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O desenvolvimento infantil sob a ótica de Henri Wallon Boa leitura.
Tipologia: Notas de estudo
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Compartilhado em 16/03/2011
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Coordenador: Antônio Joaquim Severino
John Dewey: Uma filosofia para educadores em sala de aula Marcus Vinícius da Cunha
Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação Teresa Cristina Rego
Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil Izabel Galvão
Edgar Morin: A educação e a complexidade do ser e do saber Izabel Cristina Petraglia
Agnes Heller: Filosofia, moral e educação Maria Helena Bittencourt Granjo
Célestin Freinet: Uma pedagogia de atividade e cooperação Marisa Del Cioppo Elias
Comênio - A emergência da modernidade na educação João Luis Gasparin Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Galvão, Izabel
Henri Wallon : uma concepção dialética do desenvolvimento infantil/Izabel Galvão. - Petrópolis, RJ ; Vozes, 1995. - (Educação e conhecimento)
Bibliografia
ISBN 85-326-1402-
95-1144 CDD-155.
Índices para catálogo sistemático:
4ª Edição EDITORA VOZES Petrópolis 1998 © 1995, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ Internet: http://www.vozes.com.br Brasil EDITORAÇÃO Editoração e organização literária: Ana L. Kronemberger Revisão gráfica: Revitec S/C Diagramação- Sheila Roque Supervisão gráfica: Valderes Rodrigues ISBN 85.326.1402- Este livro foi composta e impresso pela Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100. Petrópolis, RJ - Brasil - CEP 25689- Tel: (024) 237-5112 - Fax.: (024) 231-4676 - CaDca Postal 90023.
Perfil de um humanista ................................................................................................... 15 CAPÍTULO II Uma psicogênese da pessoa completa .......................................................................... 27 CAPÍTULO III A complexa dinâmica do desenvolvimento infantil ................................................... 39 CAPÍTULO IV Conflitos eu-outro e a construção da pessoa .............................................................. 49 CAPÍTULO V As emoções: entre o orgânico e o psíquico ................................................................. 57 CAPÍTULO VI Dimensões do movimento ............................................................................................. 69 CAPÍTULO VII Pensamento, linguagem e conhecimento .................................................................... 77 CAPÍTULO VIII Educação: entre o indivíduo e a sociedade ................................................................. 89 CAPÍTULO IX Uma educação da pessoa completa ............................................................................. 97 CAPÍTULO X Reflexão sobre a prática pedagógica: enfocando situações de conflito .................. CAPÍTULO XI Atitude diante da teoria ................................................................................................. 113 TEXTO SELECIONADO .......................................................................................... 115 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR .................................................................................. 123 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................... 133
de questões referentes às condições de existência do homem, quer tratando de questões referentes ao agir, todo pensamento sistematizado traz em seu bojo elementos profundamente relacionados à educação, uma vez que esta é, na realidade, um esforço que visa, com certo grau de sistematicidade, intencionalizar o social no desdobramento do histórico. E, enquanto tal, a educação se vincula, direta e intrinsecamente, com as abordagens epistemológicas, antropológicas e axiológicas, presentes, explícita ou implicitamente, nas produções teóricas da filosofia e das ciências humanas. [pág. 8] O Projeto desta Coleção está aproveitando os resultados de um esforço cada vez mais consistente que vem sendo desenvolvido, sobretudo no âmbito dos cursos de pós-graduação, com vistas à realização de pesquisas e de pesquisas que buscam refazer a construção coletiva do conhecimento na tradição cultural do Ocidente. E a proposta é de se colocar ao alcance de todos que se envolvem com a educação, essa produção teórica que, por sua própria natureza, possa contribuir para o esclarecimento e compreensão do processo educacional, independentemente da área em que essa produção se deu. A Coleção enfatiza seu objetivo de ampliar o universo das inspirações teóricas para os educadores, viabilizando-lhes o acesso a um espectro mais amplo de pensadores. Inicialmente o Projeto privilegia pensadores modernos e contemporâneos, que estão marcando mais nitidamente a reflexão nos tempos atuais. Mas em se tratando de um Projeto que se desdobrará a longo prazo, contemplará também os pensadores clássicos, da antigüidade e da modernidade. A proposta inclui também pensadores brasileiros que já deram sua contribuição ao debate teórico, subsidiando a compreensão de nossa problemática educacional. Estamos certos de estar colocando à disposição de todos os estudantes e profissionais da área mais um valioso instrumento de trabalho didático e um fecundo roteiro inicial de pesquisa e de reflexão. Antônio Joaquim Severino Coordenador [pág. 9]
