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[ARTIGO] A produção de Sentidos no segundo turno das eleições presidenciais 2014, Teses (TCC) de Comunicação

Artigo científico sobre a cobertura do jornal da globo nas eleições de 2014.

Tipologia: Teses (TCC)

2020

Compartilhado em 27/01/2020

daniel-fitipaldi
daniel-fitipaldi 🇧🇷

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A Produção de Sentidos no Segundo Turno das Eleições Presidenciais 2014 - Análise
de Discurso do Jornal da Globo
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Daniel FITIPALDI
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Nataly QUEIROZ
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Uninassau, Recife, PE
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Resumo
O objetivo deste trabalho é analisar os sentidos produzidos pelo Jornal da Globo na
cobertura do segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Para alcançar o que é
pretendido, o método selecionado foi o da Análise de Discurso de linha francesa (AD). Nas
quinze edições observadas, foram selecionadas 124 Sequências Discursivas (SDs) e
detectadas sete Formações Discursivas (FDs) divididas em três eixos que nortearam a
pesquisa: cobertura do cenário econômico (FD1 - Pior do que antes; FD2 - Pior do que
outros; FD3 - Pior no Futuro); competência do governo (FD4 - Incompetente; FD5 -
Corrupto); imagem dos candidatos (FD6 - Campanha agressiva; FD7 - Bom para o
mercado). Os resultados encontrados indicam que o Jornal da Globo realizou uma cobertura
desfavorável ao atual governo da presidente e candidata a reeleição Dilma Rousseff através
da escolha dos temas das matérias, da participação dos comentaristas e dos comentários de
abertura do apresentador William Waack.
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Palavras-chave: Jornal da Globo; Eleições; Análise de Discurso.
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Introdução
A televisão aberta, mesmo com uma contínua perda de audiência, permanece sendo
o meio de comunicação mais utilizado como fonte de informação pela maioria dos
brasileiros. Em dezembro de 2014, a SECOM (Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República) divulgou a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 , que fala sobre o
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hábito do consumo de mídia da população brasileira. Os resultados revelaram que 95% dos
entrevistados assistem TV; destes, 79% estão em busca de informação. Ou seja, a pesquisa
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Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
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Nordeste realizado de 07 a 09 de julho de 2016.
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Ver em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ! XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Caruaru - PE – 07 a 09/07/

A Produção de Sentidos no Segundo Turno das Eleições Presidenciais 2014 - Análise de Discurso do Jornal da Globo^1

Daniel FITIPALDI^2 Nataly QUEIROZ^3 Uninassau, Recife, PE

Resumo O objetivo deste trabalho é analisar os sentidos produzidos pelo Jornal da Globo na cobertura do segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Para alcançar o que é pretendido, o método selecionado foi o da Análise de Discurso de linha francesa (AD). Nas quinze edições observadas, foram selecionadas 124 Sequências Discursivas (SDs) e detectadas sete Formações Discursivas (FDs) divididas em três eixos que nortearam a pesquisa: cobertura do cenário econômico (FD1 - Pior do que antes; FD2 - Pior do que outros; FD3 - Pior no Futuro); competência do governo (FD4 - Incompetente; FD5 - Corrupto); imagem dos candidatos (FD6 - Campanha agressiva; FD7 - Bom para o mercado). Os resultados encontrados indicam que o Jornal da Globo realizou uma cobertura desfavorável ao atual governo da presidente e candidata a reeleição Dilma Rousseff através da escolha dos temas das matérias, da participação dos comentaristas e dos comentários de abertura do apresentador William Waack.

Palavras-chave : Jornal da Globo; Eleições; Análise de Discurso.

