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CENTRO DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO, Teses (TCC) de Projeto Estrutural e Arquitetura

Estudo de caso para um projeto de um centro de tratamento psiquiátrico, com intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e funcionários do meio.

Tipologia: Teses (TCC)

2020

Compartilhado em 19/06/2020

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
KAMILA AMORIM LOPES
CENTRO DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO UNICARE
CAMPO GRANDE - MS
2019
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

KAMILA AMORIM LOPES

CENTRO DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO UNICARE

CAMPO GRANDE - MS

KAMILA AMORIM LOPES

CENTRO DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO UNICARE

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da Ma. Kátia Rosa Didone Macuglia e Coorientação do Prof Dr. Fernando Camilo de Carvalho Junior, para efeito de obtenção do Título de Arquiteta e Urbanista. CAMPO GRANDE – MS 2019

ABSTRACT

This work, entitled UNICARE Treatment Center, has as its main theme the elaboration of an architectural project that responds to the needs of a humanized psychiatric care, taking into consideration the patients' individualities, as well as their interactions with the environment and with their peers. Therefore, presented in order to contextualize the paths and knowledge, accessed in the planning and construction of the project. The project is therefore, the result of these discussions and reflections, its target audience are people who are waiting for care in the SUS line, regardless of their psychiatric picture, because the space promotes different treatments. In order for the Psychiatric Treatment Center to be planned, I returned first to my personal experiences, then to related area theorists who discuss the issue of Psychiatry, then visited environments that could broaden my understanding of psychiatric care, finally approached Architecture. Organic for being a potent inspiration in building the project. The objectives of the research were: To present an architectural solution that is capable of generating new meanings in the perception of those who attend it; Enable good coexistence for patients, staff and visitors; Provide the use of alternative therapies in the treatment environment, as a way to aid standard psychiatric treatments; Contribute to the improvement of the patient's mental state, with motivating therapy and attractive physical activities that arouse their interest, providing an improvement of psychomotor conditions, leisure and resocialization; Provide an environment that stimulates self-esteem, relationships between people, the capacity for collective association, spatiotemporal orientation and body perception; and Facilitate the development of conviviality in the recovery process of patients through activities. Thus, the construction of writing seeks to contextualize historically, also defining the architectural resources used to meet these goals. Keywords: Architecture. Psychiatry. Humanized care. Combined Therapies.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho se dedica a contextualizar e justificar a importância de se projetar para a cidade de Campo Grande, um novo centro de tratamento psiquiátrico, utilizando-se de aparatos históricos, bem como, trazendo a tona os aspectos que a construção do projeto. O intuito é que este centro de tratamento que seja capaz de atender todos os pacientes que aguardam na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) por atendimento psiquiátrico, oferecendo um local mais humanizado para seus pacientes que em virtude de sua saúde mental, podem viver em condições precárias e/ou até mesmo desumanas algo que fomentaria o agravo de quadros clínicos, podendo dificultar a recuperação. A investigação é portanto baseada nas discussões a respeito da arquitetura hospitalar no meio da psiquiatria. O segundo ponto se dedica a construir uma discussão sobre como a ‘loucura’ (vista a ssim a partir do senso comum), é vista pela sociedade, que associou-a a espaços arquitetônicos específicos no curso histórico. Essa dinâmica ocasionou preconceitos ao decorrer dos anos, que delegou aos locais de tratamento psiquiátricos denominações que nos remetem medo, como hospícios, manicômios e sanatórios, o estudo se dedica também nas discussões da pós Reforma Psiquiátrica, que teve como principal objetivo focar em uma arquitetura que serviria de facilitadora da cura dos pacientes que possuem doenças e transtornos mentais. Servindo assim, de instrumento para a reinserção dos pacientes na sociedade, pois, eles seriam tratados em ambiente que ao ser planejado teve em vista a cura, não apenas um lugar para o ‘depósito’ de pessoas. A angústia psicológica para a sociedade exibe uma visão de inabilidade e improdutividade, causando constrangimento em familiares e também indivíduos próximos com relação à requisito da pessoa que sofre (VECCHIA; MARTINS, 2006). Entendendo o contexto de sofrimento vivenciado por pessoas e familiares de pessoas que precisam de atendimento psiquiátrico demonstra a importância de se projetar lugares humanizados para atender pacientes psiquiátricos. Outro ponto a ser destacado é grande demanda apresentada a psiquiatria atualmente, sendo o Brasil o país com maior índice de transtornos mentais da américa latina segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)^1. Há para tanto necessidade de locais que ofereçam atendimento público especializado a estas pessoas. O preconceito instaurado por meio da dor não acontece unicamente na sociedade mais (^1) Pesquisa aponta que 86% dos brasileiros e brasileiras possuem algum transtorno mental. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/pesquisa-indica-que- 86 - dos-brasileiros-tem-algum- transtorno-mental/> Acesso em 30 de outubro de 2019.