Decorridos mais de trinta anos da morte de Henri Wallon, vemos surgir, no cenário da educação, um grande interesse por sua psicologia. Trata-se de um "resgate teórico" muito importante, com potencial de trazer significativas contribuições para a reflexão pedagógica. Buscando compreender o psiquismo humano, Wallon volta sua atenção para a criança, pois através dela é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. De uma perspectiva abrangente e global, investiga a criança nos vários campos de sua atividade e nos vários momentos de sua evolução psíquica. Enfoca o desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nas diferentes etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o todo representado pela personalidade. Considerando que o sujeito constrói-se nas suas interações com o meio, Wallon propõe o estudo contextualizado [pág. 11] das condutas infantis, buscando compreender, em cada fase do desenvolvimento, o sistema de relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente. Para Wallon, o estudo da criança não é um mero instrumento para a compreensão do psiquismo humano, mas também uma maneira de contribuir para a educação. Mais do que um estado provisório, considerava a infância como uma idade única e fecunda, cujo atendimento é tarefa da educação. A preocupação pedagógica é presença forte na psicologia de Wallon, tanto nos escritos em que trata de questões mais propriamente psicológicas - que constituem a maioria - como naqueles em que discute assuntos específicos da pedagogia. A fecundidade das contribuições da psicologia genética de Wallon para a educação deve-se à perspectiva global pela qual enfoca o desenvolvimento infantil, mas também à atitude teórica que adota. Utilizando o materialismo dialético como fundamento filosófico e como método de análise, as idéias de Wallon refletem uma incrível mobilidade de pensamento, capaz de resolver muitos impasses e
No segundo, traçamos os alicerces sobre os quais sustenta-se a psicologia walloniana: seus fundamentos filosóficos e sua concepção metodológica. O terceiro capitulo propõe-se a dar elementos para a compreensão da complexa dinâmica que a teoria assinala ao desenvolvimento infantil, apresentando os princípios que lhe imprimem o ritmo. [pág. 13] Do quarto ao sétimo capítulo, propomo-nos a tratar do que Wallon chama de campos funcionais, isto é, os domínios entre os quais se distribui a atividade da criança. Cada capítulo é dedicado a um campo: a pessoa, as emoções, o movimento e a inteligência, respectivamente. O oitavo capítulo dá início à discussão acerca das implicações educacionais da teoria, sintetizando algumas idéias de Wallon sobre as dimensões sócio-políticas da educação. O nono capítulo aponta uma das conseqüências de utilização da psicogenética walloniana como instrumento para a reflexão pedagógica, a saber, a necessidade de uma educação da pessoa completa. No décimo, realizamos uma leitura mais livre das implicações educacionais da psicogenética walloniana, utilizando alguns de seus conceitos para refletir acerca de situações de conflito vividas no cotidiano escolar. [pág. 14]
Capítulo I
PERFIL DE UM HUMANISTA
Henri Wallon nasceu na França, em 1879. Viveu toda sua vida em Paris, onde morreu em 1962. Foi uma vida marcada por intensa produção intelectual e ativa participação nos acontecimentos que marcaram sua época. Sua biografia nos apresenta o perfil de um homem que buscou integrar a atividade científica à ação social, numa atitude de coerência e engajamento. Antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e medicina, numa trajetória que trouxe marcas para a formulação de sua teoria. Ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a educação. Numa entrevista concedida já no fim da vida, Wallon conta que seu interesse pela psicologia manifestou-se cedo, já na época em que terminava os estudos secundários. "Minha inclinação para a psicologia fez-se independentemente de qualquer influência exterior (...). Foi antes de mais nada uma disposição geral, uma questão de gosto, de curiosidade pessoal pelos motivos e razões [pág. 15] que levam as pessoas a agir. Ainda hoje ocorre com freqüência de eu extrair uma palavra de uma conversa e registrá-la sem bem saber o porquê"^1 Em 1902, aos vinte e três anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior. Durante o ano seguinte, deu aulas da matéria no ensino secundário. Como professor, discordava dos autoritários métodos empregados para controle disciplinar, bem como do patrulhamento clerical exercido sobre o ensino, o qual levava, segundo suas palavras, ao obscurantismo e à desconfiança. Por ocasião da formatura dos alunos, quando era feita distribuição de prêmios, deixou evidentes suas preocupações com as causas sociais. No discurso que proferiu, ao invés de simplesmente exaltar os méritos dos premiados, advertiu-
(^1) Entretien avec Henri Wallon, In Zazzo, R. (dir.) Enfance, 1968, 1-2.
