Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

JARDINS DO RECIFE-uma historia do paisagismo no brasil, Notas de estudo de Urbanismo

Arquitetura e Urbanismo

Tipologia: Notas de estudo

2014

Compartilhado em 20/02/2014

cinira-madelon-3
cinira-madelon-3 🇧🇷

4.6

(11)

2 documentos

1 / 114

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe JARDINS DO RECIFE-uma historia do paisagismo no brasil e outras Notas de estudo em PDF para Urbanismo, somente na Docsity!

DO RECIFE. A HIS IA DO PAISAGISMO NO BRASIL (1872-1 ema história e muitos jardin: entes consultadas e acervos visitados .. jardim e muitas histórias. (C$Pe EDITORA PREFÁCIO possível que o objeto jardim ainda não seja bem assimilado como um dos principais elementos urbanos. No entanto, os jardins ocuparam lugar de destaque c preponderância na cidade do Recife no início do o 20. Assim denominados pela profusão vegetal, os jardins configuravam os atraentes por um mobiliário artístico e bem cuidado com a finalidade de Efletir o nível cultural de seus idealizadores e da população. Abstraindo da escala da cidade, o jardim é também entendido como aquela área localizada na parte anterior da casa, mostrando assim sia relação imediata bm a edificação, compondo o núcleo familiar, num âmbito mais restrito. Outro nificado curioso está associado à expressão “jardim de infância”, ou seja, o gresso à escola, o começo da formação, ou a brincadeira, a descontração, o Ebnvívio, o encontro, enfim, tal qual o jardim da casa ou da cidade, exemplifica ima das primeiras construções humanas. Essas características relacionam. aspectos da arte, da botânica e da educação, gue foram tão bem reunidas na concepção do jardim moderno, trazida pelo aisagista Roberto Burle Marx para o Recife dos anos 1930, exaltando as raízes sileiras na vegetação regional, nas esculturas de gente simples é na intenção de respeito à natureza. Foi Burle Marx o artista-paisagista que criou o jardim mente brasileiro, conceituando-o como “natureza organizada”, segundo [E : higiene, educação e arte, no seu livro “Arte e Paisagem”, de 1987. já expõem esse mes- Seus depoimentos desde os anos 1930 nos jornais do Recife imo modo de pensar, pois, até então, os jardins tinham mais a aparência europeia de traços ingleses e franceses, contendo plantas exóticas. E ainda são poucos &s estudos realizados por pesquisadores brasileiros que abordam os jardins do 10 | Aline de Figueirõa Silva ponto de vista do paisagismo com Tepercussões no campo da arquitetura e do urbanismo. O estudo de Aline Figueirõa sobre os jardins do Recife é uma sucessão de re- velações que surpreendem o leitor curioso e interessado na história das lades, Sua pesquisa descortina um âmbito a ser explorado na arquitetura da paisagem, rpreende pa Eotejado no domínio da hi 1 conteúdo até então tória e não da história do paisagismo no Recife, aqui focada no período de 1872 a 1937, É a intenção da autora apresentar aos leitores à riqueza literária, artística e arquitetônica dos clementos do jardim, até então Pouco examinados, porém intensos e admiráveis, para nos ensinar a ver, a perce- ber um universo Paisagístico grandioso, que nos enleva, a ponto de fazer crescer 9 orgulho de pertencer à esta cidade. As descobertas da jovem pesquisadora ascendem o Recife a um patamar pró- ximo ao Rio de Janeiro, então pioneiro nos empreendimentos paisagísticos no século 19. Isto porque mostra a atual Praça da República como parte dos pri- meiros jardins brasileiros planejados naquele momento. Vale a pena ressaltar criação do Parque de Friburgo pelo conde João Maurício de Nassau, no século 17, anunciado como o primeiro jardim das Américas pela estudiosa dos jar recifenses, arquiteta Liana Mesquita. Trilhando por esse gesto secular, no século ada a expressividade dessa ação humana com o surgimento de vários jardins que constituíram pontos atrativos da paisagem urbana no intuito de ex Pressar o nível cultural da população, em especial no campo das artes, da história e da botânica. De um trabalho final de graduação que abordou o traçado dos jardins projeta- dos pelo paisagista Roberto Burle Marx no Recife, Aline Figucirõa seguiu, em sua dissertação, o faro da inqui vestigar como eram os espaços ajardinados dlialogado de ma reformar e projetar jardins públicos no cargo de Diretor do Setor de Parques e Jardins do Governo do Estado de Pernambuco de 1934 a 1937. Com esse pres- suposto, percorreu os arquivos, analisando à documentação com demasiado rigor científico, possível de ser verificado nas citações e descrições de paisagens que Istram scu texto. Assim, consegue fundamentar sua suposição de que o jardim representava prioridade política € soci lava intenções ecológicas e educativas e, portanto, detinha qui a na mira da modemização. Naquele momento, criar jardins significava levar conhecimentos artístico, botâni- So e sanitário em prol do convívio social. O jardim se revelava, então, como uma 14| Aline de Figucirõa Silva Fundação Joaquim Nabuco e ao Museu da idade do Recife. le Marx & Cia Ltda, no Rio de Jan imagens gentilmente cedidas. Aos amigos, colegas, professores e prof longo caminho, pelas conversas, companhia icas e metodológicas, esclarecimentos e indicações bibliogra Entre eles, os professores do MDU e os colegas do IPHAN e do os quais mantive um convívio frutífero e amistoso, em busca do sa Imente, do saber fazer. Especialmente às minhas queridas Ribeiro, Flaviana Lira, Juliana Sorgine e Rosane Piccolo, ao Laura Gomes, a Cristiano Borba, pelas fotos gentilmente produzidas pa contra-capa, « às pretéritas lições dos tempos do Colégio Diocesano: Aos profissionais e funcionários da CEPE que se envolveram e etapas de preparação e publicação deste livro, desde a leitura e ap originais, à sua revisão, projeto gráfico e impressão, cujo trabalho. forma indelével, a esta obra. Aos meus pais, Amadeu « Dionéa, meu tio Sebastião, meu avô Te memória), minha avó Iracema, minha irmã Amanda e minha sobrinha G amor e dedicação, ensinamentos e apoio que recebi em todos os momes nha vida. Sem a figura da minha mãe, nada — absolutamente nada — ses Atodos, enfim, que compartilharam seus saberes, seu tempo, sua gg de e seu desejo de ver este livro publicado. Espero ter-lhes deixado os” frutos desta colheita, INTRODUÇÃO -Kublai: Não sei quando você encontrou tempo de visitar todos oa patses que me