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A Constituição do Objeto: Husserl e a Pesquisa da Gestalt, Manuais, Projetos, Pesquisas de Antropologia filosófica

Este texto discute as ideias de edmund husserl e da pesquisa da gestalt sobre a constituição de objetos, enfatizando a importância de relações entre objetos e a interação entre consciência e mundo. Husserl critica a substancialização da atividade da consciência e a independência da alma em relação ao corpo, enquanto a pesquisa da gestalt supera a visão mecanicista de objetos isolados e reconhece a interação dinâmica entre eles. O texto também aborda a noção de sistema e a interação entre unidade e meio.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

Antes de 2010

Compartilhado em 29/10/2022

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Quem quer que tenha alguma vez aprendido uma língua estrangeira sabe
que apenas o estudo do vocabulário não lhe permitirá dominar o novo
idioma. Mesmo que memorizasse um dicionário inteiro, não seria capaz
de formular corretamente a mais simples enunciação; pois não poderia
compor uma sentença sem determinados princípios de gramática. Precisa
saber que algumas palavras são substantivos e outras verbos; precisa
reconhecer algumas como formas ativas ou passivas do verbo, e conhecer a pessoa e o
número que expressam; precisa saber onde está o verbo na sentença, a fim de
compreender o sentido que tem em sua mente. Meros nomes separados de coisas (…) não
compõem uma sentença. Uma fileira de palavras que poderíamos derivar correndo os
olhos pela coluna da esquerda, no dicionário por exemplo, “especilizar especiaria
espécie especieiro especificação” não diz nada. Cada palavra por si tem significado,
porém, a série de palavras não tem (…).
A estrutura gramatical, portanto, é uma fonte adicional de significância. Não
podemos chamá-la de símbolo, uma vez que nem é um termo; mas desempenha uma
missão simbolífica. Liga vários símbolos, cada qual com ao menos, um sentido
fragmentário próprio, para compor um termo complexo, cujo significado é uma
constelação especial de todos os sentidos envolvidos. O que a constelação especial é,
depende das relações sintáticas dentro do símbolo complexo, ou proposição. Suzanne K.
Langer (1895-1986).
De Frege aprendi a meticulosidade e a clareza na análise dos conceitos
e das expressões lingüísticas, a distinção entre expressões e aquilo que
elas designam, assim como, a propósito destas últimas, entre aquilo que
ele denominou Bedeutung (‘denotação’ ou nominatum) e aquilo que
designou Sinn ‘sentido’ ou significatum). (…). Uma outra tese,
proveniente substancialmente de Frege, me pareceu de extrema importância: a tarefa da
lógica e da matemática, no interior do sistema total do saber, consiste em estabelecer a
forma dos conceitos, das asserções e das inferências, formas aplicáveis em toda parte e,
por conseguinte, também no âmbito do conhecimento extralógico. Consequentemente, a
natureza da lógica e da matemática pode ser bem entendida, considerando apenas com
muita atenção o seu uso nos domínios extralógicos, especialmente na ciência empírica.
(…). Graças ao ensino de Frege, compreendi tanto a exigência de toda a referência ao
significado como, ao mesmo tempo, o enorme destaque dado à análise do próprio
significado. Julgo serem estas extactamente as raízes do meu interesse filosófico, por um
lado, pela sintaxe lógica, bem como, por outro lado, por essa parte da semântica que pode
demonimar-se de teoria do significado. Rudolf Carnap (1891-1970).
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Quem quer que tenha alguma vez aprendido uma língua estrangeira sabe que apenas o estudo do vocabulário não lhe permitirá dominar o novo idioma. Mesmo que memorizasse um dicionário inteiro, não seria capaz de formular corretamente a mais simples enunciação; pois não poderia compor uma sentença sem determinados princípios de gramática. Precisa saber que algumas palavras são substantivos e outras verbos; precisa reconhecer algumas como formas ativas ou passivas do verbo, e conhecer a pessoa e o número que expressam; precisa saber onde está o verbo na sentença, a fim de compreender o sentido que tem em sua mente. Meros nomes separados de coisas (…) não compõem uma sentença. Uma fileira de palavras que poderíamos derivar correndo os olhos pela coluna da esquerda, no dicionário – por exemplo, “especilizar especiaria espécie especieiro especificação” – não diz nada. Cada palavra por si tem significado, porém, a série de palavras não tem (…). A estrutura gramatical, portanto, é uma fonte adicional de significância. Não podemos chamá-la de símbolo, uma vez que nem é um termo; mas desempenha uma missão simbolífica. Liga vários símbolos, cada qual com ao menos, um sentido fragmentário próprio, para compor um termo complexo, cujo significado é uma constelação especial de todos os sentidos envolvidos. O que a constelação especial é,

depende das relações sintáticas dentro do símbolo complexo, ou proposição. Suzanne K.

