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Métodos qualitativos de pesquisa: uma tentativa de desmistificar a sua compreensão, Manuais, Projetos, Pesquisas de Cultura

Este texto foi escrito com a finalidade de desmistificar a pesquisa qualitativa, como um caminho de se construir um corpo de conhecimento na área, bem como, as suas principais abordagens. Contudo, nessa aproximação, não temos a intenção de nos aprofundarmos em uma ou outra abordagem, tampouco esgotar o assunto, mas apresentarmos algumas possibilidades para que os alunos possam escolher uma modalidade de acordo apropriada à pergunta elaborada em seus projetos de pesquisa. Assim, pretendemos ofere

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

Antes de 2010

Compartilhado em 19/06/2009

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MÉTODOS QUALITATIVOS DE PESQUISA: UMA TENTATIVA DE
DESMISTIFICAR A SUA COMPREENSÃO
Profa. Dra. Silvia Cristina Mangini Bocchi
Profa. Dra. Carmen Maria Casquel Monti Juliani
Profa. Dra. Wilza Carla Spiri
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM – FACULDADE DE MEDICINA - UNESP
BOTUCATU 2008
“Manual de estudos para
alunos de pós-graduação,
pretende ser um guia
orientador em alguns dos
métodos de pesquisa
qualitativa”
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MÉTODOS QUALITATIVOS DE PESQUISA: UMA TENTATIVA DE

DESMISTIFICAR A SUA COMPREENSÃO

Profa. Dra. Silvia Cristina Mangini Bocchi Profa. Dra. Carmen Maria Casquel Monti Juliani Profa. Dra. Wilza Carla Spiri

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM – FACULDADE DE MEDICINA - UNESP

BOTUCATU 2008

“Manual de estudos para alunos de pós-graduação, pretende ser um guia orientador em alguns dos métodos de pesquisa qualitativa”

As autoras

SUMÁRIO/MENU

  • 1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................... - 2.1 Pesquisa-ação ........................................................................................ 2 - ABORDAGENS - 2.2 Fenomenologia ....................................................................................... - 2.3 Etnografia ............................................................................................... - 2.4 Grounded Theory ................................................................................... - 2.5 Materialismo Histórico Dialético ...........................................................
    • 3.1 – Como conseguir os sujeitos participantes da pesquisa? .................... 3 – AMOSTRA INTENCIONAL NA PESQUISA QUALITATIVA
    • 3.2 – Quando eu sei que houve a saturação? .................................................
    • 3.3 – Quando eu integro as categorias e encontro temas? ...........................
    • 3.4 – Como integrar dados provindos de várias técnicas de coleta? ...........
    • 4.1 - Observação participante .......................................................................... 4 – ESTRATÉGIAS PARA COLETA DE DADOS
    • 4.2 – Notas de campo ........................................................................................
    • 4.3 – Entrevista .................................................................................................. - 4.3.1 – Entrevista não estruturada interativa .......................................... - 4.3.2 – Entrevista semi-estruturada .........................................................
    • 4.4- Grupo focal .................................................................................................
  • 5 – ANÁLISE DE CONTEÚDO ................................................................................
  • 6 – RIGOR NA QUALIDADE DA INVESTIGAÇÃO .................................................
  • 7 – ETAPAS QUE UM PROJETO DE PESQUISA DEVERÁ ABORDAR ...............
  • 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................

Não devemos alimentar discussões quando os participantes justificam a escolha do método quantitativo ou qualitativo, fundamentada em preferências pessoais, bem como, apontando as deficiências entre um e outro (FIELD, MORSE, 1985). As origens desses tipos de atitudes, consideradas como inadequadas entre pesquisadores não estão inteiramente claras e, portanto se acredita existir relações com as percepções de pesquisadores quantitativos, que por não entenderem a perspectiva epistemológica desta abordagem, acabam acusando o pesquisador qualitativo como burlador de regras da metodologia científica. A outra causa pode estar relacionada às próprias frustrações de pesquisadores qualitativos, que ao tentarem conseguir aprovações de seus projetos em comitês que utilizam critérios quantitativos para avaliações, acabam se revoltando com tais atitudes e, portanto direcionando suas críticas (FIELD, MORSE, 1985). Se nós nos perdermos nessas discussões, poderemos nos enfraquecer enquanto profissionais responsáveis pela construção do conhecimento. Não devemos nos esquecer que na área da Saúde o propósito da pesquisa quantitativa e qualitativa é o mesmo: construir o conhecimento, por meio de métodos que se complementam.