escrevo. A minha impresado é que você munca saiu deste jardim” (talo Calvino) » segunda metade do século 20 foi fecunda no campo dos estudos sobre a cidade, que, herdeira dos processos industriais oitocentistas, massificada desnaturada, interpelava quanto a novas formas de produção e Iruição ano. A partir das décadas de 1950 « 1960, temas como natureza, , história, memória, percepção e comportamento foram introduzidos na do Planejamento Urbano, aprofundados com a emergência disc anos de 1970, a questão ambiental novamente enriqueceu a agenda dos ionando o paisagismo, demínio do palrimônio histórico — quadro cronológico, valores atribuídos e jo no território — através da valoração da arquitetura cis industrial “epaisagística foi um sintoma do interesse por seu conhecimento e preservação, diversificando os bens da cultura material, No campo do paisagismo, um marco mundial foi a Carta de Florença, de 1981, que introduziu o conceito de jardim histórico relativamente às composi- ções paisagísticas (parques, praç; elaboradas ou mais modestas, cuja conservação se justifique por seus valores O interesse pela história do paisagismo no Brasil tem aumentado e com ele, o múmero de publicações, embora ainda em número bastante reduzido, Uma escas- sez de literatura desigual à fecunda produção paisagística brasileira, sobretudo à partir da segunda metade do século 19, quando o cultivo de jardins progrediu pelo país. A partir da década de 1990, alguns pesquisadores começaram a excursionar pelos hortos botânicos, passeios públicos, parques e jardins das principais cidades iras, com aportes diferenciados e diversificação de fontes documentais. 16] Aline de Figueirôa Silva No Recife, a criação de jardins públicos através do aja campos, largos, praças e campinas em difere um amplo e diversificado acervo paisagi tados desde os últimos decênios do séc mento de antigo es períodos históricos resul , remanescente de projetos im; 19 até o final da década de 1930. O jardins do Recife foram, entretanto, pouco contemplados na literatura sobre história da cidade, por vezes aparecendo como o cenário de algumas prática Sociais na visão de cronistas, escritores e historiadores. Acolhendo a extensão desse acervo, este dissertação de mestrado, descortina três Recife. A narrativa enfoca o projeto paisagi análise do traçado, da vegetação, do mobiliário (desenho é materiais) e dos ele- mentos aquáticos, considerando condicionantes do sítio, como o formato e « topografia do terreno, a presença de rios e mar e as edificações do entorno. Pro- cura identificar as influências dos princípios de composição legados pela ci la ao longo da história. O primeiro período (1872-1888) abarca 16 anos e 4 intervenções, Pela execução do projeto de ajardinamento do Campo das Princesas, em 18; & terminando com o da Praça Visconde de Mauá, atribuído ao final do Império. Provavelmente por volta de 1888. Foram vários os chefes da província de Per nambuco, com mudanças no corpo técnico da Repartição das Obras Públicas Remonta ao período posterior à criação do primeiro Passeio Público do Recife (1840), quando se “a prática de ajardinamento de antigos campos, pátios. largos e praças col como o Campo das Princesas, hoje Praça da Repúbli- ca, a Praça de Pedro II, atual Praça Dezessete, à Praça da Boa Vista, atual Praça Maciel Pinheiro, e a Praça Visconde de Mauá. Esses projetos paisagísticos continham elementos go gosto do jardim inglês. somo coretos, gradis e pavilhões em ferro, bancos em madeira, lagos, canteiros, ve- Setação de médio porte e traçado sinuoso, expressando funções recreativa e artística O segundo período (1922-1926) compreende as administrações do governa- dor Sérgio Loreto (1922-1926) e do prefeito Antônio de Góes (1922-1925), quan- do foram realizados 8 projetos em cerca de 2 » entre 1924 e 1925. Foram construídos 6 parques, atuais praças do Derby, Chora Menino, Sérgio Loreto, Entroncamento, Oswaldo Cruz e Amorim, e foram reformadas as praças da Re- pública e Maciel Pinheiro. Alguns registros também indicam que o Largo da Paz foi ajardinado nessa época. Os projetos inclufam mobiliário em cimento armado, composto por pérgu- las, coretos, colunas, jartos € bancos, além de lagos, fontes, canteiros, arbor ção densa e traçado predomi |, mesclando aportes dos jardins franceses e ingleses e desempenhando funções recreativa, artística e higiênica. ques resultaram de projetos de ajardinamento de antigos largos e cam- a; a Campina do Derby, o Largo do Paissandu, a Campina do Bodé, o Largo amento, a Lagoa de Fernandes Vieira e a Campina dos Manguinhos, do a prática iniciada no século 19. O Parque do Derby, entretanto, truído como parte de um grande empreendimento que incluía um lote- “um canal e um quartel, ou antes, a criação de um bairro. rceiro período (1934-1937) corresponde às gestões do governador Carlos Cavalcanti (1935-1937) e do prefeito João Pereira Borges (1934-1937). ram executados 7 projetos do jovem paisagista Roberto Burle Marx entre 1935 , que iniciava sua carreira e fundava os alicerces do jardim modemo, na ção de técnico da Diretoria de Arquitetura e Construção do Governo do o de Pernambuco, à frente do Setor de Parques e Jardins. ; projetos mesclavam princípios paisagísticos tradicionais a espécies vege- e novos elementos construídos, como exemplares da flora brasileira, ii iticas como meio de cultura botânica, bancos em granito é es- ras nela temas brasileiros. O jardim moderno de Burle Marx tava em princípios de higiene, educação, arte e recreação, conservando lo 19 e dos anos de 1920. Pça os projetos do Jardim da Casa Forte, hoje Praça de Casa do Jardim do Benfica, atual Praça Euclides da Cunha, da Praça Artur Oscar, Praça da República, do Parque do Derby, da Praça Coração de Jesus (Praça Bhora Menino) e do Parque Amotim. Elaborou projetos de reforma para a Praça sete, a Praça das Cinco Pontas, o Largo da Paz, a Praça Barão de Lucena de hoje existe o edifício JK, no centro do Recife) a Praça Pinto Dâmaso (Praça árzea), cujas plantas foram localizadas. Entretanto, não há evidência sufcien es da implantação de todos esses projetos, com exceção da Praça Pinto Dâmaso, “que não chegou a sr reformada. Desenhos a nanquim do paisagista e referências “em documentos da época indicam sua intenção de realizar pequenas intervenções “ma Praça Correia de Araújo (Praça do Entroncamento) e