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Guias e Dicas
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lesoes de ballet, Notas de estudo de Fisioterapia

lesoes em consequencia do ballet qndo ha um professor sem qualidade

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 24/02/2011

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natalia-azevedo-1 🇧🇷

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Introdução
Para o senso comum, a dança caracteriza-se como
atividade associada à expressão corporal e à arte e, por
este motivo, as lesões, não são consideradas como de
grande importância. Para o público em geral, a graça e a
leveza dos movimentos e a imagem de sílfide assumida
pelas bailarinas clássicas dificilmente permite associá-
las à possibilidade de serem portadoras de agravos
1 Professor Doutor, Departamento de Educação Física, Faculdade de
Ciências, Unesp, Bauru SP.
2 Professora Mestre, Faculdades Integradas de Bauru – FIB.
causados pela prática da dança. Para o bailarino, a arte
justifica a dor e, no palco, o “show sempre deve
continuar”. (GREGO et al, 1999).
No entanto, quando se mergulha no interior de uma
Companhia de Balé e se procura conhecer sua
realidade, é possível encontrar dados surpreendentes.
Solomon et al (1995), investigando o Boston Ballet,
observaram que em um único ano ocorreram 137 lesões
em 70 bailarinos do corpo de baile, dentre as quais,
73% se concentram nos membros inferiores. O
tratamento destes agravos resultou num gasto de
aproximadamente 250 mil dólares. As luxações,
Motriz, Rio Claro, v.9, n.2, p. 63 - 71, mai./ago. 2003
As lesões na dança: conceitos, sintomas, causa situacional e tratamento.
Henrique Luiz Monteiro1
Lia Geraldo Grego2
Universidade Estadual Paulista - UNESP
Bauru SP
Resumo: As lesões decorrentes da dança vêm sendo investigadas na Europa e América do Norte, com enfoque
predominante para o Ballet Clássico. A caracterização dos principais agravos já provocou a mudança no estilo e
padrão dos movimentos descritos por Pierre Bauchamps no século XVII. Por este motivo, profissionais da dança
atualmente vêm condenando, por exemplo, o uso da sapatilha de ponta, sendo, as posições básicas, realizadas em meia
ponta para prevenir lesões. Em nosso meio, embora este estilo seja bem difundido, pouco se conhece sobre os
principais agravos resultantes desta forma de expressão. Como a dança envolve amplo espectro de lesões em regiões
corporais distintas, o objetivo do trabalho é apresentar o conceito, os sintomas, causa situacional e tratamento dos
agravos presentes na literatura, dividindo-as pelas regiões corporais que concentram a maior parte das ocorrências: os
membros inferiores e coluna vertebral.
Palavras-chave: Dança, lesões.
Dance injuries: concepts, symptoms, situational cause and treatment.
Abstract: The injuries due to the practice of dance have been investigated in several countries of Europe and in North
America focusing mainly the Classical Ballet. The characterization of the main injuries of this kind of dance has
caused changes in the style and in several movement patterns described by Pierre Bauchamps in the 17th century. For
this reason, the Classical Ballet taught in the modern dance schools has also changed. In order to prevent injuries, the
movement of the pointe position has been banned and the five basic Ballet positions are nowadays done in demi
pointe. Although this dance style is well known among us, there is a lack of information about injuries suffered by the
dancers and as a consequence, one knows few about the main injuries originated by this way of expression. As the
practice of dance can develop a wide range of injuries in different body regions, the main purpose of this article was to
present the concept, the main symptoms, the situational cause and the treatment for the injuries which appears most
frequently in the technical literature. To achieve this, we have classified the main injuries according to the body
regions that concentrated the majority of the occurrences, that is, the lower extremities of the body and the vertebral
column.
Key Words: Dance, injuries
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Introdução

Para o senso comum, a dança caracteriza-se como atividade associada à expressão corporal e à arte e, por este motivo, as lesões, não são consideradas como de grande importância. Para o público em geral, a graça e a leveza dos movimentos e a imagem de sílfide assumida pelas bailarinas clássicas dificilmente permite associá- las à possibilidade de serem portadoras de agravos

(^1) Professor Doutor, Departamento de Educação Física, Faculdade de

2 Ciências, Unesp, Bauru SP. Professora Mestre, Faculdades Integradas de Bauru – FIB.

causados pela prática da dança. Para o bailarino, a arte justifica a dor e, no palco, o “ show sempre deve continuar ”. (GREGO et al, 1999).