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2 – ABORDAGENS: COMO ESCOLHER A QUE MELHOR ATENDA AO NOSSO

QUESTIONAMENTO?

É importante ter em mente que o ideal é que o problema e a questão a ser investigada é que deve nortear a escolha do método científico a ser utilizado. Também os dados do contexto estudado devem ser considerados. Apenas para citar um exemplo, em situações onde existem deficiências dos sistemas de informação, muitas vezes os dados não se apresentam confiáveis para contemplar estudos quantitativos, fazendo-se necessário delinear um estudo qualitativo. Visto isso, é preciso fazer uma aproximação dos métodos para saber qual a melhor escolha para aquilo que se pretende estudar, pesquisar. Assim, esse manual de orientação permitirá uma aproximação de algumas modalidades de pesquisa qualitativa, no entanto, após esse primeiro reconhecimento, recomendamos um aprofundamento naquela escolhida.

2. 1 – Pesquisa-Ação A pesquisa-ação, tradicionalmente utilizada na área da educação, pode ser uma interessante modalidade de escolha para projetos que, além do caráter de pesquisa, envolvem também intervenção em uma determinada realidade, com abertura a construção coletiva dos diversos atores envolvidos no contexto e podem variar em graus distintos de participação, dada a fatores relacionados ao contexto, ao tempo de execução do projeto, ao número de sujeitos/instituições envolvidos. De acordo com Loureiro (2007) na pesquisa-ação a transformação prática da realidade é o problema central, de modo que, as incertezas e certezas, o conflito e o consenso, a organização e o caótico, dentre outros, não são erros, defeitos ou exercício lógico-abstrato, mas a própria existência em movimento. Reis (2007) aponta a denominação de pesquisa-ação-participativa por considerá-la mais adequada à produção de conhecimentos no campo das ciências humanas e sociais que dá ênfase à ação e a participação. A mesma autora apoiada nas idéias de Brandão, neste tipo de pesquisa existe a superação dos “pesquisados” como “objeto” de estudo, mas o entendimento é que “pesquisadores” e “pesquisados” são sujeitos, aliados e parceiros, no processo de produção de conhecimentos sobre a realidade social. Demo (apud Reis, 2007) reconhece a pesquisa-ação como uma modalidade de pesquisa que coloca que coloca a ciência a serviço da emancipação social, com

1 - Pesquisa-ação técnica A pesquisa-ação técnica constitui uma abordagem pontual na qual o pesquisador toma uma prática existente de algum outro lugar e a implementa em sua própria esfera de prática para realizar uma melhora. 2 - Pesquisa-ação prática Nesse caso, as duas características distintivas são: primeiro, é mais como a prática de um ofício - o artífice pode receber uma ordem, mas o modo como alcança o resultado desejado fica mais por sua conta de sua experiência e de suas idéias -; e segundo, porque as decisões que ele toma sobre o quê, como e quando fazer, são informadas pelas concepções profissionais que tem sobre o que será melhor para seu grupo. 3 - Pesquisa-ação política A terceira pergunta (c) refere-se à mudança da cultura institucional e/ou de suas limitações. Quando se começa tentar mudar ou analisar as limitações dessa cultura sobre a ação, é preciso engajar- se na política, porque isso significa trabalhar com ou contra outros para mudar "o sistema". Só se pode fazer isso pelo exercício do poder e, assim, tal ação torna-se política.

  1. Pesquisa-ação socialmente crítica A pesquisa-ação socialmente crítica passa a existir quando se acredita que o modo de ver e agir "dominante" do sistema, dado como certo relativamente a tais coisas, é realmente injusto de várias maneiras e precisa ser mudado.
  2. Pesquisa-ação emancipatória Assim também a pesquisa-ação emancipatória é uma modalidade política que opera numa escala mais ampla e constitui assim, necessariamente, um esforço participativo e colaborativo, o que é socialmente crítico pela própria natureza. Não é preciso dizer que a pesquisa-ação emancipatória ocorre muito raramente.