Langer ( 1895 - 1986 ).

De Frege aprendi a meticulosidade e a clareza na análise dos conceitos e das expressões lingüísticas, a distinção entre expressões e aquilo que elas designam, assim como, a propósito destas últimas, entre aquilo que ele denominou Bedeutung (‘denotação’ ou nominatum ) e aquilo que designou Sinn ‘sentido’ ou significatum). (…). Uma outra tese, proveniente substancialmente de Frege, me pareceu de extrema importância: a tarefa da lógica e da matemática, no interior do sistema total do saber, consiste em estabelecer a forma dos conceitos, das asserções e das inferências, formas aplicáveis em toda parte e, por conseguinte, também no âmbito do conhecimento extralógico. Consequentemente, a natureza da lógica e da matemática pode ser bem entendida, considerando apenas com muita atenção o seu uso nos domínios extralógicos, especialmente na ciência empírica. (…). Graças ao ensino de Frege, compreendi tanto a exigência de toda a referência ao significado como, ao mesmo tempo, o enorme destaque dado à análise do próprio significado. Julgo serem estas extactamente as raízes do meu interesse filosófico, por um lado, pela sintaxe lógica, bem como, por outro lado, por essa parte da semântica que pode

demonimar-se de teoria do significado. Rudolf Carnap ( 1891 - 1970 ).

I – APÊNDICE 

Visadas Epistêmicas sobre os Signos

Esboços duma gramática Filosófica

Entendo por visada todo ato que manipula um significante (ou ícone ou

símbolo): a uma simples observação duma palavra ou vocábulo, há uma seqüência

de unidades mínimas a que denominamos letras. A noção de sucessão comporta

tanto a escrita (visual) como a fala (auditiva). Esta intencionalidade é uma

operatividade psíquica predominantemente cognitva e – na maioria das vezes –

involuntária.

Consciência é, pois, fundamentalmente direcionalidade a algo. Nem toda vivência é intencional, mas a vivência intencional é consciência no sentido pleno da palavra. Ora, Husserl aceita e desenvolve a idéia de Brentano de que há diferentes maneiras de intencionalidade. De modo, as diferenças essenciais das vivências não dizem respeito, propriamente, a seu conteúdo imanente e não se orientam a partir de classes dos objetos, mas segundo a maneira como se referem aos objetos. E, assim como há diferenças de relação no lado do sujeito, deve haver algo no lado do objeto que a isso corresponda, isto é, não propriamente a diferença do conteúdo imanente dos objetos, mas diferenças dos objetos enquanto objetos de tais ou quais atos. Há diferentes objetividades, portanto, a ser tematizadas pela fenomenologia, que assim se manifesta como estudo dos fenômenos, dos dados objetivamente no como de seu dar-se. (OLIVEIRA, 1996: 42).

(…). Na maneira como falamos das coisas, já se mostra uma pré-compreensão das coisas, e a tarefa da filosofia consiste exatamente na explicitação e tematização crítica dessa nossa pré-compreensão do real, que é obrigatoriamente mediada lingüisticamente. (OLIVEIRA, 1996: 33).

Avaliemos uma combinação como ‘cama’. A identificação dos

da vida fisiológica; por suas raízes mergulha no organismo. A percepção e o pensamento estão ligados a funções nervosas. A organização que o psicólogo estuda deve ser aproximada à que o fisiologista estuda. (...) E se não há elementos psíquicos independentes, tampouco há processos cerebrais elementares independentes. (GUILLAUME, 1960:14).

Pesquisadores notaram que a configuração dum determinado grupo

(imagem ou palavra por exemplo) é apreendido mais pela disposição de seus

elementos do que pela discriminação, ou seja, do que pelo inventário das unidades

que o compõem: sendo o resultado diferente da soma de suas partes, pois a

apreensão das partes já é dotada de um sentido, um sentido de conjuntos.

(…) uma rigorosa formalização, baseada no aspecto sistêmico do objeto investigado, leva à formulação de alguns princípios essenciais, que surgem precisamente na medida em que tal objeto perde sua substancialidade (ou, se se quiser, a espessura material que os sustenta) e configura-se como um emaranhado de relações redutíveis a um número restrito de traços fundamentais. Isto é, “formas” comuns, princípios de estruturação que dão vida às diferentes configurações, podem ser captadas por detrás da heterogeneidade das substâncias preparadas. (BONOMI, 2001: 103).

