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Neste documento, um discurso proferido por um advogado emocionado durante a cerimônia de sua admissão à ordem dos advogados de são paulo, o autor reflete sobre a importância da modéstia e da justiça no exercício da advocacia. Ele aborda temas como a necessidade de conhecimento humilde, a importância de antecipar-se aos outros e a grande lição de modéstia que a prática da lei oferece. Além disso, o autor discute a relação entre a justiça humana e a divina, alertando para os perigos da soberania terrena e exaltando a importância da consciência individual e do julgamento divino.
O que você vai aprender
Tipologia: Transcrições
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Senhores:
ÃO quiz Deus que os meus cin- coenta annos de consagração ao direito viessem receber no templo do seu ensino em S. Paulo o sello de uma grande bençam, associando-se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solennidade imponente dos vo- tos em que o ides esposar. Em verdade vos digo, jovens amigos meus, que o coincidir desta existência declinante com essas carreiras nascentes agora, o seu coincidir num ponto de intersecção tão magnificamente celebrado, era mais do que èu mereceria; e, negando-me a di- vina bondade um momento de tamanha ventura, não me negou senão o a que eu não devia ter tido a inconsciencia de aspirar. Mas, recusando-me o privilegio de um dia tão grande, ainda me consentiu o encanto de vos falar, de conversar con- osco, presente entre vós em espirito; o que é, também, estar presente em verdade.
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ÍOÍADO
Assim que não me ides ouvir de longe, como a quem se sente arredado por centenas de kilometros, mas de ao pé, de em meio a vós, como a quem está debaixo do mesmo tecto, e á beira do mesmo lar, em colloquio de irmãos, ou junto dos mesmos altares, sob os mesmos campanários, elevando ao Criador as mesmas orações, e professando o mesmo credo. Direis que isto de me achar assistindo, assim, entre os de quem me vejo separado por distancia tão vasta, seria dar-se, ou suppôr que se está dando, no meio de nós, um verdadeiro milagre?
r Será.^ Milagre do maior dos thaumaturgos.^ Milagre de quem respira entre milagres. Milagre de um santo, que cada qual tem no sacrario do seu peito. Milagre do coração, que os sabe chover sobre a criatura humana, como o firma- mento chove nos campos mais áridos e tristes a orvalhada das noites, que se esvae, com os sonhos de antemanhan, ao cair das primeiras frechas de oiro do disco solar. Embora o realismo dos adagios teime no contrario, tole- rem-me o arrojo de afrontar uma vez a sabedoria dos pro- vérbios. Eu me abalanço a lhes dizer e redizer de não. Não é certo, como corre mundo, ou, pelo menos, muitas e mui- tíssimas vezes, não é verdade, como se espalha fama, que "longe da vista, longe do coração". O gênio dos annexins, ahi, vae longe de andar certo. Esse proloquio tem mais malícia que sciencia, mais epigram- ma que justiça, mais engenho que philosophla. Vezes sem conto, quando se está mais fóra da vista dos olhos, então (e por isso mesmo) é que mais á vista do coração estamos; não só bem á sua vista, senão bem dentro nelle. Não, filhos meus (deixae-me experimentar, uma ve; que seja, convosco, este suavíssimo nome); não: o coração
Entre vós, porém, moços, que me estaes escutando, ainda brilha em toda a sua rutilancia o clarão da lampada sagrada, ainda arde em toda a sua energia o centro de calor, a que se aquece a essencia d alma. Vosso coração, pois, ainda estará incontaminado; e Deus assim o preserve. Mettei a mão no seio, e ahi o sentireis com a sua se- gunda vista. Desta, sobre tudo, é que elle nutre sua vida agitada e criadora. Pois não sabemos que, com os antepas- sados, vive elle da memória, do luto e da saudade? E tudo é viver no pretérito. Não sentimos como, com os nossos conviventes, se alimenta elle na communhão dos sentimentos e Índoles, das idéas e aspirações? E tudo é viver num mundo, em que estamos sempre fora deste, pelo amor, pela abnegação, pelo sacrifício, pela caridade. Não nos será claro que, com os nossos descendentes e sobrevi- ventes, com os nossos successores e pósteros, vive elle de fé, esperança e sonho? Ora, tudo é viver, previvendo, é existir, preexistindo, é ver, prevendo. E, assim, está o coração, cada anno, cada dia, cada hora, sempre alimentado em contemplai o que não vê, por ter em dote dos céus a pre- excellencia de vêr, ouvir e palpar o que os olhos não divi- sam, os ouvidos não escutam, e o tacto não sente. Para o coração, pois, não ha passado, nem futuro, nem ausência. Ausência, pretérito e porvir, tudo lhe é actuali- dade, tudo presença. Mas presença animada e vivente, pal- pitante e criadora, neste regaço interior, onde os mortos renascem, prenascem os vindoiros, e os distanciados se ajuntam, ao influxo de um talisman, pelo qual, nesse má- gico microcosmo de maravilhas, encerrado na breve arca de um peito humano, cabe, em evocações de cada instante, a humanidade toda e a mesma eternidade.
