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Medos Líquidos na Sociedade Moderna, Exercícios de Tópicos em Cultura e Globalização

O livro 'Medos Líquidos' de Zygmunt Bauman aborda a questão do medo na sociedade líquido-moderna, onde a fluidez da sociedade não aponta soluções para as incertezas pessoais, ao invés disso, ela utiliza essa fragilidade “mantendo” o indivíduo com inseguranças para a economia do consumo vender segurança de diferentes formas que permeiam a sobrevivência. O autor apresenta três categorias de medo objetivo e explica o conceito de 'medo derivado'. O documento discute a hierarquização dos medos e a necessidade de lidar com eles caso ocorram.

Tipologia: Exercícios

2021

À venda por 04/05/2023

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Questão - Medos Líquidos
Em seu livro “Medos Líquidos", Zygmunt Bauman trabalha a questão do medo
incorporando suas origens e consequências em função da transição da sociedade em um momento
sólido para um momento de liquidez.
A modernidade líquida apresenta uma sociedade que necessita de mais proteção e
seguranças, o que implica na exclusão do indivíduo pós-moderno, por este ter o receio de que seus
medos e inseguranças (liquidez das relações entre incerteza e medo) podem acontecer a qualquer
momento.
Bauman afirma que “o medo é um sentimento conhecido de toda criatura viva” (p. 9), e
explica que diferentemente dos animais (que reagem ao medo conforme a maneira que
interpretarem e processarem a situação), nos seres humanos o medo se manifesta em “camadas”, em
hierarquia, onde existe a resposta situacional presente nos animais, mas também existe um
sentimento mais subjetivo, o qual é chamado de “medo derivado”.
O “medo derivado” (ou medo secundário) é uma estrutura mental que faz o indivíduo ser
mais suscetível ao perigo. Se resume no isolamento do ser em função do medo gerado pela
incerteza, assim, o indivíduo deixa de viver como o satisfaria por conta de sua ignorância a respeito
de uma possível ameaça, e de como este poderia agir para enfrentá-la caso ocorresse, ou seja, é o
medo das coisas que podem acontecer.
Entretanto, para o autor, existem três categorias de medo objetivo, o medo em torno do
corpo, o de não conseguir ter alguma forma de sustento, e o de perder a posição que se tem, não
conseguindo ter uma estrutura fixa:
Alguns ameaçam o corpo e as propriedades. Outros são de natureza mais geral, ameaçando
a durabilidade da ordem social e a confiabilidade nela, da qual depende a segurança do
sustento (renda, emprego) ou mesmo da sobrevivência no caso de invalidez, ou velhice.
Depois vêm os perigos que ameaçam o lugar da pessoa no mundo - a posição na hierarquia
social, a identidade (de classe, de gênero, étnica, religiosa) e, de modo mais geral, a
imunidade à degradação e à exclusão sociais. (BAUMAN, p.10)
Ademais, um indivíduo pode possuir um medo derivado que interprete os três tipos
apresentados anteriormente, podendo aparecer para o sujeito de forma desvinculada dos perigos que
de fato o causam, gerando ainda mais ignorância (falta de conhecimento sobre como lidar com a
situação) e vulnerabilidade (oportunidades baixas do indivíduo fugir ou se defender com sucesso
caso a situação ocorra) sobre, assim, apartando as reações que deveriam mitigar o medo do que é
responsável pela suspeita de insegurança.
Na minha perspectiva, a visão que Bauman externa é um sentimento real e presente na
sociedade líquido-moderna, visando que a individualidade gerada pelos medos, na verdade, levam o
ser a criar cada vez mais incertezas, pois se o indivíduo teme cada coisa ao seu redor, e não aprende
a hierarquizar seus medos (separando o medo derivado do medo objetivo, para gerir melhor suas
ações e incertezas) e a lidar com eles caso ocorram, ele não consegue achar uma resposta e nem agir
de forma individual, assim, cada vez ele fica mais inseguro:
Uma pessoa que tenha interiorizado uma visão de mundo que inclua a insegurança e a
vulnerabilidade recorrerá rotineiramente, mesmo na ausência de ameaça genuína, às reações
adequadas a um encontro imediato com o perigo; o "medo derivado" adquire a capacidade
da autopropulsão. (BAUMAN, p. 9)
O medo pode acontecer tanto ao nível individual, onde é atrelado a traumas próprios ou a
experiências alheias que a pessoa é exposta, quanto coletivo, onde que pode abranger as situações
através de meios de comunicação, visando que a fluidez da sociedade não aponta soluções para as
incertezas pessoais, ao invés disso, ela utiliza essa fragilidade “mantendo” o indivíduo com
inseguranças para a economia do consumo vender segurança de diferentes formas que permeiam a