(…). Numa perspectiva associacionista, o ponto de partida é constituído por um mosaico de dados sensoriais “atômicos” para os quais se trata de encontrar um princípio de coligação. (…) Ora, a psicologia da Gestalt inverte esta perspectiva: a ideia do dado sensorial “elementar” é uma abtração freqüentemente enganadora, o que conta é a estrutura de campo. A organização do conjunto perceptivo (e, portanto, de sua articulação em “coisas”) é um fato primário, e não é dedutível de uma multiplicidade de partículas elementares. (…). O problema central é portanto o do sentido (Sinn) inerente à experiência perceptiva, da articulação originária desta última em configurações globais dotadas de sentido, e não em simples agregados sensoriais. (BONOMI, 2001: 71).

Apesar das unidades (morfemas) serem dotados de um significado mínimo

  • se levarmos em conta que são formas livres e não formas presas – também

haverá o fator de posição de tal morfema num texto ou num situação: pois há

atributos ou propriedades que serão associadas ao significado inicial perante uma

sintaxe [regras de combinação (distribuição das palavras enquanto categorias

sintáticas (sujeito, predicado, complemento etc.) e morfolóficas: (substantivo,

verbo, adjetivo), regras de seleção (lexical) e de co-ocorrência (semântica)].

Os fatos psíquicos são formas, unidades orgânicas que se individualizam e se limitam no campo espacial e temporal de percepção ou de representação. (...) A percepção das diferentes classes de elementos, e das diferentes espécies de relações, corresponde a diferentes modos de organização de um todo, que dependem ao mesmo tempo de condições objetivas e subjetivas. (...) Uma parte, num todo, é algo distinto dessa parte isolada ou em outro todo, por causa das propriedades que deve ao seu lugar e à sua função em cada um deles. (...). O problema da percepção consiste em determinar a constelação física de excitantes correspondente a cada forma percebida, e as variações da primeira que modificam a estrutura da segunda. Cada formação é uma função de diversas variáveis, e não mais uma soma de diversos elementos. (GUILLAUME, 1960: 12-13).

O que permite numa determinada língua a separação das palavras, quando

faladas, é o conhecimento prévio do léxico dessa mesma língua.

(…) para Saussure, as operações necessárias à determinação de uma unidade pressupõe que a referida unidade seja relacionada com as outras e recolocada no âmbito de um organização de conjunto. E é isso que os saussurianos entendem quando falam de sistema ou estrutura da língua: os elementos lingüísticos não têm uma realidade independentemente de sua relação com o todo. (DUCROT/TODOROV, 2007: 27).

(...). O estruturalismo implica, portanto, duas idéias: a de totalidade e a de interdependência. (...), o estruturalismo consiste em tomar seja em que caso for a atitude totalizante. Mas para totalizar é necessário relacionar o que se deve mostrar também como separável. (LYOTARD, 1986: 06).

(...) Segundo o Filósofo Granger, a noção de estrutura poderia então, ser assim definida: Sistema integrado, de modo que a mudança produzida num elemento provoca uma mudança nos outros elementos. (PIAGET, 1970: 09).

Na escrita, durante um tempo considerável na história humana, a escrita não

possuiu uma separação das palavras com ‘espaços’, como fazemos nas línguas

atuais. Se, na escrita – como apreensão sensível visual – facilitamos a leitura para

a identificação das palavras por um recorte de grupo proporcionado pelos espaços;

na fala, uma frase pode não separar as palavras por uma pausa.

possamos discriminar, reconhecer tais grupos de palavras numa frase falada?

(…) poder-se-ia dizer que a relação entre língua e fala é precisamente a distinção entre um sistema de virtualidades abstratas e o conjunto de suas realizações empiricamente observáveis, entre forma pura^370 e uso concreto. (BONOMI, 2001: 100).

(…).Segundo Herder, a fala não é uma criação artificial da razão, nem deve ser explicada por um mecanismo especial de associações. Em sua tentativa de estabelecer a natureza da linguagem, Herder põe toda a ênfase sobre o que chamada de reflexo. O reflexo, ou o pensamento reflexivo, é a capacidade que o ser humano tem de distinguir, detre toda a massa indiscriminada da corrente de fenômenos flutuantes, certos elementos fixos para poder isolá-los e concentrar sua atenção neles: O homem manifesta a reflexão quando o poder de sua alma age de modo tão livre que consegue segregar de todo o oceano de sensação que irrompe por todos os seus sentidos uma onda, por assim dizer; e consegue deter essa onda, chamar a atenção para ela e ter consciência dessa atenção. Manifesta a reflexão quando, de todo o sonho bruxuleante de imagens que passam por seus sentidos, consegue apanhar-se em uma imagem espontaneamente, obsevá-la com clareza e com mais tranqüilidade e abstrair características que lhe mostram este e não outro é o objeto. Assim, manifesta a reflexão não só quando consegue perceber vívida ou claramente todas as qualidades, mas também quando consegue reconhecer uma ou várias delas como qualidades distintivas… Ora, por quais meios ocorreu tal reconhecimento? Por uma característica que ele deve abstrair e que, como elementos de consciência, apresentou-se claramente. Bom, exclamemos então: Eureka! Esse caráter inicial da consciência foi a linguagem da alma. Com isso, a linguagem humana foi criada. (CASSIRER, 2005: 70 e 71).