ampla, mas também dentro das próprias instituições que recebem esses pacientes – manicômios/hospitais psiquiátricos – , de hospitais gerais, principalmente. São produzidas representações sociais que “[...] impregnam a maioria de nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as comunicações que estabelecemos” (MOSCOVICI, 1961/1976 apud MOSCOVICI, 2003, p. 10). Esta rotulação afeta diretamente o paciente, que para além de seus transtornos precisa lidar com a forma que é lido na sociedade, que pode considerá-lo um perturbado ou que perdeu o discernimento – um elemento simbólico que o adjetiva negativamente. Como forma de reconfigurar esta visão, o Ministério da Saúde criou a reforma psiquiátrica^2 , que visa a desospitalização, ressocialização dos pacientes e da humanização dos tratamentos, por meio da admissão de modelos que acabem com os hospitais psiquiátricos e suas técnicas de insanidade e exclusão social. No entanto o Ministério da Saúde aprovou a reforma psiquiátrica sem antes pensar em novas formas eficazes para cuidar dos doentes, preocuparam-se em encerrar as obras de hospitais psiquiátricos para diminuir e fila de atendimento sem se envolver de fato com o portador do sofrimento psíquico. Neste sentido, quando inserimos projetos humanizados, que reforçam o ajustamento do paciente internado com a família e com a população envolvente estimula-se a ressocialização dos pacientes. Uma providência eficaz seria para tanto, conciliar a arquitetura e saúde para incrementar o progresso dos hospitais psiquiátricos, ajudando-os a diminuir as particularidades manicomiais ainda vigentes, tornando esses lugares mais humanizados de forma a contribuir na evolução de relação e reinserção das pessoas ali atendidas na sociedade. Pensando na questão da saúde mental como necessária, na negligência sofrida e por vezes na falta de tratamento adequado, que esse trabalho foi produzido. O propósito mais amplo seria então questionar sobre a falta de espaços para cuidar o portador de alguma doença psiquiátrica e mostrar a urgência de haver lugares humanizados e especializados para o acolhimento desses doentes. Por isso o foco é, apresentar uma solução arquitetônica que seja capaz de gerar novos significados, possibilitar ambientes que estimulem uma boa convivência para pacientes, funcionários e visitantes. 2 OBJETIVOS DA PESQUISA (^2) Segundo Amarantes e Nunes (2018), a reforma psiquiátrica no SUS serve de fomento à luta por uma sociedade sem manicômios. Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/csc/2018.v23n6/2067- 2074 > Acesso em: 30 de outubro de