No entanto, quando se mergulha no interior de uma Companhia de Balé e se procura conhecer sua realidade, é possível encontrar dados surpreendentes. Solomon et al (1995), investigando o Boston Ballet, observaram que em um único ano ocorreram 137 lesões em 70 bailarinos do corpo de baile, dentre as quais, 73% se concentram nos membros inferiores. O tratamento destes agravos resultou num gasto de aproximadamente 250 mil dólares. As luxações,

Motriz, Rio Claro, v.9, n.2, p. 63 - 71, mai./ago. 2003

As lesões na dança: conceitos, sintomas, causa situacional e tratamento.

Henrique Luiz Monteiro 1

Lia Geraldo Grego 2

Universidade Estadual Paulista - UNESP

Bauru SP

Resumo: As lesões decorrentes da dança vêm sendo investigadas na Europa e América do Norte, com enfoque predominante para o Ballet Clássico. A caracterização dos principais agravos já provocou a mudança no estilo e padrão dos movimentos descritos por Pierre Bauchamps no século XVII. Por este motivo, profissionais da dança atualmente vêm condenando, por exemplo, o uso da sapatilha de ponta, sendo, as posições básicas, realizadas em meia ponta para prevenir lesões. Em nosso meio, embora este estilo seja bem difundido, pouco se conhece sobre os principais agravos resultantes desta forma de expressão. Como a dança envolve amplo espectro de lesões em regiões corporais distintas, o objetivo do trabalho é apresentar o conceito, os sintomas, causa situacional e tratamento dos agravos presentes na literatura, dividindo-as pelas regiões corporais que concentram a maior parte das ocorrências: os membros inferiores e coluna vertebral. Palavras-chave: Dança, lesões.

Dance injuries: concepts, symptoms, situational cause and treatment.

Abstract: The injuries due to the practice of dance have been investigated in several countries of Europe and in North America focusing mainly the Classical Ballet. The characterization of the main injuries of this kind of dance has caused changes in the style and in several movement patterns described by Pierre Bauchamps in the 17th century. For this reason, the Classical Ballet taught in the modern dance schools has also changed. In order to prevent injuries, the movement of the pointe position has been banned and the five basic Ballet positions are nowadays done in demi pointe. Although this dance style is well known among us, there is a lack of information about injuries suffered by the dancers and as a consequence, one knows few about the main injuries originated by this way of expression. As the practice of dance can develop a wide range of injuries in different body regions, the main purpose of this article was to present the concept, the main symptoms, the situational cause and the treatment for the injuries which appears most frequently in the technical literature. To achieve this, we have classified the main injuries according to the body regions that concentrated the majority of the occurrences, that is, the lower extremities of the body and the vertebral column. Key Words: Dance, injuries

H L Monteiro & L G Grego

tendinites e contusões corresponderam a 75% dos diagnósticos.

No âmbito acadêmico, Bronner e Brownstein (1997) afirmam que vem aumentando o interesse por pesquisas em medicina da dança. Nesse contexto, mencionam que a definição dos métodos de determinação dos agravos e os conceitos de lesões são aspectos necessários para padronizar e permitir comparações entre estudos epidemiológicos e etiológicos. Da mesma maneira que no esporte se considera lesão quando o atleta é obrigado a se afastar do jogo por determinado período, na dança, seria necessário definir qual é a fração de tempo que o bailarino se afasta da performance de palco. Por outro lado, Solomon et al (1995) e Garrick e Requa (1993) argumentam ser importante relacionar gastos médicos com lesões. Em síntese, nesse campo de investigação ainda há muito a ser construído.

