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Guias e Dicas
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O gás ideal, capo.2, Notas de aula de Física

aula 2 de fisica estatistica

Tipologia: Notas de aula

2014

Compartilhado em 15/04/2014

rodrigo-de-barros-3
rodrigo-de-barros-3 🇧🇷

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Cap´ıtulo 2
as ideal
8 de dezembro de 2009
1 Propriedades gerais
Fun¸ao de parti¸ao molecular
Neste cap´ıtulo estudamos as propriedades termodinˆamicas de um as cons-
titu´ıdo de Nmol´eculas fracamente interagentes, confinadas num recipiente
de volume V`a temperatura T. Em geral as mol´eculas de um as, ou de
um l´ıquido, se repelem a curtas distˆancias e se atraem a longas distˆancias.
A for¸ca de atra¸ao entre duas mol´eculas diminui com a distˆancia e se torna
desprez´ıvel a distˆancias suficientemente grandes. Num as, o umero de
mol´eculas por unidade de volume N/V ´e pequeno o que acarreta uma grande
distˆancia elas. Se a densidade de um as for suficientemente pequena, a
distˆancia edia entre mol´eculas (V /N)1/3ser´a enorme de modo que a for¸ca
entre as mol´eculas sea muito pequena e podemos desprezar as intera¸oes
entre as mol´eculas. Um as nessas condi¸oes ´e denominado as ideal.
Como as intera¸oes entre as mol´eculas ao desprez´ıveis, as propriedades de
um as ideal ao determinadas pela distribui¸ao de probabilidades associada
a uma mol´ecula ou a uma representante de cada tipo de mol´ecula, se o
as for constitu´ıdo por arios componentes. Os estados associados a uma
mol´ecula ao descritos, em mecˆanica cl´assica, pelo conjunto dos pares de
vari´aveis formados pelas coordenadas e seus momentos conjugados, cada par
constituindo um grau de liberdade. Denotando por γo conjunto das vari´aveis
que definem o estado de uma mol´ecula e por H(γ) a hamiltoniana cl´assica
associada a uma mol´ecula ent˜ao a distribui¸ao de probabilidades canˆonica
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Cap´ıtulo 2

G´as ideal

8 de dezembro de 2009

1 Propriedades gerais

Fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular

Neste cap´ıtulo estudamos as propriedades termodinˆamicas de um g´as cons- titu´ıdo de N mol´eculas fracamente interagentes, confinadas num recipiente de volume V `a temperatura T. Em geral as mol´eculas de um g´as, ou de um l´ıquido, se repelem a curtas distˆancias e se atraem a longas distˆancias. A for¸ca de atra¸c˜ao entre duas mol´eculas diminui com a distˆancia e se torna desprez´ıvel a distˆancias suficientemente grandes. Num g´as, o n´umero de mol´eculas por unidade de volume N/V ´e pequeno o que acarreta uma grande distˆancia elas. Se a densidade de um g´as for suficientemente pequena, a distˆancia m´edia entre mol´eculas (V /N)^1 /^3 ser´a enorme de modo que a for¸ca entre as mol´eculas ser´a muito pequena e podemos desprezar as intera¸c˜oes entre as mol´eculas. Um g´as nessas condi¸c˜oes ´e denominado g´as ideal. Como as intera¸c˜oes entre as mol´eculas s˜ao desprez´ıveis, as propriedades de um g´as ideal s˜ao determinadas pela distribui¸c˜ao de probabilidades associada a uma mol´ecula ou a uma representante de cada tipo de mol´ecula, se o g´as for constitu´ıdo por v´arios componentes. Os estados associados a uma mol´ecula s˜ao descritos, em mecˆanica cl´assica, pelo conjunto dos pares de vari´aveis formados pelas coordenadas e seus momentos conjugados, cada par constituindo um grau de liberdade. Denotando por γ o conjunto das vari´aveis que definem o estado de uma mol´ecula e por H(γ) a hamiltoniana cl´assica associada a uma mol´ecula ent˜ao a distribui¸c˜ao de probabilidades canˆonica

ρ(γ) ´e dada por

ρ(γ) =

ζ∗^

e−βH(γ), (1)

em que ζ∗^ ´e um fator de normaliza¸c˜ao dado por

ζ∗^ =

∫ e−βH(γ)^ dγ. (2)

