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DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI, Resumos de Administração Empresarial

DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI

Tipologia: Resumos

2010

Compartilhado em 13/08/2021

matheus-david-17
matheus-david-17 🇧🇷

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PENSATA DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI
108 ©RAE VOL. 44 EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS
DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI
Suzana Braga Rodrigues
CEPEAD/CAD/UFMG
O contexto atual das organizações
estimula algumas reflexões sobre os
desafios da Administração enquan-
to prática e como ciência. Pode-se
resumi-los em quatro pontos prin-
cipais: pressões ligadas à globaliza-
ção, pressões relativas ao controle
de custos, pressões que se referem
às relações de confiança entre os
stakeholders e demandas sobre o
comportamento ético e a responsa-
bilidade corporativa. Esses quatro
desafios estão ligados a alguns pa-
radoxos que as empresas enfrentam
atualmente.
A constituição da Administração
como campo científico – as temáti-
cas, os fenômenos abordados e as
teorias que provem explicações para
esses fenômenos – passa pela iden-
tificação dos desafios apontados
anteriormente e sua investigação.
Espera-se que a acumulação de co-
nhecimento sobre a maneira como
afetam as organizações possa con-
tribuir para encontrar soluções viá-
veis, que resultem em uma ação po-
lítica mais efetiva, não só interna-
mente, mas também em nível insti-
tucional. Assim, a proposta deste
ensaio é discutir brevemente esses
desafios e suas implicações para a
prática da Administração, com o
intuito de estimular outras reflexões
e motivar o aprofundamento da in-
vestigação sobre tais assuntos.
O primeiro desafio, a globaliza-
ção, não constitui novidade. Apesar
disso, vale a pena lembrar que as
conclusões mais recentes indicam
que, do ponto de vista econômico,
a globalização não passa de regio-
nalização, pois a maior parte das
empresas ainda prefere investir em
territórios mais próximos do ponto
de vista geográfico e cultural. Além
disso, a prática da abertura dos mer-
cados expôs mais claramente a pos-
tura contraditória dos Estados Uni-
dos, que impõem pressões quanto à
abertura econômica em outros paí-
ses, mas protegem seus interesses
internos. Tal fato leva à conclusão
de que a globalização, entendida por
muitos como um movimento econô-
mico autônomo, beneficia principal-
mente os países mais fortes, por
meio de políticas e práticas estabe-
lecidas pelos governos. O fenôme-
no ao qual se atribui a perda de po-
der dos estados-nação ocorre prin-
cipalmente com os países e os go-
vernos fracos, que empregam medi-
das desproporcionais de atração do
capital estrangeiro, como, por exem-
plo, o uso de juros altos, que coloca
a economia interna em recessão mas
atrai investidores externos. Uma
outra prática comum entre os paí-
ses dependentes de recursos exter-
nos é a da desvalorização de sua
moeda, tornando desproporcional-
mente baratos a terra, a proprieda-
de, o capital e o trabalho. Contradi-
toriamente, essa prática leva à apro-
priação de recursos internos, obri-
gando as empresas locais a compe-
tirem sob condições desvantajosas.
Uma das conseqüências da de-
pendência externa de recursos é a
redução do consumo e a recessão
econômica nos países emergentes, o
que tem estimulado a migração de
mão-de-obra qualificada em massa
para os países nos quais o investi-
mento em trabalho resulta em com-
pensação financeira e oportunidades
de ascensão. Essa mobilidade atin-
ge o contingente das habilidades e
competências disponíveis nos paí-
ses hospedeiros, mas sobretudo evi-
dencia o fato de que uma das com-
petências mais importantes de um
governo, hoje em dia, envolve a ca-
pacidade de geração de empregos.
Nada diferente até o momento, ex-
ceto o reconhecimento de que cabe
aos governos a responsabilidade de
abrir oportunidades de emprego em
massa e, às empresas, agir respon-
savelmente em relação a práticas
como o downsizing e a terceiriza-
ção. Essas estratégias não resistem
a uma análise de longo prazo, pois
estimulam o desemprego, levando à
redução dos mercados e ameaçando
as condições que sustentam a sobre-
vivência das empresas.
As alternativas que se examinam
nos países em desenvolvimento são
o aumento das exportações e a in-
ternacionalização das empresas. A
expansão internacional tornou-se
um requisito essencial à sobrevivên-
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PENSATA • DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI

108 • © RAE • VOL. 44 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

DESAFIOS DA ADMINISTRAÇÃO NO SÉCULO XXI

Suzana Braga Rodrigues

CEPEAD/CAD/UFMG

O contexto atual das organizações estimula algumas reflexões sobre os desafios da Administração enquan- to prática e como ciência. Pode-se resumi-los em quatro pontos prin- cipais: pressões ligadas à globaliza- ção, pressões relativas ao controle de custos, pressões que se referem às relações de confiança entre os stakeholders e demandas sobre o comportamento ético e a responsa- bilidade corporativa. Esses quatro desafios estão ligados a alguns pa- radoxos que as empresas enfrentam atualmente. A constituição da Administração como campo científico – as temáti- cas, os fenômenos abordados e as teorias que provem explicações para esses fenômenos – passa pela iden- tificação dos desafios apontados anteriormente e sua investigação. Espera-se que a acumulação de co- nhecimento sobre a maneira como afetam as organizações possa con- tribuir para encontrar soluções viá- veis, que resultem em uma ação po- lítica mais efetiva, não só interna- mente, mas também em nível insti- tucional. Assim, a proposta deste ensaio é discutir brevemente esses desafios e suas implicações para a prática da Administração, com o intuito de estimular outras reflexões e motivar o aprofundamento da in- vestigação sobre tais assuntos. O primeiro desafio, a globaliza- ção, não constitui novidade. Apesar

disso, vale a pena lembrar que as conclusões mais recentes indicam que, do ponto de vista econômico, a globalização não passa de regio- nalização, pois a maior parte das empresas ainda prefere investir em territórios mais próximos do ponto de vista geográfico e cultural. Além disso, a prática da abertura dos mer- cados expôs mais claramente a pos- tura contraditória dos Estados Uni- dos, que impõem pressões quanto à abertura econômica em outros paí- ses, mas protegem seus interesses internos. Tal fato leva à conclusão de que a globalização, entendida por muitos como um movimento econô- mico autônomo, beneficia principal- mente os países mais fortes, por meio de políticas e práticas estabe- lecidas pelos governos. O fenôme- no ao qual se atribui a perda de po- der dos estados-nação ocorre prin- cipalmente com os países e os go- vernos fracos, que empregam medi- das desproporcionais de atração do capital estrangeiro, como, por exem- plo, o uso de juros altos, que coloca a economia interna em recessão mas atrai investidores externos. Uma outra prática comum entre os paí- ses dependentes de recursos exter- nos é a da desvalorização de sua moeda, tornando desproporcional- mente baratos a terra, a proprieda- de, o capital e o trabalho. Contradi- toriamente, essa prática leva à apro- priação de recursos internos, obri-

gando as empresas locais a compe- tirem sob condições desvantajosas. Uma das conseqüências da de- pendência externa de recursos é a redução do consumo e a recessão econômica nos países emergentes, o que tem estimulado a migração de mão-de-obra qualificada em massa para os países nos quais o investi- mento em trabalho resulta em com- pensação financeira e oportunidades de ascensão. Essa mobilidade atin- ge o contingente das habilidades e competências disponíveis nos paí- ses hospedeiros, mas sobretudo evi- dencia o fato de que uma das com- petências mais importantes de um governo, hoje em dia, envolve a ca- pacidade de geração de empregos. Nada diferente até o momento, ex- ceto o reconhecimento de que cabe aos governos a responsabilidade de abrir oportunidades de emprego em massa e, às empresas, agir respon- savelmente em relação a práticas como o downsizing e a terceiriza- ção. Essas estratégias não resistem a uma análise de longo prazo, pois estimulam o desemprego, levando à redução dos mercados e ameaçando as condições que sustentam a sobre- vivência das empresas. As alternativas que se examinam nos países em desenvolvimento são o aumento das exportações e a in- ternacionalização das empresas. A expansão internacional tornou-se um requisito essencial à sobrevivên-

