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Analise da carta aos romanos
Tipologia: Notas de estudo
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Copyright Fonte Editorial Comércio de Livros Religiosos Ltda
5 a^ Edição - 2008 - formato 14x21 cm - 854 páginas
Traduzido da 5a^ Edição Alemã de 1967 de título Original “Der Römerbrief”
Fonte Editorial Com.Liv.Rel.Ltda R. Barão de Itapetininga 140 lj Centro - São Paulo - SP Cep 01042- (11) 3151-4252 3237- www.fonteeditorial.com.br email fe.ltda@uol.com.br
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico e mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998)
Todos os direitos reservados à
Capa Eduardo de Proença Tradução Lindolfo Anders Diagramação Alpha Design
Querida Eline:
Você sugeriu que eu escrevesse alguma coisa, por exemplo, algo sobre teologia. Eu respondi-lhe que não valeria a pena e expliquei porque. Porém, assim como as palavras são frutos de pensamento, elas são se- mentes de futuras ações e, quiçá, de novas idéias. E as suas palavras de filha amiga, levaram-me a enfrentar a tarefa de registrar ruminações minhas sobre o estudo da Epístola aos Romanos, de Karl Barth. Por que a carta aos Romanos, e logo de Karl Barth? Novamente o fruto das palavras: Você me disse que achava difícil “de- glutir” Paulo; e Barth disse que ficou radioso quando descobriu o grande após- tolo dos gentios na Epístola. Preciso contar-lhe primeiramente como conheci Barth: foi nos idos quan- do Jorge Cesar Mota era meu pastor; ele gostava de citar Barth em seus ser- mões, e era grande a celeuma! E este seu pai, ingênuo ancião da Igreja, nem sabia quem era o tal Barth. Não me foi difícil descobrir que os outros também não sabiam. Alguns nem lhe soletravam certo o nome e os outros diziam que era um ecumenista. Já os doutores citavam passagens mas, inquiridos mais de perto — não para inves- tigação mas para minha instrução — deixaram patente que falavam de oitiva ou, quando muito, haviam lido comentários de segunda mão ou até da enésima. Fui a Livraria Ederle — que é especializada em obras teológicas católi- cas sem fechar as prateleiras a obras dos “Irmãos Separados”, e encontrei refe- rências a Barth: Uma brochura (talvez umas cinqüenta páginas) intitulada, se não me en- gano, “CARTA A UM PASTOR DA ALEMANHA ORIENTAL”. Que adorável bilhete como diria, talvez, Otoniel Mota. Pareceu-me tão penetrante, divinamente inspirada e inspiradora, tão bíblica que, no meu entender, poderia ser o (67 livro da Bíblia, a ser inserido entre a carta aos Hebreus e a epístola de Tiago...
performed his task with great skill. He has combined fidelity to the text with a considerable freedom of presentation and that is surely the mark of a good translator. Though a translation, however skillfully made, must be in some degree a transformation of the original, yet I feel certain that those who think and speak in English will have before them what I wished to say”. E assim fica explicado porque não mandei a você simplesmente, a tra- dução inglesa. Barth publicou a lª edição em 1918; a 2ª edição, totalmente revista, saiu em 1920. A terceira foi, praticamente, cópia da segunda e saiu a lume em 1922. O mesmo aconteceu com a 4ª edição (1924) mas no seu prefácio dessa edição o Autor confessa que muita coisa deveria ser re-escrita e pontos obscuros deve- riam ser esclarecidos; “mas não vejo, ainda, como resolver essas passagens mais difíceis, por isso, mais uma vez, preciso mandar o livro sem modificá-lo”. Finalmente, em 1926, saiu a 5ª edição, revista, que foi repetida pela 6ª e última em 1928, todavia com reimpressões posteriores. Para melhor caracterizar o Autor vou tentar traduzir os seus prefácios à 1ª , 5ª e 6ª, edições, esta última da versão inglesa. Dos outros prefácios, para com- preender melhor o Autor, valeria a pena ler o da 2ª edição, onde Barth explica aos leitores porque refundiu totalmente a primeira edição e, em seguida, entra em acres e irônicas críticas de caráter polêmico com os adversários e até com os que lhe batem palmas. Revela-se um pugnador agressivo em plena exuberância; tinha então 35 anos; diz que ele é um teólogo, escrevendo para teólogos... Eu disse mais atrás que “tentaria” traduzir. E por que somente TENTAR? Em