
















Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Elaboração de Projetos de Pesquisa. Mirtes Andrade Guedes Alcoforado da Rocha. Professora de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE ...
Tipologia: Notas de estudo
1 / 24
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Mirtes Andrade Guedes Alcoforado da Rocha Professora de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
Introdução
Entre as competências profissionais registradas na Lei de Regulamentação da Profiss~o do Assistente Social consta: “planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a an|lise da realidade social e para subsidiar ações profissionais”. (Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, inciso VII do artigo 4º).
Este reconhecimento legal é importante, mas não nos habilita a pôr em prática tais atividades. Para isto é preciso adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades. Portanto é preciso que o assistente social se qualifique para fazer e avaliar pesquisas que busquem compreender a realidade social.
Esta é a razão que me fez escrever este texto.
Mas, a que me refiro quando falo em pesquisa?
Este é um termo amplamente usado na vida cotidiana. Todos dizem fazer pesquisa de preço, ou da história dos candidatos para um cargo de vereador em sua cidade, ou ainda de lugares para visitar no período de férias.
Para que fazem tais pesquisas?
Para buscar informações das quais necessitam para tomar decisões sobre o que e onde comprar, que lugares visitar nas férias, ou em que candidato votar.
Também cotidianamente a mídia divulga notícias sobre medicamentos, descobertas arqueológicas, desemprego, uma nova visão sobre fatos históricos, as quais são apresentadas como resultado de pesquisa científica.
O que há de comum entre a pesquisa que o cidadão faz no seu dia-a-dia, orientado pelo bom senso e aquelas apresentadas como científicas?
Chamo atenção por fim que, embora n~o existam “receitas” para fazer uma pesquisa, existem determinados requisitos, elementos básicos e indicações de procedimentos que orientam seu processo de planejamento e execução.
É destes aspectos que vou me ocupar, iniciando por breves considerações sobre o planejamento da pesquisa.
1 O planejamento da pesquisa
O planejamento da pesquisa é um processo de reflexão e tomada de decisão acerca do seu objeto, objetivos e procedimentos a serem adotados para realizá-la.
Ao planejar sua pesquisa você toma decisões quanto:
Ao problema da pesquisa, isto é, o conjunto de perguntas que pretende responder.
Às informações necessárias para respondê-las, as fontes e os procedimentos para obtê-las.
Aos procedimentos para o tratamento das informações obtidas e o sistema teórico para sua interpretação.
Estes são os elementos básicos que estão presentes em qualquer pesquisa.
Todavia, as perguntas que serão feitas, as informações que serão buscadas, as fontes de informações utilizadas e a maneira como se dará o seu tratamento, se diferenciam de uma pesquisa para outra.
Isto se dá porque o planejamento e execução da pesquisa têm por base a visão de homem, a concepção de mundo e o entendimento sobre a forma de articulação dos conceitos e sobre as categorias para a análise da realidade que orientam a ação do pesquisador.
Este quadro de referência determina as diretrizes e procedimentos da pesquisa, porque fornece os princípios para compreensão da realidade e do próprio processo de produção de conhecimento e, permite a identificação dos enigmas que a realidade, compreendida segundo esses princípios, nos impõe. A partir deste alicerce é que identificamos questões de pesquisa e elegemos procedimentos para tratá-las.
O projeto de pesquisa é o texto em que são registrados esses fundamentos, as diretrizes da pesquisa e as decisões tomadas.
É importante escrever o projeto de pesquisa por várias razões, entre as quais destaco: para registrar as decisões que serão o guia de suas ações no decorrer de todo o processo; para sistematizar suas idéias e submetê-las a critica e autocrítica e, por fim, para ter a visão de conjunto das decisões e observar melhor as relações entre decisões, fundamentos e diretrizes da pesquisa.
O projeto de pesquisa pode ser apresentado segundo a estrutura seguinte: Tema e título; justificativa; problema; formulação de hipóteses (se houverem); objetivos gerais e específicos; revisão da literatura; metodologia; resultados esperados; cronograma; orçamento; referências bibliográficas. Com o projeto você apresenta suas respostas para as perguntas: o que fazer, porque fazer, para que fazer, onde fazer, como, com que, quanto e quando fazer, com quanto fazer e como pagar e quem vai fazer.