Como a prática da dança pode envolver um espectro bastante amplo de lesões em regiões corporais distintas, o objetivo da presente comunicação é apresentar os conceitos, os principais sintomas, as causas situacionais e os tratamentos dos agravos que aparecem na literatura técnica com maior freqüência. Para tanto, procurou-se dividir os principais agravos por regiões corporais.

1. Principais agravos que acometem os pés

e tornozelos de bailarinos

Calo Macio

De acordo com Klafs e Lyon (1981), o calo macio ( soft corn ) caracteriza-se por crescimento epitelial anormal, devido a ponto de pressão em área constantemente úmida. Desenvolve-se com maior freqüência no quarto e quinto artelhos. Na dança os principais sintomas são a hipersensibilidade acompanhada de inflamação e dor, impedindo, muitas vezes, a bailarina de usar sapatilha de ponta, exatamente pela pressão que o peso do corpo exerce sobre os artelhos e a transpiração excessiva nos pés (CAILLIET, 1978). Para prevenir a formação de calosidade deve-se manter a região limpa e seca, trocando as meias diariamente; adicionalmente, a colocação de pequena almofada de esponja ou feltro entre os dedos ajuda a aliviar a pressão. Woodall et al (1992) descrevem como fabricar almofadas para tratamento de calo macio em profissionais de dança.

Calo Duro

Segundo Fatarelli et al (1997), o calo duro é definido como o estado crônico resultante da acumulação de espessa camada calosa, também

denominada hiperqueratose. Desenvolvem-se acima do dorso do pé, e no topo dos dedos, ao redor do calcanhar, por cima das deformidades do joanete ou em qualquer outro ponto que um tipo particular de sapatilha ou estilo de dança possam causar fricção ou esfregamento (roçamento). A princípio, não são dolorosos, mas se não forem tratados, podem causar desconforto e infeccionar. É resultante de pressão (sapatos que não se ajustam bem aos pés) ou de deformação do dedo. Weicker e Clinic (1988) argumentam que a profilaxia deve ser executada por profissional especializado. O professor pode auxiliar verificando se os sapatos se ajustam corretamente e orientar que a pessoa mergulhe os pés em água morna com sabão para que o calo possa amolecer. Também auxilia o uso de almofada de feltro ou borracha com orifício central para realizar a descompressão do local.

Bolha

É o resultado de fricção excessiva fazendo com que as camadas superiores da pele se separem (a epiderme se descola da derme). Há acúmulo de fluido na área de separação com formação da bolha. Os sintomas são dor e inflamação local. Na dança, o uso de sapatilha nova, exercícios prolongados, locais inadequados de prática, uso de sapatos apertados, atividades que solicitem paradas e mudanças repentinas de direção favorecem sua ocorrência. A profilaxia consiste em usar calçado confortável na região do hálux e dos demais dedos. A bailarina deve retornar de forma gradual à atividade após um período de afastamento para regeneração dos tecidos comprometidos. Deve selecionar cuidadosamente os sapatos e realizar higiene apropriada; nas áreas de maior exposição recomenda-se usar esparadrapo de micropore para diminuir a fricção e evitar a propensão de formação de outra bolha (WEICKER; CLINIC, 1988).