É justamente através dum conhecimento prévio do léxico que nos permite

o cortarmosa homogeneidade sonora com um ato mental de divisão da frase por

palavras. Tal fenômeno demonstra que nossa escuta está longe de ser passiva. Ao

ouvirmos uma frase em nossa língua, operamos uma divisão... divisão essa que

tem a função de reconhecer na homogeneidade da manifestação sonora, uma

agrupamento heterogêneo a que chamamos palavras ou mais propriamente:

morfemas. Assim, de maneira análoga aos ‘espaços’ que separam, que delimitam

por heterogeneidade da proporção dos espaços de uma letra para a outra, com um

(^370) Respectivamente,modelo ideal (classes e categorias) como critérios a serem aplicados em casos singulares (empíricos ou significados)que são seus elementos (conteúdos) correlatos.

‘espaço’ maior que identifica um grupo (palavra); separamos através da

imaginação de tais signos contínuos, por uma descontinuidade em nossa

recepção sensorial auditiva em sucessão.

(…) O campo originário, que inicialmente parecia composto por uma massa confusa de elementos heterogêneos, começa deste modo a revelar linhas de força, centro de articulação, entre os quais transparece uma primeira dimensão de sentido. (BONOMI, 2001: 125).

Às combinações de letras, denominamos palavras. Tal ato revela a

produção, a formação duma palavra por acréscimos sucessivos de letras (seja ou

por sons ou por imagens). Aos cortes daquilo que escutamos, tal ato revela as

formas conjuntivas já na apreensão sensível dos significantes, impondo-lhes

através da divisão (corte^371 ), uma ordem, ou melhor, uma ordenação conjuntiva já

conhecida. Assim, adequamos a escuta nos moldes culturais do léxico da língua

materna.

(…), nossos termos e nomes cotidianos são os marcos de quilometragem da estrada que leva aos conceitos científicos, é nesses termos que recebemos nossa primeira visão objetiva ou teórica do mundo. Tal visão não é simplesmente “dada”; resulta de um esforço intelectual construtivo que não poderia alcançar seus fins sem a constante assitência da linguagem. (CASSIRER, 2005: 221 e 223).

Se o conjunto sensorial depende da totalidade coesa das partes como

fundamento, como critério de seu agrupamento, revelando assim na percepção

uma organização conjuntiva espontânea; pelos objetos ideais de Husserl,

significamos e ordenamos os objetos através de definições e relações. A

constituição do objeto de que tanto fala EDMUND HUSSERL é uma complexidade

maior da constituição do objeto sensorial, visto que este já recebe sentidos,

ordens, conjuntos que são atos dos sujeitos percepientes.

Há o que é geralmente chamado de organização da experiência sensorial. A expressão refere-se ao fato de campos sensoriais terem, de certo modo, sua própria psicologia social. (...) Isto demonstra a operação de processos em que o conteúdo de

(^371) Esta faculdade humana (operativa) que atua sobre signos (internos e externos) foi chamada por Pierre Bourdieu de: principium divisiones … como já apareceu numa das citações que selecionei.

sensível seja a da consciência e seus objetos ideais são compartilhados pelos

psicólogos da Forma e pelo Fenomenólogo Husserl. A idéia de correlação

estrutural é também solidária do Estruturalismo , como sendo nossos atos – sejam

mais sensoriais, sejam mais abstratos – sempre em referência ao objeto, ao mundo

circundante.

