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Este documento aborda a atribuição de acento na língua latina clássica, baseada na quantidade silábica, e sua relação com o português. Além disso, discute a influência da quantidade da última sílaba da palavra na incidência de acento quando combinada com partículas enclíticas. O texto também analisa a métrica latina e o caráter musical do acento clássico.
O que você vai aprender
Tipologia: Exercícios
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Não perca as partes importantes!
Profa. Dr. Leda Bisol Orientadora
Data de Defesa: 21/01/
Instituição depositária: Biblioteca Central Irmão José Otão Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, novembro de 1999.
Agradeço
em especial, à professora Leda Bisol, minha orientadora, pela análise cuidadosa desta tese em cada uma das etapas de seu desenvolvimento, revelando a dedicação e o entusiasmo que lhe são peculiares; à professora e amiga Míriam Barcellos Goettems, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelas longas e produtivas discussões sobre questões referentes ao capítulo 4, que trata do latim; à amiga Nilza Pansera, por ter acreditado em mim e por ter me feito acreditar que a realização deste trabalho era possível; ao Prof. Dr. Leo Wetzels, da Universidade Livre de Amsterdam, pelo estímulo dado quando do início deste trabalho e pela indicação de referências bibliográficas; aos professores do Setor de Latim da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por todo o apoio dado durante a realização do Curso; a todos os meus colegas professores que, de uma forma ou de outra, colaboraram na elaboração desta tese; à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior – CAPES, pelo auxílio financeiro concedido; à minha família, que, sempre me amparando e me incentivando, soube compreender os motivos pelos quais estive ausente em certos momentos; e a todos aqueles amigos que estiveram ao meu lado durante a realização deste trabalho.
Este estudo diz respeito ao acento do latim e do português arcaico. Interpretado o acento à luz da Fonologia Métrica, admitimos, seguindo Jacobs (1990, 1997), que o troqueu irregular caracteriza melhor o latim clássico do que o troqueu mórico. Depois de discutir o acento do latim clássico e dar especial atenção às enclíticas, que ampliam o domínio do acento e sobre as quais, com respeito a seu papel no acento, defendemos uma posição contrária à de análises mais recentes, citadas neste trabalho, passamos ao acento em latim vulgar e, após, ao acento em português arcaico. Nessa trajetória, observa-se a perda das proparoxítonas por síncope em latim vulgar e, subseqüentemente, a perda da vogal final por apócope em algumas palavras em português arcaico, resultando palavras terminadas em sílaba pesada. A simplicidade conduz a evolução do latim clássico ao vulgar, passando o sistema acentual do troqueu irregular ao troqueu silábico, mas, do latim vulgar ao português arcaico, há uma volta ao troqueu irregular, em virtude da ocorrência de palavras terminadas em sílaba pesada. Essas últimas linhas encerram a tese que esta análise sustenta.
Na tentativa de apresentar as evidências que sustentam a hipótese de que a simplicidade conduz a mudança de acento do latim clássico ao latim vulgar e que em português há um retorno a certa complexidade, vamos dar início à nossa análise. Embora o latim clássico e o latim vulgar tenham coexistido em certo momento histórico, vamos, para fins de análise, considerá-los etapas sucessivas. Por outro lado, chamamos atenção para o fato de que nossa análise fixa-se no português arcaico, embora estejamos admitindo que a complexidade aí acrescida venha se mantendo até hoje. Com o objetivo de desenvolver as idéias norteadoras deste trabalho, o texto se divide em cinco capítulos, que serão descritos a seguir. No capítulo 1, apresentamos estudos tradicionais que mostram como se comportam o acento e a sílaba em latim e em português arcaico. No capítulo 2, tratamos da metodologia utilizada no que se refere aos dados que serão trabalhados. O corpus analisado é constituído pelas cantigas desenvolvidas pelos trovadores galego-portugueses, que pertencem a uma primeira fase do português arcaico. Este capítulo é dividido em duas partes, a poética trovadoresca e o corpus. No capítulo 3, são expostos os pressupostos básicos da Fonologia Métrica, teoria que orientará nossa investigação a respeito da sílaba e do acento. No capítulo 4, discutimos duas propostas de análise para o acento em latim, pelo troqueu mórico e pelo troqueu irregular, argumentando em favor da segunda e desenvolvendo a idéia de que, na mudança acentual do latim clássico ao latim vulgar, o troqueu irregular é substituído pelo troqueu silábico.
