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Albert Hofmann - LSD
Tipologia: Notas de estudo
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Existem experiências que a maioria de nós hesita em falar a respeito porque elas não combinam com a realidade cotidiana e desafiam uma explicação racional. Estas não são ocorrências externas particulares, mas sim eventos de nossas vidas interiores que geralmente são refutados como invenções da imaginação e são excluídos da nossa memória. De repente, a visão familiar de nossos ambientes é transformada de um modo estranho, delicioso, ou alarmante: aparece para nós sob uma nova luz, assumindo um significado especial. Tal experiência pode ser rápida como a luz e passageira como uma respiração de ar, ou pode se imprimir profundamente em nossas mentes. Um encantamento deste tipo, que eu experimentei na infância, permaneceu notavelmente vívido desde então na minha memória. Aconteceu numa manhã de maio - eu esqueci o ano - mas ainda posso apontar o lugar exato onde aconteceu, num caminho da floresta em Martinsberg perto de Baden, Suíça. Enquanto eu passeava pelos frescos bosques verdejantes, cheios de canções de pássaros e iluminado pelo sol da manhã, tudo de uma vez e cada coisa apareceu numa incomum luz clara. Isto era algo que eu simplesmente não tinha notado antes? Estava eu descobrindo, de repente, como de fato a floresta da primavera se parece? Brilhava com o esplendor mais bonito, falando ao coração, como se quisesse me cercar de sua majestade. Eu estava repleto de uma indescritível sensação de alegria, identidade, e uma segurança repleta de felicidade. Eu não tenho nenhuma idéia de quanto durou este encantamento. Mas me recordo da preocupação ansiosa que eu sentia enquanto a radiação ia lentamente se dissolvendo e eu nela caminhando: como pôde uma visão, que era tão real e convincente, tão diretamente e profundamente sumir - como pôde terminar tão depressa? E como eu poderia contar para qualquer pessoa sobre isto, como minha alegria transbordante me compelia a fazer, já que eu sabia não haver palavras para descrever o que eu tinha visto? Parecia estranho que eu, uma criança, tinha visto algo tão maravilhoso, algo que os adultos obviamente não percebem - porque eu nunca tinha os ouvido mencionarem algo semelhante. Enquanto eu era uma criança, experimentei vários outros destes momentos de profunda euforia em minhas correrias pela floresta e pelo prado. Estas foram experiências que moldaram os principais esboços de minha visão do mundo e me convenceram da existência de uma realidade milagrosa, poderosa, insondável, que estava oculta da visão cotidiana. Naquele tempo, freqüentemente ficava preocupado desejando saber se algum dia eu iria, como adulto, poder comunicar estas experiências; se eu teria uma chance para descrever minhas visões em poesias ou pinturas. Mas sabendo que eu não tinha o dom para ser um poeta ou artista, assumi que teria de manter estas experiências para mim mesmo, importantes como eram para mim. Inesperadamente, por uma rara casualidade, muito mais recentemente e já na meia idade, um vínculo foi estabelecido entre minha profissão e estas experiências visionárias da infância. Porque eu quis aumentar meu conhecimento sobre a estrutura e essência do assunto, tornei-me um químico de pesquisa. Intrigado pelo mundo das plantas desde cedo na infância, decidi me especializar na pesquisa dos componentes de plantas medicinais. No decorrer desta carreira fui conduzido às substâncias psicoativas e causadoras de alucinação que, sob certas condições, podem evocar estados visionários semelhantes às experiências espontâneas justamente descritas. A mais importante destas substâncias alucinógenas veio a ser conhecida como LSD. Alucinógenos, como combinações ativas de interesse científico considerável, ganharam entrada na pesquisa medicinal, biologia e psiquiatria, e depois - especialmente o LSD - também obtiveram larga difusão na cultura das drogas. Estudando a literatura relacionada com meu trabalho, dei conta do grande significado universal da experiência visionária. Representa um papel dominante não só em misticismo e história da
No reino da observação científica, a sorte só é concedida aos que estão preparados. Louis Pasteur Freqüentemente eu ouço ou leio que o LSD foi descoberto através de um acidente. Isto é verdadeiro somente em parte. Aconteceu que o LSD estava dentro de um programa de pesquisa sistemático e o "acidente" não aconteceu até muito depois: quando o LSD já tinha cinco anos e eu decidi experimentar seus efeitos desconhecidos em meu próprio corpo, ou melhor, na minha própria mente. Olhando para trás na minha carreira profissional para localizar os eventos influentes e decisões que eventualmente guiaram meu trabalho para a síntese do LSD, eu percebo que o passo mais decisivo foi minha escolha de emprego quando concluí meus estudos de química. Se aquela decisão tivesse sido diferente, então esta substância, que se tornou conhecida no mundo todo, poderia nunca ter sido criada. Para contar a história da origem de LSD, então também tenho que mencionar brevemente minha carreira como químico, desde que os dois desenvolvimentos são indissoluvelmente inter-relacionados. Na primavera de 1929, ao concluir meus estudos de química na Universidade de Zurique, eu me juntei ao laboratório de pesquisa químico-farmacêutica da Companhia Sandoz na Basiléia, como colega de trabalho do Professor Arthur Stoll, fundador e diretor do departamento farmacêutico. Eu escolhi esta posição porque me propiciava a oportunidade de trabalhar com produtos naturais, considerando que as duas outras ofertas de trabalho, de firmas químicas da Basiléia, estavam envolvidas com trabalhos no campo da química sintética.