3 JUSTIFICATIVA

O ponto de partida do projeto, surge a partir da necessidade do tratamento psicológico e psiquiátrico e da demanda de busca de Centros de Tratamento especializado para cada grau de complexidade de doença mental. De acordo com dados da OMS (2018)^3 , estima-se que 300 milhões de pessoas sofrem de depressão, 60 milhões de pessoas são afetadas pelo transtorno afetivo bipolar, 23 milhões de pessoas são esquizofrênicas e 50 milhões de pessoas têm demência, isto a nível mundial, o percentual grande de pessoas que precisam destes tipo de atendimentos fomenta e justifica o planejamento do centro de tratamento psiquiátrico proposto neste trabalho. Ao longo da reforma psiquiátrica do Brasil, que teve seu ápice na década de 1990, (uma reprodução da reforma que ocorreu na Europa e nos EUA, por volta da década de 1970), foram desativados por volta de 90 mil leitos em hospitais psiquiátricos brasileiros (segundo a Revista em discussão! 2011). As ideias do movimento antimanicomial não iam em oposição aos conceitos dos hospitais psiquiátricos em seu princípio, mas estavam em oposição a maneira como eram tratados os doentes mentais e a maneira com que eram feitos os diagnósticos nos manicômios. Por serem enfermidades com reconhecimento de distintivo individual, o médico psiquiatra tinha até então, o título de “mestre da loucura” e era quem decidia pela internação do paciente ou não, sem escolha ou comunicação do alucinado. Diversas outras razões justificaram o movimento como: o tratamento desumano dado aos internados; o aparecimento da psiquiatria organicista, que tratava a doença mental exclusivamente com drogas psicoativas e intervenções físicas; as superpopulações dos hospitais; e o fato de que não havia atividades para que os internos pudessem socializar entre si; e os questionáveis modos de recuperação, que incluíam eletrochoques e lobotomia. Nos tempos atuais, aproximadamente vinte anos depois da reforma psiquiátrica e do ápice do antimanicomialismo, embora o movimento possa ter sido considerado bem sucedido, pesquisas têm mostrado um aumento significativo no número de doentes mentais em nossa sociedade, e a maior parte deles é tratada com remédios fortes com efeitos colaterais negativos e que chegam a afetar a saúde física. Angell (2012), levanta um questionamento a respeito dos medicamentos psicoativos, sinalizando que esses medicamentos possuem correlação com o desenvolvimento do número de diagnósticos de doenças mentais. Já Sacks (^3) Folha Informativa - Transtornos Mentais Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5652:folha- informativa-transtornos-mentais&Itemid=839> Acesso em: 30 de outubro de 2019.

(2009), escreve sobre as virtudes perdidas do hospício, que de acordo com ele, “ofereciam controle e proteção para os pacientes,” o que era vital para melhoria. Os bons hospitais ofereciam estabilidade, cotidiano, tranquilidade, tutela, e naturalmente, atividades para que os internos reaprendessem a coabitar em harmonia, não utilizando os remédios como forma de controle dos pacientes. Sendo assim, o centro de atendimento psiquiátrico projetado nesta pesquisa, busca atender de forma completa as necessidades dos pacientes, entendendo suas individualidades e fomentando a coletividade, perpassando pelos tratamentos específicos de cada um, entendendo por tanto, o centro de atendimento psiquiátrico como um lugar social e dinâmico. Nogueira (2005) discute os princípios de uma personalidade desintegrada, alienada e desamparada, atribuindo essas características à enfermidade intelectual em vários graus. A autora teoriza sobre até que momento o paciente usa o lugar físico do hospital como seu, e como o ambiente é instrumento facilitador no alívio da dor do desamparo. Por isso, o lugar e o ambiente possui grande influência na terapia reconstitutiva da personalidade e no retorno de forma efetivamente positiva do paciente à sociedade. Na cidade de Campo Grande - MS existe apenas um hospital para tratamentos psiquiátricos específicos, chamado o Nosso Lar, que conta com 120 leitos apenas, sendo assim, o hospital não é capaz de suprir as necessidades de leitos para a internação demandadas pela cidade. Em setembro de 2017, a Santa Casa transferiu 10 leitos para o Nosso Lar e encerrando o funcionamento da ala psiquiátrica do maior hospital de Mato Grosso do Sul, o que gerou preocupação de médicos psiquiatras, pois, com a transferência dos 10 leitos, significaria a redução de 20% dos leitos que são ofertados pelos hospitais capacitados para o atendimento na cidade, sendo estes naquele momento, o Nosso Lar e o hospital Regional que ofereciam o atendimento na área. Atualmente no total, o município possui apenas 52 vagas disponibilizadas pelo SUS. Em maio de 2018, 8.041 pessoas esperavam por atendimento psiquiátrico em Campo Grande, para consulta ambulatorial. Além da espera de outras pessoas por internação, alojadas em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) e CRSs (Centros Regionais de Saúde). É grande a necessidade de um local adequado para atendimento destes. Desde setembro de 2017, que foi quando a Santa Casa fechou a ala psiquiátrica o aumento na fila da psiquiatria foi de 8% segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). A Defensoria Pública já ajuizou uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Associação