Este é um momento fundamental porque as decisões tomadas terão conseqüências para todo o processo da pesquisa e para os resultados que pretende alcançar.
“Pular” esta etapa pode trazer sérios problemas na condução da pesquisa, como por exemplo, fazer longas entrevistas e depois ter uma enorme quantidade de informações sem saber o que fazer com elas.
Porém, é também igualmente prejudicial se deter por demais no planejamento da pesquisa e ficar revendo decisões para só passar à execução, com a segurança de que todas as decisões foram tomadas em definitivo.
Diante da diversidade de temas que podem ser estudados, recomenda-se que o pesquisador considere, na escolha do tema para sua pesquisa, os critérios de originalidade, viabilidade e relevância.
Definir um tema original não significa necessariamente “descobrir” um assunto sobre o qual inexistam pesquisas anteriores, em que se “parta do zero”, mas sim, propor uma abordagem sob um novo enfoque, ou com novos argumentos e pontos de vista.
A viabilidade refere-se aos aspectos “pr|ticos” da pesquisa tais como prazos, bibliografia acessível, adequação ao nível intelectual do autor, estudos publicados sobre o tema, recursos materiais e financeiros. Tal consideração é importante porque pouco adianta escolher um tema relevante e original, se não se tem condições objetivas para pesquisar sobre ele.
Finalmente, deve-se selecionar um tema que esteja ligado, de alguma forma, a uma questão de interesse profissional ou social, pois o interesse individual do pesquisador, embora seja um dos importantes fatores que influencia a escolha do tema, não é razão suficiente para justificar a realização de uma pesquisa.
Você pode identificar e escolher temas de pesquisa, originais e relevantes, a partir de questões e inquietações suscitadas pela sua ação profissional cotidiana: na reflexão sobre programas e projetos que desenvolve, e nas ações junto a usuários, por exemplo.
Mas, também pode buscar inspiração nas áreas de concentração e linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação e nas palestras e trabalhos apresentados em congressos e encontros realizados pela categoria profissional, pois sinalizam temas considerados prioritários, por razões teóricas e/ou práticas, para a profissão.
Escolhido o tema é preciso delimitá-lo. Isto é, determinar um tópico do assunto para ser focalizado, o tipo de enfoque, sua extensão e profundidade, fixando as circunstâncias, principalmente de tempo e espaço, em cujos limites este se localiza.
Quanto mais claro estiver formulado o tema, mais fácil será a definição dos demais elementos da pesquisa.
Vejamos alguns exemplos de temas gerais e de sua delimitação:
Um pesquisador pode partir de um tema geral como “A educaç~o superior no Brasil” e delimit|-lo para tratar de “A universidade na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394/1996”.
Outro que se interesse por estudar “Movimentos sociais no Brasil” pode especificá-lo e realizar uma pesquisa sobre “A participaç~o de mulheres trabalhadoras nos sindicatos rurais do sertão de Pernambuco, num determinado período histórico”.
Nos exemplos acima, verifica-se que a partir de temas muito amplos, os pesquisadores estabeleceram temas mais específicos de pesquisa. Todavia novos limites ainda podem ser fixados, à medida que o pesquisador avance no planejamento da pesquisa e faça o cotejo, por exemplo, com os recursos orçamentários, de pessoal e de tempo que dispõe.
Contudo, não basta escolher e delimitar um tema de pesquisa. É preciso identificar o problema-objeto de investigação.
Concordo com Einstein quando afirmou que “Frequentemente, a formulaç~o de um problema é mais essencial que sua soluç~o”, porque ao formul|-lo, de forma clara e precisa, o pesquisador expressa a lacuna que identifica nos conhecimentos disponíveis sobre um determinado assunto, o que lhe permite definir o foco dos seus esforços para encaminhar a construç~o do conhecimento para “preenchê-la”.