na Praça Maciel Pinheiro. E Esses jardins públicos, assim designados em seu conjunto à época em que E construídos, compõem hoje a maioria das praças o a E “cidade do Recife. São espaços urbanos vegetados de uso público que agrey | traços de sucessivas a ae realizadas ao ese do io com diferentes “expressões de traçado, vegetação, mobiliário e elementos cos. | pags dn períodos foi marcado por ações pe np . s em várias e algumas obras na primeira gestão do governador Car- E ri nd 1930-1935), quando a Prefeitura do Recife esteve con- | Fada a Lauro Borba (1930-1931) e Antônio de Góes (1931-1934), reproduzindo o projeto característico da década de 1920. Jardins do Recife [17 “Polo: Todas as coisas que vejo e faço ganham sentido num espaço da mente em que reina a mesma calma que existe aqui, a mesma penumbra, o mesmo silêncio percorrido pelo farfalhar das folhas. No momento em que me concentro para refletir, sempre me encontro neste jardim, neste mesmo horário, em sua augusta presença, apesar de prosseguir sem um instante de pausa a subir um rio verde de crocodilos ou a contar os barris de peixe salgado postos na estiva” (Italo Calvino). O jardim público — Historicamente, ao menos na cultura ocidental, a praça firmou-se como o livre urbano de domínio público, comum, aberto, coletivo e desnudo e consolidou-se como o espaço livre privado, doméstico, enclausurado e quanto a praça, cuja origem remonta à Ágora, na pólis grega, e ao Fórum, na civitas romana, constitui o espaço de todos, destinado ao debate, ao encon- à manifestação do público, o jardim recua aos primórdios da civilização “humana, como uma das expressões mais antigas da relação homem-natureza. “Nas praças da Idade Média e da Renascença, “concentrava-se o movimento, “tinham lugar as festas públicas, organizavam-se as exibições, empreendiam-se as * cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de eventos se- melhantes” (Site, 1992, p. 25). Em bem apanhadas palavras de Vanildo Bezerra Cavalcanti (1977, p. 158), as praças são “um campo de cultura, de comunicação, “ de história. Nelas se arquitetam amor e poesia, se faz política e se ouve música, “se passeia e se descansa, se respira um ar melhor e se medita, se alcança a liber- “dade ou por ela se morre”. O jardim, por outro lado, consiste numa manipulação “da natureza motivada por razões contemplativas e utilitária e está ligado a uma “inquietação espiritual que remonta à ideia do Paraíso, evocado nos primeiros jardins, organizados a partir dos métodos de cultivo e irrigação, e enraizado em mitologias e religiões. * Etimologicamente, a expressão “praça” (lugar cercado de edifícios, largo, mer- cado e feira), cujo aparecimento na língua portuguesa remonta pelo menos ao 24 | Aline de Figueiróa Silva século 13, deriva do latim vulgar platea, sendo documentados no português me dieval a locução adverbial “em praça” e o advérbio “praceiramente”, ambos sigr- ficando “em público” (Cunha, 1986, p. 627). O vocábulo “jardim” (terreno onde se cultivam plantas ornamentais), variação do francês jardin, do antigo jart, era es contrado no idioma português ao menos no século 13 (Cunha, 1986, p. 453). Ex 1858, havia registro da palavra “jardineira” e, em 1873, dos vocábulos “ajardinar” “jardinagem” e “jardinista” (Cunha, 1986, p. 453). Também partindo da expre- são normanda gardin, variante antiga de jardin, originaram-se o inglês garden e « alemão garten, cujo radical gard significa “cercado”, derivado do anglo-saxão gearé e do alemão arcaico gart (Corominas, 1994, p, 343), assim como foi introduzids a palavra jardín no idioma espanhol. À expressão “jardim” nas línguas vernáculas do Ocidente se vincula ao hebraico gan, ou seja, proteger ou defender, sugerindo a presença de uma vala ou cerca, e eden ou oden, exprimindo a noção de prazer. deleite. Da combinação entre os dois termos, a palavra “jardim” passou a significar “um recinto de terra para o prazer e o deleite” 83, p. 29). A praça é, originalmente, o espaço livre público (urbano, com pouca ou ne- nhuma vegetação) e o jardim, o espaço livre privado (doméstico, encerrado e vegetado) — relação metaforizada por Nelson Saldanha (1993) em seu ensaio sobre a vida pública e privada. Aexpressão portuguesa “parque”, por sua vez, com acepções originais de “bos- que cercado onde há caça”, “terreno arborizado que circunda uma propriedade” e “jardim público”, remonta pelo menos ao século 16, derivada do francês pare através do latim parricum (Cunha, 1986, p. 583). A forma homônima espanholas “parque”, de 1607, advinda do francês pare pelo ignifica “manjedoura de gado”, “sítio cercado destinado a conservar animais selvagens”, “terreno, cercado e com plantas, para recreio” — origem comum nas línguas francesas e germânicas do Ocidente (Corominas, 1994, p. 442). O parque conjuga o sentido “público” da praça e “verde” do jardim, ou seja, na condição de espaço público vegetado, é um jardim público. Ao longo do tempo, o jardim adquiriu configurações, dimensões e designa- qões diversas e assumiu diferentes expressões projetuais de acordo com as fun- ções que desempenha. Abarca grande variedade de espaços livres, como os pas- seios e as alamedas, as praças e parques urbanos, os jardins botânicos e jardins zoológicos, as hortas e os pomares. Citando Burle Marx (1935), “o jardim em todos os tempos, entre todos os povos, surgiu nos momentos máximos de suas respectivas civilizações. Não houve povo que evoluindo não se congregasse em cidade, Não houve cidade que evoluindo não contivesse jardins”. Essa longa práxis delincou escolas paisagísticas, que, aplicando princípios de composição, utilizavam materiais naturais (vivos ou inertes), como água, pedes e vegetação, eartificiais, através di ação humima dominando a natureza e mol dando diferentes expressõesde traçado, mobiliário, elementos aquáticos é mas cas vegetais, Os jardins italianos, franceses e ingleses exercetam grande influên- “cia na práxis paisigótica do Ocidente, cujos princípios compesitivos encerram um vocabukário poetisa, deseortinada adiante através da experiência brasileira. ilas italianas eram frequentemente abertas ve pi da Realeza em Londres nos seiscentos e cms putas te, 1953, po 94 Segawa, 1996, pr 4344). Mas no início utmeçava à extrapolar o limite da edificação, alcançando público, na acepção de urbano, não contido no espaço da vila ot do às 