Introdução A televisão aberta, mesmo com uma contínua perda de audiência, permanece sendo o meio de comunicação mais utilizado como fonte de informação pela maioria dos brasileiros. Em dezembro de 2014, a SECOM (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) divulgou a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 4 , que fala sobre o hábito do consumo de mídia da população brasileira. Os resultados revelaram que 95% dos entrevistados assistem TV; destes, 79% estão em busca de informação. Ou seja, a pesquisa (^1) Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 07 a 09 de julho de 2016. 2 3 (^4) Ver em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas- de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf

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mostra a relevância que este veículo tem na formação da opinião de grande parte dos brasileiros, o que implica em um grande poder à quem detém o controle destes meios. O principal conglomerado de empresas do setor de mídia da América Latina é o grupo Organizações Globo, que abriga, dentre outros, a Rede Globo de Televisão, que alcança 98,62% do território brasileiro, cobrindo 5.493 municípios e cerca de 99,53% da população 5. Este trabalho analisa os sentidos produzidos pelo Jornal da Globo na cobertura do segundo turno das eleições presidenciais de 2014, partindo de vários estudos que mostram a tendência da Rede Globo em fazer oposição aos partidos de centro-esquerda e esquerda. O objetivo desta pesquisa, portanto, é observar como esta tendência aparecerá no discurso do telejornal. Os resultados estão baseados na observação de quinze edições do telejornal, que compreendem o período entre o primeiro programa que foi ao ar após o dia da votação do primeiro turno, em 06 de outubro, e o último exibido antes do segundo turno, dia 24 do mesmo mês. Para delimitar o tema, foi feita a seleção das notícias referentes a política e a economia, principais editorias do telejornal e temas que foram centro do debate durante o processo eleitoral. Desta forma, 41 textos, que compreendem matérias, texto de abertura, stand ups , notas cobertas, notas peladas, links ao vivo e interação com os comentaristas, foram selecionados para compor o corpus desta pesquisa.

Metodologia Para tratar de mídia e política é preciso partir do reconhecimento que estamos falando de dois campos de força. Pierre Bourdieu (1997, p.57) define campo como:

“espaço estruturado, um campo de forças - há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade que se exercem no interior desse espaço - que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças”.

Nesse campo, seus agentes acabam incorporando naturalmente suas regras às suas práticas, o que Bourdieu chama de habitus, e lutam simbolicamente para impor a sua definição de mundo social conforme seus interesses, numa relação de poder simbólico, (^5) Dados retirados de: http://comercial2.redeglobo.com.br/atlasdecobertura/Paginas/Totalizador.aspx visitado em: 19/11/

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(ORLANDI, 2001, p.17), a AD se torna um método interessante no processo de identificação da ideologia da qual o jornalista não pode se desvincular. A Análise de Discurso se utiliza de aspectos de três campos de saberes: a Psicanálise, a Linguística e o Marxismo. Ela se conecta com a linguística através de sua afirmação de que a linguagem é opaca, não-transparente, e é passiva ao equívoco; apoia-se na materialidade histórica do marxismo, partindo do conceito de que a língua é material e que, conjugada com a história, produz sentido; e assim como a psicanálise, procura compreender a língua como um acontecimento que afeta um sujeito pela história, deslocando a noção de homem para a de sujeito. Para a AD, portanto, a interpretação não se restringe ao que é dito, ela relaciona a linguagem com sua exterioridade para compreender não o quê, mas como este texto significa. Os caminhos metodológicos que guiam este trabalho passam pelo modelo de análise proposto por Benetti (2010), que, em relação ao discurso jornalístico, sugere como um primeiro passo que se observe a existência de duas camadas: a camada discursiva, que é visível; e a camada ideológica, que torna-se evidente depois que os métodos de análise são aplicados (2010, p.111). A autora, então, propõe uma análise de discurso baseada na identificação das Formações Discursivas (FDs) contidas no objeto destacado. Seguindo o que é proposto por Benetti, foram recortados “arbitrariamente” trechos dos programas, aqui chamados de Sequências Discursivas (SDs). Estas foram numeradas em ordem crescente, seguindo a cronologia do noticiário. As SDs que possuem o mesmo sentido foram agrupadas em Formações Discursivas (FDs), que foram nomeadas evidenciando o seu sentido principal.

Os sentidos produzidos pelo Jornal da Globo no segundo turno das eleições presidenciais de 2014

A escolha em pesquisar a cobertura do Jornal da Globo em um processo eleitoral se deu por suas especificidades, já que o telejornal, que é o último a ser exibido na grade de programação da emissora, tem como principal característica o aprofundamento do que já foi noticiado durante o dia, ou seja, possui um viés crítico e analítico, além de possibilitar maior liberdade editorial aos seus apresentadores e comentaristas.