primeiro lugar por que não sou teólo- go; nunca fui nem pretendo vir a ser! Em segundo lugar porque o original é em alemão; e em terceiro porque Barth é quase intraduzível. Faz jogos de palavras e de idéias que não teriam sentido em português e cria expressões simples com significados sutis que exigem circunlóquios extensos para serem explicados. Como traduzir, por exemplo, “das Da-sem und Wie-sein”, ou então, como atri- buir significação precisa, correta, ao título que o Autor dá à exegese de todo o capitulo XIV e metade do capítulo XV, da Epístola: “Die Krisis des freien Lebensversuchs”? O prefácio da tradução inglesa aponta algumas das dificuldades típicas encontradas por aquele “colegiado de tradutores” que, além de sua natural com- petência, contava com a possibilidade de recorrer diretamente ao Autor, sem- pre que tivesse dúvidas. Isto é, por si só, bastante para confirmar que sequer poderia pretender apresentar uma tradução. Todavia, o que você vai ler é a expressão mais fiel do que entendi; onde me pareceu que a exposição talvez ficasse mais compreensível com observa-
Explicações Preliminares
ções adicionais, eu as acrescentei colocando-as entre colchetes, ou sob a forma de comentários no começo e fim das diferentes seções. Ainda algumas observações:
Maio,
Explicações Preliminares
a teologia oitocentista antecedente e o princípio de uma nova fase na história da teologia protestante. Curiosamente, foi a 2ª edição da obra que causou maior impacto. Ao ser publicada, causou espanto e indignação devido ao tratamento duro e crítico que dá às convicções liberais dominantes. O teólogo católico Karl Adam afirmou que a publicação do livro “foi como uma bomba lançada no playground dos teólogos”. 3 Quando escreveu o Romerbrief pela primeira vez (ca. 1916-19), Barth era meramente o pastor socialista da igreja de uma pequena cidade Suíça, Safenwil. A primeira edição do Romerbrief dava claro testemunho do marxis- mo entusiasmado do jovem Barth. 4 Da quieta Safenwil Barth acompanhou a 1ª grande guerra, e assistiu horrorizado seus antigos professores apoiarem a polí- tica bélica do governo alemão. 5 Barth percebeu a fragilidade e a inadequação de suas otimistas convicções liberais ensinadas por estes mesmos professores, bem como a esterilidade de seus próprios sermões baseados nesta escola de pensamento. Barth já não conseguia mais aceitar aspectos essenciais da exegese, da antropologia, da ética e da filosofia da história liberais. Junto com Eduard Thurneysen, inseparável amigo, Barth passou a buscar uma nova teologia, ini- ciando um movimento ad fontes, voltando-se primeiramente para o estudo dos reformadores e da Escritura, e sendo simultaneamente influenciado por pensa- dores de vanguarda do seu tempo como, por exemplo, Soren Kierkegaard (
(^3) Cf. Clifford Green, “Karl Barth’s Life and Theology” em Karl Barth: Theologian of Freedom, ed. Clifford Green (Minneapolis, MN: Fortress Press, 1991), 16. (^4) Barth afirma, por exemplo, que um tempo virá em que “os dogmas marxistas agora em decadência irão se reavivar como verdades, no tempo em que a igreja socialista se levantará em um mundo tornado socialista”. A frase foi eliminada pelo próprio Barth das edições subseqüentes. Veja o comentário de Eberhard Jüngel sobre essa frase em Karl Barih: A Theological Legacy (Philadelphia, PA: Westminster, 1986), 96ss. No tempo em que trabalhou como pastor em Safenwil, Barth foi responsável pela organização de três sindicatos de trabalhadores e dava palestras sobre direitos trabalhistas. Minha opinião é, no entanto, que o Rõmerbrief demonstra que Barth já percebia, naqueles tempos da revolução russa, os inevitáveis futuros descaminhos do marxismo. (^5) O documento em questão ficou conhecido como o “manifesto dos intelectuais ale- mães” e foi assinado por vários professores de Barth, como Adolf von Harnack, Wilhelm Herrmann, Hermann Gunkel e até mesmo Adolf Schlatter. (^6) É importante notar que o próprio Barth afirmou posteriormente ter-se distanciado cada vez mais de Kïerkegaard. Cf. Karl Barth, “A Thank You and a Bow: Kierkegaard’s Reveilie” in Canadian Journal of Theology XI (1965), 4ss.; e Karl Barth. “Kierkegaard and the Theologians” in Canadian Journal of Theology, XIII (1967), 64-65.