finalmente, propõe abordar a questão pelo ângulo de uma escuta transferencial da fala, do desejo, ou da vivência do louco (psiquiatria dinâmica, análise existencial, fenomenologia, psicanálise, antipsiquiatria). (ROUDINESCO, 1998, p. 478). As novas maneiras de abordar a loucura começam a sinalizar formas de desmistificar o fenômeno, discutindo-o no plano da saúde, especificando a saúde mental, também cria-se uma visão antropológica dos fatos, auxiliando no entendimento de que a concepção de loucura poderia variar de sociedade para sociedade, fazendo com que as doenças mentais pudessem ser olhadas a partir também do relativismo cultural e por fim a ideia mais analítica da psiquiatria surge, dando respaldo aos tratamentos. Já no Brasil, o primeiro hospital psiquiátrico foi criado em 1852, no anos de 1912 foi decretada a primeira Lei Federal de Assistência aos Alienados, seguida do ganho de status de especialidade médica autônoma aos psiquiatras, o que aumentou o número de instituições destinadas aos pacientes psiquiátricos. Com a criação da estrutura manicomial brasileira surge a preocupação com o estabelecimento de espaços de poder disciplinares por meio de hospitais ou clínicas especializados para atendimento psiquiátrico. (CAPONI, 2009). Os hospitais psiquiátricos brasileiros foram planejados no contexto de políticas higienistas, sendo assim, Em 1926, é criada a Liga Brasileira de Higiene Mental – importante testemunho do pensamento psiquiátrico brasileiro. Finalmente, em 1934, o Decreto 24.559 promulgava a segunda Lei Federal de Assistências aos Doentes Mentais [...] determinando o hospital psiquiátrico como única alternativa de tratamento. (RAMMINGER, 2002, p. 114). Isso porque visava-se a retirada dessas pessoas do convívio social e sua reclusão, a partir de então houve um aumento de 213% da população internada em manicômio/hospital psiquiátrico do Brasil. (CERQUEIRA apud RAMMINGER, 2002). Para Leonora Cristina da Silva, mestre em arquitetura e urbanismo: “Nos últimos 3 0 anos iniciou-se no Brasil o processo de implantação da Reforma Psiquiátrica, tendo como principal objetivo a desinstitucionalização e a reabilitação psicossocial dos pacientes acometidos por doenças mentais. Neste contexto, surgiram várias associações e movimentos de funcionários e familiares, dentre os quais o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, que têm como principal objetivo buscar a superação do uso da internação psiquiátrica como forma exclusiva de tratamento para a doença mental.” (SILVA, 2008, p.14). A reforma psiquiátrica delineia então uma nova forma de atendimento nos hospitais psiquiátricos, e posteriormente questiona o planejamento desses espaços, entendendo que para uma nova

forma de atendimento precisa-se de um ambiente propício. No livro Holocausto Brasileiro é possível observar como eram as condições antes da Reforma Psiquiátrica, em um dos maiores manicômios do Brasil: As condições dessas instituições manicomiais eram precárias e a maioria dos pacientes não tinha diagnóstico de doença mental (loucura). Os pacientes eram, [...] epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder [...] Além disso, comiam ratos, bebiam esgoto ou urina, eram espancados, morriam de frio, de fome, de doença.” (ARBEX, 2013, p. 14). Pensar nas formas desumanas em que as pessoas que viviam nos manicômios eram tratadas, e em como esses espaço servia apenas de depósito de pessoas que não eram bem quistas na sociedade circundante, evidencia importância do ambiente planejado, em que as pessoas que buscam tratamento psiquiátrico estejam inseridas para que possam se recuperar e posteriormente voltar ao convívio social. Seguindo esta linha de raciocínio, a relação do homem com a arquitetura é constante em todas as atividades que exerce, está sempre criando relações com o espaço e nele demonstrando seus afeiçoamentos sentimentais. Para tanto, o espaço de um centro de atendimento psiquiátrico também é um espaço é importante para a pessoa, pois ele é capaz de transformar experiências. Costa esclarece que, a construção da individualidade só é proporcionada em ambiente adequado, local estimulador de ações, de pensamentos e de sentimentos, que servem de estímulo desenvolvimento da essência humana. (Costa, 2001). Sendo assim, a trajetória da ideia de como os hospitais psiquiátricos devem funcionar, e de como o espaço pode ser melhor aproveitado e se tornar estimulante fixa-se as ideias em torno dos tratamentos psiquiátricos atuais. 5 HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA 5.1 História das instituições psiquiátricas no contexto mundial: concepção asilar, espaços terapêuticos e a Reforma Psiquiátrica No fim do século XVIII os lugares destinados aos indivíduos tidos como loucos eram equivalentes aos reservados para mendicantes, criminosos ou enfermos gerais. Sendo assim, a loucura têm suas bases iniciais num contexto de auxílio aos desprovidos, em que, [...] a assistência aos enfermos se fundamentava nos conceitos de caridade e filantropia e era realizada em espaços vinculados às práticas religiosas, destinados ao abrigo não só de doentes, mas, também de ladrões, loucos,