Apresentamos a seguir um modelo de relatório de pesquisa-ação segundo Tripp (2005):

O relatório da pesquisa-ação

O que se segue é um esquema de um típico relatório de estudo de caso de pesquisa-ação, o qual pode ser utilizado para qualquer projeto e também é adequado para dissertações. 1 - Introdução: intenções do pesquisador e benefícios previstos 2 - Reconhecimento (investigação de trabalho de campo e revisão da literatura) 2.1 - da situação

2.2 - dos participantes (o próprio e outros) 2.3 - das práticas profissionais atuais 2.4 - da intencionalidade e do foco temático inicial 3 - Cada ciclo 3.1 - Planejamento: da preocupação temática (ou ciclo anterior) ao primeiro passo de ação 3.2 - Implementação: relato discursivo sobre quem fez o quê, quando, onde, como e por quê. 3.3 - Relatório de pesquisa sobre os resultados da melhora planejada: 3.3a - resumo e base racional do(s) método(s) de produção de dados 3.3b - apresentação e análise dos dados 3.3c - discussão dos resultados: explicações e implicações 3.4 - Avaliação 3.4a - da mudança na prática: o que funcionou ou não funcionou e por quê 3.4b - da pesquisa: em que medida foi útil e adequada 4 - Conclusão: 4.1 - Sumário de quais foram as melhorias práticas alcançadas, suas implicações e recomendações para a prática profissional do próprio pesquisador e de outros 4.2 - Sumário do que foi aprendido a respeito do processo de pesquisa-ação, suas implicações e recomendações para fazer o mesmo tipo de trabalho no futuro.

2. 2 - Fenomenologia Etimologicamente fenomenologia é o estudo ou ciência do fenômeno, sendo que por fenômeno, em seu sentido mais genérico, entende-se tudo o que aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo. Os tipos de questões respondidos pela fenomenologia são aqueles designados a extrair a essência das experiências. Querem compreender as percepções dos sujeitos e, sobretudo, ressaltam o significado que os fenômenos têm para as pessoas. Essência é “aquilo que constitui a natureza das coisas; substância. A existência. Idéia principal. Significação especial; espírito. O que constitui o cerne de um ser; natureza” (FERREIRA, 1995). Referem-se portanto, ao sentido ideal ou verdadeiro de alguma coisa, dando um entendimento comum ao fenômeno sob investigação. (MOREIRA, 2002) A fenomenologia busca compreender o ser humano, utilizando-se de formulações de problemas como:

mães provenientes de quatro diferentes famílias, seguindo a linearidade geracional de avó, mãe e neta. Todas elas residiam na região de Passo Fundo - RS. Utilizando- se uma análise qualitativa baseada na teoria fenomenológica, interpretaram-se as continuidades e descontinuidades de comportamentos e idéias em duas perspectivas: 1) redimensionamento no poder do pai e da mãe e na coesão familiar; e 2) transformação da identidade coletiva em identidade individual, com a ampliação do espaço para a realização pessoal. Continuidades mostraram-se associadas a princípios ideais como a ética familiar. Em contraste, descontinuidades aconteceram de acordo com pressões contextuais nos aspectos práticos da vida familiar. Palavras-chave: Padrões-transgeracionais, relações-intergeracionais, fenomenologia.

B - DIAS A C G, GOMES W B. Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez na adolescência: percepção das jovens gestantes. Psicol. Reflex. Crit ., v. 13, n. 1, 2000.

Apresenta-se uma análise fenomenológica da ambigüidade na tomada de decisão em comportamento sexual de meninas adolescentes que vieram a engravidar. A análise foi contextualizada nas relações informativas e comunicativas entre filhas e pais sobre temas de sexualidade e cuidados contraceptivos. As considerações analíticas foram baseadas em entrevistas com onze adolescentes gestantes e uma jovem mãe, todos de nível sócio-econômico médio baixo, com idade entre 12 e 19 anos. A informação sobre prevenção foi percebida, pelas jovens, como parcial e incompleta e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de confiança no interlocutor preferencial (no caso, a mãe). A rede de apoio, constituída por tias e amigas, mostrou-se falha em apresentar esclarecimentos ou reduzir incertezas. Além de despreparados, os interlocutores apresentaram dificuldades associadas à falta de informação e a não aceitação da sexualidade adolescente. A interpretação destacou três aspectos relacionados com a gravidez na adolescência: 1) reafirmou a liberdade e iniciativa da mulher em relação à sua sexualidade; 2) confirmou a ausência da discussão franca e informada sobre sexualidade; e, 3) mostrou a substituição do mito do amor romântico pela expectativa clara do sexo prazeroso. Palavras-chave: Gravidez; adolescência; fenomenologia; comunicação; sexualidade.

