. A simples visão dos penhascos o atordoava. Ele queria afastar-se deles o mais depressa possível. Jasmine confirmou com um gesto e olhou de relance para Kree, que se encontrava pousado em seu ombro ao lado de Filli. — Eu senti — ela contou. — E senti muita pena dele quando percebi a dor e a ânsia em seu olhar. — Ele deveria estar atormentado — resmungou Barda. — Mas teria nos matado sem questionar. — Ele não pode ser censurado por causa disso. Foi condenado a executar a vontade de Thaegan. E Thaegan é um monstro — ela replicou, séria. O desprezo deixava o olhar dela sombrio e, ao lembrar-se da charada que quase o levara à morte, Lief pensou que agora sabia o motivo. Ele esperou até que Barda tomasse a dianteira e voltou a falar com Jasmine. — Você não teme Thaegan por si própria, mas por Kree, não é mesmo? — ele indagou com suavidade. — Sim — ela confirmou, olhando fixamente para a frente. — Kree fugiu para as Florestas do Silêncio após ter escapado dela, há muito tempo. Ele estava fora do ninho quando ela capturou sua família. Assim, de certa forma, ele é como eu. Eu também era muito jovem quando os Guardas Cinzentos levaram meus pais. Kree e eu estamos juntos há muitos anos. Mas acho que chegou a hora de nos separarmos. Eu o estou conduzindo

— Guardas Cinzentos — ela murmurou, o rosto pálido. — Toda uma tropa, e está vindo nesta direção.

Lief e Barda seguiram Jasmine para o alto das árvores. Após a experiência vivida nas florestas do silêncio, parecia natural esconder-se acima do solo. Eles subiram o mais alto que puderam, e o som pesado de passos finalmente lhes chegou aos ouvidos. Eles encontraram um lugar seguro e confortável para se instalar enquanto o ruído se intensificava. Envoltos na capa de Lief, que ajudava a ocultá-los, e bem escondidos por uma espessa proteção de folhas, eles observaram quando os vultos vestidos de cinza começaram a marchar pela clareira. Os três amigos ficaram muito quietos, espremidos de encontro aos galhos. Imaginaram que seria por pouco tempo, somente enquanto os guardas passavam. Por esse motivo, o desalento tomou conta deles ao verem os homens parar, soltar as armas e se atirar ao chão. Ao que parecia, a tropa escolhera a clareira como local de descanso. Os três trocaram olhares desesperados. Que falta de sorte! Agora teriam de permanecer onde estavam, talvez por horas. Cada vez mais guardas entravam na clareira. Em breve, ela ficou fervilhante de uniformes cinzentos e vozes ásperas. Então, quando os últimos integrantes da tropa se tornaram visíveis, um som tilintante de correntes acompanhou o das botas em marcha. Os Guardas escoltavam um prisioneiro. Lief esticou o pescoço para olhar. O preso tinha uma aparência muito diferente de tudo o que tinha visto antes. Ele era muito pequeno, sua pele enrugada era cinza-azulada,

suas pernas e seus braços eram finos, os pequenos olhos pretos pareciam botões e um tufo de cabelos ruivos surgia do alto de sua cabeça. Havia uma coleira apertada ao redor de seu pescoço, com uma argola para prender uma corrente ou corda. Ele parecia exausto, e as correntes que pendiam de seus pulsos e tornozelos haviam provocado marcas profundas na pele. — Eles capturaram um ralad — Barda sussurrou, movendo-se para enxergar melhor. — O que é um ralad? — Lief quis saber. Ele tinha a impressão de ter ouvido ou lido esse nome antes, mas não lembrava onde. — Os ralads são uma raça de construtores. Antigamente, eram muito queridos por Adin e por todos os reis e rainhas de Deltora — Barda sussurrou em resposta. — Suas construções eram famosas pela resistência e engenhosidade. Agora Lief lembrava onde vira o nome: em 0 Cinturão de Deltora, o pequeno livro azul que seus pais o tinham obrigado a estudar. Ele olhou fascinado para o vulto abatido abaixo deles. — Foram os ralads que construíram o palácio de Del — ele murmurou. — Mas ele é tão pequeno! — Formigas são minúsculas — Barda resmungou. — E, no entanto, uma formiga pode carregar vinte vezes o próprio peso. Não é o tamanho que importa, mas sim a determinação. — Silêncio — pediu Jasmine. — Os Guardas vão escutar você. Do jeito que as coisas estão, eles podem perceber nossa presença a qualquer momento. Entretanto, os Guardas haviam percorrido um longo caminho e estavam cansados. Não estavam interessados em nada além da comida e da bebida que era tirada dos cestos que os líderes haviam colocado no centro da clareira. Dois deles empurraram o prisioneiro bruscamente para o chão ao lado da clareira, jogaram-lhe uma garrafa de água e voltaram a atenção à própria refeição. Jasmine observou enojada os guardas avançando sobre a comida e derramando água em suas bocas, fazendo-a escorrer pelo queixo e cair no chão. Lief, contudo, observava o pequeno ralad, cujos olhos encontravam-se fixos nos restos de comida que eram atirados na grama da clareira. Ele estava visivelmente faminto. — O magricela está com fome! — zombou um dos Guardas, apontando um osso meio roído na direção do homenzinho. — Aqui, magricela! Ele se arrastou até onde o prisioneiro estava sentado e estendeu-lhe o osso. O