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A opção por estudar especificamente o segundo turno aconteceu pelo contexto das eleições de 2014, quando, após o fim do primeiro turno as pesquisas de intenção de voto apontavam um empate técnico entre os dois candidatos à presidência. É em situações como essa, dizem Rubem e Colling (2005, p.29), de acirramento na disputa, que “o potencial de interferência da mídia se vê, sem dúvidas, ampliado”. Os temas que nortearam esta pesquisa foram divididos em três eixos: o primeiro diz respeito aos sentidos produzidos através cobertura do cenário econômico (FD1 - Pior do que antes; FD2 - Pior do que outros; FD3 - Pior no futuro); o segundo se refere à produção de sentidos quanto à competência do governo (FD4 - Incompetente; FD5 - Corrupto); e o terceiro observa os sentidos relacionados à imagem dos candidatos a cobertura de suas campanhas eleitorais(FD6 - Campanha agressiva; FD7 - Bom para o mercado). Nas quinze edições do Jornal da Globo foram encontradas 124 Sequências Discursivas, que foram agrupadas de acordo com as Formações Discursivas (FDs) acima citadas. As FDs auxiliaram na identificação das formações ideológicas e na compreensão do estabelecimento de regularidades no funcionamento do discurso, o que permite entender a produção de sentidos no Jornal da Globo.

FD1 - Pior do que antes A FD1 está relacionada a um dos métodos utilizados pelo telejornal analisar o ambiente econômico: o da comparação com o passado, e engloba as reiterações de sentidos que indicam que a economia do país piorou no governo Dilma Rousseff. Ao todo, foram encontradas 24 Sequências Discursivas em que estão presentes os sentidos vinculados à FD1, o que corresponde a 19,35% do total. O sentido de piora já pôde ser percebido no primeiro programa analisado (06/10). A comparação entre a situação econômica nos anos de 2010 (fim do mandato de Lula) e de 2014 (fim do mandato de Dilma) produziram um sentido de perda econômica nos quatro anos de governo Dilma: WILLIAM WAACK - (…) algo parece óbvio : o ambiente econômico de 2014 é pro governo pior do que foi o ambiente econômico em 2010. (SD1, T01)

SARDENBERG - Você veja, em 2010 , que foi aquele ano da recuperação da economia brasileira - no ano todo o país cresceu 7,5% -, no segundo trimestre o país tava crescendo 1,2% e agora tá no negativo , foi a

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incluir no grupo de países que estão abaixo do Brasil, a Argentina e a Venezuela: “dois exemplos perfeitos de irresponsabilidade fiscal, intervencionismo estatal, populacionismo tarifário e inflação alta”. De acordo com Orlandi (2001), para poder enunciar nós necessariamente passamos por dois esquecimentos. Um deles é o esquecimento ideológico, que é da instância do subconsciente e está ligado ao modo como somos afetados pela ideologia: temos a ilusão de ser a origem do que dizemos quando, na realidade, não falamos sozinhos, há sempre uma voz que nos precede. Quando enunciamos, portanto, estamos retomando sentidos que já existiam e os reorganizamos para construir o nosso dizer. Logo, quando Waack atribui as características vistas no enunciado às economias de Argentina e Venezuela, é possível perceber o modo como o seu dizer é afetado por discursos outros que estão inseridos em sua formação ideológica. No discurso econômico, a interferência do Estado na economia é uma característica vinculada à governos de esquerda. Quando relacionamos o que foi dito pelo apresentador com o que lhe é exterior, vemos que os termos utilizados para classificar a economia da Argentina e da Venezuela são um contraponto do que Chomsky (2004) entende como regras básicas do neoliberalismo, pois inflação alta e intervencionismo estatal são opostos da estabilização macroeconômica (fim da inflação) e da liberalização do mercado. Podemos concluir então que a formação discursiva de Waack é atravessada pelo discurso neoliberal, e que, portanto, este faz parte do sua formação ideológica. Ainda analisando o mesmo enunciado, é possível entender as características atribuídas à Argentina e à Venezuela - países que são governados por partidos de esquerda e que mantém boa relação com o Brasil -, como as mesmas que são usadas pela oposição para criticar as posições econômicas do governo brasileiro. O “populismo tarifário”, por exemplo, foi algo bastante utilizado pelos opositores para criticar a política da manutenção nos preços dos combustíveis, considerada por eles uma atitude populista, que seria tomada apenas com objetivos eleitorais.