A idéia de conhecimento^372 como produto da relação necessária entre

noese e noema, bem como a essência como correlato da correspondente estrutura

interna do objeto guarda íntimas relações com o paralelismo, ou seja, a isomorfia

da atividade da consciência (uma vez depurada do dogmatismo) e o objeto pelo

qual atuamos, visamos, intencionamos. A Gestalt e os Estruturalistas postulam

uma similaridade qualitativa entre níveis, a que pode ser chamada de paralelismo

entre as formas operativas do sujeito (percepiente e epistêmico) a manipular os

dados sensoriais. A diferença entre esses dois é que, no primeiro, a apreciação

duma melodia, por exemplo, é algo que não ocorre na dimensão externa, ou seja,

as relações entre notas sucessivas e a tonalidade que infere modos de apreensão

pela posição da nota no acorde. O segundo, por sua vez, faz parte da constituição

interna do objeto, uma vez que os atos intencionais da consciência epistêmica

(transcendental nos termo de Husserl) articulam relações entre as partes,

reconhece propriedades e explica por gêneros abstratos (categorias explicativas) a

partir da experiência sensível.Se no primeiro caso (Gestalt) temos modos de sentir

a partir de dados sensoriais; no segundo (Fenomenologia) temos modos de

explicar (doação de sentidos) as relações das partes e dos momentos, bem como as

propriedades e descrição das essências de Husserl. Com este último temos o

correlato da descrição essencial em seu caráter ontológico, ou seja, como

descrição dos seres, de seus aspectos necessários: numa palavra, da estrutura

interna, da constituição do objeto pela apreensão essencial, formal, via objetos

ideativos. Os objetos ideativos são artifícios, visadas da consciência que

pertencem ao sujeito, mas que remetem às peculiaridades dos fenômenos.

O paralelismo não existe entre fatos elementares, mas sim entre formas, fisiológica e psíquica, apresentando uma comunidade de estrutura. Tal é o princípio do isomorfismo, pelo qual a teoria da Forma renova a velha noção de paralelismo. Por

(^372) Conhecimento como processo. Nesta perspectiva Husserl intervêem com a noção de pedaços e momentos. Se aqueles são recortes de objetos sensíveis, estes são recortes dos processos e, portanto, somente pensáveis como dependentes da gama de movimentos que o erigiu.

essa doutrina, prenhe de conseqüências filosóficas, nega-se a estabelecer, sobre a base dessa propriedade de organização, uma separação entre o espírito e o corpo. O espírito não é uma força organizadora que, de maneira misteriosa, por uma atividade espontânea e incondicional, faria surgir, de um caos de processos fisiológicos, uma ordem que lhes seria completamente estranha. E Köhler põe como título de um dos seus capítulos a frase de Goethe: “Was innen ist, is aussen” (O que está dentro também está fora). (Fonte???) (GUILLAUME, 1960:15).

Não que haja equivalência entre o externo e o interno, mas o

reconhecimento duma atividade formal gradativa entre os níveis: sensoriais,

psíquicos (afetivos) e intelectuais (categorias). Todos esses modos de apreensão

estão numa interdependência relativa, cada qual com sua especificação, mas

também, cada qual dependente da atividade dos demais? Sim. Mas por quê?

Porque são momentos de um processo e não pedaços de objetos!

A definição de forma e conteúdo como “pontos de vista complementares”, como momentos correlativos da investigação estrutural, traduz na realidade uma atitude mais geral, que é de recusa da oposição entre o abstrato e o concreto. (BONOMI, 2001: 125).

Como momentos, são recortes duma certa operatividade, dum conjunto de

fenômenos sucessivos e simultâneos. A tal paralelismo de formas em seus

diversos níveis de manifestação e função, os Estruturalistas chamá-los-ão de

Homologia Estrutural, como o faz, por exemplo, L. Strauss, na antropologia.

[...] a análise intencional conduz a distinguir entre sujeito e objeto, ou consciência e mundo, uma correlação mais original que a dualidade sujeito-objeto e sua tradução em interior-exterior, já que é no próprio interior da correlação que se opera a separação entre interior e exterior. Mas o acesso a essa dimensão primordial só é possível se a consciência efetua uma verdadeira conversão, isto é, se ela suspende sua crença na realidade do mundo exterior para se colocar, ela mesma, como consciência transcendental, condição de aparição desse mundo e doadora de seu sentido. Está aí uma nova atitude que Husserl chamará atitude fenomenológica. A consciência não é mais uma parte do mundo, mas o lugar de seu desdobramento no campo original da intencionalidade. Isso significa que o mundo não é em primeiro lugar e em si mesmo [...] mas sim que ele é em primeiro lugar o que aparece à consciência: “O mundo, na atitude fenomenológica. Não é uma existência,

manifestações do fenômeno. Constituir o mundo não significa tomar o lugar da

substância, mas explicar o que esta tem de essencial, quais suas relações entre as

partes constituintes e propriedades e funções de cada uma delas dentro do todo, do

conjunto, numa palavra: dentro do sistema da consciência a articular predicados,

definindo essências (fatores dependentes dum fenômeno específico). A própria

noção de sistema dos Estruturalistas pode-se aplicar à consciência que tanto sente,

percebe, como também simboliza, doa sentido e explica: significa o que é esse

objeto ou fenômeno, quais suas reações em face do meio a que está sujeito,

sobretudo na interação entre unidade e meio, entre objeto e entorno.