Alinhava-se aos intelectuais e políticos de esquerda, manifestando simpatia pelos regimes socialistas. "Era com simpatia que víamos a Revolução Soviética. Em 1931, tive a oportunidade de ir a Moscou para um congresso de psicotécnicos. Ficamos muito bem impressionados, minha mulher e eu, com as cenas da rua, com o aspecto de confiança que havia na população". 4 Já antes da primeira guerra, vendo nos partidos de esquerda uma alternativa para o fascismo que avançava, aderiu ao Partido Socialista. Desligou-se logo em seguida, dizendo-se insatisfeito com a preocupação "eleitoreira" do partido, com o que chamou de "eleitoralismo triunfante". No final dos anos 30, Wallon envolveu-se em movimentos contra o facismo, tendo participado das manifestações de protesto contra a ditadura de Franco, na Espanha. Pouco antes da ascensão do ditador, integrou a delegação que foi a Madri levar, ao povo espanhol, a solidariedade dos franceses contra a deposição da República. Durante a segunda guerra, no período em que a França encontrou-se ocupada pelos alemães (1941 a 1944), Wallon atuou intensamente na Resistência Francesa, movimento que mobilizava os opositores ao fascismo invasor. Perseguido pela Gestapo, a polícia política dos nazistas, teve que viver na clandestinidade. Foi forçado, pelo governo de Vichy, a interromper suas atividades acadêmicas. Contudo, não interrompeu sua atividade científica, prosseguindo clandestinamente com as [pág. 18] pesquisas em seu laboratório e chegando mesmo a publicar, durante este período, o livro Do ato ao pensamento. No ano de 1942, em plena Resistência, filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante. Manteve a ligação com o partido até o fim da vida. Um episódio narrado por Zazzo^5 , colaborador e companheiro de lutas políticas, revela, entretanto, que sua adesão não era incondicional. Trata-se da posição assumida diante da invasão da Hungria pelo Exército Vermelho. Contrário à sangrenta invasão de Budapeste, Wallon assinou com Pignon, Picasso e alguns outros, "a
(^45) Entretien avec Heri Wallon. In Zazzo, R. (dir.) Enfance, 1968, 1- Zazzo, René. Henri Wallon: souveniers. In Zazzo, R. Enfance, 1993, 1.