Meu trabalho doutoral em Zurique, sob a responsabilidade do Professor Paul Karrer, já tinha me dado uma chance para prosseguir meu interesse na química vegetal e animal. Fazendo uso de suco gastrintestinal do caracol do vinhedo, eu realizei a degradação enzimática da quitina, o material estrutural do qual as conchas, asas e garras de insetos, crustáceos e outros animais inferiores são compostos. Eu pude derivar a estrutura química da quitina a partir da divisão de um produto, um açúcar contendo nitrogênio, obtido por esta degradação. A quitina mostrou-se ser um análogo da celulose, o material estrutural das plantas. Este importante resultado, obtido depois de somente três meses de pesquisa, conduziu a uma tese doutoral classificada "com distinção". Quando eu me uni a firma Sandoz, o número de pessoas do departamento químico-farmacêutico ainda era bastante modesto. Quatro químicos com graus de doutorados trabalhavam em pesquisa e três na produção. No laboratório do professor Stoll eu achei o emprego que combinava completamente comigo como químico de pesquisa. O objetivo que Professor Stoll tinha estabelecido para o seu laboratório de pesquisa químico-farmacêutica era o de isolar os princípios ativos, isto é, os componentes efetivos de plantas medicinais conhecidas para produzir elementos puros destas substâncias. Isto é particularmente importante no caso de plantas medicinais cujos princípios ativos são instáveis, ou do qual a potência está sujeita a uma grande variação, o que torna difícil uma dosagem exata. Mas, se o princípio ativo está disponível na forma pura, fica possível fabricar um preparado farmacêutico estável, exatamente quantificável através do peso. Pensando nisto, o Professor Stoll havia resolvido estudar substâncias de plantas de valor reconhecido como as substâncias da dedaleira (Digitalis purpurea), cebola do mediterrâneo (Scilla maritima) e cravagem do centeio (Claviceps purpurea ou Secale cornutum) os
quais, por possuírem alta instabilidade e dosagens incertas, tinham sido pouco utilizados em medicamentos. Meus primeiros anos nos laboratórios da Sandoz foram quase que exclusivamente dedicados aos estudos dos princípios ativos da cebola do mediterrâneo [Scilla maritima]. Dr. Walter Kreis, um dos colaboradores mais antigos do Professor Stoll, me envolveu neste campo de pesquisa. Os componentes mais importantes da cebola do mediterrâneo já existiam na pura forma. Os agentes ativos deles, como também os da dedaleira lanosa (Digitalis lanata), tinham sido isolados e purificados principalmente pelo Dr. Kreis, com uma habilidade extraordinária. Os princípios ativos da cebola do mediterrâneo pertencem ao grupo dos glicosídeos cardioativos (glicosídeo = substância contendo açúcar) e servem, como fazem os da dedaleira, no tratamento da insuficiência cardíaca. Os glicosídeos cardiotônicos são substâncias extremamente ativas. Porque as doses terapêuticas e as doses tóxicas são muito próximas, torna-se então especialmente importante ter aqui uma dosagem exata, baseada em combinações puras. No começo de minhas investigações, um preparado farmacêutico com glicosídeos da Scilla já tinha sido introduzido em terapias pela Sandoz, porém a estrutura química destas combinações ativas, com a exceção da porção de açúcar, permanecia altamente desconhecida. Minha contribuição principal para a pesquisa da Scilla, na qual eu participei com entusiasmo, foi elucidar a estrutura química do núcleo comum dos glicosídeos da Scilla e mostrar suas diferenças, por um lado, os glicosídeos da Digitalis e, por outro lado, a relação estrutural íntima deles com os princípios tóxicos isolados de glândulas da pele de sapos. Em 1935 estes estudos foram temporariamente interrompidos. Procurando