Este problema de pesquisa n~o é “descoberto”, mas “construído”, resulta do trabalho intelectual, da reflexão do pesquisador acerca dos fatos, das pesquisas e
2 FORMULE SUA PERGUNTA acrescentando à frase anterior uma pergunta indireta, que especifique algo a respeito do tópico, que não se sabe ou não se entende perfeitamente: porque quero descobrir / quem / o que / quando / onde / por que / como^4 Exemplo: porque quero descobrir a concepção de autonomia universitária que o governo Lula defende.
3 ESTABELEÇA O FUNDAMENTO LÓGICO PARA A PERGUNTA, acrescentando uma segunda pergunta indireta que explicite por que você está fazendo a pergunta e o que pretende obter com a resposta: para entender como / porque Exemplo: para entender como este discurso significa o papel do Estado na educação superior e identificar um dos importantes fundamentos da sua proposta de reforma universitária.
A construção do problema de pesquisa implica na identificação, delimitação e no enunciado em forma de pergunta, mas também na sua análise, que pode ser orientada por questões como as seguintes indicadas por Gressler (2004):
1 Existem lacunas no campo do conhecimento, identificadas na literatura pertinente, que merecem ser pesquisadas?
2 Existe material suficiente?
3 O investigador conhece o assunto que vai pesquisar?
4 É adequado à qualificação do pesquisador?
5 Poderá ser desenvolvido no tempo previsto?
(^4) Esses autores lembram que “perguntas que começam com que, quem , quando, onde são importantes, mas tratam apenas de fatos reais. Dê mais importância a perguntas que comecem com como e por que ”. (BOOTH, COLOMB; WILLIAMS, 2005, p. 54)
6 O orçamento estimado está dentro das possibilidades financeiras?
7 Há possibilidade de se realizar a revisão bibliográfica na biblioteca local, ou terá de haver deslocamentos para outros centros mais desenvolvidos?
8 A quem poderá interessar os resultados? Terá a solução desse problema valor para a vida do investigador, para a sociedade, empresas particulares ou organizações públicas?
9 Existem instrumentos válidos para a coleta de dados?
10 Quais as análises que deverão ser desenvolvidas para aferir as conclusões?
Após identificar, enunciar em forma de pergunta e analisar seu problema de pesquisa, é hora de se preocupar com sua comunicação para um público, muitas vezes formado apenas pelas pessoas responsáveis pela aprovação e/ou financiamento de seu projeto de pesquisa.
Este público precisa ser informado sobre as razões que motivaram a realização de uma pesquisa para resolver aquele problema. Logo, além de apresentar o seu problema, você precisa justificar a necessidade de realizar sua pesquisa.
Neste momento é pertinente e relevante você indicar a contribuição que a pesquisa pode oferecer para o Serviço Social, isto é explicitar as conseqüências para a profissão da falta de conhecimento ou compreensão identificada, assim como os custos que isto acarreta e os benefícios trazidos pelos resultados que pretende alcançar.
A definição do que e do porque fazer uma pesquisa, ou seja, a definição do problema objeto de investigação e da justificativa da pesquisa está intimamente associada à definição dos objetivos da pesquisa.
4 As fontes de informação
A preocupação com fontes de informação acompanha todo o processo da pesquisa. É preciso estar atento tanto na seleção e análise da literatura especializada , que pode ajudar a definir o tema e o problema e fixar os objetivos, quanto com a escolha das fontes que fornecerão informações para responder ao problema da pesquisa.
No início da elaboração do projeto, quando você tem apenas uma vaga idéia do desafio que a “Esfinge” – a realidade – lhe impõe e precisa recorrer ao conhecimento já produzido por outros para esclarecê-lo, corre o grande risco de considerar que precisa ler tudo, ou pelo menos grande parte dos textos que se relacionam, direta ou indiretamente, com sua idéia inicial. Isto é absolutamente desnecessário.
Se tentar realizar esta empreitada, você pode incorrer num grave erro que Quivy e Campenhoudt (1992) chamam de: “A gula livresca”, considerada por esses autores como uma das três maneiras de começar mal uma pesquisa^6.
“A gula livresca” é o ato de ler sem selecionar as leituras importantes, na ilus~o de que é a abundância de informações que lhe permitirá avançar na definição do tema e do problema da pesquisa.
Ao contrário, a abundância de informações sem reflexão e integração em um contexto, em uma situação problemática e um esquema interpretativo pode confundir mais que ajudar.