As propriedades termodinˆamicas do g´as s˜ao determinadas por meio da fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular ζ = ζ∗/hn, em que h ´e a constante de Planck e n ´e o n´umero de graus de liberdade da mol´ecula, isto ´e,

ζ =

hn

∫ e−βH(γ)dγ. (3)

O fator h−n^ ´e necess´ario para que o n´umero de estados seja aquele que ob- ter´ıamos utilizando o limite semi-cl´assico da mecˆanica quˆantica. ´E impor- tante observar que esse fator afeta a entropia e a energia livre de Helmholtz, que est˜ao relacionadas com o n´umero de estados, mas n˜ao outras grande- zas termodinˆamicas definidas como m´edias sobre a distribui¸c˜ao (1), que n˜ao cont´em a constante de Planck, como ´e o caso da energia m´edia ou da press˜ao. A hamiltoniana de uma mol´ecula pode ser separada em duas partes,

H = Htrans + Hint. (4)

A primeira parcela est´a relacionada com os graus de liberdade de transla¸c˜ao e ´e simplesmente a energia cin´etica de transla¸c˜ao,

Htrans =

2 m

(p^2 x + p^2 y + p^2 z ), (5)

em que m ´e a massa da mol´ecula e px, py e pz s˜ao os componentes cartesianos do momento total da mol´ecula, conjugados `as posi¸c˜oes x, y e z do centro de massa da mol´ecula. A segunda parcela est´a associada com outros graus de liberdade relativos aos movimentos de rota¸c˜ao, vibra¸c˜ao, etc., que denomina- mos graus de liberdade internos. As vari´aveis que descrevem os movimentos internos s˜ao denotadas coletivamente por σ. Tendo em vista que Htrans n˜ao depende de σ e que Hint depende apenas de σ ent˜ao ζ pode se escrita como um produto de dois fatores

ζ = ζtrans ζint, (6)

A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular de um g´as ideal pode finalmente ser escrita na seguinte forma

ζ =

V

λ^3

ζint. (14)

Vale notar que ζint n˜ao depende de V mas apenas de T.

Propriedades termodinˆamicas

Vimos no cap´ıtulo 1 que a entropia est´a relacionada com o n´umero de estados acess´ıveis e que a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao ζ ´e uma soma sobre os poss´ıveis esta- dos de uma unidade constitutiva do sistema, no presente caso uma mol´ecula. Vimos ainda que a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao Z do sistema ´e simplesmente o pro- duto das fun¸c˜oes de parti¸c˜ao ζ de cada unidade constitutiva, isto ´e, Z = ζN^. Esse resultado, entretanto, ´e v´alido para um sistema composto por unidades constitutivas localizadas espacialmente. No presente caso, as unidades cons- titutivas, que s˜ao as mol´eculas do g´as, n˜ao est˜ao localizadas mas se movem no espa¸co e podem ocupar qualquer posi¸c˜ao dentro do recipiente. Quando per- mutamos os estados de duas unidades constitutivas quaisquer, admitimos que o estado do sistema n˜ao se altera. Como o n´umero de permuta¸c˜oes poss´ıveis com N unidades constitutivas ´e N! ent˜ao o n´umero de estados acess´ıveis para o sistema ser´a menor por um fator N!. Dessa forma, tendo em vista que Z ´e uma soma sobre estados do sistema, a f´ormula correta de Z para o presente caso ´e

Z =

N!

ζN^. (15)

A partir desse resultado obtemos

ln Z = N ln ζ − ln N! (16)

e, utilizando o resultado (14),

ln Z = N ln

V

λ^3

  • N ln ζint − ln N!. (17)

Usando as duas parcelas dominantes da f´ormula de Stirling

ln N! = N ln N − N + ln

2 πN, (18)

v´alida para N suficientemente grande, alcan¸camos o resultado

ln Z = N

( ln

V

Nλ^3

  • ln ζint + 1

)

. (19)

A energia livre de Helmholtz F = −kB ln Z vale pois

F = −NkB T

( ln

V

Nλ^3

  • ln ζint + 1

)

. (20)

A press˜ao p do g´as ´e dada por

p = −

∂F

∂V

NkB T V

em que levamos em conta que ζint n˜ao depende de V , ou

pV = NkB T, (22)

que ´e a equa¸c˜ao de estado para um g´as ideal. Como a mesma equa¸c˜ao pode ser escrita na forma P V = nRT em que n ´e o n´umero de moles e R a constante universal dos gases, ent˜ao NkB = nR. Por outro lado, a constante de Avogadro NA ´e definida como o n´umero de mol´eculas num mol, isto ´e, NA = N/n. Portanto, a constante de Boltzmann kB est´a relacionada com a constante de Avogadro NA por meio de