0 grando incêndio de 1666, Londres introduziu o padrão square, que 7 e 1a partir-do desejo de conforto e privacidade «dos e da tradição de instalação de bairros ao redor de zonas mais preexis- fais do Recife | 251 Alimme de Figura Silva O projeto paisagístico Um jardim remascentista nro Recife colonial. Foi assim que a arquiteta Liana Mesquita (2002) se repartou ao Parque de Friburgo; um grande empreendimen- ta paisgístico contido no palácio homônima criada pelo conde João Maurício de Nassuu, governador geral do Brasil Holandês durante a ocupação Aamenga nu Recife (1634-1654), Friburgo, cidade da liberdade — como aponta a nome Vrtiburg— conjugava atividades diversas, Assentado ma porção norte da estratégi- «a Ilha de Antônio Vaz, o Palácio voltava-se para o Oriente, onde hoje se localiza a Praça da República, com amplo descortino para as águas da rio Capibaribe e para o continente, O jurdim era constituída por pormáres, hortas, canteiros, criatórios de aves, avinos é caprinos e grandes lagos, espelhos à paisagem, viveiros de peixes e ha- bitat de coclhos e cisnes, mais parecendo “uma unidade produtiva” (Mesquita, 2002), Liana Mesquita (2002) Gtrupara a dispósição desses elerientos à dó jaídim renascentista, pelo traçado ortogonal, predominantemente simétrico, que orde- nuva todos os espaços. Os passeios arborizados, tm convite à contemplação das vistas e ao acúmulo de experiências, e a unidade entre o jardim e o palácio filiavameno às vilas renascentistas, organizando um pequeno mundo, Oano de 1783 é considerado um marco na tradição paisagística brasileira por conta da conclusão day obras do Passeio Público do Rio de Janeiro, reconhecido como o primeiro jardim público do país. O início da implantação remonta a 1779, sob a voga das princípios iluministas setecentistas « segundo projeto de autoria do brasileiro Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentin, quase um século e meio apás a ceinção do parque de Nassau. Um jardim público “em um sentido que deve ser examinado em seu tempo. Espaço de acesso controlado e de comportamento vigiado” (Segawa, 1996, p, 108). Os conecitos de civilidade, progresso, suide c bem-estar público surgiam no século 18 pelo espírito das Luzes, o que valorizou o solo urbano nas áreas mais arejadas, vs jardins, o sistema de esgotos, a distribuição de água em chufurizes qa segregação da doença e da morte em hospitais. cemitérios (Monteiro de Caralho, 1999, p. 9), A ação centralizadoraie reptestora do Marquês de Pombal culminou com 4 expulsão dos Jesuítas em 1759 e a transferência da sede do go- vero de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763, onde a política de civilidade fai levada a cabo par instituições laicas (irmandades e ordens terecitas) e pela burocracia estatal (Monteira de Carvalho, 1999, p 9) Insicimva-se o processo de luicização do espaço wtbano, que avançaria no século seguinte, proliferindo o cultivo de jardins públicos no Brasil. TP, po adlas de arveredos”, que o da Fonte dos Amores mais parecia uma “espécic de outeiro-de pedra e tação”, em que dois jacarés de bronze derrarmanam jatos d'dguas de vias k “aidiutas eia o portão eemoleia valutas em curvas É contracurvas E nao a jairo de Versalhes. “Ainda no Bnal do século 15, Portugal iniciava tica de jardins ts frutíferas e fores d venda, onbicndo Eecindo, pela conicorêneia da bota o da agricultura (Arsaie 2004, p:217) | Noinfciadaséculo 19, com a presença da Corte no Rio de Janio, imicionse uma cultura srbanística. fardimes do Recife | 79 30 | Aline de Fique Silva Em BIO, a imprensa Régia publicou o “Discurso sabre a utilidade da insti- tuição de jardins nas principais províncias do Brasil”, esento pelo ilustre brasilei- ra Manuel Amuda da Câmura, estudioso das ciências maturais e da agrictllta. O opúsculo era dividido em duas partes: um exposição sobre a iinportância de se criarem hortas nas capitanias do país e a proposição das espécies estringeiras e mátivas a serem cultivadas, pelos seus préstinias uu por sua randade e perigo de extinção. Realizaram-se expedições cos capitantados por diversos naturalistas estrangeiros - Martins, e Gardner Na segunda metade do século, mis centros de celificações cresceu Inintermuptamente, instalaras CE ninação pública e linhas de trai volta de 1850, DD, Pedro II recortes dr obra da primeica missão urtística, inispiram se tomara o exemplo de capital industrializada (RobertDehauh, Junqueira e identificação com a Corte é de participação na nobreza da Império. À concep- ção romântica do paisagiano. vristalizada nos parques parisienses do século 19, repercutiu na profícua atividade paisagística no Brasil pitucentos, firmaranese no pais ações de ajardinamento de an- largos, pressão do proceso de secularização ou laicização elo espaço urbana (Marx, 2005) Chelião urbano, até então quase desprovido de mobiliário, exceto elementos litúrgicos temporários, corr potica cu estava consagrado a eventos religiosos o concentração após Jeta «água, iunnobras militares e combates simulados, aplicação de castigos e hustiçamentos, cerimônias reais, representação de autos, touradas, circos, jogos e mascaradas (Marx, 2003; Reis, 2000; Vas, 204), Derenii, 20 O projeto paisagístico, a que e professa Murilla Marx (200 de “trato” ou “tratamento”, tá não se relacioniva upénias com casas de chmata e cadeia e paços de governantes, mas se ligava a rias, bancos e placas, sitiais de orientação e bebedouros e até árvo (Mars, 2003, po 156), Nas-suas palavras, “nai segumela metade dos oil menos figurantes se apresentam é ne alifunden. alterando a feição centenária, desmuda e acanhada dos nessas centros” (Marx, 2003, p. 156), “diversidade témática, em. que a ou Higia — eo gosto bum clássica (Robert Dehau a França era uma espécie quem Portuga] manteve, qe eira a mulher — Vamu, Ceres, Aro» pela cultura grega-e latina, à recriar ternas unequeira e Bulhões, Z000. o “Um Bramil ceder primúciras fsidições miúdemas, diiis Emei ilibimas of de ferro, às primeiros és, ue baga » ha y ai E ; o a ibid sd pç de açucar, a primeira iurmnação a todas, obras de inglês” (repre, 1977, p. 26275 de esgotos foram, ques tã-Brctanha do século 19, al voltada espetacular nes damínios convencionais da O mercudo internacional do ferro até à primeira metade pelas jazidas minesyis e com mina estrutura comerci 9 que “leve um acréscimo sã a assimilação do