Hálux valgus (Joanete)

É definido como o desvio do hálux de sua posição natural em direção lateral com proeminência medial na base do pé. O abdutor do hálux fica debilitado e deixa de atuar no sentido de conduzir o dedo para a sua posição natural. Com isso há espessamento da cabeça saliente do 1 ° metatarsiano. Esta elevação é cronicamente acentuada pelo uso de sapatilhas de ponta; é anti-estética e atrapalha toda a ação do pé (DIEM, 1985). De modo geral, não são dolorosos, mas acarretam deformidades. Eventualmente, a dor pode ser causada pela formação de edema local em função de processo

H L Monteiro & L G Grego

A fáscia plantar é uma faixa fibrosa que se estende da base do calcâneo até a parte anterior do pé. Ela tem as funções de dar suporte e garantir elasticidade ao arco plantar. O estresse repetitivo na fáscia ocasiona sua inflamação ou até rompimento. Os sintomas principais são dor e sensibilidade sob a porção anterior do calcanhar, irradiando para a região anterior do pé (CAILLIET, 1978). Este agravo é freqüentemente observado em bailarinos com dez ou doze anos de prática e, geralmente, é causado pela execução de coreografias que requerem saltos e danças em superfície dura, alinhamento anormal do pé, como pronação excessiva e ficar em pé durante longo tempo, especialmente quando o indivíduo não está acostumado, são fatores de risco para esta lesão. O tratamento consiste na combinação de gelo e medicação anti-inflamatória. O tratamento tem por objetivo aliviar a pressão causada pela sustentação do peso. Elevar o calcanhar,com auxilio de pequeno salto ou palmilha, retira a tensão sobre a aponeurose. Na região do calcanhar pode ser realizada, também, a retirada (escavação) de material da sola do sapato que deve ser preenchido novamente com borracha esponjosa. Exercícios voltados a aumentar a força dos músculos onde se inserem nos tendões da região plantar ajudam a suportar a fáscia (WEICKER; CLINIC, 1988).

Sesamoidite

Os ossos sesamóides são flutuantes e estão inseridos nos tendões flexores do grande artelho. Ele se articula com a superfície inferior do 1° metatarso, podendo se tornar inflamado e irritado. Os principais sintomas são o aumento da sensibilidade dos ossos sesamóides, abaixo da ponta do 1° metatarso, com sinais de irritação e inflamação. Trata-se de uma lesão típica de palco porque é causada por movimento de hiperextensão do hálux, o que é necessário em praticamente todas as formas de dança. A aplicação de gelo e repouso e, às vezes, massagem pode ajudar a aliviar a dor. Se esta persistir, considere a possibilidade de fratura por estresse (FITT, 1988).

Neuroma de Morton

Os nervos que repousam entre os metatarsos tornam-se vulneráveis à impactação e ao pinçamento. Quando isto ocorre, pode se instalar nas células da cápsula envoltória uma fibrose perineural, comum entre as cabeças dos metatarsianos, que se manifesta como uma tumoração benigna. Portanto, não se trata propriamente de um tumor de nervo. Os sintomas são

dor aguda e hipersensibilidade. O uso de calçados apertados ou outro tipo de pressão localizada podem ser os causadores da tumoração (FITT, 1988). O bailarino deve usar sapatos de salto baixo, biqueira larga e solado macio, associada ao uso de medicação anti-inflamatória na fase aguda. Quando o desconforto é muito acentuado, deve-se avaliar a possibilidade de realizar a excisão cirúrgica do “neuroma” fora da época de temporada (SNIDER, 2000).

Tendinite do flexor longo do hálux

A tendinite é um processo inflamatório que acomete os tendões, causada por estresse excessivo na unidade tendão-músculo. Ocorre principalmente em áreas com maior sobrecarga. Se não for tratada de forma adequada há risco de necrose, podendo ocorrer a ruptura do tendão (ELLEN, 1981). O principal sintoma é a dor à flexão do hálux contra resistência. É comum ao executar o relevé, e nos movimentos de ponta e de locomoção. Edema e sensibilidade aumentada se manifestam durante o processo agudo. Ocorre no movimento de grand-plié , quando há o estiramento máximo deste tendão, onde a distância que o dedo deve se deslocar para acomodar esta posição é de 4 a 6 cm. O grand plié pode ser realizado em cinco posições diferentes. Em quatro delas, há flexão total dos membros inferiores com retirada espontânea dos calcanhares do solo. Este movimento deve ser gradativo e suave. Em todos os grand-pliés os membros inferiores devem estar afastados num ângulo de 180°, e o peso do corpo igualmente distribuído em ambos os pés. Interrupção dos treinamentos, repouso, massagens, aplicação de gelo, medicação anti-inflamatória e alongamento leve são procedimentos comuns nestas situações (WEICKER; CLINIC, 1988).