Prefácio - Karl Barth e sua “Carta”
Schweitzer (XX)^7 e sua ferrenha crítica à busca do Jesus Histórico (Von Reimarus zur Vrede; 190?) empreendida pelos teólogos do século XIX^8 e Rudolf Otto (1869-1937), autor do célebre O Sagrado (Das Heilige; 1917). Destes autores Barth assimilou idéias importantes, como a impossibilidade de dissociar a men- sagem do Novo Testamento de seus aspectos escatológicos, transcendentes e sobrenaturais, a infinita diferença qualitativa entre Deus e a criação, a absoluta alteridade divina e a inevitável confrontação inerente ao encontro entre Deus e o ser humano. A 2ª edição do Romerbrief é o documento histórico que marca o início desta nova teologia a que Barth chegou. Ela foi apelidada de “teologia da cri- se”, em parte por causa da crise sócio-econômica e cultural, fruto da guerra, que punha um fim no otimismo romântico do progressismo oitocentista, e em parte porque Barth insistia em falar na Palavra de Deus como juízo (gr. Krinein) divino contra toda tentativa humana de atingir algum sucesso espiritual por suas próprias forças (como, por exemplo, a instauração do Reino de Deus por meio de atos sócio-políticos). Genialmente, Barth percebeu e comunicou aos leitores estupefatos que toda e qualquer religião ou religiosidade é trabalho humano, o mais anti-divino de todas as obras humanas: o esforço para atingir a auto-justificação. A teologia gerada pela pena de Barth foi também apelidada de “teologia dialética” justamente por negar qualquer continuidade ou ponto- de-contato (Anknüpfungspunkt) entre Deus e a criação, entre o evangelho e a cultura humana. Qualquer possível contato teria de ser uma iniciativa exclusiva de Deus. Desta forma, Barth rejeitava todos os diferentes pontos-de-contato sugeridos pelas correntes teológicas pós-iluministas: o senso moral humano, auto-consciência do espírito, o sentimento humano de dependência absoluta de Deus, a racionalidade humana e a civilização, tanto quanto pontos-de-contato católico-romanos e mais conservadores como piedade e espiritualidade ou con- fiança e participação na igreja institucional. Karl Barth (1886 - 1968) foi, por isso mesmo, o mais importante teólo- go do século XX, a mais importante figura na teologia desde Friedrich Schleiermacher (1768 -1834), teólogo que Barth procurou superar mas a quem,
(^7) Sobre Schweitzer veja, por exemplo, Charles R. Joy, “A Modern Man’s Quest for the HoIy Graal” in Albert Schwitzer: An Anrhology, ed. Charles R. Joy (New York, NY: Harper & Brothers, 1947), xix-xxviii; e Frederick Franck, Days with Albert Schweitzer (New York, NY: Henry Holt & Co., 1959). (^8) Sobre a busca do Jesus histórico, confira, por exemplo, Harvey K. McArthur, In Search of the Historical Jesus (New York, NY: Clarles Scribner’s Sons. 1969); e Ben Witherington III, The Jesus Quest (Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1995).