foi necessário muito esforço para convencer Barda. Ele era o único que sabia do povo ralad, e ver um deles na condição de prisioneiro dos Guardas Cinzentos era terrível. Enquanto Jasmine vigiava da árvore, Lief e Barda escorregaram para o chão ao lado do pequeno homem e fizeram sinais para que não tivesse medo. Trêmulo, o prisioneiro assentiu e fez algo surpreendente. Com a ponta de um de seus dedos finos, desenhou uma marca estranha no chão e olhou para eles com olhar inquisidor.

Aturdidos, Lief e Barda olharam um para o outro e novamente para o homenzinho. O prisioneiro percebeu que não tinham compreendido o significado. Seus olhos negros ficaram assustados e ele apagou o desenho depressa. Mas, ainda assim, ele parecia confiar nos recém-chegados, ou talvez acreditasse que nenhuma situação poderia ser pior do que aquela em que se encontrava. Já que os Guardas dormiam e roncavam como animais, ele permitiu ser rápida e silenciosamente envolto na capa de Lief. Eles haviam decidido que sua única esperança seria levá-lo com as correntes e tudo o mais. Esperavam que a capa firmemente enrolada impedisse as correntes de se chocar umas contra as outras e alertar os inimigos. As correntes deixavam o homenzinho mais pesado do que imaginaram, mas Barda não teve dificuldade em erguê-lo e colocá-lo sobre o ombro. Eles sabiam que voltar às árvores carregando aquela carga seria difícil e perigoso, mas o prisioneiro se encontrava deitado muito perto da saída da clareira. Tudo que tinham a fazer era alcançá-la e afastar-se furtivamente e em silêncio. Aquele era um risco que todos estavam dispostos a correr. E tudo teria dado certo se, talvez durante um sonho, um dos Guardas não tivesse, exatamente naquele momento, se virado e estendido um braço, atingindo um dos companheiros no queixo. O Guarda atingido acordou com um gemido, olhou furioso ao redor na tentativa de descobrir o que o acertara e viu Lief e Barda fugindo pelo caminho. Ele deu o alarme com um grito. Em segundos, a clareira parecia viva, cheia de

Guardas zangados, despertos de seu sono e furiosos por constatar que o prisioneiro se fora.

Uivando como animais, os guardas correram ruidosamente pelo caminho atrás de Lief e barda. Todos carregavam estilingues e um estoque das bolas venenosas que chamavam de "bolhas". Eles sabiam que, assim que o alvo estivesse claro e as bolhas pudessem ser atiradas, os vultos que corriam adiante cairiam indefesos e gritando de dor.

Lief e Barda também sabiam disso. E, talvez, também o homenzinho ralad, pois ele gemia, desesperado, enquanto sacolejava no ombro de Barda. Porém, o caminho era sinuoso e os Guardas os perderam de vista; além disso, o medo deu asas aos pés dos fugitivos, permitindo-lhes manter uma boa dianteira. Entretanto, Lief sabia que isso não poderia durar. Ele já estava ofegante. Enfraquecido pela experiência penosa no abismo, não tinha a força necessária para escapar do inimigo. Guardas Cinzentos podiam correr dias e noites sem descanso e conseguiam perceber a presença da presa onde quer que estivesse escondida. Bem às suas costas, ele ouviu um estardalhaço e os gritos zangados de homens caindo. Com um arrepio de gratidão, imaginou que Jasmine os seguira pelas árvores e jogara galhos secos pelo caminho para que seus perseguidores tropeçassem e se atrasassem. "Seja cuidadosa, Jasmine", Lief pensou. "Não deixe que a vejam.” Jasmine poderia ter ficado escondida e em segurança com Filli. Os Guardas nunca teriam sabido que eram três os estranhos na clareira e não apenas dois. Mas ia