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No capítulo 5, analisamos o acento do português arcaico a partir do troqueu irregular. Seguem-se, a este último capítulo, as conclusões e as referências bibliográficas.
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sermo urbanus e sermo vulgaris e são definidas por Coutinho (1976, p.29-30) da seguinte forma: Diz-se latim clássico a língua escrita, cuja imagem está perfeitamente configurada nas obras dos escritores latinos. Caracteriza-se pelo apuro do vocabulário, pela correção gramatical, pela elegância do estilo, numapalavra, por aquilo que Cícero chamava, com propriedade, a urbanitas. Era uma língua artificial, rígida, imota. Por isso mesmo que não refletia a vida trepidante e mudável do povo, pôde permanecer, por tanto tempo,mais ou menos estável.
Chama-se latim vulgar o latim falado pelas classes inferiores da sociedade romana inicialmente e depois de todo o Império Romano. Nestas classesestava compreendida a imensa multidão das pessoas incultas que eram de todo indiferentes às criações do espírito, que não tinham preocupações artísticasobjetivamente. ou literárias, que encaravam a vida pelo lado prático,
Alguns autores contestam essa definição de latim vulgar , afirmando que essa modalidade da língua expressa a fala cotidiana dos romanos de maneira geral, e não só das classes inferiores. Nesse sentido, Silva Neto (1957, p.46) opõe ao latim clássico uma língua coletiva, falada, provida de meios de expressão que nem sempre eram julgados dignos de ascender às páginas da literatura. Essalíngua falada era multímoda e complexa, não obedecia às normas rigorosas por que se pautava ou devia pautar, a língua escrita. Com efeito, o latim vulgar, mesmo aquele falado pelas classes sociais mais cultas, era profundamente diferente do latim clássico, uma língua cultivada, artística, em que foram compostas as grandes obras que marcaram os momentos mais importantes da prosa e da poesia latina: as obras de Cícero, Virgílio, Horácio, Tito Lívio e muitas outras figuras importantes. O latim clássico se preservou graças à conservação dessas inúmeras obras literárias e é dessa modalidade lingüística que puderam ser depreendidos os fenômenos gramaticais do idioma, como afirma Cardoso (1989, p.7). Não são muitas as fontes de que dispomos para o conhecimento do latim vulgar. Dentre elas, podemos citar (Silva Neto, 1957, p.100-124; Leite de Vasconcellos, 1966, p.12- 13; Ilari, 1992, p.66-71; Coutinho, 1976, p.31; Maurer Jr., 1962, p.16-20):
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a) Os trabalhos dos gramáticos, lexicógrafos e mestres de retórica romanos, na correção das formas errôneas usuais. Entre esses trabalhos, destaca-se o Appendix Probi , curioso glossário anônimo destinado a corrigir possíveis desvios da norma culta da língua que deveriam estar se tornando comuns. Em face desse glossário, podemos perceber que o chamado sermo vulgaris se distanciava bastante do latim clássico, forma lingüística refinada e elaborada, observada nas grandes obras. b) As obras latinas compostas por autores de limitada cultura literária ou que têm por fim artístico ou utilitário descrever a vida, o ambiente ou as atividades populares de Roma. Como exemplo, podemos citar obras como o Bellum africum e o Bellum hispaniense , de autores ignorados; a Vulgata ; o plebeísmo intencional das comédias de Plauto, das sátiras de Horácio e, particularmente, do Satiricon , atribuído a Petrônio. c) As inscrições, que vão desde alguns séculos antes da era cristã até o fim do período imperial. d) Os cochilos dos copistas. e) Os erros ocasionais dos próprios escritores cultos, principalmente dos últimos tempos. f) Os termos latinos encontrados nas línguas que estiveram em contato com Roma na