2004 • © RAE • 109

SUZANA BRAGA RODRIGUES

cia das empresas de países emergen- tes, considerando a vulnerabilidade desses países durante as crises mun- diais. Os estudos mais recentes su- gerem que uma das formas mais efe- tivas de internacionalização por ini- ciantes ocorre por meio da coope- ração em redes, pois as estratégias isoladas dificilmente conduzem à obtenção de informações e de recur- sos financeiros que permitam a ex- ploração de novos mercados, prin- cipalmente em se tratando de pe- quenas e médias empresas. Esses estudos também mostram que o su- cesso da organização em redes de- pende do desenvolvimento de uma relação de confiança entre os parcei- ros, um outro desafio que se apre- senta àquelas organizações acostu- madas a fincar suas bases no opor- tunismo. O segundo desafio refere-se ao controle de custos. O desenvolvi- mento de técnicas de medição em vários setores e níveis organizacio- nais criou condições para que as empresas pudessem examinar e me- dir o custo de suas várias ativida- des. A sociedade atual é muito mais consciente dos custos, graças ao neoliberalismo. Qualquer atividade humana é avaliada em termos de custos diferenciados que se aplicam a contextos e ocasiões distintos. O neoliberalismo estimula a consciên- cia de custos não apenas em nível institucional e organizacional, mas também em nível individual. Cada pessoa deve ser responsável pelos custos de sua sobrevivência, pois, do ponto de vista dos valores sociais, os limites da responsabilidade da família reduziram-se e o Estado tem cada vez mais se ausentado das áreas sociais. O neoliberalismo estimula um determinado perfil, no qual o indivíduo é considerado uma uni- dade econômica, claramente inde- pendente de relações familiares, pes-

soais ou institucionais, o que impli- ca que ele mesmo tem de continua- mente gerar excedentes a fim de fi- nanciar sua existência e precaver-se em tempos de incerteza, de abun- dância ou incapacidade. No contex- to organizacional, espera-se que os indivíduos sejam independentes da organização, pois devem assumir que o emprego é temporário e de- pendente do desenvolvimento de competências-chave (as que interes- sam à organização em dado momen- to). O desenvolvimento de compe- tências-chave – a empregabilidade – pode ser um instrumento que con- duz à maior mobilidade do indiví- duo, mas serve também para justi- ficar a quebra dos acordos implíci- tos entre empresa e empregados. À empresa interessa mais a flexibilida- de de manobra do contingente de mão-de-obra do que a construção de uma relação de confiança e lealda- de com seus empregados. Esse último argumento leva ao terceiro ponto, que se refere à capa- cidade de geração de conhecimento por parte das organizações. Para se- rem competitivas, as organizações precisam investir sistematicamente não somente na obtenção mas tam- bém na retenção de conhecimento. Como os meios de comunicação hoje disponibilizam as informações com mais facilidade, a cópia tam- bém se tornou muito mais fácil, impondo um ritmo acelerado de inovação às empresas que preten- dem ser competitivas. Além disso, tanto as organizações quanto os in- divíduos precisam gerar conheci- mentos passíveis de transformação. A vulnerabilidade das inovações es- timula a cópia ou a expropriação, exigindo uma abordagem estratégi- ca que proteja a retenção do conhe- cimento internamente. Embora se possa considerar que o ser humano seja fonte inesgotável de idéias, há

sempre os custos associados à trans- formação de idéias em algo tangí- vel, que possa ser comercializado. Mesmo as universidades, geradoras de idéias por excelência, têm cria- do regras para garantir a proprieda- de do conhecimento gerado interna- mente. Contudo, a capacidade de inovação requer alguns ingredien- tes-chave, uma vez que o processo criativo exige o compartilhamento de informações e de conhecimento. Ademais, requer a habilidade de tra- balho em grupo, a formação de ati- tudes colaborativas e, sobretudo, a construção de relações de confian- ça entre os atores organizacionais. A capacidade de construir rela- ções de confiança torna-se impor- tante também em um outro contex- to, o das relações entre os proprie- tários e gerentes e entre esses e os demais stakeholders. O movimento de expansão das fusões e aquisições internacionais tem mudado as con- figurações de propriedade no mun- do inteiro, tornando centrais as re- lações de agência. Essa questão vem se tornando cada vez mais impor- tante quando se considera o movi- mento de mudança na propriedade das empresas com a abertura eco- nômica em nível mundial. No iní- cio do capitalismo, essa questão não se apresentava relevante, pois quem administrava a empresa era o dono. Com a expansão e o aumento do tamanho das empresas, houve ne- cessidade de delegar decisões e res- ponsabilidades a profissionais de gerência. Segundo alguns autores, a necessidade de delegar decisões ge- rou o que na literatura se denomina “problema de agência”, que se refe- re às relações de confiança entre os investidores e seus representantes. A teoria diz que certas característi- cas humanas, como tendência ao auto-interesse, ao egoísmo e ao oportunismo, motivam decisões que