Bursite no tornozelo

Inflamação das bursas ocorrem por fricção excessiva, repetitiva ou traumatismos diretos. As bursas são bolsas lubrificantes com conteúdo sinovial: localizam-se em região de fricção entre tendões e ossos ou tendões, ossos e pele. Sua função é de facilitar o movimento dessas estruturas. Os principais sintomas das bursites são dor articular (permitindo distinguí-las das tendinites) que pode se irradiar ao longo da estrutura músculo–tendínea, limitação dos movimentos e edema. O aumento de sensibilidade é anterior ao tendão calcâneo (tendão de Aquiles) e se irradia para o osso subjacente (JONES et al, 1994). Weicker e Clinic (1988) referem que na região do tornozelo há várias bursas, porém, no balé somente

Lesões na dança

duas são acometidas freqüentemente; elas localizam-se entre o calcâneo e a inserção do tendão calcâneo e entre o tendão e a pele, no mesmo local. A fricção e pressão da borda da sapatilha de dança com a pele e o calcâneo provocam a bursite. O tratamento consiste na aplicação de gelo, anti-inflamatório oral e, em casos agudos, a injeção com esteróides levará a alívio rápido e completo. Em casos raros, uma cirurgia é possível para retirar a proeminência do calcâneo que causa a irritação crônica. A recuperação é de 3 a 4 semanas após a intervenção.

Tendinite de Aquiles

Na dança os sinais e sintomas principais são o edema e sensibilidade à dor aumentada, quando da execução do demi- plié, relevé e aterrizagem; o movimento é freqüentemente acompanhado por estalido na porção inferior do tendão calcâneo. As causas da tendinite são a técnica pobre e o desalinhamento das pernas à execução do movimento. São comuns, também, em bailarinas idosas com tendões enfraquecidos pelo desgaste e naqueles que têm um plié mais vigoroso. É tipicamente causada pela falta de amortecimento ( pliés ) quando da aterrizagem de saltos e relevés (FITT,1988). O tratamento consiste na realização de repouso, massagens, aplicação de gelo e o uso de medicação anti-inflamatória. Deve-se usar, também, elevação nas sapatilhas de balé e jazz (pequeno salto) para diminuir a pressão sobre o tendão. O alongamento do tendão depois das aulas e ensaios é a melhor prevenção. Nos casos agudos, a imobilização com bota de gesso por período de 4 a 6 semanas pode ser necessária. Injeções de corticosteróides podem aumentar o risco de ruptura do tendão; portanto, tal medicação é contra-indicada (SNIDER, 2000).

Luxação e Sub-luxação do tornozelo

A luxação é caracterizada pela perda de contato entre as extremidades ósseas de uma superfície articular, geralmente acompanhada de lesão cápsulo- ligamentar. A subluxação ocorre quando dois ossos da articulação ainda permanecem parcialmente próximos (FATARELLI et al., 1997). Na subluxação observa-se a perda da função, deformidade, inchaço, hemorragia, dor, fragilidade e espasmo muscular, enquanto na luxação, além dos sinais e sintomas mencionados anteriormente, há, também, deformidade evidente, causada pela separação dos ossos que compõem a articulação. Ellen (1981) afirma que a bailarina deve parar de dançar imediatamente, chamar o responsável,

que deverá aplicar bandagem de pressão e compressas de gelo, para reduzir a possível hemorragia e edema; se possível, após a lesão, uma tala deve ser colocada para prevenir dano maior. Retorno à dança deve ser gradual, com exercícios na piscina e fisioterapia.