antigüidade e que ocorrem, em maior ou menor número, no gótico, no alemão, no inglês, nas línguas célticas, no basco, nos dialetos berberes e árabes do norte da África e sobretudo no albanês, além de alguns resquícios em outras línguas. g) O estudo comparativo das línguas românicas, que permite a restauração indutiva da forma lingüística original de que vieram as diferentes formas atuais, possibilitando a reconstrução mais ou menos aproximada de uma língua que desapareceu sem deixar documentos escritos antigos. O latim vulgar, como toda língua oral, esteve sujeito a alterações determinadas por diversos fatores: épocas, delimitações geográficas, influências estrangeiras, etc. Em virtude
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palavra paroxítona. (Faria, 1970, p.135; Michaëlis de Vasconcelos, 1956, p.256; Williams, 1975, p.15-16; Nunes, 1969, p.33; Ilari, 1992, p.74). Vejamos os exemplos apresentados por Niedermann (1953, p.14):
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Muitos autores (Said Ali, 1957, p.2-15; Allen, 1973, p.158-161; Comba, 1981, p.302; Valente, 1951, p.9), entretanto, fazem uma ressalva importante a essa regra, pois afirmam que a incidência de acento, no caso de combinação de palavras lexicais com partículas enclíticas, depende da quantidade da última sílaba da palavra à qual a enclítica se une: as enclíticas, quando acrescentadas a palavras com acento na penúltima (paroxítonas), levam o acento para a última se esta for longa; conservam o acento na mesma sílaba se a última for breve. Há divergências sobre a incidência de acento no caso de enclíticas acrescentadas a palavras com acento na antepenúltima (proparoxítonas), pois Valente (1951, p.9) afirma que, nesse caso, as enclíticas levam o acento para a última sílaba da palavra, seja esta longa ou breve: córpora - corporáque ; dómini - dominíque. Já Said Ali (1957, p.14), constata, analisando composições de versos latinos, que o enclítico não move do seu lugar próprio o icto do vocábulo precedente terminado em vogal breve, ainda que tal vocábulo seja um proparoxítono. A análise dos exemplos de enclíticas acrescentadas a proparoxítonas apresentados por Said Ali (1957, p.14-15) mostra que o acento, nesse caso, pode permanecer na mesma sílaba porque a enclítica não faz parte da palavra que a precede para fins de acento, tornando-se longa para poder receber acento ou formando um todo acentual com a palavra seguinte. O autor explica que o monossílabo - que (ou - ve, -ne ), que normalmente aparece na escrita unido à palavra precedente, é desassociado pela métrica. Dessa forma, assume o valor de sílaba longa (caso de diástole) para formar um novo pé (espondeu ou dáctilo) ou é fundido, por elisão, com a sílaba inicial da palavra imediata. Sobre essa questão, Allen (1973, p.161) chega à conclusão de que a combinação palavra lexical + enclítica foi geralmente acentuada como uma única palavra, mas que pronúncias alternativas foram no mínimo concebíveis e metricamente aceitáveis, nas quais a enclítica foi tratada como mais ou menos separável e dessa forma não afetando a acentuação isolada da palavra lexical. Essa questão será discutida de forma mais detalhada na seção 4.2.4.
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vulgar, recupera-se a acentuação da palavra simples, o que equivale a deslocar o acento dos afixos para o radical, ou seja, cóntinet é reanalisado em cum + ténet , prevalecendo a acentuação da forma simples ténet , contínet.
c) ĕ ou ĭ (breves) em hiato na antepenúltima sílaba, com uma vogal seguinte breve. Em latim clássico, o ĕ ou ĭ (breves) eram acentuados de acordo com a regra de quantidade latina: mulíere, filíolus, lintéolum. Já em latim vulgar, o acento desloca-se para a vogal seguinte: muliére, filiólus, linteólum.