ferro pelo Brasil demmanidaram ndo profundas alicruções na arqui- luta grande variedade de cómpo- turas de piso e coberta, elementos entre mercados, estações e pavilhões eira e nos jardins, À arquitetura “entes, como escadas, grades de porta é tstrm “do mobilidrio urbano e edificações inteiras, 34 | Aline de Figuirãa Sib Janeiro, Fortaleza e Coritiba, Este primeiro Paseio Público do Recife significou uma diversão relativa « passageira, imais caracterizado como um melhoramento tidbana — a propósito do cais - do que um jandim público. Um lanço de cais aca- nhado, utilizado para a drenagem urbana é a ancoragem de embarcações, como se pode identificar na iconografia da época, Após a sua implantação e antes da construção dos primeiros jardins públicos da cidade, no último quartel do século 19, prosseguiam as discussões quanto à eriúção de um passeio ajardinado nos terrenos inundáveis de Santo Amaro, onde hoje se localiza o Parque 13 de Maio, na vizinhança da Rua da Aurora. Em 1844, o cuigenheiro Louis Léger Vauthier, chefe da Repartição dus Obras Públicas da prevíncia de Pernambuco, propôs does passeios públicos na Planta des Arruamentos do Bairro de Santo Amaro. No conjunto dos melhoramentos urbanos promovidos pelo conde da Bog Vista. Viuthier concebeu um passeio lumto à margem do no Capibaribe e ao longo de uma via importante, decerto para facilitar-lhe o ncesso pela água e por terra, conforme estudo da arquiteta Cândida Freitas (2006, p. 62-63). Na interpretação da autora, a traçado definido por dois grandes canteiros entrecortados por passeios retilíneos e separados por uma área vazia aumentava a variedade de percursos, expressando uma influên- cia francesa pela rigidez do traço (Freitas, 2006, p, 65) Este primeiro passeio alcançava aproximadamente seis hectares de superfície « o segundo correspon- dia a 30% desta área. Os dois passeios fomentariam a veupação de um novo bairro, como áreas verdes de usufruto páblico de proporções notáveis à época, ao pasto que a vegetação e uma rede de canais promoveriam o embelezamento da cidade--a drenagem do terreno e a circulação do ar c das pessoas, segundo o pensamento de Vaulhicr. Em 1860, novo projeto foi elaborado pelo engenheiro Francês William Martineau, que abarcava os terrenos da Rua da Aurora é o Cam- podas Princesas, ligândo-os pelo rio Capibaribe e expressando rigidez no seu traçado, através de avenidas retilíncas arborizadas que se eruzavam. Como nenhum projeto foi implantado, essa intenção sá velo se concretizar de fato em 1939, quando insugurado o Jardim 13 de Maio, hoje Parque 13 de Maio, quase um século depois da plantá de Vauthier, ao tempo em que se con solidava no país a noção de passeio público, definido por Corona e Lemos (1972, p: 360361) como “Um lugar de paseio, seja fordim, parque, praça ou largo; nome (..) que se dava aos locuir públicos destinados a exercícios e divertimentos, Fui muito co. mum crexprussão (...) paro destgnar os recontos, às vêzes bastante extensos, que os podêres peiblicos ajarlinmwam (..) com o feito de patrocinar do povo local de estar ao ar hivme”, | | he beja de espaço pinos aa “mente fracassados rios seus objetivos os “passeios públicos, como em São Paulo e Salvador, ou confundisiam suas ativida- us botânicos desde o hmal do cula-se ao desenvolvimento de A experiência portugueia de criação século 18, segundo Sega [1996 p. oi acabarama por se transformar em des, incluinder o mais relevante deles: o Jardim Botânico da Ria de Janeiro, Em “Salvador, essa noção remonta à segunda década do século 19, digada à presença de espaços livres arborizados na cidade. para onde acerria a ehite baiana (Silva, BOM, ps 233). Abesto ao público em 1825, 0 Horto Botânico de-São Paulo, embora de as E pecto desconhecido, era local de recreação « passou a ser chamado de Jardim É | | Público c. por volta de 196, de Jardim da Luiz (Kliass, 1993, p. 651. Entre 1830 E 1940, registros indicam a presença de um lago em formato de era de malta, duas esculturas e arbotização (Klliss, 1993, p. 64-58], Sua feição modificoni-se após uma sucessão de pequenas intervenções, as quais lhe aereseeram muro com portão em ferro, pilares de cantaria, lampiões a gãs e antas exóticas (Kliass, 1993, p, 703, Conforme descrição recuperada por Rosa Kliass (1993, p. 70-71),0 E jardim, consagrado do passeia é à instrução Botánilea, continha lamesdas, eucá- | | “ao gosto da jardim inglês, complementado “ou três avenidas usuários. Localiza Tipios. palmeiras, oliveiras, casuarinas, maciciras + divores feuteiras, tanque vom flores e uma estação ferroviária. As alterações mais sigmficutivas dcorreram à Apartir de 1874, consolidando à jardim como espaço de recscio. Foram introdu- sádos uma torre-olmervatório, esculturás retratando as quatro estações, bar-cafe, 135 combustores a gás e traçado curvo, que substiuia o antigo plano de simetria, es, gradil e portão em ferro e Praça 7 de Abril, a Praça da República de São Paulo cra usada para manabras militares e touradas noséculo 19 (Kliiss, 1993, p. 91:93), O plantio de vegetação “em 1845 modificou-lhe a fisionomia, apesar das constantes reclamações quanto ao lamaçal em que se transformava « os prejuízos à salubridade da população. Tordima da Recife [35 3 | Aimee Figeinim Silva de pronto a principal área de lazer e sociabilidade” da cidade, em que a primeira avenida servia & elite, a segunda, às classes médias c à terceira, aos populares (Ponte, 1999, p. 31), Como palco de retretas é ponto de reunião, era “citcunda- do de um belo gradil « portões de fertu (projetados por Adelio Herbster), muni- do de jardim berm-arborizado, onado com bancos, colunas, canteiros, postes e combustores de gás, vasos de louça « estatuária de estilo neoclássico retratando divindades da mitologia grega” (Silva Filho, 2004, p, 96:97). Fatores de ordem política, econômica, técriica « cultural impulstonarámm à desenvolvimento urbano de: Curitiba na segunda metade do século 19. Com a emancipação da provincia da Paraná, a ascensão da elite ervateira, a chegada de médicos sanitaristas, engenheiros « colonos turopeis, a cidade foi dotada de obras arquitetônicas, calçamento e sancarmento (Bahls, 1998). Em 1886, Guri- tiba ganhau seu Passeio Público, o primeiro jardira público da cidade, que al temou períodos de prestígio + abandono, passou por sucessivas intervenções « sediou diversos eventos. Foi