carta dos dez" que repudiava o ocorrido e cobrava a convocação de um congresso extraordinário para que o partido revisse a posição de apoio então manifestada. Mesmo assim, é preciso admitir que Wallon não foi muito enfático em se declarar contra as atrocidades cometidas por Stalin. Quem sabe por ingenuidade, ou por necessidade de manter acesa a esperança. Ou ainda devido a contingências da época em que viveu, quando os regimes comunistas representavam, de fato, a alternativa mais capaz de superar as injustiças sociais. De volta de sua viagem a Moscou, em 1931, Wallon foi convidado a integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Essas discussões tornaram-se públicas nos dois volumes do livro À luz do marxismo, ambos prefaciados por Wallon. [pág. 19] No âmbito deste grupo, o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica. A Wallon interessava discutir as possibilidades do materialismo dialético como método de análise e referencial epistemológico para sua psicologia. Devemos, pois, separar o plano político do cientifico. "O termo marxismo faz hoje pensar num sistema de governo, numa interpretação da História, num dogma. Isto tudo está inteiramente fora do pensamento de Wallon. De Marx, ele ficou com o ideal de libertação e, no plano científico, conservou do marxismo não o ensino de um dogma e sim um método de análise" 6. Para um perfil mais completo do nosso biografado, é preciso ainda fazer referência à sensibilidade que tinha para o mundo das artes. Amigo de vários pintores, Wallon possuía, em sua casa, uma respeitável coleção, com obras de artistas como Renoir, Matisse e Signac. Esta sensibilidade faz-se presente em sua teoria, que abre grande espaço para o campo estético, o da pura expressividade. Vejamos o paralelo que faz entre a atividade do cientista e a do artista. "Há um grande parentesco entre o artista e o cientista. O cientista tem necessidade de mais
(^6) Zazzo, René. In Dantas, Pedro da Silva. Para conhecer Walion: uma psicalogia dialética. São Paulo, Brasiliense,
mudou-se para sua sede definitiva, onde funciona até hoje. A proximidade da escola não foi somente uma adaptação a limitações circunstanciais, mas um recurso para ter acesso à criança contextualizada, isto é, inserida no seu meio. Esta proximidade possibilitou ainda, ao psicólogo, contato com as questões da educação. Ainda em 1925, Wallon publica sua tese de doutorado intitulada A criança turbulenta. Este trabalho inicia um período de muita produtividade, durante o qual serão publicados seus livros mais importantes, todos voltados para o domínio da psicologia da criança. O último deles, Origens do pensamento na criança, é de
De 1937 a 1949, lecionou no Colégio de França, com interrupção no período de 1941-44, durante a ocupação alemã. Nesta instituição, considerada o berço da psicologia francesa, ocupou a cadeira de psicologia e educação da criança. Em 1948, cria a revista Enfance, publicação que deveria ser ao mesmo tempo instrumento para os pesquisadores em psicologia e fonte de informações para os educadores. Neste periódico, que ainda atualmente tenta seguir a linha editorial original, Wallon publicou artigos sobre pesquisas, individuais e com colaboradores, e escreveu prefácios a números especiais. A variedade dos temas sobre os quais tratam os prefácios ("os livros para crianças", "cineclubes para jovens" "a adolescência", entre outros) atesta seu interesse pela multiplicidade de campos onde se dá a atividade da criança. [pág. 22]
RUMO À EDUCAÇÃO
Ao longo de sua carreira, as atividades do psicólogo Henri Wallon foram se aproximando cada vez mais da educação. Se, por um lado, viu o estudo da criança como um recurso para conhecer o psiquismo humano, por outro, interessou-se pela infância como problema concreto, sobre o qual se debruçou com atenção e
engajamento. É o que mostram seu interesse teórico por problemas da educação e sua participação no debate educacional de sua época. Considerava que entre a psicologia e a pedagogia deveria haver: uma relação de contribuição recíproca. Via a escola, meio peculiar à infância e "obra fundamental da sociedade contemporânea", como um contexto privilegiado para o estudo da criança. Assim, a pedagogia ofereceria campo de observação à psicologia, mas também questões para investigação. A psicologia, por sua vez, ao construir conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento infantil ofereceria um importante instrumento para o aprimoramento da prática pedagógica. Escreveu diversos artigos sobre temas ligados à educação, como orientação profissional, formação do professor, interação entre alunos, adaptação escolar. Mesmo em seus textos dedicados especificamente a temas da psicologia são freqüentes as referências à atividade da criança na escola. Participou ativamente do debate educacional de sua época, quando os críticos ao ensino tradicional reuniam-se no Movimento da Escola Nova. Wallon participou do Grupo Francês de Educação Nova - que presidiu, de 1946 a 1962 - e onde pôde conhecer as diferentes doutrinas propostas pelo movimento. Integrou também a Sociedade [pág. 23] Francesa de Pedagogia, que reunia educadores com o objetivo de trocar experiências e reflexões. Nesta entidade - que presidiu de 1937 a 1962 - pôde entrar em contato com o meio dos professores e com os problemas concretos do ensino primário. Mesmo envolvido com o movimento, Wallon conseguia manter certo distanciamento critico, fazendo considerações ainda hoje pertinentes. Uma delas diz respeito ao risco de espontaneísmo subjacente às propostas de renovação pedagógica. Dos expoentes da Escola Nova, Decroly era o que mais lhe agradava. Identificava, na pedagogia do educador belga, pontos de convergência com sua psicologia, sobretudo no que tange à exigência de a escola encarar a criança como ser total, concreto e ativo e de manter-se em contato com o meio social.
especialmente suscetível a substituições indevidas entre o plano subjetivo e o objetivo. Outro agravante corresponde à dificuldade de situá-la entre os campos da atividade cientifica: ciências do homem ou ciências da natureza?