sobrevivência, partindo do princípio de que o mundo é imprevisível:
A economia de consumo depende da produção de consumidores, e os consumidores que
precisam ser produzidos para os produtos destinados a enfrentar o medo são temerosos e
amedrontados, esperançosos de que os perigos que temem sejam forçados a recuar graças a
eles mesmos (com ajuda remunerada, obviamente). (BAUMAN, p. 15)
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Questão - Medos Líquidos Em seu livro “Medos Líquidos", Zygmunt Bauman trabalha a questão do medo incorporando suas origens e consequências em função da transição da sociedade em um momento sólido para um momento de liquidez. A modernidade líquida apresenta uma sociedade que necessita de mais proteção e seguranças, o que implica na exclusão do indivíduo pós-moderno, por este ter o receio de que seus medos e inseguranças (liquidez das relações entre incerteza e medo) podem acontecer a qualquer momento. Bauman afirma que “o medo é um sentimento conhecido de toda criatura viva” (p. 9), e explica que diferentemente dos animais (que reagem ao medo conforme a maneira que interpretarem e processarem a situação), nos seres humanos o medo se manifesta em “camadas”, em hierarquia, onde existe a resposta situacional presente nos animais, mas também existe um sentimento mais subjetivo, o qual é chamado de “medo derivado”. O “medo derivado” (ou medo secundário) é uma estrutura mental que faz o indivíduo ser mais suscetível ao perigo. Se resume no isolamento do ser em função do medo gerado pela incerteza, assim, o indivíduo deixa de viver como o satisfaria por conta de sua ignorância a respeito de uma possível ameaça, e de como este poderia agir para enfrentá-la caso ocorresse, ou seja, é o medo das coisas que podem acontecer. Entretanto, para o autor, existem três categorias de medo objetivo, o medo em torno do corpo, o de não conseguir ter alguma forma de sustento, e o de perder a posição que já se tem, não conseguindo ter uma estrutura fixa: Alguns ameaçam o corpo e as propriedades. Outros são de natureza mais geral, ameaçando a durabilidade da ordem social e a confiabilidade nela, da qual depende a segurança do sustento (renda, emprego) ou mesmo da sobrevivência no caso de invalidez, ou velhice. Depois vêm os perigos que ameaçam o lugar da pessoa no mundo - a posição na hierarquia social, a identidade (de classe, de gênero, étnica, religiosa) e, de modo mais geral, a imunidade à degradação e à exclusão sociais. (BAUMAN, p.10) Ademais, um indivíduo pode possuir um medo derivado que interprete os três tipos apresentados anteriormente, podendo aparecer para o sujeito de forma desvinculada dos perigos que de fato o causam, gerando ainda mais ignorância (falta de conhecimento sobre como lidar com a situação) e vulnerabilidade (oportunidades baixas do indivíduo fugir ou se defender com sucesso caso a situação ocorra) sobre, assim, apartando as reações que deveriam mitigar o medo do que é responsável pela suspeita de insegurança. Na minha perspectiva, a visão que Bauman externa é um sentimento real e presente na sociedade líquido-moderna, visando que a individualidade gerada pelos medos, na verdade, levam o ser a criar cada vez mais incertezas, pois se o indivíduo teme cada coisa ao seu redor, e não aprende a hierarquizar seus medos (separando o medo derivado do medo objetivo, para gerir melhor suas ações e incertezas) e a lidar com eles caso ocorram, ele não consegue achar uma resposta e nem agir de forma individual, assim, cada vez ele fica mais inseguro: Uma pessoa que tenha interiorizado uma visão de mundo que inclua a insegurança e a vulnerabilidade recorrerá rotineiramente, mesmo na ausência de ameaça genuína, às reações adequadas a um encontro imediato com o perigo; o "medo derivado" adquire a capacidade da autopropulsão. (BAUMAN, p. 9) O medo pode acontecer tanto ao nível individual, onde é atrelado a traumas próprios ou a experiências alheias que a pessoa é exposta, quanto coletivo, onde que pode abranger as situações através de meios de comunicação, visando que a fluidez da sociedade não aponta soluções para as incertezas pessoais, ao invés disso, ela utiliza essa fragilidade “mantendo” o indivíduo com inseguranças para a economia do consumo vender segurança de diferentes formas que permeiam a sobrevivência, partindo do princípio de que o mundo é imprevisível: A economia de consumo depende da produção de consumidores, e os consumidores que precisam ser produzidos para os produtos destinados a enfrentar o medo são temerosos e amedrontados, esperançosos de que os perigos que temem sejam forçados a recuar graças a eles mesmos (com ajuda remunerada, obviamente). (BAUMAN, p. 15)