construído para a recreio da saciedade curitibana. o embelezamento e higienização da cidade, considerado importante medida pro- filática pela drenagem e plantio do vegetação er um antigo e vasto banhado. O passeio de Curitiba “retratava com fidelidade o gosto corrente no desenho de parques e jardins: aproveitando o curso da Rio Belém, tanques e canais serpen- leiam dentro do recinto, acompanharido o traçado sinuoso das alõias cm saibro; pontes rústicas venciam à travessia sobre as águas, savegadas por gôndolas [..) Mictórios, quiosque para botequim, coreto, iluminação à gás e elétrica (..) foram complementos que o local recebeu nas sets primeiros angs de fincionamento” (Segróc, 1996, p. 146147). Esta feição, entretanto, data de 1915, segundo a his» toriadora Maria Aparecida Bahls (1998), apds a remodelação mais significativa realizada no logradouro durante a administração de Cândido de Abreu, A 1895 remonti à projeto do parque municipal de Belo Horizonte, como parte do plano da nova capital mineira, concebido pelo engenheiro Aarão Reis. Em edi- ção de H de janeiro de 1895, 3-Caxeta de Notícias noticiava que uma “superficie extremamente ondulada cujas partes mais baixas serão transformadas em grandes lagos e nos c as mais elevadas em esplêndidos pontos de vista [...) elevará a nova cidade acima de quantas ora atraem, no Brasil, a poptilação que deseja refazer forças, no verão em lugares amenos. apraríveis” (Sega, 1996, p. 69). Marão Reis incorperava em seu plano à lição dos grandes parques públicos das cidades europeias e norte-americanas, ressaltando o papel da vegetação na qualidade do umbiente (Segawa, 1996, p. 69). O parque refletia o pensamen- to urbanídico que caracterizou a passagem entre os séculos 19 e 20 no Brasil, tmartada pela atuação de médicos e engenheiros nos processos de urbanização, proclamando as benefícios da arborização para a higiene pública. prazer que dominam a práxas quimono O A partie do advento da República e nas primeiras décadas do século 20, as preocupações igienistas estiveram no lastro la administração pública, exemplificadas em diversas obras ans, Belêm, Fosta- paisagisticas realizadas per prefeitos e governadores cm Man Jeza, Curitiba e São Luís: A riqueza gerada pela exploração da Bomacha na Amazônia fria favorecer muma série de medidas relacionadas aos ideais de salubridade e embelezamento uibano em Beléim é Marunis, características do períado denominado por eronis- tase historiadores de Belle Époque Tropical (Andrade, 2003). A partir de 1893, em Manaus, como paite das ações urbanísticas promevidas pelo governador Eduardo Ribeiro, fot ajardimada a Praça D. Pedro HI, já rebatizada ide Praça da República, segundo pesquisa do professor Otoni Mesquita, jomialista e artista plástico (2006, p. 276) 0 projeto meluta uma suntuosa fonte e período administrativo do intendente Antônio Lemos C89TADID), foram executados vários projetos paisagísticos para à criação de jar- 40 | Aline aba Pg Sale Francesa (Lars, 1999, po 4142). Além da rígida estrutura axial, o projeto conti 1940, em vez de concluir a implantação Cladosch procédeu a uma série de enxe is eméxido, o parque pass 145145). O traçado fot modificado, árvores protegidas por grad ram plantadas, o pisa dot revestido com mosaicos, um relógio, gramados foram dispostos eegularmente, enquanto bancos em c foram acrescidos apenas no início da década de 1950 (Nascimento, SAS), Ainda a Praça Antônio Lobo secebeu pequenos arbustes, bancos e pontes em cimento armado, lanços de canteiros formando um traçado regular, cujo ponto “focal era o busto do escritor e paginação de piso em desenhos coloridos (Nasci “mento, 2004, p. 126-128), — Esse conjunto de iniciativas empreendidas em várias cidades brasileizas du- “minte a República expressa forte influência francesa, já que os projetos de ajur- — inamento passavim à à responder a uma nova função higiênica, come forma de E ea coesistindo com elementos do paisagismo À CARE PR 2076 di, E che- “gou ao Recife na década de 1930, Em sua avaliação, se a última metade do sécu-. DR a do-impé o rins cognlinica, lalciru-ee um pro romeno pe Ee oração gomilera, desenvolvimento agrícola e pecuário e grande importação ke materiais (Marx, 1987, p. 17). A burguesia dn ávida por hábitos ci “Atrirvés do jardim, da planta brasileiro, experimento construir um espaço da res- piração e da refleção (...). Ele é um exemplo da coexistência pacífica daa várias es- pécies, lugar de respeito pela natureza e pelo outro, pelo diferente: o jardim é, em suma, um instrumento de prazer e um meio de educação” (Mer, 1987, p. 34). “Jardins do Recife: 1872-1937 A paitir do século 19, após à instalação da Corte no Rio de Janeiro, as princi- “pais cidades brasilcicas foram aquinhondas com diversas obras de pavimentação, “Iuminação, redes de esgotamento e água, vias férreas, estradas, serviços de trans- “porte: Inúmeros edifícios laicos, como faculdades, teatros, liceus, palacetes, esta- “qões de trem e habitações ajuntaram-se d arquitetura religiosa é militar, Gncando | imarcas na paisagem das cidades é caminhando para a gradual secularização do “espaço urbano. “ Acriação de jardins fez parte dos processos de urbanização em toda o país, “como melhoramentos urbanos na constituição de um espaço laico, desprenden- — dose das antigas próticas realizadas nos espaços livres coloniais e inaugurando Juma nova opção de lazer. No entanto, os processos de ajardinamento de campos, largos, pátios e praças remanescentes da cidade colonial ocorreram em diferen- rio Recife [4 HI Aline de Frgguetato Sah tes contextos, ligados à presença de vários en aros estrangeiros no Braul conjutturas econômicas distintas. Paulatinam amb foram ampliadas o funções dos jardins públicos, como abra de embelezamento e recreação, depor como meio de higienização da cidade, até atingir um papel educativo com paisagista Roberto Burle Marx no Recife da década de 1930. A partir da segunda metade do século 19, a proficia atividade paisagisto inspirou-se nos jardins ingleses: Com a Proclamação da República, as ações d ajardinamento multiplicaram-se sob a ideia de progresso e civilidade e a remod: lação de antigos jardims ouro ajardinamento de velhas campinas, espaços ermo e terrenos alagadiços fizeram parte do repertório das políticas url: prefeitos c governadores, Procurando contemplar esse nico panorama, alguns