[...] o “a priori da correlação universal” tem como concepção central a idéia de que o sujeito e o objeto aparecem como inseparáveis. Sendo assim, trata-se de uma correlação de dois pólos que não podem existir independentemente; de “uma vinculação essencial, definida por leis a priori, sem as quais não seriam concebíveis a consciência nem o mundo”. [...] Não se trata aqui de uma posição realista, na qual o objeto está isoladamente independentemente do sujeito nem de uma posição idealista, na qual tudo está representado no sujeito. [...] Correlação na qual encontramos dois pólos no sujeito intrinsecamente ligados: um pólo que é caracterizado pelo ato que visa ( noese ), e que, ao captar os dados, os dota de sentido; e o pólo da coisa vivida ( noema ), o próprio conteúdo. [...]. (GOTO, 2008: 68-71).

Toda a fundamentação de tais atos constitutivos (de sentido, para o objeto

ou processo) converge para o vivido, ou seja, para a referência externa (dos

estímulos aos nossos sensores).

A redução fenomenológica fez, com efeito, aparecer como resíduo, que não pode ser reduzido, a vivência da consciência. Mas esta vivência é vivida por um sujeito, ao qual se referem os objetos do mundo e de onde vêm as significações. [...]. (DARTIGUES, 1973: 31).

Aqui Husserl sugere o estudo da significação, sua problemática, no

processo significador (semântico) que tanto vale para os modos intencionais do

sujeito, descrevendo fenômenos e relações através das vivências da consciência

(analítica intencional, egologia) e intuindo essências (semântico e ontológico),

como também, produzindo conhecimento através da passagem de coisas para

fenômenos.

É importante lembrarmos que toda linguagem é uma formação, ou seja,

uma montagem de unidades mínimas que tomamos como modelos, como

paradigmas necessários que engendram-se, tomam formas diversas no

encadeamento significante. Nesse ínterim, a Teoria Semântica de HUSSERL é

pertinente:

Para Husserl, a significação de uma frase predicativa é um objeto. Mas que objeto? Um objeto composto. Desse modo, a significação de toda a frase, enquanto decorrência da significação de suas partes constitutivas, deve ser entendida como uma composição. Ora, essa composição pressupõe, pois, objetos tanto com seus elementos como com seu resultado. (OLIVEIRA, 1996: 47).

“o que os fenomenólogos chamam de intuição das essências pode também ser chamado de escrutínio cuidadoso do significado das palavras”. (ADJUKIEWICZ, 1979: 46).

Tal preocupação do significado refere-se simultaneamente aos termos que

utilizamos, mas também aos conceitos, definições que doamos às coisas, aos

fenômenos. Aqui, uma unidade entre significado e ser, semântica e ontologia, no

processo do conhecimento; entre noese e noema a constituir o sentido do mundo

através do discurso, da simbolização da experiência sensível através da

linguagem, tanto das categorias como dos significados, no processo predicativo

doador de sentido. Tal unidade, sentiremos também na relação consciência e

mundo, uma vez que para eu me conhecer preciso descrever minhas operações,

minhas visadas representacionais, uma vez que só me conheço, só tenho acesso a

mim mesmo como movimento, como dinamismo representacional.^373

[...]. A evidência primeira, o terreno absoluto para o qual cumpre voltar não será mais o sujeito, mas o próprio mundo tal como a consciência o vive antes de toda a elaboração conceptual. Tal será, notadamente, a interpretação de Merleau-Ponty: “Voltar às coisas mesmas é voltar a esse mundo antes do conhecimento, do qual o conhecimento fala sempre e com relação ao qual toda determinação científica é abstrata, signitiva, e dependente, como a geografia com relação à paisagem onde aprendemos pela primeira vez o que é uma floresta, uma campina ou um rio. (DARTIGUES, 1973: 32).

(^373) Sígnico ou signitivo na linguagem de Merleau-Ponty.

projeção do já conhecido, que por sua vez discrimina a massa sonora linear, em

fragmentos justapostos na série de palavras. O nível ou âmbito fonético, como um

modo de organização, como condição necessária da comunicação humana, como

uma Forma Conjuntiva Fonética: opera a base para que a discriminação lexical

monte-se (assim como os fonemas) uma classificação num outro nível ou âmbito

de abstração: uma Forma Conjuntiva Morfética.

Uma classe de palavras, como por exemplo: madeira, água, metal, pessoas

e demais apreensão sensoriais pelo tato e visão são rotulados de substantivos.