R = NAkB. (23)

Para futura referˆencia determinamos aqui a energia livre de Gibbs G, que se obt´em por meio de uma transforma¸c˜ao de Legendre, G = F + pV. Usando os resultados obtidos para F e p obtemos a seguinte express˜ao para a energia livre de Gibbs de um g´as ideal

G = −NkB T

( ln

kB T pλ^3

  • ln ζint

)

. (24)

A energia interna U ´e obtida a partir de

U = −

∂β

ln Z =

NkB T − N

∂β

ln ζint. (25)

A energia m´edia por mol´ecula u = U/N de um g´as ideal depende portanto apenas da temperatura. A entropia S ´e calculada por S = −(∂F/∂T ) ou mais simplesmente por

S =

T

(U − F ). (26)

2 G´as diatˆomico

Mol´eculas diatˆomicas r´ıgidas

As propriedades termodinˆamicas de mol´eculas diatˆomicas ou, em geral, de mol´eculas poliatˆomicas s˜ao obtidas atrav´es da energia livre F dada por

F = −kB T ln

ζN N!

em que ζ ´e a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao da mol´ecula e portanto ´e uma integral sobre o espa¸co-γ da mol´ecula, composto pelas coordenadas e momentos generalizados da mol´ecula. Vamos considerar inicialmente um g´as de mol´eculas diatˆomicas r´ıgidas. Nesse caso a hamiltoniana H correspondente a uma mol´ecula ´e

H = Htrans + Hrot, (34)

em que Htrans ´e a parte translacional, dada por

Htrans =

2 m

(p^2 x + p^2 y + p^2 z ), (35)

sendo m ´e a massa da mol´ecula e px, py e pz os componentes cartesianos do momento linear da mol´ecula, respectivamente conjugados `as coordenadas cartesianas do centro de massa da mol´ecula. A parte rotacional Hrot ´e dada por

Hrot =

2 I

(p^2 θ +

sin 2 θ

p^2 φ), (36)

em que θ e φ s˜ao os ˆangulos que definem o eixo da mol´ecula, pθ e pφ s˜ao os respectivos momentos angulares conjugados e I ´e o momento de in´ercia. As coordenadas do espa¸co-γ s˜ao

x, y, z, θ, φ, px, py , pz, pθ, pφ, (37)

em que x, y e z s˜ao as coordenadas do centro de massa da mol´ecula. A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular ´e dada por

ζ =

h^5

∫ e−βH^ dxdydzdθdφdpxdpydpzdpθdpφ, (38)

em que introduzimos um fator h para cada par formado por uma coordenada generalizada e seu momento conjugado. A fun¸cao de parti¸c˜ao ζ se fatoriza na forma ζ = ζtransζrot, (39)

em que

ζtrans =

h^3

∫ e−βHtrans^ dxdydzdpxdpydpz (40)

e

ζrot =

h^2

∫ e−βHrot^ dθdφdpθdpφ. (41)

Efetuando as integrais, obtemos

ζtrans =

V

h^3

( 2 πm β

) 3 / 2 (42)

e

ζrot =

∫ (^2 πI

h^2 β

) 1 / 2 ( 2 πI sin^2 θ h^2 β

) 1 / 2 dθdφ =

( 2 πI h^2 β

) ∫ sin θdθdφ =

8 π^2 I h^2 β

Podemos escrever finalmente

ζ = V

( 2 πm h^2 β

) 3 / 2 8 π^2 I h^2 β

V

λ^3

8 π^2 I h^2 β

A partir dessa express˜ao podemos calcular a energia interna

U = −N

∂β

ln ζ =

NkB T, (45)

da qual obtemos a capacidade t´ermica a volume constante,

Cv =

∂U

∂T

Nk. (46)

A energia livre de Helmholtz ´e dada por

F = −NkB T

( ln

V

Nλ^3

  • ln

8 π^2 I h^2 β

) (47)

(^0) 0.5 1 1.5 2 T / Θ r

0

1

c

rot

/ k

B

Figura 1: Calor espec´ıfico crot de um rotor quˆantico como fun¸c˜ao de T /Θr em que Θr = ¯h^2 / 2 IkB. A linha tracejada representa o resultado cl´assico.