trabalhos têm sido prod idos no pab, enfocando cidades cu períodos especificos, a atuação de terminado paisagista ou político ra construção: ce: jardins públicos, o que. dentemente, resulta cm visões particulares, À classificação aikótada neste trahalho procura responder à produção paisagística do Recife no intervalo de 1872 4 1937 atendo-se às especificidades | lacionadas, porém, ao cenário brasileiro. o jardim romântico coincide com a interpretação dos pesuisadores que têm doras dl recreio e ao embelezamento, bascado ma col 2a: projeto palsagístico reproduzia elementos naturais, cora pontes nisticas cascatas, arranjos de áevores, grutas, canteiros e lagos, e incluia toretos, gradis e esculturas cin ferco fundido e a expressão de traçados sito. O jardim salubre fundamenta-se mas pesquisas que têm abordado a atividade paisagistica no Brasil, sobretudo após a Proclamação da República, enraizada no entre homem e nature moção de himenc pública: O projeto paixagítico continha ebeoieintis der jandios francês e do panda inglês, com a rigidez do traçado como capresão do dorative da oatuseza pelo homem, fontes ou tepusos luminosos, alamedas, arhonzaço densa e mobiliário de inspiração romântica, na intenção de sincar a cidade ses se descolar da ideia de criar um espaço para necreto e embelezamento, O jardim de Bude Marx em atas palavras, “reflete a modernidade, a dats o perde de vista as pazões da próguia lradhição, que são válidas e solicitadas” (Mara, 1987, p, 12), pensamento que expresson eis vários depoimentos duzante o período em que trabalhou no Recife, nas conte- tências que proferiu e entrevistas que concedeu ad longo de sua vida. Reportoa- «e, inclusive, à importância dos jardins de Glaziou na formação de mma cultusa paisagística no Brasil e em sua carreira. aa pe A acepção dada pelo paisagista era consoante à de Lúcio Costa, para quem “ser modemo é- conhecendo a fundo o passado =ser prospectivo” (1997, p. 116). 40 famer uso, de forma pioneira, da Mora mativa do Brasi, 0 jardim de ex veria os preceitos do Movimento Mademo da Arquitetura, que pre- conizava a valorização das raízes eiras: Paratraseando o crítico de arte Má- rio Pedrosa (Amaral, 1981, po 26H, a paisagista “concedeu direito de cidadania às plantas plebéias” OD qualitativo “mademio” repousa mais nos documentos da época, na forma somo Burle Marx designou é na literatura nacional é intemacional sobre o pai- reconhecido pela erítica como uma escola. «ua carreira no Recife, onde proj Jardim ala Casa Forte. Destacou, por diversas ção, do periuido ein aquie trab exposto da curso de Pintura da toca Nacional de Belas Artes, nu Rio de Burle Marx núsceu em 199, fil em 1928, para a Europa por motivos de saúde, Lá visitou exposições, concertos, as vanguardas artísticas e conhecem as estufas do Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim, onde avistou pela primeira vez plantas «da Caatinga. Ox fundamentos do jardim imodemo estão ligadas à sua atividade na capital pernambucana, onde deixou vários escritos e depoimentos, projetou e construiu “vários jardins, participou de tum profícuo grupo de discussões capitancado pelo poeta e engenheiro Joaquim Cardozo. Conviveu com wma pléiade de artistas, intelectuais e homens de anguarda, entre os quais, Luiz Nunes, Antônio Bezer- O jardim modemo dota e educação, como meio de quanto ao projeto pais 7 sem estabelecer Social ou da História da Arte. Jardim da Recibo [45 8 | Aline de Faguicinia Silva Aube modificava seus aspectos e os costumes. Os “francesismos” incluíam novas manciras de comer, de vestirse e comportar-se em público, expressões do falar dus elites e remédios (Rezende, 2005, p. 81), 08 cafés, mistos de restar tantes e hotéis, as doriças e as "condescendências dos maridos” a pe suas “mulheres conversar com outros homens” [Costa e Acioli, 1985, engenheiros, emparelhavamese artistas, modistas, médicos e corinheiros france- em busca de melhores condições de sobrevivência, além des cabeleiroos, substituindo os tradicionais mestres-barbeiras (Rezende, 2005, p: 81), Aquele era um Recife movimentado pelo transporte de cargas e passageiros nos riase mares, nas freguesias centrais e nos arrabaldes, caracterizando uma paisagem descortinada por Miliont (2003) repleta de canas, barcaças, jangadas, passagens Muviais e imarítimas, cais e ancoradouros, Sistema de trarsporte que teve a forte influência das missões náuticas francesas e da tecnologia da vapor, aportando pela 18 co e, em 1845, eniouse o Conselho de Salubridade do Recife, com atribuições de promover vaci- nação antivariólica, visitar prisões, casas de socorros e boticas, inspecionar estabe- lecimentos industriais e oficinas, vigiar cemitérios, examinar alimentos de consu- mo e fazer a estatística médica da província (Paralym, 1978, p. 51-52). Novidades seguidas pelo advento da daguerreótipa por volta de 1843 (Parabyin, 1978, p. 51) Implantarime-se concessionárias de serviços públicos. A Companhia do Be- benbe foi organizada em 1837 e inaugurou oficialmente à sistema de abuste- cimento d'água do Prata em 1848 (Purabym, 1978, p. 53; Menezes, Araijo e Chamixáes, 1991, p. 73), beneficiando domicílios e transformando o cotidiano ca paisagem do Recife com a instalação de diversos chafarizes em praças e ruas, aepletos de escravos a apanhar água. “Diante deles formavem se enormes filau de pretos é pretas com sets Barriy e gemeas, e que encontravam durante d espera, « oportunidade de descansar um pouço, comersar, namorar e até engolir as suas dosesinhes de cachaça nos quitada da vizinhança” (Poralym, 1978, pe 151). E o Recife começava a diminuir a dependência das cacimbas e da água apa- nhada na rio Beberibe, em Olinda, e vendida em barris petos aguadeiros. Contu- do, em certos arrabaldes e sítios, ainda a água das cacimbas era vendida ou ofer- tada de graça, pois “não se trocava pela do encanamento” (Sette, 18, p, 245). Também imprimia marcas na paisagem do Recife a obra do engenheiro per- nambucano José Mamede Alves Ferreira, diretor de Obras Públicas em sobsti- tuição a Vauthier: o Hospital Pedro II (1847-1861), a Casa de Detenção (1550- | “servidas, perpeti y “Pp ainda um sistema de recolhimento de deje igres no cotidiano da população e os escravos a carmegã- avi fazer 0 despejo nos-rios e nas marés. “O trânsito dêsses depósitos pelas ruas importava vexal 1048, po 279.280), E as