C - HILL E, GAUER G, GOMES W B. Uma análise semiótico-fenomenológica das mensagens auto-reflexivas de filhos adultos de alcoolistas. Psicol. Reflex. Crit. V. 11, n. 1, 1998.

O propósito deste estudo é interpretar as mensagens auto-reflexivas de filhos adultos de alcoolistas (FAA) por meio de uma análise semiótico-fenomenológica. O ser humano tem múltiplas percepções a respeito da miríade de fenômenos que ocorrem em relacionamentos consigo mesmo e com os outros. Confere-se a validade de tais percepções deslocando-se de um nível de percepção para outro, podendo então contemplar a percepção anterior. Em outras palavras, é preciso sair da floresta para poder observar as árvores. Continuando a metáfora, o FAA encontra dificuldade em sair da floresta. Para este estudo foram entrevistados seis FAAs. O procedimento de análise dos dados inicia com (1) a leitura da descrição das reações dos participantes da pesquisa a um excerto da biografia de um outro FAA, seguindo- se (2) a descoberta das mensagens auto-reflexivas dos participantes e (3) a interpretação de perspectivas diretas, metaperspectivas e meta-metaperspectivas das mensagens auto-reflexivas. Os resultados da análise corroboram o trabalho de psicólogos clínicos que têm identificado o mundo-vivido do FAA como um sistema fechado. De um ponto de vista pragmático, os resultados sugerem que as mensagens auto-reflexivas podem ser a chave que fecha e abre o sistema interacional defeituoso do FAA. Palavras-chave: Alcoolismo; relações familiares, comunicação; fenomenologia.

2.3 – Etnografia A escolha deste referencial metodológico de análise deve ser feita por aqueles projetos de pesquisas que o problema demanda a descrição de valores, crenças e as práticas de grupo cultural. A etnografia descreve um grupo cultural ou um fenômeno associado com tal grupo, portanto, considerado um tipo de estudo qualitativo descritivo que utiliza abordagens teóricas etnográficas. As questões formuladas que demandam esse tipo de abordagem são colocadas da seguinte maneira:

  • Quais são as crenças de saúde da comunidade ribeirinha ao Rio Parnaíba?

ambos residentes no semi-árido. Inicialmente foram visitadas 81 famílias pertencentes à zona urbana e rural do distrito de Santa Cruz do Banabuiú, Município de Pedra Branca. Em um segundo momento, 24 destas famílias foram revisitadas, entrevistadas e observadas, utilizando a metodologia de observação participante e diário de campo centrados no âmbito familiar. As entrevistas foram realizadas com as mães e as observações da família seguiram um roteiro semi-estruturado. Percebeu-se a relação entre as práticas familiares e o ambiente de seca revelados no cuidado com a alimentação e higiene, a arquitetura das casas e nas falas da religiosidade popular. Frente à escassez de água, à baixa produção agrícola, aos empregos altamente rotativos e às questões de saúde, as famílias criam suas próprias estratégias de convivência com o ambiente, cabendo à criança ajudar a família.

C - LOPES, S. M. B. Cultura, linguagem e fonoaudiologia: uma escuta do discurso familiar no contexto da saúde pública. São Paulo, 2001. 134 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Saúde Pública - Departamento de Prática de Saúde Pública - Universidade de São Paulo.

Busca compreender o contexto cultural que envolve as práticas das mães residentes na comunidade pesqueira de Zimbros em Bombinhas, Santa Catarina e constrói a partir do diálogo entre Fonoaudiologia, Saúde Pública e as Ciências Sociais. O caminho metodológico contou com contribuições da Etnografia, utilizando-se na pesquisa a observação participante realizada na sala de espera da Unidade de Saúde do bairro. A partir da análise dos textos dos diários de campo, observa a importância de construir-se uma escuta em relação à população e explorar mais o espaço da Unidade de Saúde como um espaço comunicativo para que a população possa ressignificar as suas práticas. As práticas das mães refletem a maneira como a comunidade entende as questões de linguagem. Neste local, há um silêncio em relação às questões de linguagem que estão atreladas ao desejo da criança de falar, a espera do tempo certo para falar, sendo mais evidentes para as mães as questões atreladas ao uso de chupeta, à amamentação e; ou alimentação. A função das mães circula entre atender os desejos do filho ou repassar normas de conduta. Portanto, a Fonoaudiologia deve aprofundar as questões relacionadas à linguagem e cultura;

construir formas alternativas de abordar a população, buscando situações dialógicas e que possam auxiliar outros profissionais a valorizarem as falas das mães.