A maior de quantas distancias logre a imaginação conceber, é a da morte; e nem esta separa entre si os que a terrível afastadora de homens arrebatou aos braços uns dos outros. Quantas vezes não entrevemos, nesse fundo obscuro e remotissimo, uma imagem cara? quantas vezes não a vemos assomar nos longes da saudade, sorridente, ou melancólica, alvoroçada, ou inquieta, severa, ou carinhosa, trazendo-nos o balsamo, ou o conselho, a promessa, ou o desengano, a recompensa, ou o castigo, o aviso da fatalidade, ou os pre- sagios de bom agoiro? Quantas nos não vem conversar, affavel e tranquiila, ou pressurosa e sobresaltada, com o affago nas mãos, a doçura na boca, a meiguice no sem- blante. o pensamento na fronte, limpida, ou carregada, e lhe saímos do contacto, ora seguros e robustecidos, ora transidos de cuidado e pesadume, ora cheios de novas inspirações, e scismando, para a vida, novos rumos? Quantas outras, não somos nós os que vamos chamar esses leaes companheiros de além-mundo, e com elles renovar a pratica interrompida, ou instar com elles por um alvitre, em vão buscado, uma palavra, um movi- mento do rosto, um gesto, uma réstea de luz, um traço do que por lá se sabe, e aqui se ignora?
Se não ha, pois, abysmo entre duas épocas, nem mesmo a voragem final desta á outra vida, que não transponha a mútua attracção de duas almas, não pode haver, na mes- quinha superfície do globo terrestre, espaços, que não vença, com os instantâneos de presteza das vibrações luminosas, esse flmdo incomparavel, por onde se realiza, na esphera das communicações moraes, a maravilha da photographia á distancia no mundo positivo da industria moderna.
me chegava eu a conhecer a mim mesmo, reconhecendo a escassez de minhas reservas de energia, para accommodar o ambiente da época ás minhas idéas de reconciliação da po- lítica nacional com o regimen republicano. Era presumpção, era temeridade, era inconsciencía insistir na insana pretensão da minha fraqueza. Só um predestinado poderia arrostar empresa tamanha. Desde 1892 me empenhava eu em lutar com esses mares e ventos. Não os venci. Venceram-me elles a mim. Era natural. Deus nos dá sempre mais do que merecemos. Já me não era pouco a graça (pela qual erguia as mãos ao céu) de abrir os olhos á realidade evidente da minha impotência, e poder recolher as velas, navegante desenganado, antes que o naufrágio me arrancasse das mãos a bandeira sagrada. Tenho o consolo de haver dado a meu paiz tudo o que me estava ao alcance: a desambição, a pureza, a sinceri- dade, os excessos de actividade incansável, com que, desde os bancos acadêmicos, o servi, e o tenho servido até hoje. Por isso me sahi da longa odysséa sem créditos de Ulysses. Mas, se o não soube imitar nas artes medrançosas de político fértil em meios e manhas, em compensação tudo envidei por inculcar ao povo os costumes da liberdade e á republica as leis do bom governo, que prosperam os Estados, moralizam as sociedades, e honram as nações. Preguei, demonstrei, honrei a verdade eleitoral, a ver- dade constitucional, a verdade republicana. Pobres clientes estas, entre nós, sem armas, nem oiro, nem consideração, mi. achavam, em uma nacionalidade esmorecida e indiffe- rmte, nos títulos rotos do seu direito, com que habilitar o misero advogado a sustentar-lhes com alma, com dignidade, com sobrançaria, as desprezadas reivindicações. As tres ver-