WILLIAM WAACK - Compilação aí dos novos e últimos números sobre o crescimento da economia mundial e de alguns dos principais países , Sardemberg, nos colocam, infelizmente, na “rabeira” dos PIBs que estão crescendo. (SD64, T19)

SARDENBERG - A grande surpresa pelo lado positivo é a Inglaterra , que exibe um crescimento muito poderoso com seu governo

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conservador de David Cameron , conseguiu se recuperar muito rapidamente da crise e tem aqui um crescimento muito forte.

Como vimos, a interpretação é uma das características mais marcantes do Jornal da Globo. Ao falar que o Brasil está “na rabeira dos PIBs que estão crescendo”, Waack utiliza uma metáfora para facilitar o entendimento do telespectador. Através da observação do funcionamento do discurso é possível apontar que o dizer do apresentador faz um movimento do discurso econômico para discurso futebolístico, aonde o termo “rabeira” equivale aos times que estão nas últimas posições do campeonato; ou seja, leva o discurso econômico para outro lugar, que é o lugar das coisas simples, relacionadas ao cotidiano do homem comum. Voltando a participação do comentarista de economia, observa-se que ao se referir ao “crescimento muito poderoso” da economia britânica, Sardenberg faz uma associação ao “governo conservador de David Cameron”, que “conseguiu se recuperar muito rapidamente da crise e tem aqui um crescimento muito forte”. No campo político, um governo conservador é oposto a um governo de esquerda; e no Brasil, os governos do PT são classificados, principalmente pela oposição e pela imprensa, como de “esquerda”, embora existam controvérsias por causa de medidas econômicas adotadas pelos governos petistas, que são classificadas como neoliberais por setores “mais à esquerda”. Na memória discursiva de um grande grupo de telespectadores, porém, a imagem do PT está vinculada a um governo de esquerda; e quando Sardenberg enuncia relacionando o bom desempenho da economia da Inglaterra ao governo conservador de David Cameron, este grupo de telespectadores que acompanha o noticiário econômico aciona a sua memória discursiva, associando o que foi dito como algo que é oposto ao governo da presidente Dilma Rousseff.

FD3 - Pior no futuro A FD3 reuniu os sentidos de “ruim pro futuro”, “maiores despesas” e “instabilidade”. Esta Formação Discursiva é referente às previsões para a economia, que apareceram em oito oportunidades (6,45% do total) no telejornal através de matérias e da participação do comentarista de economia, Carlos Alberto Sardenberg. No dia 06/10, em um diálogo entre o apresentador William Waack e o comentarista de economia, Carlos Alberto Sardenberg, o sentido de instabilidade aparece em um dado ligado à criação de emprego, um dos trunfos do PT na campanha eleitoral.

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O sentido de descontrole foi encontrado no texto do apresentador William Waack, no início do programa exibido dia 08/10. O tema foi a inflação, que havia fugido do controle do governo e ultrapassado a meta estipulada pelo mesmo.

WILLIAM WAACK - Boa noite. A inflação estourou em Setembro o teto da meta fixada pelo próprio governo. Os números anunciados hoje são os do IPCA, que é considerado o índice oficial de inflação. Não é surpresa para economistas e para quem ignora os discursos oficiais. Sozinho, o índice de inflação já preocupa. Fica pior quando a economia cresce pouco, como ocorre agora. Inflação alta e crescimento baixo, é uma péssima combinação. (SD21, T07)

Todas essas representações corroboram o sentido de que os problemas encontrados, sejam eles relacionados com a falta de infraestrutura ou com a economia, foram causados por incompetência do governo federal.