2.4 – Grounded theory A Grounded Theory, que muitas traduções para o Português a denominam como Teoria Fundamentada em Dados, e que por entendermos que toda teoria é fundamentada em dados, recomendamos que a mantenha na língua original. Ela pode ser considerada como uma forma de analisar dados etnográficos. Ao contrário da fenomenologia, a Grounded Theory assume a existência de processos, quando se tenta compreender as experiências de seres humanos, nas mais diversas situações. Podemos dizer de maneira bem sintética que, a Grounded Theory é um conjunto de procedimentos e técnicas de coletar e analisar dados de maneira processual, onde eles são, inicialmente, fragmentados e codificados de acordo com os incidentes e fatos, para possibilitar, posteriormente, a categorização e atribuição de conceitos. Assim, as categorias são ordenadas, de maneira a identificar a categoria central, que por sua vez, precisa ser testada para verificar se a mesma representa as experiências dos sujeitos. A Grounded Theory tem suas raízes interacionistas e, portanto as pesquisas nessa abordagem têm adotado, também, o Interacionismo Simbólico como referencial teórico, o que gostaríamos de salientar que não é imprescindível. O criador do Interacionismo simbólico foi Blumer, a partir das compilações de aulas dadas pelo seu mestre Mead e a Grounded Theory por Glaser, Straus (1967). As questões de projetos de pesquisas que demandam uma abordagem Grounded são geralmente deste tipo:

  • Como é o processo, conceitos e vivências experienciadas por mulheres ao retornar ao trabalho após a licença gestante?
  • Como têm sido as experiências, na perspectiva dos familiares cuidadores, vivenciando o processo interacional com entes após o AVC?

Exercício 3 Leia os próximos resumos, tentando encontrar as características principais de uma pesquisa do tipo Grounded Theory :

de: Precedendo o Início, o Início, o Meio e o Fim da Gravidez e é composta por cinco processos: "Vivendo um relacionamento sexual", "Descobrindo-se grávida", "Estando grávida", "Sentindo-se grávida" e "Esperando nascer". Cada um destes processos é vivido de forma particularizada, embora existam conceitos que são comuns a todos. De qualquer modo, independente da forma como a mulher experiencia estes processos, a vivência de cada um deles só ocorre após a vivência do anterior, caracterizando a existência da teoria.

C - OLIVEIRA, I. de. Vivenciando com o filho uma passagem difícil e reveladora. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem - Universidade de São Paulo.

O presente estudo foi realizado com mães acompanhantes em um hospital escola. Os objetivos foram: compreender as interações vivenciadas, identificar os significados que o familiar acompanhante atribui a experiência de vivenciar a hospitalização provoca na vida do familiar e construir um modelo teórico representativo da experiência. Utilizou-se como Referencial Teórico o Interacionismo Simbólico e Referencial Metodológico a "Grounded Theory". Dos resultados emergiram o fenômeno Indo a busca de solução, que representa as tentativas da mãe resolver o problema da criança antes da sua hospitalização e Atravessando uma situação difícil, que caracteriza a fase em que a mãe vivencia a hospitalização junto do filho internado. A partir desses fenômenos, identificou-se a categoria central Vivenciando com o filho uma passagem difícil e reveladora.

2.5 – Materialismo histórico dialético O materialismo histórico é a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos fenômenos sociais que, até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas de sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez , em sua obra A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico. Nela criticam os jovens Hegelianos e Feuerbach, que acham ainda que a história era resultado das ideologias e da presença dos “heróis”, ao invés de buscar nas formações sócio-