Como sabemos, tudo aquilo que é passível de descrição sensorial guarda um

aspecto denotativo. Uma classe de palavras, como por exemplo: afeto, ternura,

indignação, valoração, ansiedade, desejo, belo, feio etc.. demais juízos de valor no

tocante a sentimentos são rotulados de adjetivos. Como sabemos, tudo aquilo que

é passível de descrição de estados subjetivos, de qualidades guardam um aspecto

conotativo.

A classificação é um dos aspectos fundamentais da fala humana. O próprio ato de denominação depende de um processo de classificação. Dar um nome a um objeto ou ato é incluí-lo em um certo conceito de classe. Se tal inclusão fosse prescrita de uma vez por todas pela natureza das coisas, ela seria única e uniforme. (…). E as classificações que encontramos na fala humana tampouco são feitas ao caso; são baseadas em certos elementos constantes e recorrentes de nossa experiência sensorial. Sem tais ocorrências não haveria um suporte, um ponto de apoio, para os nossos conceitos lingüísticos. (CASSIRER, 2005: 220).

De início, a classificação é definida em termos de uma operação lógica que consiste em hierarquizar as coisas do mundo sensível em grupos e gêneros cuja delimitação apresenta um caráter arbitrário. (BOURDIEU, 2007: XV). Obs.: Trecho de autoria do Prof. SÉRGIO MICELI.

Sausürre utilizou-se dos termos sintagma e paradigma. O que estudamos

ainda há pouco, o eixo das sucessões, são as combinações que montam palavras e

frases. O que ele entende por paradigma é, por exemplo, uma associação de

campo (conjuntiva) daquilo que é similar.

b) Descrever a maneira como diferentes elementos se combinam é dizer que lugares respectivos eles podem tomar no encadeamenteo linear do discurso. (….). Descrever um sintagma é dizer quais unidades o constituem, em que ordem de sucessão,

e, se elas nãos são contíguas, a que distância se encontram uma das outras. PARADIGMA. No sentido amplo, chama-se paradigma toda classe de elementos lingüísticos, qualquer que seja o princípio que leve a reunir estas unidades. Neste sentido considerar-seão como paradigmas os GRUPOS ASSOCIATIVOS de que fala Saussure (…) e cujo elementos são reunidos apenas por associações de idéias. (…) Diante do grande número de critérios divergentes sobre os quais se poderiam basear tais paradigmas, muitos lingüistas modernos procuraram definir um princípio de classificação que estivesse ligado ao papel único das unidades dentro da língua. (DUCROT/TODOROV, 2007: 108 e 107).

Por exemplo, as seguintes palavras: medo, receio, pavor, temor podem

serem agrupados num conjunto que os reúna por verossimilhança de significados,

que conhecemos tecnicamente por sinônimos. Se lá, vimos o eixo das sucessões

que VERSAM sobre os significantes; aqui, vemos o eixo das simultaneidades, ou

seja, das associações que agrupam termos por familiaridade quanto a seus

significados aproximados. Noutro exemplo: formiga, cantiga, espiga... tais termos

podem ser agrupados por uma classe que denominarei de rima. Se no exemplo

acima, a verossimilhança foi da ordem dos significados; aqui, a similaridade é da

ordem dos significantes. É a familiaridade sonora que permite um ato epistêmico,

ou seja, a visada Conjuntiva que organiza os elementos por similaridade: seja ou

de significante ou de significado.

A convicção básica de Husserl é que a fundamentação última do conhecimento só pode acontecer fenomenologicamente, isto é, a partir de uma pesquisa sobre os atos do conhecimento. O problema da possibilidade do conhecimento objetivo só se resolve a partir das intenções subjetivas de conhecimento, o que mostra a modernidade da postura husserliana. (OLIVEIRA, 1996: 38).

(…) o que é peculiar ao ponto de vista da Gestalt é a consideração imanente co campo perceptivo, a determinação de uma estrutura que atua na própria percepção e nela encontra sua motivação. O próprio campo sensorial não é, assim, um mosaico de estímulos, mas é originariamente organizado, é estruturado desde o início. (…). Como poderá a recordação de um casa intervir se em meu campo atual de visão certas linhas não se organizarem já de modo tal que eu possa falar de uma “semelhança” desta casa com outra que eu já vi? E mais, mesmo admitindo que seja determinante à recordação de uma organização precedente, é preciso ainda da conta desta organização primária (…). (BONOMI, 2001: 73).

são abstraídas dum conjunto menor.

(…). É na intersecção de seu horizonte externo com seu horizonte interno que a coisa vem a se constituir: por um lado, encontra-se em relação com conjuntos mais compreensivos (introduz-se num campo), por outro lado compreende a multiplicidade de subconjuntos (é analisável em suas partes internamente constitutivas). (BONOMI, 2001: 75).