PSICOLOGIA: ENTRE AS CIÊNCIAS NATURAIS E AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Preocupado em afirmar a especificidade da psicologia como ciência, Wallon busca explicitar seus fundamentos epistemológicos, objetivos e métodos. Dialoga com as principais correntes no pensamento filosófico ocidental, [pág. 27] procurando identificar a origem das contradições que atingem a psicologia de sua época. Opõe-se às concepções reducionistas que limitam a compreensão do psiquismo humano a um ou a outro termo da dualidade espírito-matéria. Tece vigorosas críticas à psicologia da introspecção que, baseada numa concepção idealista, vê o psiquismo como entidade incondicionada, completamente independente do mundo material. Propõe a introspecção, isto é, a reflexão do sujeito sobre suas sensações e imagens mentais, como único instrumento de acesso á vida psíquica. Reduzindo o psiquismo à vida interior, esta teoria coloca a consciência como ponto de partida da psicologia e como único meio de explicação para a realidade psíquica. Esta concepção idealista está presente também na teoria de Bergson, que leva ainda mais adiante o mergulho íntimo proposto pela psicologia introspectiva. Consi¬derando que toda referência aos fatores exteriores altera a realidade fundamental das coisas, Bergson elege a intuição como única via de acesso ao real. Assim, no campo dos fenômenos psíquicos, opõe-se ao emprego de qualquer procedimento de análise proveniente das ciências naturais (observação, experimentação, mensuração), que falseariam esta realidade. Assim, Bergson recusa a possibilidade da psicologia científica.
No extremo oposto, os materialistas mecanicistas proclamam as bases biológicas da ciência psicológica. Remetendo a explicação dos fenômenos psíquicos a fatores exteriores, situam-nos na matéria e no organismo. Por essa visão organicista, a consciência seria um simples decalque das estruturas cerebrais. Esse reducionismo expressa-se bem na fórmula proposta por Cabanis, segundo a qual o pensamento é um produto do cérebro, tal como a bile é produto do fígado. [pág. 28] Wallon admite o organismo como condição primeira do pensamento, afinal toda função psíquica supõe um equipamento orgânico. Adverte, contudo, que não lhe constitui uma razão suficiente, já que o objeto da ação mental vem do exterior, isto é, do grupo ou ambiente no qual o indivíduo se insere. Entre os fatores de natureza orgânica e os de natureza social as fronteiras são tênues, é uma complexa relação de determinação recíproca. O homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito, portanto, a uma dupla história, a de suas disposições internas e a das situações exteriores que encontra ao longo de sua existência. Wallon identifica, nessas abordagens psicológicas, a expressão das contradições do pensamento dualista ao qual se opunha. "Psicologia idealista, tese. Materialismo mecanicista, antítese. Mas a síntese foi ainda atrasada por uma atitude neutralista, o positivismo, que é ainda defendida por um grande número de cientistas." 8 Contrário ao positivismo, Wallon censura aos adeptos desta concepção a intenção de reduzir as ciências do homem ao estudo de objetos exteriores passíveis de serem abordados conforme critérios de neutralidade e objetividade, tais como definidos nas ciências da natureza. Para Comte, ao cientista cabe somente observar (e medir) os fatos, constatar suas condições objetivas de existência e estabelecer co-relações entre as variáveis envolvidas, mantendo-se deles distanciados. Segundo o filósofo positivista, o fato de ter um objeto que modifica- se conforme é observado (tomava por referência a introspecção) torna [pág. 29]
(^8) Wallon, Henri. Metérialisme dialectique et psychologie, In Wallon, Henri. Psychologie et dialectique. Paris, Messidor/Ed. Sociales, 1990, p. 134.