dades não podiam alcançar melhor sentença no tribunal da corrupção politica do que o Deus vivo no de Pilatos. Quem por uma causa destas combateu, abraçado com ella, em vinte e oito annos da sua Via Dolorosa, não se pode ter habituado a maldizer, senão a perdoar, nem a des- crer, senão a esperar. Descrer da cegueira humana, sim; mas da Providencia, fatal nas suas soluções, bem que (ao parecer) tarda nos seus passos, isso nunca. Assim que a bençam do paranympho não traz fel. Não lhe encontrareis no fundo nem rancor, nem azedume, nem despeito. "Os máus" só lhe inspiram tristeza e piedade. Só "o mal" é o que o inflamma em odio. Porque o odio ao mal é amor do bem, e a ira contra o mal, enthusiasmo divino. Vede Jesus despejando os vendilhões do templo, ou Jesus provando a esponja amarga no Gólgotha. Não são o mesmo Christo, esse ensangüentado Jesus do Calvario e aquell'- outro. o Jesus iroso, o Jesus armado, o Jesus do látego inexorável? Não serão um só Jesus, o que morre pelos bons, e o que açoita os máus? O padre Manuel Bernardes pregava, numa das suas "Silvas": "Bem pode haver ira, sem haver peccado. "Irascimini, et nolite peccare." E ás vezes poderá haver peccado, se não houver ira; porquanto a paciência e silencio fo- menta a negligencia dos maus, e tenta a perseverança : dos bons. "Qui cum causa non irascitur, peccat" (diz um padre); "patientia enim irrationabilis vitia seminal, negligentiam nutrit, et non solum maios, sed etiam bonos invitat ad malum." Nem o irar-se nestes termos é contra a mansidão; porque esta virtude compreende dois actos: um é reprimir a ira, quando é desordenada; outro,
se debatem, ante o paiz, ou o mundo, as grandes causas humanas, as grandes causas nacionaes, as grandes causas populares, as grandes causas sociaes, as grandes causas da consciência religiosa. Então a palavra se electriza, brame, lampeja, atroa., fulmina. Descargas sobre descargas rasgam o ar, incendeiam o horizonte, cruzam em raios o espaço. E* a hora das responsabilidades, a hora da conta e do castigo, a hora das apóstrophes, imprecações e anáthemas, quando a voz do homem rebôa como o canhão, a arena dos combates da eloqüência estremece como campo de ba- talha, e as siderações da verdade, que estala sobre as cabeças dos culpados, revolvem o chão, coberto de victimas e destroços incruentos, com abalos de terremoto. Eil-a ahi a cólera santa! Eis a ira divina! Quem, senão ella, ha-de expulsar do templo o rene- gado, o blasphemo, o profanador, o simoniaco? quem, senão ella, exterminar da sciencia o apedeuta, o plagiario, o charla- tão? quem, senão ella, banir da sociedade o immoral, o cor- ruptor, o libertino? quem, senão ella, varrer dos serviços do Estado o prevaricador, o concussionario e o ladrão público? quem, senão ella, precipitar do governo o negocismo, a prosti- tuição política, ou a tyrannia? quem, senão ella, arrancar a de- fesa da patria á cobardia, á inconfidência, ou á traição? Quem, senão ella, ella a cólera do celeste inimigo dos vendilhões c dos hypocritas? a cólera do justo, crucifixo entre ladrões? a cólera do Verbo da verdade, negado pelo poder da mentira? a cólera da santidade suprema, justiçada pela mais sacrilega das oppressões? Todos os que nos dessedentamos nessa fonte, os que nos saciamos desse pão, os que adoramos esse ideal, nella vamos buscar a chamma incorruptível, E' delia que, ao
espectaculo ímpio do mal tripudiante sobre os reveses do bem, rebenta em labaredas a indignação, golfa a cólera em borbotões das fraguas da consciência, £ a palavra sáe, rechi- nando, esbrazeando, chispando como o metal candente dos seios da fornalha. Esse metal nobre, porém, na incandescencia da sua ebulição, não deixa escória. Pode crestar os lábios, que atravessa. Poderá inflammar por momentos o irritado co- ração, de onde jorra. Mas não o degenera, não o macula, não o reseca, não o caleja, não o endurece; e, no fundo são da urna onde tumultuavam essas procellas, e donde bor- botam essas erupções, não assenta um rancor, uma inimizade, uma vingança. As reacções da luta cessam, e fica, de en- volta com o aborrecimento ao mal, o relevamento dos males padecidos. Nest'alma, tantas vezes ferida e traspassada tantas vezes, nem de aggressões, nem de infamações, nem de pre- terições. nem de ingratidões, nem de perseguições, nem de traições, nem de expatriações perdura o menor rasto, a menor idéa de revindicta. Deus me é testemunha de que tudo tenho perdoado. E, quando lhe digo, na oração do- minical: "Perdoae-nos, Senhor, as nossas dividas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores", julgo não lhe estar mentindo; e a consciência me attesta que, até onde al- cance a imperfeição humana, tenho conseguido, e consigo todos os dias obedecer ao sublime mandamento. Assim me perdoem, também, os a quem tenho aggravado, os com quem houver sido injusto, violento, intolerante, maligno, ou des- caridoso. Estou-vos abrindo o livro da minha vida. Se me não quizerdes acceitar como expressão fiel da realidade esta