um novo campo de pesquisa, eu pedi ao Professor Stoll que me deixasse continuar as investigações nos alcalóides da cravagem do centeio (ergot) que ele tinha começado em 1917 e que tinha conduzido diretamente ao isolamento da ergotamina em 1918. A Ergotamina descoberta por Stoll foi o primeiro alcalóide da cravagem do centeio obtido em forma química pura. Embora a ergotamina tenha tomado rapidamente um significativo lugar nas terapias (sob o nome comercial Gynergen) como um remédio hemostático na obstetrícia e como um medicamento no tratamento da enxaqueca, a pesquisa química da cravagem do centeio nos laboratórios da Sandoz ficou relegada ao isolamento da ergotamina e à determinação de sua fórmula empírica. Enquanto isso, no começo dos anos trinta, laboratórios americanos e ingleses tinham começado a determinar a estrutura química dos alcalóides da cravagem do centeio. Eles também tinham descoberto um novo alcalóide da cravagem do centeio, solúvel em água, que poderia ser igualmente isolado da tintura-mãe alcoólica da produção da ergotamina. Assim pensei que era tempo oportuno para que a Sandoz retomasse a pesquisa química dos alcalóides da cravagem do centeio, a menos que quiséssemos arriscar perder nosso papel principal num campo de pesquisa medicinal que já estava se tornando muito importante. O professor Stoll concedeu meu pedido com algumas recomendações: "Tenho que o advertir das dificuldades que você enfrentará trabalhando com alcalóides da cravagem do centeio. Estas substâncias são sumamente sensíveis, facilmente decompostas, menos estáveis do que qualquer uma das combinações que você já investigou no campo dos glicosídeos cardíacos. Mas você é bem-vindo para tentar". E assim os botões foram apertados, eu achei e me ocupei de um campo de estudo que se tornaria a principal meta da minha carreira profissional. Nunca me esqueci da alegria criativa, da antecipação ansiosa que eu senti embarcando no estudo dos alcalóides da cravagem do centeio, naquele momento, um campo relativamente obscuro de pesquisa.
Não foi senão após o reconhecimento da cravagem do centeio por vários farmacopéias durante a primeiro metade do décimo nono século que foram dados os primeiros passos para isolar os princípios ativos da droga. Porém, de todos os investigadores que analisaram este problema durante os primeiros cem anos, nenhum teve sucesso identificando as substâncias atuais responsáveis pela atividade terapêutica. Em 1907 os ingleses G. Barger e F. H. Carr foram os primeiros a isolar da cravagem do centeio uma preparação alcaloidal ativa que eles denominaram ergotoxina porque produzia mais propriedades tóxicas do que propriedades terapêuticas. (Esta preparação não era homogênea, mas, ao contrário, era uma mistura de vários alcalóides como pude demonstrar trinta e cinco anos mais tarde). Não obstante, o farmacólogo H. Dale descobriu que a ergotoxina, além do efeito uterotônico, também tinha uma atividade antagônica na adrenalina, no sistema nervoso autônomo, que poderia conduzir os alcalóides da cravagem do centeio ao uso terapêutico. Só com o isolamento da ergotamina por A. Stoll (como mencionado anteriormente) os alcalóides da cravagem do centeio fizeram entrada e tiveram seu uso difundido em terapias. O início da década de 30 trouxe uma nova era na pesquisa da cravagem do centeio. Começam com a determinação da estrutura química dos alcalóides da cravagem do centeio por laboratórios Americanos e Ingleses, como já mencionado anteriormente. Através da divisão química, W. A. Jacobs e L. C. Craig, ambos do Instituto Rockefeller de Nova Iorque, tiveram sucesso isolando e caracterizando o núcleo comum a todos os alcalóides da cravagem do centeio. Eles denominaram a isto ácido