figura 1. Vemos que a altas temperaturas obt´em-se o valor cl´assico kB. A baixas temperaturas ele se anula. Em seguida vamos obter os resultados de ζrot nos limites de altas e baixas temperaturas. Para altas temperaturas, basta aproximar a somat´oria em (53) pela integral

ζrot =

∫ (^) ∞

0

(2ξ + 1)e−β¯h

(^2) ξ(ξ+1)/ 2 I dξ =

2 I

β¯h^2

8 π^2 I βh^2

que ´e idˆentico ao resultado cl´assico obtido na se¸c˜ao anterior. Para baixas temperaturas, conservamos somente a primeira e a segunda parcelas da somat´oria ζrot = 1 + 3e−β¯h (^2) /I , (55)

para obter ln ζrot = 3e−β¯h

(^2) /I

. (56)

Portanto,

urot = −

∂β

ln ζrot = 3

¯h^2 I

e−β¯h (^2) /I , (57)

que ´e v´alida para β¯h^2 /I >> 1 ou kB T << h¯^2 /I. Nesse regime, o calor espec´ıfico ´e dado por

crot =

∂urot ∂T

= 3kB

( β¯h^2 I

) 2 e−β¯h

(^2) /I , (58)

de modo que crot → 0 quando T → 0.

Hidrogˆenio

Quando os ´atomos de uma mol´ecula diatˆomica s˜ao do mesmo tipo, como ´e o caso do hidrogˆenio, devemos levar em conta que os estados quˆanticos dos n´ucleos dos ´atomos podem ser sim´etricos ou anti-sim´etricos acarretando uma mudan¸ca no c´alculo da fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular. Vamos aqui considerar apenas o hidrogˆenio. Para a mol´ecula de hidrogˆenio, cujos ´atomos possuem spin igual a 1/2, um estado sim´etrico corresponde a um estado singleto com spin total igual a 0 (para-hidrogˆenio) e um estado anti-sim´etrico corresponde a um estado tripleto com spin total igual a 1 (orto-hidrogˆenio). Se a mol´ecula de hidrogˆenio estiver no estado singleto a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular vale

ζ 0 =

ℓ par

(2ℓ + 1)e−β¯h

(^2) ℓ(ℓ+1)/ 2 I , (59)

dades de que uma mol´ecula esteja no estado singleto ou tripleto s˜ao, respec- tivamente,

P 0 =

ζ 0 ζrot

e P 1 =

3 ζ 1 ζrot

A altas temperaturas obt´em-se P 1 = 3/4 e P 0 = 1/4 acarretando uma com- posi¸c˜ao de 3/4 de mol´eculas no estado singleto e 1/4 no estado tripleto. A baixas temperaturas, por outro lado, a raz˜ao P 1 /P 0 se anula rapidamente e todas as mol´eculas passam para o estado singleto e se encontram no estado com ℓ = 0 quando T → 0. As transi¸c˜oes entre os estados singleto e tripleto, entretanto, s˜ao muito lentas acarretando uma invariˆancia na propor¸c˜ao de mol´eculas no estado sin- gleto e tripleto. Dessa forma, o hidrogˆenio se comporta termicamente como se fosse uma mistura de dois gases, isto ´e, o para-hidrogˆenio e o orto-hidrogˆenio se comportam como dois gases distintos cujos n´umeros de mol´eculas perma- necem invariantes. Supondo que a raz˜ao seja a mesma daquela que ocorre com o sistema em equil´ıbrio a altas temperaturas, ent˜ao o para-hidrogˆenio e o orto-hidrogˆenio permanecem na propor¸c˜ao de 3 para 1, respectivamente, independentemente da temperatura. A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular relativa aos modos de rota¸c˜ao pode ent˜ao ser escrita como

ζrot = [ζ 0 ]^1 /^4 [ζ 1 ]^3 /^4. (63)

A partir desse resultado obtemos a energia m´edia por mol´ecula

urot =

u 0 +

u 1 , (64)

com

u 0 = −

∂β

ln ζ 0 e u 1 = −

∂β

ln ζ 1. (65)

O calor especifico vale pois

crot =

c 0 +

c 1 , (66)

em que

c 0 =

∂u 0 ∂T

e c 1 =

∂u 1 ∂T

Os gr´aficos de c 1 , c 2 e crot est˜ao mostrados na figura 2.