FD5 - Corrupto A FD5 está relacionada aos sentidos que foram produzidos pela cobertura do Jornal da Globo em relação envolvimento do partido da presidente Dilma Rousseff, o PT, e partidos da base aliada do governo, no escândalo de corrupção da Petrobras. Também teve grande incidência, aparecendo em 38 SDs (30,64% do total). Em março de 2014, a Polícia Federal deflagrou a Operação Lava-Jato. O objetivo era investigar um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. A prisão de doleiros e de funcionários da Petrobras revelaram a existência de uma rede de corrupção que estava ligada à estatal e envolvia partidos políticos e empreiteiras. O sentido de que o PT era um partido corrupto foi visto em uma matéria exibida no dia 08/10.

CHRISTIANE PELAJO - O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff contaram à Justiça Federal que o dinheiro desviado da Petrobras beneficou o PT, o PMDB e o PP na campanha eleitoral de 2010. (SD29, T10)

REPÓRTER - O advogado de Youssef falou sobre os depoimentos de hoje. Disse que tanto o ex-diretor da Petrobras como o doleiro, deram depoimentos muito parecidos. Segundo ele, Paulo Roberto Costa afirmou que o esquema de desvio de dinheiro na Petrobras ajudou a financiar a campanha eleitoral de 2010. Os partidos beneficiados seriam: PT, PMDB e Partido Progressista. (SD32, T10)

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Na fala da apresentadora, é ressaltado que os dois envolvidos no escândalo “contaram” que o dinheiro desviado “beneficiou o PT, o PMDB e o PP”. Neste enunciado, contar equivale a relatar, afirmar; o que passa segurança sobre o que foi dito. O mesmo acontece no texto do repórter, que diz que o advogado do ex-diretor da Petrobras “falou” sobre os depoimentos e que ele “afirmou” que o esquema de desvio de dinheiro ajudou a financiar a campanha eleitoral de 2010. Este sentido de segurança no que é dito pelos dois investigados é visto em uma nova matéria, que foi exibida no dia 09/10.

REPÓRTER - O esquema de desvio e lavagem de dinheiro dentro da Petrobras foi explicado, em detalhes, por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal, e pelo doleiro Alberto Youssef. Os depoimentos mostram que o pagamento de propina era condição para as empresas conseguirem fechar contratos. Diretorias da Petrobras foram fatiadas entre partidos da base aliada ao governo: PP, PMDB e PT […]. O dinheiro do suborno era passado, segundo os depoimentos , para os diretores da Petrobras, políticos e à Youssef. Paulo Roberto Costa e o doleiro citaram três empreiteiras que faziam parte do cartel. Entre elas, a Camargo Corrêa, Oderbrecht, OAS, a Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior. Segundo Paulo Roberto Costa , cada partido recebia um percentual diferente. (SD37, T12)

O esquema “foi explicado, em detalhes”; “os depoimentos mostram”; e as diretorias da Petrobras “foram fatiadas entre partidos”. As três sentenças passam segurança sobre o que foi dito, produzindo o sentido de que o dizer do ex-diretor foi dito daquela maneira e não de outra. Na mesma passagem do repórter, porém, é possível perceber uma mudança quando o assunto passa a ser o envolvimento das empreiteiras. À partir de então, a responsabilidade do que é dito passa ser dos investigados: “segundo Paulo Roberto Costa” e “segundo os depoimentos”, o que produz um efeito de incerteza. Na edição que foi exibida no dia 17/10, o Jornal da Globo noticiou o envolvimento de um político do PSDB no escândalo da Petrobras.

WILLIAM WAACK - O escândalo de corrupção na Petrobras envolve investigação agora nos Estados Unidos, além de acusações feitas pelo ex- diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, de que também um político do PSDB teria recebido propina. (SD85, T27)

À efeito de comparação, é possível perceber que o partido político deixou de ser o agente da ação. Se nas matérias anteriormente citadas apareceu que “todo valor ilegal

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roteiro, pra desconstrução da imagem do candidato tucano. É nesse cenário, de intensa artilharia política , que o Datafolha foi feito. Na pesquisa, Dilma Rousseff, do PT, aparece pela primeira vez, numericamente à frente de Aécio Neves, do PSDB, mas os dois seguem empatados tecnicamente. (SD90, T29)