lisérgico. Então veio um desenvolvimento maior, tanto para a química como para medicamentos: o isolamento do específico princípio hemostático uterotônico da cravagem do centeio que foi publicado simultaneamente e independentemente através de quatro instituições, inclusive os laboratórios da Sandoz. A substância, um alcalóide de estrutura comparativamente simples, foi denominada ergobasine (syn. ergometrine, ergonovine) por A. Stoll e E. Burckhardt. Pela degradação química da ergobasine, W. A. Jacobs e L. C. Craig obtiveram ácido lisérgico e a propanolamina amino álcool como produtos desta divisão. Eu fixei como minha primeira meta, o problema de preparar este alcalóide sinteticamente através da junção química dos componentes da ergobasine, ácido lisérgico e propanolamina. O ácido lisérgico necessário para estes estudos teve que ser obtido por divisão química de algum outro alcalóide da cravagem do centeio, de vez que então só a ergotamina estava disponível como um alcalóide puro e já estava sendo produzida em quantidades de quilograma no departamento de produção farmacêutica. Eu escolhi este alcalóide como o material inicial para o meu trabalho e consegui obter 0,5 g de ergotamina das pessoas da produção da cravagem do centeio. Quando eu enviei o formulário de requisição interna ao Professor Stoll para sua assinatura, ele apareceu em meu laboratório e me repreendeu: "Se você quer trabalhar com alcalóides da cravagem do centeio, você terá que se familiarizar com as técnicas de micro-química. Eu não posso ter você consumindo uma tão grande quantidade da minha cara ergotamina nas suas experiências". O departamento de produção da cravagem do centeio, além de usar cravagem do centeio de origem suíça para obter a ergotamina, também tratava cravagem de centeio portuguesa que rendia um preparado alcaloidal amorfo que correspondia primeiro à ergotoxina acima mencionada, produzida por Barger e Carr. Eu decidi usar este material menos caro para a preparação do ácido lisérgico. O alcalóide obtido do departamento de produção teve que ser purificado antes de fosse satisfatório para a divisão a fim de obter o ácido lisérgico. Observações feitas durante o processo de purificação me levaram a pensar que a ergotoxina pudesse ser uma mistura de vários alcalóides, em lugar de um alcalóide homogêneo. Eu falarei depois da seqüela de longo alcance destas observações. Aqui tenho que divagar para descrever brevemente as condições técnicas e de trabalho que prevaleciam naqueles dias. Estas observações podem ser de interesse à presente geração de químicos de pesquisa em indústrias que, de longe, estão acostumados a melhores condições. Nós éramos muito econômicos. Laboratórios individuais eram considerados uma rara extravagância. Durante os primeiros seis anos de meu emprego na Sandoz, eu compartilhei um laboratório com outros colegas. Nós, três químicos mais um assistente cada, trabalhávamos na mesma sala em três campos
diferentes: Dr. Kreiss em glicosídeos cardíacos; Dr. Wiedemann, que se uniu à Sandoz praticamente no mesmo tempo que eu, trabalhava no pigmento da clorofila de folhas; e eu, em última instância, em alcalóides da cravagem do centeio. O laboratório era equipado com duas coifas de fumaça (compartimentos providos com saídas), provendo exaustão insuficiente através de chamas de gases. Quando nós pedimos que essas coifas fossem equipadas com ventiladores, nosso chefe recusou alegando que a ventilação através de chama de gás tinha sido suficiente no laboratório de Willstatter. Durante os últimos anos da Primeira Guerra Mundial, o Professor Stoll tinha sido assistente, em Berlim e Munich, do famoso químico mundial, laureado com Nobel, Professor Richard Willstatter e com ele foram conduzidas