2. Principais agravos que ocorrem no

joelho de bailarinos

Tendinite patelar (“Joelho de saltador”)

No caso do agravo em questão é importante salientar que a designação “tendinite patelar”, embora de uso habitual, é incorreta, pois é o ligamento patelar que é acometido e não o tendão. Os problemas mais freqüentes de tendinites envolvem o mecanismo do quadríceps femural. É causada por contrações súbitas e repetidas do quadríceps ao iniciar um movimento, podendo ocasionar micro rupturas do ligamento na região inferior da patela, provocando a instalação de processo inflamatório. Os principais sintomas são a dor local após atividade ou até inabilidade para participar de aulas de dança, com sensibilidade acentuada na base da patela. Atividades como os saltos e dança flamenca (atividade agressiva e muito rápida) respondem pela maior parte desses agravos (APLEY; SOLOMON, 1989).

Laceração do menisco

O menisco é composto por duas estruturas semi- lunares planas de cartilagem elástica, interpostas entre o fêrmur e a tíbia. A lesão ocorre por ruptura traumática ou degenerativa do menisco lateral ou medial, podendo ser ocasionada de forma isolada ou em associação com uma lesão de ligamento cruzado anterior ou colateral medial. Os sintomas compreendem dor na flexão e extensão do joelho, edema intermitente da articulação, sensação de estalo e bloqueio mecânico (a bailarina tem dificuldade em fazer o movimento todo porque a articulação parece estar sendo ¨pega¨). Ele é mais suscetível a lesões na posição em que o joelho é fletido rapidamente (Grand-plié ), particularmente quando tem associado a rotação, enquanto se sustenta o peso (WIECKER; CLINIC, 1988). Em alguns casos, em sujeitos mais jovens e em regiões onde o menisco é mais vascularizado as rupturas periféricas podem curar- se espontaneamente ou serem reparadas por procedimentos não invasivos. Nesses casos, quando há ausência de travamento e instabilidade, o tratamento inicial deverá consistir na aplicação de gelo, elevação do membro, repouso e, proteção adequada. A presença de falseio ou efusão recorrente são indicadores de lesão

Lesões na dança

lesão ou cirurgia; e desalinhamento da articulação do joelho, provocado por técnica inadequada. As mulheres têm maior propensão. Ainda, o hábito de ficar sentado por tempo prolongado com os joelhos fletidos e realização excessiva e continuada do grand-plié podem agravar a situação. O tratamento consiste em: a) repouso, massagens, gelo e medicação anti- inflamatória; b) identificar e corrigir falhas no treinamento; c) realização de programas específicos de treinamento para fortalecer os músculos do quadríceps (TEITZ, 1987).

3. Principais agravos que ocorrem no

quadril e pelve de bailarinos

Quadril estalante

O estalido sobre o quadril parece ter dois sítios anatômicos: um na superfície lateral (externa) do quadril que recobre o trocânter e o outro ântero-medial. O estalo pode ser devido à subluxação do quadril fora de seu sítio de articulação ou por causa do escorregamento do tendão íliopsoas sobre o fêmur. Os sintomas caracterizam-se por dor localizada ao flexionar o quadril e estalo doloroso enquanto se faz developé , com aumento da sensibilidade no trocânter maior do fêmur. O developé é o movimento executado no centro do recinto ou na barra de balé. O membro inferior é deslocado para cima e vagarosamente estendido para uma posição aberta no ar, devendo ser mantido fixo e com perfeito controle (FITT, 1988). É causado por movimentos executados com técnica pobre, alinhamento postural defeituoso, extensão excessiva da pelve. O tratamento consiste em restabelecer o equilíbrio muscular do quadril. São recomendados exercícios terapêuticos com alongamento dos músculos rotadores externos e internos e dos extensores e adutores do quadril. Medicação anti-inflamatória e calor profundo são recomendados em casos agudos; quando não houver resposta ao tratamento mencionado, pode ser é necessária intervenção cirúrgica (SNIDER, 2000).