águas o aviso prévia “Água vail.o por tubulação no esgotos, ambos aumentando a demanda dágua, a Co pliou o sistema de abastecimento cm 1857, ao instalar à Usina de Dois Irmãos (Puralig, 1975, pe 152) O Recite, aliás, colecionava movimentos euic marcaria sema Ihistória política ema série de medidas de urbanização que lhe alteravam a fisionomia, mas: premseguia como sima sociedade estravoerata, “questão difícil de ser enfrentada, pois aricaçava as elites” (Rezende, ZUKI5, p, 79. Na segunda metade do século, algumas áreas ribeirinhas foraim tratidas com is receberam fgueiras e gameleiras (Mesquita, 1995, p, 24 251 “As nuas lamse transformando: calçamento, lampiões, calçadas (...) ds mora dores eram convidados a plantar arociras, guneleiras brancas « vermelhas, espi- i ro, caneleira ou mangueira. .” (Sette, 1948, p. 5:51). transporte, despedia-se o Recife das palanquins que io do sóculo 19, Os ônibus ou diligências foram primeira condução coletiva puxada por animais, introduzida pelo imglês “Tho- mas Sayle, ligando o centro aos arcabaldes e a Olinda, até que cessaram em DHT (Sette, 1948, po 101-107; Sticl, 1984, py 282), Os carros particulares, as so- ges, também compunham o panorama recifense (Sette, 1948, p. 103]; As cargas transportavamese “ascostas e cabeças de negros escravos (..), Apareceram depois animaram suas ruas até o Jandira Rai 5H [ Alene de Figueira Silva as carroças de boi (...). Encheram Recife por mais de um século é vittame-se acabar em 1905º (Sette, 1948, p. 107]. E o trimisporte de pessoas passava a ser feito pelos bondes de burro do cer- tro da cidade nos arrabaldes próximos, segundo contrato de [870 (Sette, 1945 po LOS-N0) Os bondes começavam a circular sobre os trilhos, operados pel Pernambuco Street Railway Compary, depois Companhia Ferro-Carril de Pes nambuco (Sette, 1948, p. 119; Sbel, 1984, p. 287-289. E coexistiam tom o maxambombas, os trens da Brasilian Street Reilway ou Companhia de Caumgi imais tarde populatizada como a Maxambombo do Fletcher, que inatigurou estrada de-ferro em 1867, ligundo o Recife às povouções da Várzea, Dóis Irmão e Boa Viagem (Sette, 1981, p. 191; Paraíso, 2003, p. 133; Rezende, 2005. p. Bondes e trens prestavam maior assistência à população, acrescendo fregueso ao comércio, espectadores ao teatro é público às procissões (Sette, 1948, p. 157 Na arquitetura, na via pública; nos transportes, no movimento, nos tipos. no trajos” (Sette, 1948. p; 51). Com novos sistemas de abastecimento d'água, iluminação pública e trampo te coletivo, o Recife já alcançava a cifra de 92072 habitantes em 1572, tomb pela cólera, varíola, febre-amarela, sarampo, difteri quadra epidêmico dos meados do século (Parahym, 1978, p. | 2005, p,87). Entre 1871 e 1900, foram registradas 44 cpidem nambucara (Parabym, 1978, po 159). wi febre de alteração nos nomes dos logradouros a luta e figuras políticas. Mais duas mudanças oi no sistema de comunicação: em 1874, 0 telégrafo, da firma inglesa Western egraph Company, ligando Pernambuco à Corte e o Recife 5 Europa pela cube submarino, e, em 1882, 0 telefone, benefício facultado à população em 1557 (Sette, 1948, p. 206207; 346). À forte influência técnico-cultural dos Franceses emparelhava-se a granide co- lônia inglesa estabelecida no Recife: Os ingleses trouxeram desde maquinarias pesadas, usinas e flbricás até objetos de tão pessoal é as mais insignificantes quinquilharias (Paraíso, 2003, p. 50). Muitos estavam radicados na cidade, tre- balhando em diversos serviços públicos, nos bancos « no comércio e executando “obras. Todos fincando marcas no cotidiano e na paisagem. Introduzinam o gos to pela passeia. o footing, palavra adicionada ao português sem tradução pars expressar o “desfile diário dos elegantes da época, em frente à Igreja de Nos Senhora da Conceição dos Militares” (Paraiso, 2003, p. 1754 Tinham sua igreja. a Holy Trinity Church (1835), seu hospital, o British Hospital (1815), e seu cemi- fério, Em palavras de Gilberto Freyre (1977, p. 30): “A influência do mister pode-se atribuir, com efeito, além da introdução, no Brasil, ou da generalização, entre nós, do fato branco, do cha, do pão de trigo, «da cerveja e depois do whisky, do gim e do mm, do beef, ou bife com batatas, do resbife, da costeleta de cameiro, da pijavia de dormir, do gorro de viagem, do revlser, do nifle esportivo, do macadame, do watereleser, da “jogo da hola” Chemni) e de outros esportes, dar residência de subúrbi, da sela inglesa, do pia- no inglês (superado pelo alemão), do relógio imglês (superado pelo muíço), da copa de borracha, do sapato inglês, do waterproaf, o começo de algumas seitas protestantes (..) w gosta pelos romances policiais (...) pelos clows, pela habeas corpus, pelo jury, pelos meetings, pelo exotismo, pela ante «e debater, pelo hu- mour (,.:) pelir louça inglesa, pelo sanidwiche, pelo lanche, pelo ponche, pela figura ou pelas maneiras do gentieman. E por influência inglesa desenvolvecise entre os brasileiros (..) 0 gosto pelo modo inglês de andar a pé (...) que passou a ser cesignado entre nós por uma falsa expresado inglesa — fonting". Exerceram gemde influência no paisagismo ao introduzicem o passelo e o gosto pela natureza nos quatro cantos do país Novamente citando Freyre (1977, po 162-163); “Uma vez inatahados em “chdcaras” ou em “eitior”, os ingleses inglesavam no quie era pessafvil, Estenidiam 08 jardina. Alguris esmenavamêse na cultura de or- quídeus. E com o fempo, essas casar se tomaram verdadeiros modelos para os brasileiros ricos e elegantes, que foram aprendendo a adininar nos ingleses não a a ciência da casa como a do járdim, a do vítio, a do gramado (...) que não se limitaram a adaptar à sua ciência do paisagintas or à «ua arte de conforta doméstico ax chácaras, ou casas de residência mibuebana, uu mesma rural, que encontraram em noção pré”. O historiador José Antônio Gonsalves de Mello (apud Arrais, 2004 p. 242) recuperou a distinção que se fazia no século 19 entre hosticultura, a atividade do paisagismo, e agricultura, conforme figurava: em jornal de 1575. “O abjeto da horticultura enam cs grandes jardins regulares e ormamentadis, já conhecidos dende ov tempos des ausírics, ct cultura das alamedas, o cultivo das praças nas ciclades, o de drvorex nos cemitérios, wo mais modemo de todos or sêneran, 0 jandina chins ou inglês, a verdadeiro jardim paisagista” Mb