F igura 1Fig. 1 - Prisão de Petite Roquette, projeto do ano de 1844, Paris. Figura 2 – Narrenturm: Hospital Psiquiátrico na Áustria, 1784. No modelo apresentado a base para o desenvolvimento destes edifícios norteava-se em um estilo de arquitetura com um conceitual introspectivo (fig.3), significando que a arquitetura se compunha voltada e fechada ao centro, de forma nuclearizada, internalizada (propiciando fácil vigilância e controle). Fig. 3 – Diagrama conceitual: arquitetura introspectiva, centrípeta. Fonte: elaborado pela autora.

Esta internação constituía-se em total desligamento do mundo externo, este era o princípio das instituições com este fim. O reduto, o confinamento e a exclusão para o âmbito exterior eram preceitos da época e foram refletidos e concretizados na constituição do estilo arquitetônico adotado nestes recintos. Contudo, deve-se atenção ao fato que não todas as arquiteturas da época eram familiares no intuito de se apresentarem plani-volumétricamente desta forma, conquanto possuíam igual conceito, ou seja, similar essência. Neste período foi de essencial importância a pessoa do médico francês Philipe Pinel (1759-1820). Enquanto diretor do manicômio de Bicêtre, localizado nas cercanias de Paris, Pinel obteve, em 1798, permissão para alforriar os asilados que se encontravam acorrentados há aproximadamente 30 anos. Pinel delineia uma nova maneira de abordar o tratamento da insanidade, embasada num caráter terapêutico preocupado com a faceta moral do paciente, analisando detalhadamente os comportamentos e reformulando as classificações das enfermidades. Pioneiro neste novo modo de pensar, Pinel formulou uma gama de estudos e reformas que “[...] definem, pela primeira vez, a dimensão psicológica da psiquiatria (a primeira revolução psiquiátrica no sentido da evolução científica), introduzindo-lhe um sentido moral e de liberdade [...]” (FONSECA, 1997, p.58) Para o mesmo, “[...] o manicômio se torna parte essencial do tratamento, não será mais apenas o asilo onde se enclausura ou se abriga o louco, será um ‘instrumento de cura’[...]” (PESSOTI, 1996, p.69). Os modelos arquitetônicos deste intervalo seguiam os moldes definidos por Pinel, instalações descritas por Esquirol em 1838, um de seus maiores discípulos, em um tratado chamado Des Maladies Mentales (As Doenças Mentais). Para Esquirol, O manicômio ideal devia ser um conjunto de edificações no plano térreo, separadas umas das outras. O conjunto dos edifícios incluía construções especiais para banhos, “aparelhos de vapor”, oficinas, enfermarias, cada um separado dos demais. [...] Deve haver alojamentos separados para os loucos furiosos, para os maníacos que não sejam maus, para os melancólicos tranqüilos, para os monomaníacos que são ordinariamente barulhentos, para os alienados em demência, para os que andam costumeiramente sujos, para os loucos epiléticos, para os que têm alguma doença incidental e, enfim, para os que estão em convalescença: a habitação destes deve ser disposta de modo a que não se possam ver nem ouvir os doentes [...] As habitações não devem ser construídas todas do mesmo modo e a uniformidade é um dos principais defeitos dos asilos existentes na França e fora dela. As habitações para os furiosos devem [...] oferecer meios de segurança que seriam inúteis e até nocivos no resto do estabelecimento [...] O quartier dos convalescentes não deve diferir, em nada, de uma casa comum [...] (ESQUIRIOL, 1838, p. 424, apud