Mol´eculas diatˆomicas el´asticas

Vamos examinar agora as propriedades t´ermicas de um g´as ideal de mol´eculas diatˆomicas n˜ao r´ıgidas. Admitimos que os ´atomos que comp˜oem a mol´ecula oscilam com uma frequˆencia natural ω. A hamiltoniana correspondente a uma mol´ecula ´e dada por

H = Htrans + Hrot + Hvib, (68)

em que Htrans ´e a parte translacional, dada por

Htrans =

2 m

(p^2 x + p^2 y + p^2 z ), (69)

em que m ´e a massa da mol´ecula, e Hrot e Hvib s˜ao a parte correspondente aos graus internos de liberdade, dadas por

Hrot =

2 μr^2

(p^2 θ +

sin^2 θ

p^2 φ) (70)

e

Hvib =

2 μ

p^2 r + Φ(r), (71)

em que θ e φ s˜ao os ˆangulos que definem o eixo da mol´ecula, μ ´e a massa reduzida, r ´e a distˆancia entre os ´atomos e Φ(r) ´e a energia de intera¸c˜ao entre os ´atomos. As coordenadas do espa¸co-σ s˜ao

x, y, z, r, θ, φ, px, py, pz, pr, pθ, pφ. (72)

A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular ´e dada por

ζ =

h^6

∫ e−βH^ dxdydzdrdθdφdpxdpydpzdprdpθdpφ, (73)

que se fatoriza como ζ = ζtransζint, (74)

em que

ζtrans =

h^3

∫ e−βHtrans^ dxdydzdpxdpydpz (75)

e

ζint =

h^3

∫ e−β(Hrot+Hvib)^ drdθdφdprdpθdpφ. (76)

simplicidade colocamos Φ(R) = 0 de modo que

ζvib =

( 2 πμ h^2 β

) 1 / 2 ∫ ∞ 0

e−βK(r−R) (^2) / 2 dr. (85)

Em seguida supomos que K seja suficientemente grande de modo que o in- tegrando ´e muito agudo em r = R, anulando-se rapidamente para valores de r fora de um pequeno intervalo ao redor de r = R. Portanto, a substitui¸c˜ao do limite inferior da integral por −∞ n˜ao alterar´a substancialmente o valor da integral. Com boa aproxima¸c˜ao temos pois

ζvib =

( 2 πμ h^2 β

) 1 / 2 ∫ ∞ −∞

e−βK(r−R) (^2) / 2 dr =

( 2 πμ h^2 β

) 1 / 2 ( 2 π Kβ

) 1 / 2

. (86)

A partir de ζ obtemos o resultado

U = −N

∂β

ln ζ =

NkB T, (87)

do qual obtemos a capacidade t´ermica a volume constante,

Cv =

∂U

∂T

NkB. (88)

3 Entropia de mistura

A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao correspondente a uma mistura de gases ideais se obt´em da seguinte maneira. Suponha que a mistura de gases esteja confinada num recipiente de volume V , `a temperatura T e seja composta por NA mol´eculas do tipo A e NB mol´eculas do tipo B. Denotando por ζA e ζB as fun¸c˜oes de parti¸c˜ao moleculares correspondentes aos componentes A e B, respectiva- mente, ent˜ao a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao total Z deve ser dada por

Z =

ζ ANA NA!

ζ BNB NB!

pois o estado do sistema n˜ao se altera se permutarmos mol´eculas do mesmo tipo mas se altera se permutarmos mol´eculas de tipos diferentes. Portanto, o fator correto ´e de fato NA!NB! e n˜ao (NA + NB )!. De acordo com (14), a

fun¸c˜ao de parti¸c˜ao molecular ´e dada por dois fatores relativos aos graus de liberdades de transla¸c˜ao e internos. Assim, escrevemos

ζA =

V

λ^3 A

ζA int e ζB =

V

λ^3 B

ζ intB. (90)

A energia livre da mistura dos gases se calcula por F = −kB T ln Z que pode ser escrita como F = FA + FB , (91)

em que

FA = −NAkB T

( ln

V

NAλ^3 A

  • ln ζ intA + 1

) (92)

e

FB − NB kB T

( ln

V

NB λ^3 B

  • ln ζ intB + 1

)

. (93)