Artrite degenerativa do quadril

Lesão que resulta em pequenas fissuras e desgastes da cartilagem da articulação do quadril, em decorrência de traumatismo, infecção, hereditariedade ou por razões idiopáticas. É resultado, também, de tratamento ou reabilitação inadequada de uma lesão (MICHELI, 1998). Há correlação direta entre estresse aplicado sobre a articulação e a precocidade com que aparecem estas alterações. Manifesta-se por dor persistente depois de dançar e perda súbita da capacidade de rotação do

quadril. O processo está associado à aterrissagem de saltos defeituosos. O médico deve prescrever o uso de medicação anti-inflamatória e analgésicos. Recomenda- se a realização de exercícios leves para manter a amplitude do movimento. Se a dor se tornar severa pode ser necessária cirurgia reconstrutiva do quadril (FITT, 1988).

4. Principais agravos que ocorrem nas

costas de bailarinos

Lombalgia (Dor mecânica da coluna lombar)

Está associada usualmente com rotação da coluna e, também, com a postura hiperlordótica. A dor é provocada pela combinação do desequilíbrio muscular com músculos abdominais fracos e fáscia lombo-sacral rígida (KNOPLICH, 1989; BIENFAIT, 1995). Macintyre (1994) argumenta que, muitas vezes, as dores lombares são ocorrências secundárias decorrentes de disfunções de outros sítios da cadeia cinética que, no caso do ballet , podem estar associadas, por exemplo, à assimetria funcional da coluna lombar e articulação sacro-ilíaca, bem como os movimentos e posicionamento dos pés. Os sinais e sintomas são espasmo muscular e dor ao movimento. Mover, girar, levantar a bailarina, com postura hiperlordótica e técnica inadequada são as causas situacionais mais comuns. O tratamento deve prever a realização de exercícios dirigidos para o fortalecimento dos músculos abdominais com simultâneo alongamento dos músculos flexores da perna e joelho. O bailarino deve evitar os posicionamentos em hiperlordose enquanto dança. Nos casos mais avançados, o médico pode recomendar o uso colete anti-lordótico (KELLY, 1987).

Radiculopatia Lombar (Dor no ciático)

Compressão desigual entre duas vértebras adjacentes fazendo com que o disco inter-vertebral se desloque do seu local normal. Quando isto ocorre pode haver pressão do nervo, podendo causar espasmo muscular. É causada por traumas repetitivos e repentinos. Os sintomas compreendem a dor na região inferior da coluna e rigidez muscular. É observada geralmente em bailarinos e está associada com a posição em hiperlordose durante a dança ou quando se eleva a bailarina. As radiculopatias da porção lombar média (L1 a L3) referem-se à dor na porção anterior da coxa e geralmente não irradiam para as porções inferiores do joelho. Na fase aguda, os pacientes devem sentar apenas para as necessidade do toalete e devem se alimentar de pé ou deitados. Por aproximadamente sete

H L Monteiro & L G Grego

dias o bailarino ainda deve manter repouso relativo, com retorno gradual às atividades, porém evitando elevar a bailarina, ou realizar outros movimentos dolorosos. Programas de exercícios dirigidos devem incluir o fortalecimento abdominal e de membros inferiores. Em casos mais severos, é necessário cirurgia, onde o bailarino ficará impossibilitado de dançar por 12 meses (KELLY, 1987; SNIDER, 2000).