econômicas e nas relações de produção os fundamentos verdadeiros das sociedades. O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou (TRIVIÑOS, 1987). Segundo o autor, as definições da dialética materialista dos clássicos do marxismo ressaltam os aspectos que se referem às formas do movimento universais e as conexões que se observam entre elas. Engels a define como a ciência “ das leis gerais do movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento.” E Lênin a define como “a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno desenvolvimento. Engels, define a dialética como “a ciência da interconexão universal”. Lênin destaca também este traço e outros da dialética ao expressar que ela se apresenta na compreensão do desenvolvimento como a ciência que vê na realidade do mundo dos fenômenos “ a interdependência e a mais íntima e indissolúvel conexão entre todos os aspectos de cada fenômeno (a história desvendando sempre novos aspectos), uma interconexão da qual resulta um processo de movimento único e universal, com leis imanentes Estes conceitos de conexão, interdependência e interação são essenciais no processo dialético de compreensão do mundo (TRIVIÑOS, 1987). O pesquisador que segue uma linha teórica baseada no materialismo dialético deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e social e do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que se estes são possíveis de conhecer. Os projetos de pesquisas que enunciam o problema, de forma a dirigir à compreensão da historicidade do fenômeno, geralmente, utilizam-se do referencial metodológico denominado Materialismo Histórico Dialético (TRIVIÑOS, 1987).

Exercício 4 Leia os resumos abaixo, tentando encontrar as características principais de uma pesquisa com uma abordagem qualitativa e no Materialismo Histórico Dialético.

A - MADEIRA, L. M. Reinternaçäo infantil : descortinando os determinantes sociais do fenômeno. São Paulo, 1996. 175. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem - Universidade de São Paulo - Escola de Enfermagem.

aprendizagem possibilitou melhor compreensão da totalidade, além de incentivar posteriormente uma revisão crítica do curso de enfermagem da FAEN-URRN e da atuação do enfermeiro em saúde mental. Palavras-chave Ensino, Saúde mental, Desinstitucionalização

C - PERNA, P. O. O controle social na ponta do SUS: o caso de Pontal do Sul- Município de Pontal do Paraná – PR. Curitiba, 2000. 130 p. Setor de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Paraná.

A participação da sociedade na formulação e acompanhamento na implementação de políticas públicas em saúde é um dos princípios nucleares na estruturação do Sistema Único de Saúde brasileiro, conforme a Carta Constitucional de 1988. Trata- se do controle social exercido no campo da saúde. Esta participação, no entanto, não se dá por decretos legislativos. É preciso que certas condições sejam viabilizadas para que ela efetivamente possa acontecer. O presente trabalho teve como objetivo conhecer algumas dessas condições entre a população de usuários da localidade de Pontal do Sul, no Município de Pontal do Paraná. Neste sentido, a investigação priorizou conhecer as representações da população local sobre o fenômeno da saúde - pois este é, em última análise, o objeto do controle social - bem como identificar qual é o conhecimento que a população tem sobre a existência do Conselho Municipal de Saúde e das Conferências Municipais de Saúde, que são as duas formas principais previstas em lei para o exercício do controle social. Para isso, primeiramente, procedeu-se a uma identificação de todos os grupos organizados existentes na referida localidade e, em seguida, foram realizadas entrevistas com pessoas de atuação central naqueles mesmos grupos. A perspectiva teórica que orientou o trabalho foi a do materialismo histórico e dialético e a pesquisa de abordagem qualitativa foi a metodologia adotada. Ao final o estudo revela como a população local manifestou certo grau de consciência sobre a determinação de seus problemas de saúde, o que sugere que sua atuação no controle social pode contribuir na formulação de políticas públicas que melhor atendam às suas necessidades locais. Apontou, ainda, para lacunas importantes na relação entre população e poder público municipal, no sentido da falta de informações consistentes sobre a existência e finalidade do Conselho e

Conferências Municipais de Saúde, além da falta de outras práticas educativas relacionadas à participação cidadã em saúde.

Concluindo: Podemos perceber que as perguntas de projetos de pesquisas que põem em relevo as percepções dos sujeitos e, sobretudo, salientam o significado que os fenômenos têm para as pessoas são de natureza fenomenológica, enquanto aqueles que demandam descrever um cenário ou uma comunidade, tentando compreender seus valores, crenças e práticas de grupo, são etnográficos. Quando o problema indica a necessidade de entender as experiências na forma de processo interacional, devemos escolher a perspectiva Grounded Theory , ao passo que em problema que se dirige à compreensão da historicidade do Fenômeno, o Materialismo Histórico Dialético é a mais indicada.

Exercício 5 Elabore quatro questões de pesquisa que poderiam se implementados em seu campo de trabalho, sendo uma de natureza fenomenológica e as outras três nas perspectivas: etnográfica, Grounded Theory e Materialismo Histórico Dialético.

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