Para ajudar a selecionar a bibliografia a ser lida é importante consultar especialistas, conversar com bibliotecários, com outros pesquisadores e colegas profissionais e também verificar aquelas obras que são mais citadas por estudiosos do tema.
(^6) As outras duas são: coletar dados antes de saber exatamente o que procura e se expressar de forma pomposa e ininteligível.
Ao consultar um texto, comece pela leitura crítica do prefácio, resumo, introdução e considerações finais ou conclusões. Isto lhe permitirá ter uma visão geral do texto – seu objeto, objetivos e principais pressupostos, postulados, argumentos e conclusões. Leia também as referências bibliográficas para inteirar-se dos autores com os quais esse autor que você está lendo estabeleceu diálogos.
Esta primeira leitura será decisiva para a escolha daquelas obras que precisará ler com maior profundidade.
A leitura em profundidade tem por objetivo compreender as idéias do autor em seu contexto e, assim, evitar erros que provavelmente cometerá se se limitar a uma leitura fragmentada e incompleta.
Ao realizar a leitura em profundidade de um texto:
“N~o registre apenas as conclusões [dos autores], mas também os argumentos principais que as sustentam. [...].
Saiba fazer a distinção entre as caracterizações ou concessões que o autor reconhece, mas deprecia e as declarações que são a base de sua argumentação. [...].
Não confunda o resumo dos pontos de vista de outro autor com o resumo feito pelo autor [que você leu] [...].
Ao lidar com fontes que concordam sobre uma afirmação principal, verifique se também concordam na maneira como a interpretam e a sustentam, [...].
Não se prenda ao que um ou outro pesquisador diz sobre seu assunto. Seu trabalho não será uma pesquisa se você simplesmente resumir e aceitar outro trabalho, sem fazer sua crítica [...] (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005, p. 104- 105).
As pesquisas voltadas para compreender a realidade social têm basicamente três fontes de informação: uma situação que pode ser observada, o relato (verbal ou escrito), feito por pessoas, e documentos (literatura, anuários estatísticos, censos, prontuários médicos, atas de reunião, relatórios de experiência, entre outros).
Você pode utilizar uma única dessas fontes de informação ou combinar algumas delas. Esta decisão é orientada pelos elementos da pesquisa – problema, objetivos, quadro teórico – , mas também pela possibilidade de acesso à fonte, pelos recursos que se dispõe (materiais e humanos) e pelo prazo estipulado para realizar a pesquisa.
Após identificar suas fontes de informação é preciso definir que elemento ou unidade as fornecerá; qual o universo ou população da pesquisa, isto é o conjunto dessas unidades^8 e, no caso da impossibilidade de abordar todos os elementos da população, selecionar a amostra, definindo seu tamanho, tipo e procedimentos para obtê-la.
5 A coleta de informações
A natureza das informações que você precisa obter é um dos elementos a ser considerado na definição dos procedimentos para a coleta e análise.
Algumas informações independem da interpretação do informante como, por exemplo, aquelas necessárias à definição do perfil dos usuários dos programas sociais – sexo, idade, estado civil, renda. Outras se referem às crenças, sentimentos, valores, opiniões, planos de ação e, por conseguinte, expressam uma visão de mundo, uma intenção ou pensamento daquele que a manifesta.
A pergunta fundamental é: que instrumento é o mais adequado para conseguir tais informações?
(^8) Por exemplo, a pesquisa atualmente conduzida pela ABEPSS sobre “O estado da arte da implementaç~o das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduaç~o em Serviço Social no Brasil”, tem por população as Unidades de Ensino em Serviço Social do Brasil que aderiram à pesquisa, sendo, cada uma delas, um dos elementos da pesquisa.
A resposta a esta questão vai exigir de você o conhecimento dos diversos tipos de instrumentos que podem ser utilizados.
Como grande parte das pesquisas realizadas por assistentes sociais se detém sobre situações ou relatos verbais, decidi abordar os instrumentos que permitem buscar informações nestas fontes. Tais instrumentos são: a entrevista, o questionário e a observação sistemática.
A entrevista e o questionário são instrumentos que permitem coletar informações com base no relato de pessoas.