as investigações fundamentais da clorofila e a assimilação de dióxido de carbono. Havia escassadamente uma discussão científica com o Professor Stoll na qual ele não mencionava seu venerado Professor Willstatter e seu trabalho no laboratório de Willstatter. As técnicas de trabalho disponíveis aos químicos no campo da química orgânica naquele tempo (começo dos anos trinta) eram essencialmente iguais àquelas empregadas por Justus von Liebig cem anos antes. O desenvolvimento mais importante alcançado desde então foi a introdução da micro- análise por B. Pregl que tornou possível averiguar a composição elementar de um composto com apenas alguns miligramas de amostra, considerando que antes eram precisos alguns centigramas. Das outras técnicas físico-químicas à disposição do químico hoje - técnicas que mudaram seu modo de trabalho, tornando-o mais rápido e mais efetivo, criando completamente novas possibilidades, acima de tudo para a elucidação da estrutura - contudo nada disso existia naqueles dias. Para as investigações dos glicosídeos da Scilla e os primeiros estudos no campo da cravagem do centeio, eu ainda usei a velha separação e técnicas de purificação dos dias de Liebig: extração fracionária, precipitação fracionária, cristalização fracionária, e tal. A introdução da coluna de cromatografia, o primeiro passo importante nas técnicas moderna de laboratório, somente foi de grande valor para mim nas investigações mais recentes. Para a determinação da estrutura, que hoje pode ser obtida rapidamente e elegantemente com a ajuda de métodos espectroscópicos (UV, IR, NMR) e cristalografia por raio-X, nós tivemos que confiar, no primeiro estudo fundamental da cravagem do centeio, completamente nos velhos métodos laboriosos de degradação química e derivatização.
O Ácido lisérgico provou ser uma substância bastante instável e sua recombinação com radicais básicos impunham dificuldades. Na técnica conhecida como Síntese de Curtius, eu finalmente achei um processo que provou ser útil para combinar ácido lisérgico com aminas. Com este método eu produzi um grande número de compostos do ácido lisérgico. Combinando ácido lisérgico com propanolamina amino álcool, obtive uma combinação que era idêntica ao alcalóide natural ergobasine da cravagem do centeio. Com isso, a primeira síntese, quer dizer, a primeira produção artificial de um alcalóide da cravagem do centeio foi realizada. Isto não só foi de interesse científico como a confirmação da estrutura química da ergobasine, mas também de significado prático, porque ergobasine, especificamente o princípio hemostático uterotônico, só está presente na cravagem do centeio em quantidades muito insignificantes. Com esta síntese, agora poderiam ser convertidos outros alcalóides, que existem abundantemente na cravagem do centeio, em ergobasine que era valiosa na obstetrícia. Após este primeiro sucesso no campo da cravagem do centeio, minhas investigações prosseguiram adiante em duas frentes. Primeiro eu tentei melhorar as propriedades farmacológicas da ergobasine por variações de seu radical amino álcool. Meu colega, Dr. J. Peyer, e eu desenvolvemos um processo para a produção econômica da propanolamine e de outros amino álcool. Realmente, por substituição da propanolamine contida na ergobasine com o butanolamine amino álcool, foi obtido um princípio ativo que até mesmo ultrapassou o alcalóide natural em suas propriedades terapêuticas. Isto implicou em que a ergobasine fosse usada mundialmente em aplicação como um remédio hemostático uterotônico
comprimidos. Meus ajudantes naquele momento incluíam um assistente de laboratório, um ajudante de laboratório e mais tarde, em adição, um segundo assistente de laboratório e um técnico químico.