A express˜ao para F nos mostra que a energia livre de Helmoholtz de uma mistura de gases ideais ´e igual `a soma das energias livres de cada componente como se cada componente ocupasse isoladamente o recipiente. A partir de p = −∂F/∂V obtemos a equa¸c˜ao de estado

p = (NA + NB )

kB T V

ou seja, a press˜ao de uma mistura de gases ideais ´e igual a soma das press˜oes parciais, isto ´e, das press˜oes de cada componente do g´as efetuaria se ocupasse isoladamente o recipiente. Em seguida determinamos a energia livre de Gibbs da mistura, dada por G = F + pV. Utilizando o resultado (94), obtemos

G = G 1 + G 2 , (95)

em que

G 1 = −NAkB T

( ln

NA + NB

NA

  • ln

kB T pλ^3 A

  • ln ζ intA

) (96)

e

G 2 = −NB kB T

( ln

NA + NB

NB

  • ln

kB T pλ^3 B

  • ln ζ intB

)

. (97)

A entropia S pode ser obtida a partir de S = −(∂F/∂T )V ou a partir de S = −(∂G/∂T )p.

Exerc´ıcios

  1. Mostre que a energia cin´etica

Ec =

m 1 r˙ 12 +

m 2 r˙ 22

de duas part´ıculas de massas m 1 e m 2 pode ser escrita como a

Ec =

M R˙ 2 +

μr˙ 2

em que M = m 1 + m 2 ´e a massa total, μ = m 1 m 2 /M ´e a massa reduzida, R˙ = (m 1 r˙ 1 + m 2 r˙ 2 )/M ´e a velocidade do centro de massa e ˙r = ˙r 1 − r˙ 2 ´e a velocidade relativa. A primeira parcela ´e a energia cin´etica de transla¸c˜ao Etrans e a segunda ´e a energia cin´etica de rota¸c˜ao Erot. Use coordenadas esf´ericas para mostrar que a essa ´ultima parcela pode ser escrita na forma

Erot =

μ r˙^2 +

μr^2 θ˙ +

μr^2 sin^2 θ φ˙

ou ainda como

Erot =

2 μ

p^2 r +

2 μr^2

( p^2 θ +

sin^2 θ

p^2 φ

)

em que pr = μ r˙, pθ = μr^2 θ˙ e pφ = μr^2 sin^2 θ.

  1. Determine a energia interna e a press˜ao de um g´as ideal de part´ıculas ultra-relativistas. A energia cin´etica de uma part´ıcula ´e dada por

E = c

√ p^2 x + p^2 y + p^2 z,

em que c ´e a velocidade da luz.

  1. Considere um g´as ideal composto de N mol´eculas diatˆomicas, cada uma possuindo um momento de dipolo el´etrico μ, sob a¸c˜ao de um campo el´etrico E. A energia de uma mol´ecula ´e dada por

1 2 m

(p^2 x + p^2 y + p^2 z ) +

2 I

(p^2 θ +

sin^2 θ

p^2 φ) − μE cos θ,

em que a primeira parcela representa a energia cin´etica de transla¸c˜ao, a segunda, a energia cin´etica de rota¸c˜ao e a ´ultima, a energia de intera¸c˜ao com o campo el´etrico. Determine as propriedades termodinˆamicas do g´as. Ache a polariza¸c˜ao P = N〈μ cos θ〉 e a susceptibilidade el´etrica χ = (∂P/∂E). Mostre que a campo nulo, χ ´e inversamente proporcional `a temperatura absoluta.

  1. Considere o seguinte processo de mistura de dois gases ideais A e B. Os gases encontram-se num recipiente de volume V e inicialmente est˜ao sepa- rados por uma parede que divide o recipiente em dois compartimentos de volumes VA e VB. A parede ´e diat´ermica de modo que os dois gases possuem a mesma temperatura. A parede ´e ent˜ao retirada, os gases se misturam e entram em equilibrio. Supondo que a temperatura n˜ao se altere, mostre que a varia¸c˜ao da entropia vale

∆S = kB

( NA ln

V

VA

  • NB ln

V

VB

)

Suponha agora que a parede, al´em de diat´ermica, seja m´ovel de modo que inicialmente as press˜oes dos dois gases A e B s˜ao iguais. Mostre que nesse caso a varia¸c˜ao de entropia se reduz `a seguinte express˜ao

∆S = kB

( NA ln

NA + NB

NA

  • NB ln

NA + NB

NB

) .