O pesquisador precisa lembrar-se que cada questão deve estar relacionada aos objetivos de sua pesquisa.
Na entrevista você interroga diretamente o informante, a partir de um roteiro com alguns tópicos que pretende abordar (entrevista não estruturada) ou de um conjunto de perguntas previamente formuladas (entrevista estruturada).
Entre as vantagens deste instrumento enumero: pode ser utilizado com qualquer segmento da população (inclusive analfabetos) e permite, a partir da interação que se estabelece entre pesquisador e informante, o esclarecimento de dúvidas e a obtenção de informações com maior profundidade.
Todavia a utilização deste instrumento requer alguns cuidados especialmente porque ”{ medida que se desenvolve a entrevista, ocorre uma interaç~o entre entrevistador e entrevistado, não apenas por meio de palavras, mas também pela inflexão da voz, gestos, expressão fisionômica, modo de olhar, aparência e demais manifestações comportamentais” (GRESSLER, 2004 , p. 64) e isto pode induzir a resposta.
Aquele que vai realizar a entrevista precisa dominar a técnica de manejo do instrumento e permanecer atento ao problema, objetivos e quadro teórico que orienta a
Uma das providências que você pode adotar para superar tal limite é montar um roteiro em que estabeleça os aspectos sobre os quais focalizará sua atenção.
Esta providência pode permitir-lhe recolher as informações relevantes e pertinentes e obter um registro padronizado das observações feitas.
Todavia, é importante também manter-se receptivo para incorporar aspectos e/ou informações não previstos no roteiro, mas importantes para o pesquisador.
6 O tratamento das informações coletadas
Ao elaborar o projeto da sua pesquisa você precisa definir os procedimentos que pretende utilizar para organizar, analisar e interpretar as informações coletadas.
Primeiramente, você precisa pôr ordem na massa de informações que dispõe, para ter uma visão de conjunto das mesmas.
Para isto precisa indicar como as informações serão classificadas, ou seja, divididas em grupos ou classes com características semelhantes e reunidas em torno de conceitos^9 capazes de abranger idéias ou expressões.
Esta organização prévia, feita de acordo com seu quadro de referência teórico e problema de pesquisa, não lhe dispensa de atentar para a incorporação de novos grupos ou classes, que identifique ao coletar e organizar as informações.
Considero que organizar as principais informações em quadros, separando-as por grupos, permite, mais fácil e claramente, obter a visão de conjunto das mesmas, como também ajuda a identificar relações entre as informações (especialmente pontos de convergência, divergência, tendências e regularidades), ao analisá-las.
(^9) “Conceitos s~o construções lógicas criadas a partir de impressões sensoriais, percepções ou mesmo experiências bem complexas. Nesta perspectiva, os conceitos são abstrações, que adquirem um significado, um sentido, somente dentro de um quadro de referência, de um sistema teórico [...]”. (PÁDUA, 2004, p. 84)
A análise pode ser feita por meio de tratamento e estudo estatístico das informações e por processo racional.
No projeto de pesquisa você faz seu plano de análise e define os procedimentos que pretende adotar.
O tratamento estatístico é realizado com dados quantitativos e, mesmo quando feito por especialistas, requer que o pesquisador tenha conhecimentos que lhe permitam indicar que análises precisam ser efetuadas.
Já o processo racional, utilizado para o tratamento de dados qualitativos, requer a apresentação de argumentos.
Booth, Colomb, e Williams (2005) nos sugerem que ao construir argumentos se indique:
A afirmação.
As evidências ou justificativas que a sustentem.
O fundamento, isto é, um princípio geral que explica porque a evidência é importante para a afirmação.
As ressalvas, que especificam as condições nas quais as afirmações se sustentam.
Concluída a análise, resta então tomar as decisões possíveis quanto aos procedimentos para identificar o significado mais amplo do conjunto das informações analisadas, o que requer a apresentação das suas conjecturas quanto aos possíveis resultados de sua pesquisa.
Encerro a discussão dos procedimentos para elaboração do projeto de pesquisa abordando dois itens – o cronograma e o orçamento – cuja definição explicita o tempo e os recursos com os quais o pesquisador pode contar.