Prefácio - Karl Barth e sua “Carta”
entra em firme divergência com Emil Brunner. Esta terceira fase do pensamento barthiano foi marcada também pelo confronto com o nazismo que levaria Barth a perder sua cátedra e a ser expulso da Alemanha em 1935, e a fixar-se para o resto de seus dias em Basiléia, sua cidade natal. Barth opôs-se à neutralidade suíça e deu seu apoio às forças aliadas. Acima de tudo, Barth opunha-se à associa- ção do Fuhrer, do destino glorioso da Alemanha e da raça e da cultura teutônicas com os propósitos e a revelação divinas. Em Basiléia, após o término da 2ª grande guerra, teve início a quarta e mais importante fase da teologia de Barth. E nesta época que Barth escreveu a maior parte da Dogmática Eclesiástica, além de vários títulos menores de grande popularidade. À medida em que tra- balhava nesta sua obra-prima, a Dogmática Eclesiástica, Barth acentuava de modo implícito a descontinuidade de sua produção com seu trabalho da segunda fase, da teologia da crise, da Carta aos Romanos. Muitos críticos têm sugerido que o tipo de teologia que Barth desenvolveu na Eclesiástica não é consistente com a Carta aos Romanos e sua insistência na absoluta alteridade divina, e não teria sido legitimada pelo autor do Rõmerbrief. Barth, todavia, nunca aceitou que tivesse havido uma total ruptura em seu pensamento, e via a Eclesiástica em grande parte como o desenvolvimento natural da teologia apresentada no Romerbrief em que o único ponto-de-contato entre o Criador e suas criaturas é Jesus Cristo. Percebe-se que a intenção de Barth passou a ser um trabalho de reconstrução da tradição protestante reformada conservadora, um empreendi- mento que recebeu o epíteto de “neo-ortodoxia”, ainda que o termo tenha sido sempre rechaçado pelo próprio Barth. É possível destacar ainda uma quinta e última fase do pensamento barthiano, fase esta que marca o final da caminhada progressiva de Barth em direção de uma posição cada vez mais evangelical e que teve início após sua aposentadoria, tempo em que viajou a diversos países, inclusive os Estados Unidos, aumentando consideravelmente sua influência nos círculos teológicos mais conservadores, precisamente quando sua influência nos círculos mais progressistas e neo-liberais gradualmente desaparecia. Evidentemente, muitas idéias barthianas são ambíguas e questionáveis. Como acontece com toda mente genial, Barth cometeu alguns excessos e deu- se o direito de fomentar algumas “heresias”. Ainda que alguns se esforcem, parece-me quase impossível duvidar, por exemplo, do universalismo de Barth.^9
(^9) O universalismo de Barth não se restringe ao aspecto soteriológico, isto é, a rejeição do chamado “terceiro ponto” do calvinismo do século XVII e a adoção da doutrina arminiana correlata, mas abrange o aspecto escatológico, trazendo Barth para a com- panhia de muitos liberais e de defensores da apocatástase sugerida por Orígenes (ca. 185-254) ainda no terceiro século da era cristã.
Prefácio - Karl Barth e sua “Carta”
Ao restringir todo possível conhecimento de Deus à sua auto-revelação em Jesus Cristo, Barth parece ter rejeitado qualquer forma de revelação geral de Deus, mesmo uma que se limitasse a servir de justificativa para a condenação da humanidade por Deus. As palavras de Barth sobre Rm 1:1 8ss no Romerbrief já davam alguma evidência disso. Alguns vêem na doutrina barthiana da elei- ção, que centra na pessoa de Jesus Cristo tanto a rejeição quanto a eleição divinas, mais uma indicação desse universalismo. Além disso, sugere-se com freqüência que a rejeição da teologia natural em Barth aponta para uma forma de fideísmo. Outras acusações ao pensamento de Barth têm sido