Reforma Psiquiátrica em um contexto mundial, com repercussão primeiramente pela assimilação das instituições asilares aos campos de concentração nazistas e o repúdio a quaisquer desrespeitos aos direitos humanos. Segundo Amarante (1995) a metodologia da Reforma pode ser apresentada por três momentos de modificação e formação de novos preceitos: aparecimento de comunidades terapêuticas e da psicoterapia institucional, surgimento da psiquiatria de setor e preventiva e da anti-psiquiatria. O primeiro momento, referente à criação das comunidades terapêuticas e da terapia institucional, ocorre em meados de 1946, reunindo pacientes em pequenos grupos e observando a possibilidade da realização de atividades e tarefas, mesmo na função de autossuficiência de tais instituições, consideradas terapêuticas: “O paciente é colocado em posição onde possa, com auxílio de outros, aprender novos meios de superar as dificuldades e relacionar-se positivamente com as pessoas que o podem auxiliar”. (JONES, 192, p. 23, apud AMARANTE, 1995, p.29). Amarante destaca que, [...] através da concepção de comunidade, procura-se desarticular a estrutura hospitalar considerada segregadora^4 e cronificadora: o hospital deve ser constituído de pessoas, doentes e funcionários, que executem de modo igualitário as tarefas pertinentes ao funcionamento da instituição. (AMARANTE, 1995, p. 29). No tocante a prática da psicoterapia a instituição surge com um conjunto de ações próprias, consideradas dotadas de potencial curativo, prezando pela realização de atividades consideradas terapêuticas, harmonizando psiquiatria e psicanálise. O segundo momento relaciona-se às chamadas psiquiatria de setor e psiquiatria preventiva. O método da psiquiatria de setor divide os setores geográficos com a população máxima de 70 mil habitantes, contando com uma unidade para o tratamento, prevenção e pós-internação do paciente, além de equipe formada por profissionais. “[...] institui-se o princípio de esquadrinhar o hospital psiquiátrico e as várias áreas da comunidade de tal forma que a cada ‘divisão’ hospitalar correspondia uma área geográfica e social”. (AMARANTE, 19 95, p. 35). (^4) O termo segregadora designa uma estrutura hospitalar que separa o paciente do convívio com a sociedade. Já o termo cronificadora refere-se ao agravamento de seu quadro clínico. A palavra crônico está ligada a palavra tempo (cronos) e geralmente refere-se a um processo incurável e pouco previsível a longo prazo.

Segundo Fleming (1976), a psiquiatria de setor define-se: [...] um projeto que pretende fazer desempenhar à psiquiatria uma vocação terapêutica, que segundo os seus defensores não se consegue no interior de uma estrutura hospitalar alienante. Daí a idéia de levar a psiquiatria à população, evitando ao máximo a segregação e o isolamento do doente, sujeito de uma relação patológica familiar, escolar, profissional, etc. trata- se portanto de uma terapia in situ: o paciente será tratado dentro do seu próprio meio social e com o seu meio, e a passagem pelo hospital não será mais do que uma etapa transitória do tratamento. (1976, apud AMARANTE, 1995, p. 34). Relativo à psiquiatria preventiva, primeiramente consolidada nos EUA em cerca dos anos 60, objetiva suas atividade no âmago do problema, ou seja, a contenção do volume de doentes mentais através da profilaxia, intervindo nas causas para a doença. O terceiro momento trata-se do surgimento da anti-psiquiatria, também em meados dos anos 60, na Inglaterra. Intenta romper com as filosofias e as formas de tratamento até então utilizados, arquitetando críticas e indagando acerca do saber psiquiátrico. Ademais a anti-psiquiatria, destacam-se paralelamente às experiências de Franco Basaglia na Itália. Basaglia foi predecessor da Reforma italiana almejando a igualdade, inclusão social dos acometidos de doenças mentais e sua reintegração com a comunidade como metas. O fator a ser alterado era, para ele, a forma de ver a loucura e no propósito de desestruturar as atuais ordenações psiquiátricas buscando a desinstitucionalização. Em 1971, na cidade de Trieste, Basaglia inicia um processo de, [...] desmontagem do aparato manicomial, seguido da constituição de novos espaços e formas de lidar com a loucura e a doença mental. Assim são construídos sete centros de saúde mental, um para cada área da cidade, cada qual abrangendo de 20 a 40 mil habitantes, funcionando 24 horas ao dia, sete dias por semana. São abertos também vários grupos-apartamento, que são residências onde moram usuários, algumas vezes acompanhados por técnicos e/ou outros operadores voluntários, que prestam cuidados a um enorme contingente de pessoas, em mais de trinta locais diferentes. (AMARANTE, 1995, p. 49). Com Basaglia inicia-se, então, a reorganização da assistência à saúde mental, que virá a influenciar diversos outros países, como por exemplo, o Brasil, na constituição deste novo entendimento do atendimento psiquiátrico.