(…) A linguagem e a ciência são os dois processos principais pelos quais avaliamos e determinamos nossos conceitos do mundo exterior. Precisamos classificar nossas percepções sensoriais e agrupá-las em noções e regras gerais para podermos dar-lhes um sentido objetivo. Tal classificação resulta num esforço persistente no sentido de simplificação. (CASSIRER, 2005: 234 e 235).

A esse conjunto crescente que, por enquanto, só mencionei os âmbitos

fonéticos e morféticos, também ocorrem no semântico. Mas antes de

prosseguirmos, falta-nos considerar o aspecto classificatório que mencionei sobre

os substantivos e adjetivos. Se a morfologia tem como base a montagem de

palavras num primeiro momento, num segundo, há um grau de abstração maior,

pela operatividade não mais na construção de palavras por montagem das

unidades mínimas (como no caso do fonema e morfema), mas na associação de

campo ou seleção por critério comum (Paradigma I) e de significado ou

associação de algum evento ou definição ou objeto a que o significante se reporta

ou representa-o (Paradigma II). Este é o processo de atribuir significado =

significação = ação que produz significados = associação.

(…). Os termos da fala comum não podem ser medidos pelos mesmos padrões que aqueles com que expressamos conceitos científicos. Comparados com a terminologia científica, os termos da fala comum apresentam sempre um caráter um tanto vago; (…) eles são tão indistintos e mal definidos que não resistem à prova da análise lógica. Mas, não obstante esse efeito inevitável e inerente, nosso termos e nomes cotidianos são os marcos de quilometragem da estrada que leva aos conceitos científicos, é nesses termos que recebemos nossa primeira visão objetiva ou teórica do mundo. Tal visão não é simplesmente “dada”; resulta de um esforço intelectual construtivo que não poderia alcançar seus fins sem a constante assistência da linguagem. (CASSIRER, 2005: 221 e 222).

Se a abstração do Paradigma I é campo de semelhanças e o do Paradigma

II^375 é associação conceitual-referente-fenômeno, o Paradigma III corresponde

ao agrupamento por característica mais geral: substantivo, adjetivo por exemplo.

Tal abstração tem a função de classificar por aspectos comuns, determinadas

funções que qualquer palavra da mesma classe pode ter numa frase. O âmbito

sintático, antes de ser uma leitura, uma interpretação do morfema enquanto

palavra, é uma interpretação do morfema em seu aspecto mais geral: não mais a

consideração madeira, água, metal ou mesmo medo, receio, pavor...

respectivamente, agora, substantivos e adjetivos, ou seja, classes e não mais

unidades que figuram numa ordenação predicativa que é a frase e que lida mais

com o termo geral de tais classes do que das unidades, das singularidades.

Se cada aspecto comporta implicações sui gêneris à sua própria natureza, a

língua como rede de relações, de combinações, regras e interpretações só pode

prestar sua eficácia se lidar com regras gerais que comportem ou abarquem os

termos singulares = aplicação de critérios. A abstração, ou seja, a construção de

termos que se agrupam em características não apenas como mole, duro, quente e

frio da dimensão sensível, mas características comuns como substantivos que

guardam determinadas funções numa frase da dimensão ideativa.

A definição de forma e conteúdo, como “pontos de vista complementares”, como momentos correlativos da investigação estrutural, traduz na realidade uma atitude mais geral, que é de recusa da oposição entre o abstrato e o concreto. (…). Com o avanço da investigação estrutural o sistema estudado tende cada vez mais a manifestar sua unidade interna, sua coesão e seu caráter exaustivo em relação aos fenômenos examinados. As estruturas descobertas perdem progressivamente sua particularidade incial e tendem a generalizar-se, por trás da multiplicidade dos dados empíricos transparecem relações cada vez mais simples que, pela sua recorrência, abrangem um campo de fenômenos muito amplo e garantem sua inteligibilidade (…). Mas a unidade assim explicitada não é uma forma fechada sobre si mesma, caracteriza-se por uma constante abertura para o evento, por uma capacidade de extensão. (BONOMI,

(^375) Este aspecto (Paradigma II) na verdade é o primeiro numa questão cronométrica: primeiro associamos um conteúdo (Paradigma II), para depois dispô-los, reuni-los num grupo ou classe por algum familiaridade ou elemento comum (Paradigma I) e, finalmente, para agruparmos perante um característica comum: substantivo, adjetivo, verbo (Paradigma III). Será este última paradigma que possibilitará a Sintaxe: que será um Paradigma IV = função do Paradigma III na oração = sujeito, predicado etc.