feitas e torna- ram-se populares, por exemplo, que o trinitarianismo de Barth é de caráter modalista (o Revelador, a Revelação, e a Revelacionalidade), apesar de Barth explicitamente condenar o modalismo e afirmar a distinção irredutível entre Pai, Filho e Espírito Santo na Dogmática Eclesiástica. Diz-se também que sua arquitetura triádica da Palavra de Deus (Jesus Cristo, o Logos Theou; a Escritu- ra, a Palavra de Deus escrita; e o Evangelho proclamado pela igreja, a Palavra de Deus pregada) implica em uma atitude de menosprezo para com a Bíblia, que a aceitação do método histórico-crítico sugere a rejeição da doutrina da inspiração e da infalibilidade da Bíblia (ainda que Barth, em toda a Dogmática Eclesiástica, trate a Bíblia como verbalmente inspirada e doutrinariamente in- falível, e tenha insistido que a utilização do método histórico-crítico não impli- ca necessariamente na rejeição das doutrinas da inspiração e infalibilidade da Bíblia). Muitas das posições polêmicas de Barth podem ser explicadas, sugere G. C. Berkouwer (n. l903), 10 por seu insistente cristocentrismo (que para al- guns chega a ser um cristomonismo) e pela arquitetura trinitariana (para al- guns, forçada) que Barth imprime nas suas exposições doutrinárias. Nem por isso deixou Berkouwer de sugerir que o absoluto triunfo da graça na teologia de Karl Barth torna vaga a seriedade da decisão humana na mesma medida em que o kerygma corre o risco de tornar-se um mero aviso feito pela igreja ao mundo, despido da admoestação vital de reconciliação com Deus e vida em santidade que sempre o caracterizou. A esta altura já está claro ao leitor que este prefácio não visa dar-lhe uma síntese do pensamento de Barth,^11 nem visa oferecer extenso tratamento
(^10) G C. Berkouwer é um dos mais influentes teólogos reformados do século XX. Profes- sor da Free University de Amsterdam, Berkouwer produziu uma coleção de estudos dogmáticos de 18 volumes. Além de ocupar-se com outros temas, era também um especialista em Karl Barth, sobre quem escreveu três livros, dois deles tendo-se torna- do clássicos dos estudos barthianos, a saber, Karl Barth (1936) e The Triumph of Grace in the Theology of Karl Barth (1954).
Prefácio - Karl Barth e sua “Carta”
Paulo falou aos seus contemporâneos como filho de sua época. Porém, a verdade muito mais importante é que como profeta e apóstolo do reino de Deus, ele fala a todos os homens de todos os tempos. As diferenças entre outrora e hoje, lá e aqui, devem ser observadas com o único objetivo de constatar que essas diferenças não têm o mínimo significa- do na essência das coisas. O método histórico-crítico aplicado ao estudo da Bíblia, prepara a mente o que é sempre útil; porém, se eu fora constrangido a optar entre esse método e a arcaica doutrina da inspiração eu, decididamente, escolheria por esta, pois ela é, de direito, maior, mais profunda e mais impor- tante; porque a inspiração visa ao próprio processo do entendimento sem o que toda e qualquer estruturação do raciocínio se torna vã. Sinto-me feliz por não precisar escolher entre essas duas formas. No entanto apliquei toda a minha atenção para observar os fatos através da histó- ria, no espírito da Bíblia, que é o Espírito Eterno. O que outrora foi sério, ainda hoje o é. E o que modernamente é sério e não mero acaso ou extravagância, está, também, diretamente integrado com o que, em tempos remotos, foi importante. Nossas perguntas, se é que nos entendemos bem, são as perguntas de Paulo e, as suas respostas — se a sua luz nos brilhar, são as nossas respostas.
“Sim, a verdade, de há muito, se achou; Espíritos nobres ela agasalhou. A antiga verdade. Segure-a”.