Espondilólise

É a deformidade causada pela formação de tecido fibroso uni ou bilateralmente ao arco neural da vértebra inferior. A bailarina sente dor na porção inferior das costas durante hiperextensão em pé ou em um só pé, como no arabesque. Apresenta movimento limitado da coluna lombar quando se inclina para frente. O arabesque é uma das posições básicas do balé, onde o corpo fica apoiado numa perna só; esta pode estar na estendida ou em demi-plié enquanto a outra permanece estendida para trás, num ângulo de até 180°. Os antebraço deve seguir o prologamento dos braços podendo ser dirigidos para diferentes posições, sempre harmoniosas (FITT, 1988). Os ombros devem ser mantidos retos em frente à linha de direção. O médico pode indicar o uso de colete anti-lordótico para imobilização. É recomendado um programa de exercícios abdominais e de correção da hiperlordose. Recomenda-se evitar técnicas de dança que venham a causar dores e a prática de saltos (KELLY, 1987).

Espondilolistese degenerativa

É a progressão da espondilólise. Caracteriza-se pelo deslizamento de um corpo vertebral, anteriormente em relação ao outro imediatamente inferior, sendo mais comum em mulheres com mais de 40 anos (SNIDER, 2000). Ocorre geralmente entre a 5° vértebra lombar e o sacro. A pessoa apresenta saliência na região lombo- sacra, aumento da curvatura lombar e músculos íliotibiais contraídos. É causada por técnica pobre e hiperextensão da coluna. O tratamento prevê repouso, exercícios de reabilitação, treinamento e aperfeiçoamento das técnicas de dança, eliminando, desse modo, fatores que possam piorar a condição (KELLY, 1987).

Considerações Finais

Ao encerrar este trabalho de revisão pode parecer estranho que se pergunte sobre qual a finalidade da comunicação. Neste contexto, é oportuno esclarecer que muitos dos profissionais que atuam como Professores de Educação Física ou de Dança, pouco conhecem

sobre os agravos que acometem seus alunos, especialmente quando se trata da modalidade pautada na presente revisão.

Não obstante, a leitura e o estudo das lesões aqui abordadas não têm a finalidade de instrumentalizar o Professor a apresentar diagnóstico e muito menos se aventurar a prescrever tratamento aos seus alunos. No entanto, o conhecimento dos principais agravos que acometem os dançarinos, os sinais e sintomas de cada lesão, seu mecanismo e as alternativas de tratamento podem municiar o profissional para informar ao médico sobre o tipo de treinamento que estava sendo realizado no momento da lesão, a forma como aconteceu, os sinais e sintomas que a vítima apresentou, bem como os procedimentos de urgência adotados no momento da ocorrência (quando for o caso de episódio agudo).

Estas são contribuições importantes, por exemplo, para que o médico construa um diagnóstico correto e possa proceder ao tratamento adequado. Ainda, quanto à reabilitação, o conhecimento dos procedimentos e do tempo que o aluno levará para se restabelecer, bem como os cuidados que se deve ter quando do seu retorno às atividades, constituem conjunto de informações importantes para que o Professor não o prejudique levando-o a uma recidiva. Ter domínio sobre esse assunto e agir com prudência são elementos importantes para que o “Show possa continuar” (Parafraseando Grego et al, 1999).

Referências

APLEY, A. G.; SOLOMON, L. Manual de ortopedia e fraturas. Rio de Janeiro: Atheneu, 1989.

BIENFAIT, M. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus, 1995.

BRONNER, S.; BROWNSTEIN, B. Profile of dance injuries in Brodway Show: a discussion of issues in dance medicine epidemiology. JOSPT, v.26, n.2, p.87-94, 1997.

CAILLIET, R. Síndromes Dolorosas. São Paulo: Manole, 1978.

DIEM, L. A cartilha dos pés : saúde e ginástica para os pés. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

EINARSDÓTTIR, H.; TROELL, S.; WYKMAN, A. Halux valgus in ballet dancers: a myth? Foot & Ankle International, v.16, n.2, p.92-94, 1995_._