levando em ta! o sentido, quasi sempre nos favorecem. Quanto é pela minha parte, o melhor do que sou, bem assim o melhor do que me acontece, freqüentemente acaba o tempo con- vencendo-me de que não me vem das doçuras da fortuna propicia, ou da verdadeira amizade, senão sim que o devo, principalmente, ás machinações dos malévolos e ás contra- dicções da sorte madrasta. Que seria, hoje, de mim, se o veto dos meus adversários, systematico e pertinaz, me não houvesse poupado aos tremendos riscos dessas alturas, "alturas de Satanás", como as*de que fala o Apocalypse, em que tantos se têm perdido, mas a que tantas vezes me tem tentado ex- alçar o voto dos meus amigos? Amigos e inimigos estão, a miude, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem- nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal. Não poucas vezes, pois, razão é lastimar o zelo dos amigos,.e agradecer a malevolencia dos oppositores. Estes nos salvam, quando aquelles nos extraviam. De sorte que, no perdoar aos inimigos, muita vez não vae somente caridade christan, senão também justiça ordinária e reconhecimento humano. E, ainda quando, aos olhos do mundo, como aos do nosso juizo descaminhado, tenham logrado a nossa des- graça, bem pôde ser que, aos olhos da philosophia, aos da crença e aos da verdade suprema, não nos hajam contribuído senão para a felicidade. Este, senhores, será um saber vulgar, um saber rasteiro, "ura saber só de experiência feito". Não é o saber da sciencia, que se libra acima das nuvens, e alteia o vôo soberbo, além das regiões sideraes, até aos páramos indevassaveis do infinito. Mas, ainda assim, este saber fácil mereceu a Camões o ter a sua legenda insculpida em versos immortaes; quanto mais a nós outros, bichos da
terra tão pequenos", a ninharia de occupar divagações, como estas, de um dia, folhas de arvore morta, que, talvez, não vinguem ao de amanhan. Da sciencia estamos aqui numa cathedral. Não cabia em um velho cathecumeno vir ensinar a religião aos seus bispos e pontifices, nem aos que agora nella recebem as or- dens do seu sacerdócio. E hoje é féria, ensejo para tréguas ao trabalho ordinário, quasi dia santo. Labutastes a semana toda, o vosso curso de cinco annos, com theorias, hypotheses e systemas, com princípios, theses e demonstrações, com leis, codigos e jurisprudências, com expositores, interpretes e escolas. Chegou o momento de vos assentardes, mão por mão, com os vossos sentimentos, de vos pordes á fala com a vossa consciência, de praticardes familiarmente com os vossos affectos, esperanças e propositos. Eis ao que vem o padrinho, o velho, o abendiçoador, carregado de annos e tradições, versado nas longas lições do tempo, mestre de humildade, arrependimento e desconfiança, nullo entre os grandes da intelligencia, grande entre os experimentados na fraqueza humana. Que se feche, pois, alguns momentos o livro da sciencia; e folheemos juntos o da experiência. Desalliviemo-nos do saber humano, carga formidável, e voltemo-nos uma hora para este outro, leve, comesinho, desalinhado, conversavel, seguro, sem altitudes, nem despenhadeiros. Ninguém, senhores meus, que empreenda uma jor- nada extraordinária, primeiro que metta o pé na estrada, «e esquecerá de entrar em conta com as suas forças, por saber se a levarão ao cabo. Mas, na grande viagem, na viagem de transito deste a outro mundo, não ha "possa, ou não possa", não ha querer, ou não querer. A vida não tem mais que duas