Maurer Jr. (1959, p.72) registra ainda que Nas palavras estrangeiras o latim vulgar tende a conservar, até onde os hábitos da língua o permitem, a sílaba tônica da língua de origem, sem levar em conta naturalmente a quantidade da penúltima sílaba, que já nãoconstituía fator na fixação da mesma.
É necessário ainda verificar como se comportam as palavras proclíticas e enclíticas em latim vulgar. Segundo Maurer Jr. (1959, p.75), muitas palavras eram átonas em latim vulgar, sem que possamos saber até onde a mesma atonicidade pertenceu ao latim clássico. Em latim vulgar, as palavras que mais comumente ocorriam como proclíticas ou enclíticas eram: a) Preposições e conjunções: de, ad, in, per, por (=pro), sine; et, nec, si, como, quod, etc ., que aparecem como proclíticas nas línguas românicas. b) Os pronomes pessoais nos casos oblíquos, freqüentemente os possessivos, o artigo definido (antigo demonstrativo) e o indefinido. Os pronomes pessoais conservaram o acento quando precedidos de preposição e os possessivos sempre que vinham sós ou quando tinham valor enfático. Portanto, temos vídet-me, láudo-te, ámat-nos, etc ., mas ante mé, ad té (quando o pronome estava regido por preposição). c) Verbos auxiliares ( es, est ) e alguns advérbios ( sic, non, bene, male ), os quais podiam ser acentuados ou não, conforme a sua posição e uso na frase.
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Cabe-nos agora verificar como o acento latino é atualizado no nível fonético, ou seja, quais são os seus correlatos físicos. Conforme Maurer Jr. (1959, p.65) e Ilari (1992, p.74), o acento tônico do latim vulgar era intensivo, ou dinâmico, isto é, a sílaba acentuada se pronunciava com maior energia do que as demais sílabas da palavra, como ocorre nas línguas românicas, que se originaram do latim vulgar. Os mesmos autores atribuem, no entanto, um caráter musical ou tonal ao acento do período clássico, sendo que Maurer Jr. (1959, p.65) acredita que outros elementos dinâmicos poderiam estar associados à altura na caracterização do acento. A métrica latina é geralmente apresentada como um argumento em favor da natureza musical do acento latino, como vemos a seguir: O caráter musical do acento clássico se evidencia pela métrica latina com o seu ritmo quantitativo, pelo tratamento dispensado às sílabas átonas, que não se distingue do que recebem as tônicas, pela correção com que ospoetas da época clássica e ainda muito mais tarde empregam o sistema quantitativo das vogais latinas, e, finalmente, pela descrição do acento latino feita por autores dessa época. (Maurer Jr., 1959, p.65-66) Nesse sentido, Faria (1970, p.136) assinala uma preocupação inegável dos poetas latinos em conciliar o ictus rítmico com o acento tônico da palavra, especialmente observável em determinados tipos de versos. Buscando as origens do acento latino, o mesmo autor diz-nos que o caráter do primitivo acento latino continuaria a tradição do itálico, ou seja, deveria incidir obrigatoriamente sobre a sílaba inicial de toda palavra acentuada, sendo, além disso, um acento fortemente intensivo. Elia (1989, p.58-59) também atribui um caráter de intensidade ao acento latino e afirma que, numa língua de acento desse tipo, é muito importante a marcação do tempo como longo ou breve, pois o desacordo provoca mal-estar para a recepção auditiva do verso. Por isso, os poetas latinos, principalmente autores que escreviam para auditório popular, como Plauto, procuravam fazer coincidir o ictus vocal com o tempo forte do pé.