Até certo ponto, as ideias de Bauman se alinham com as minhas, pois de fato nós somos “incentivados” a permanecer com nossas incertezas em um constante ciclo (insegurança leva a adquirir um produto ou serviço), ademais, acredito que a interferência do consumismo pode ajudar a sociedade a se prevenir de forma positiva, não sendo apenas uma questão do capitalismo contra o indivíduo, ou manipulando o mesmo. Nesse contexto, Bauman também afirma que em função dos “medos derivados” se incentiva um consumo desenfreado por meio desses produtos e serviços que promovem uma sensação de proteção que fazem o individuo esquecer dos medos (p. ex. adquirir câmeras e armas em instituições) através da minimização da exposição de suas incertezas. Assim, podemos considerar que a sociedade individualizada surge em função de uma ação solidária e solitária, isto é, a vida se torna uma extensa busca de como lidar com os medos individuais e coletivos, permitindo que nos afastemos temporariamente desses perigos visíveis e próximos. Isso pode ser entendido melhor no trecho: A vida líquida flui ou se arrasta de um desafio para outro e de um episódio para outro, e o hábito comum dos desafios e episódios é sua tendência a terem vida curta. Pode-se presumir o mesmo em relação à expectativa de vida dos medos que atualmente afligem as nossas esperanças. (BAUMAN, p. 14). No trecho “As oportunidades de ter medo estão entre as poucas coisas que não se encontram em falta nesta nossa época, altamente carente em matéria de certeza, segurança e proteção. Os medos são muitos e variados”. (BAUMAN, p. 31), a ideia de que os “medos são variados” na relação do meio com o indivíduo fazem com que exista a possibilidade de os medos serem controlados, ou seja, conforme o sujeito é exposto as suas inseguranças (que estão por todos os lados), maior é a inocuidade do medo, onde as incertezas não deixam de existir, mas não se sobrepõem a violência, gerando a objeção sobre algumas soluções propostas pela sociedade capitalista. Outrossim, pode-se dizer que a partir desse contexto, gera-se a banalização da Violência, que ocorre quando o indivíduo é constantemente exposto à sua insegurança até se tornar banal, fazendo a expectativa de medo começar a diminuir. Assim, inicialmente o sujeito se aparta dessas situações, buscando se informar mais, porém, conforme o tempo passa e ele ou conhecidos não são expostos a essa situação, isso passa a não ser prioridade na hierarquia dos seus medos. Isso posto, podemos citar como exemplo as pessoas que no início da pandemia da COVID-19 não saiam de casa de maneira alguma, higienizavam as compras, tiravam os calçados para entrar em suas casas, mas conforme o tempo passou, elas deixaram de ser tão cuidadosas por nem elas e nem seus conhecidos terem contraído o vírus. Além disso, também ocorrem situações em que a vida do indivíduo não se alinha com o “medo derivado” presente naquele momento, com a ideia de que se não acontece com o ele, este não se impacta coletivamente, ainda que seja um assunto relevante e impactante para a sociedade. Onde novamente podemos usar a situação da pandemia: muitas pessoas acreditam ser apenas uma “gripezinha”, ou que vacina e medidas restritivas não são importantes, apenas por não ter sofrido com a doença (ainda que ele ou um conhecido tenha tido o vírus). Isso pode ser evidenciado no trecho: Como todas as outras formas de coabitação humana, nossa sociedade líquido-moderna é um dispositivo que tenta tornar a vida com medo uma coisa tolerável. Em outras palavras, um dispositivo destinado a reprimir o horror ao perigo, potencialmente conciliatório e incapacitante; a silenciar os medos derivados de perigos que não podem - ou não devem, pela preservação da ordem social - ser efetivamente evitados. (BAUMAN, p. 13) Por fim, na minha concepção, Zygmunt Bauman e “medos líquidos” evidenciam a sociedade contemporânea, em um cenário em que a insegurança gera isolamento, criando diversas experiências secundárias, ou seja, esse sujeito pós-moderno presume sua expectativa de vida em suas incertezas, onde cada vez mais o indivíduo deixa de viver para si, passando a ser movido pelos perigos que o cercam, os quais se tornam algo maior que sua capacidade e habilidade de agir individualmente de modo enfrentar seus “medos derivados” evitando as incertezas.