É possível perceber que vários discursos são utilizados para culpar a agressividade da campanha do PT pelo resultado da pesquisa. O termo “roteiro”, que é retirado do discurso cinematográfico e aparece com o sentido de algo que foi planejado; “artilharia” relaciona as eleições a um campo de batalhas aonde quem ataca é a “campanha petista” e quem é atacado é a “imagem do candidato tucano”. A utilização do termo “desconstrução da imagem” faz o telespectador remeter, através da memória discursiva, aos acontecimentos do final do primeiro turno, quando a campanha do PT foi responsabilizada pela derrota de Marina Silva. O sentido de agressividade, portanto, aparece na FD6 predominantemente relacionado à campanha da presidente Dilma Rousseff. Em apenas uma das 21 sequências discursivas este sentido envolve a campanha de Aécio Neves.

FD7 - Bom para o mercado A Formação Discursiva número 7, que apareceu em seis SDs (4,83% do total), envolve política e economia, e apresenta reiterações de sentidos referentes às reações do mercado financeiro às expectativas geradas em torno do resultado das eleições. Desde o primeiro turno das eleições, a bolsa de valores vinha reagindo aos resultados das pesquisas de intenções de votos: positivamente, quando os candidatos da oposição subiam nas pesquisas e aumentavam as chances de vencer o pleito; e negativamente, quando as pesquisas indicavam o crescimento da presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff. A primeira vez que este sentido apareceu no telejornal foi logo no dia seguinte à votação do primeiro turno. CHRISTIANE PELAJO - No dia seguinte ao primeiro turno das eleições, a reação no mercado financeiro foi de alta na bolsa de valores. (SD09, T02)

Nota-se que os motivos para esta reação não estão dados, apenas relaciona-se “a alta na bolsa de valores” ao “dia seguinte ao primeiro turno das eleições”. Fica então subentendido que há uma relação entre a subida da bolsa de valores e as eleições. Neste

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enunciado, o surpreendente desempenho do candidato de oposição, Aécio Neves, que ultrapassou a candidata Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto apenas na semana da votação, foi silenciado. Através da memória discursiva o telespectador associa este não- dito com o dito, que é a alta na bolsa de valores; o que implica na constatação de que o enunciado produziu um efeito de sentido de que a vitória candidato da oposição é positiva para o mercado financeiro. A associação entre expectativa em torno do resultado das eleições e reação do mercado financeiro apareceu também em uma participação do comentarista de economia, Carlos Alberto Sardenberg.

SARDENBERG - Aqui é a bolsa brasileira (-3,44%) 7 e aqui é a Petrobras (-6,92%). Não tem nada a ver com o ambiente internacional, isso aqui tem a ver exclusivamente com fatores eleitorais brasileiros. (SD96, T11)

Como vimos na descrição da descrição da FD6, no dia 21/10 foi divulgada a pesquisa de intenção de voto que mostrava que a candidata Dilma Rousseff tinha ultrapassado Aécio Neves. O não-dito revela que estes fatores eleitorais se referem à subida da candidata do PT nas pesquisas de intenção de voto.

Considerações Finais Ao analisar as edições que compuseram o corpus desta pesquisa, alguns pontos chamaram a atenção. A parcialidade do telejornal, embora já prevista antes de aplicados os métodos de pesquisa, transpareceu em uma intensidade maior do que o esperado. O reflexo desta parcialidade aparece nos títulos das formações discursivas, que foram nomeadas à partir dos sentidos que mais se destacaram. A formação ideológica que guia o noticiário foi encontrada na FD2. Ao remeter o discurso do apresentador William Waack à sua exterioridade, vimos que ele era uma oposição ao que Noam Chomsky entende como “bases” do neoliberalismo; constatando que o dizer de Waack é atravessado pelo discurso neoliberal. A associação que o comentarista de economia, Carlos Alberto Sardenberg, fez entre bom desempenho econômico e governo (^7) Os dados que aparecem entre parênteses não foram ditos pelo apresentador mas aparecem no gráfico utilizado em sua participação.