A compreensão da história é um diálogo continuado entre a sabedoria de ontem e a de amanhã e que é sempre a única e a mesma. Respeitoso e grato, lembro-me aqui do meu pai — professor Fritz Barth, que foi sempre expressão viva dessa maneira de ver. É certo que todos que sofriam fome e sede de justiça nos tempos sequiosos de Paulo colocaram-se objetivamente a seu lado, e não
O continuado sucesso do livro, tanto do ponto de vista literário quanto às idéias expostas, dá-me o que pensar, como autor, e pareceu-me que seria útil ao leitor colocá-lo a par das minhas ponderações. Vejo-me postado entre duas questões:
Teria eu, ao escrever o livro, dito tanto a ponto de fazer arder as ore- lhas das gentes? Ou teria eu dito aquilo que depois da guerra e especial- mente na Alemanha estava, por assim dizer, no ar, e que foi agradável a certos senhores do mundo de nossos dias, para que eu fosse castigado, a ponto de ser erigido em moda bastante em voga e, ainda mais, fosse puni- do com o surgimento de um verdadeiro “Barthianismo” qual o “Ritchlianismo” no tempo de Bismark? Parece até que tudo o que escrevi contra a presunção humana — e por demais humana — sobretudo sobre a vanglória religiosa, sua causa, sua roupagem, seu efeito, aplica-se agora a mim mesmo, quando na realidade, ao escrever o livro, tencionei nadar contra a correnteza; bater contra portas cerradas; não fazer favor a quem quer que fosse, ou a muito poucos. Será que me enganei? Quem conhece os seus contemporâneos e quem conhece bem a si mesmo? Não é para ficar ressabiado ao ver quais os livros teológicos que têm, junto com o nosso, repercussão semelhante? Acaso me equivoquei a respeito do mun- do e de mim mesmo, tendo sido o servo do público como mau teólogo, NOLENS VOLENS e engana-se porventura o leitor amigo que toma por espiritual aquilo que para Paulo, Lutero e Calvino seria apenas um produ- to dos tempos e para Nietzsche, Kirkegaard e Cohen, seria apenas decocção? Se este for o caso, não me resta senão reconhecer o juízo que de mim se faz pelo próprio sucesso da obra, que é de conhecimento públi- co. E por que não seria esta a interpretação verdadeira? Mas se não for assim, então nem eu nem o livro a merecemos.
No prefácio à primeira edição eu escrevi que este livro poderia espe- rar e isto me foi atribuído por vanglória; então agora, talvez, tire-se vin- gança dessa prosápia no fato de que o livro, cm contraste com muitos outros melhores, não precisou esperar antes foi julgado com os aplausos que lhe foram dados junto com outros, (o que também é vaidade). No mundo toda a carne é como a erva; esta é uma verdade mais evidente nos sucessos estrondosos que nos casos de relativo insucesso.
Aí ficou exposta a primeira questão do meu dilema e eu bem gostaria que meus leitores mais generosos, juntamente comigo, tomassem consciência dela e participassem de sua carga; quando mais não seja, para que eles, como também eu, não se admirem se, algum dia, ficar evidente que a erva murchou e a flor caiu. A segunda questão é ainda mais séria.
Poderia dar-se o caso de que todas as objeções levantadas na primei- ra questão fossem procedentes e ainda assim, a despeito de todos os erros e vaidades do mundo que lhe fossem inerentes, por força de JUSTIFICATIO FORENSIS, o livro, pelo que nele foi visto e dito (por mim e simultaneamente de forma diferente por outros, independente- mente), tivesse trazido à luz algo que a teologia e a Igreja de nosso tempo precisassem ouvir e por que devessem orientar-se, o que de fato aconteceu amplamente. Em que posição fico, então? E comigo, outra vez, como fica o leitor amigo? Ou que hei de dizer se acaso agora, sem mim e até contra mim houver surgido algo de verdadeiro, justo, neces- sário por cujo avanço, aprofundamento e efetivação sou tido como res- ponsável segundo (para minha consternação, confesso) parece ser o caso? Quando escrevi o livro, na longínqua paz da minha casa paroquial no rincão do Aar, estava animado apenas das intenções de todo escritor zeloso: apresentar um trabalho correto e de valor; não tinha idéia de que a coisa fosse tão longe; que a voz do Apóstolo Paulo, como a ouvi, fosse levantar tão grande eco; que, com este livro, eu fosse dar a tanta gente séria o direito de me apertar no canto com suas perguntas pelas implica- ções, conseqüências, aplicações e até pela simples reiteração do que aqui foi exposto à luz. Como se, para isto, fora eu o homem! O almirante Tirpitz escreve em suas memórias que é fácil içar uma bandeirinha no topo de um mas- tro mas difícil é mantê-la depois com honra. Eu juntaria: é ainda mais difícil mantê-la honrada no alto da haste — mesmo que não se cogite de trazê-la para baixo.
Prefácio do Autor à 5ª Edição