A solução do problema da ergotoxine, descrito brevemente aqui, tinha conduzido a resultados frutíferos e tinha aberto caminhos adicionais de pesquisa, mas eu ainda não podia esquecer o relativamente desinteressante LSD-25. Um pressentimento peculiar, o sentimento de que esta substância pudesse possuir propriedades diferentes das que foram estabelecidas nas primeiras investigações me induziram, cinco anos depois da primeira síntese, a produzir o LSD-25 uma vez mais, na forma de uma amostra que poderia ser dada ao departamento farmacológico para testes adicionais. Isto era bastante incomum; substâncias experimentais, como regra geral, estavam definitivamente fora do programa de pesquisa uma vez determinada a falta de interesses farmacológicos. Não obstante, na primavera de 1943, eu repeti a síntese do LSD-25. Como na primeira síntese, isto envolveu somente a produção de alguns centigramas da combinação. No passo final da síntese, durante a purificação e a cristalização do ácido lisérgico diethylamide na forma de um tartarato (sal de ácido tartárico), eu tive que interromper meu trabalho por causa de sensações incomuns. A seguinte descrição deste incidente vem do relatório que na ocasião enviei ao Professor Stoll: Sexta-feira passada, 16 de abril de 1943, fui forçado a interromper meu trabalho no laboratório, no meio da tarde e retornei a minha casa afetado por uma inquietude notável, combinada com uma leve vertigem. Em casa eu me deitei e afundei numa condição não desagradável de um tipo de intoxicação, caracterizada pela uma imaginação extremamente estimulada. Num estado como que em sonho, com os olhos fechados, eu achei a luz do dia desagradavelmente brilhante, eu percebia um fluxo ininterrupto de quadros fantásticos, formas extraordinárias com um intenso caleidoscópico jogo de cores. Depois de umas duas horas esta condição diminuiu. Isto tudo foi uma experiência completamente notável, tanto no seu súbito aparecimento quanto no seu curso extraordinário. Parecia ter sido o resultado de uma influência tóxica externa; eu imaginei uma conexão com a substância com a qual eu tinha estado trabalhando na ocasião, o tartarato de ácido lisérgico diethylamide. Mas isto conduziu a outra pergunta: como eu tinha conseguido absorver este material? Por causa da conhecida toxicidade das substâncias da cravagem, eu mantinha sempre meticulosamente limpos os uniformes de trabalho. Possivelmente um pouco da solução de LSD tinham entrado em contato com as pontas dos meus dedos durante a cristalização e um traço da substância foi absorvida pela pele. Se o LSD-25 realmente tivesse sido a causa desta experiência estranha, então deveria ser uma substância de potência extraordinária. Parecia haver só um modo de se chegar ao fundo disto. Eu decidi por fazer uma auto-experiência. Exercendo uma precaução extrema, comecei a série de experiências planejada com a menor quantidade que poderia ser esperado que produzisse um pouco de efeito e poderia ser considerada como atividade dos alcalóides da cravagem conhecidos na ocasião: isto é, 0,25 mg (mg = miligrama = um milionésimo de uma grama) de tartarato de ácido lisérgico diethylamide. Abaixo está citado o registro desta experiência no meu diário de laboratório de 19 de abril de 1943.
4/19/43 16:20: 0,5 cc de 1/2 solução aquosa de promil tartarato de diethylamide oralmente = 0,25 mg. de tartarato. Tomado diluído com aproximadamente 10 cc. de água. Insípido.
17:00: Começando uma vertigem, sentimento de ansiedade, de distorções visuais, sintomas de paralisia, desejo de rir. Suplemento de 4/21: Fui para Casa através de bicicleta. Das 18:00 às 20:00 crise mais severa. (Veja relatório especial). Aqui cessam as notas do meu diário de laboratório. Eu só pude escrever as últimas palavras com um grande esforço. Agora já estava claro para mim que o LSD tinha sido a causa da notável experiência da sexta-feira prévia, pelas percepções alteradas que eram do mesmo tipo de antes só que com uma intensidade muito maior. Eu tive que lutar para falar de forma inteligível. Eu pedi para meu assistente de laboratório, que estava ciente da minha auto-experiência, que me acompanhasse até minha casa. Nós fomos de bicicleta, nenhum automóvel estava disponível por causa das restrições de seu uso durante a guerra. Uma vez em casa, minha condição começou a assumir formas ameaçadoras. Tudo em meu campo de visão oscilava e estava distorcido como se visto num espelho torto. Eu também tive a sensação de estar impossibilitado de sair do lugar. Não obstante, meu assistente me falou depois que nós tínhamos viajado muito rapidamente. Felizmente nós chegamos em casa são e salvos e eu fui capaz de pedir para meu companheiro chamar nosso médico de família e mesmo pedir leite aos vizinhos. Apesar da minha condição delirante, confusa, eu tive breves períodos de pensamento claro e efetivo e escolhi leite como um antídoto não específico para o envenenamento. A vertigem e sensação de desmaio às vezes ficavam tão fortes que eu já não podia ficar em pé e tive que me deitar num sofá. Meus ambientes tinham se transformado agora de modo terrificante. Tudo no quarto estava girado ao meu redor e os objetos mais familiares, as peças de mobília assumiam formas grotescas, ameaçadoras. Elas estavam em contínuo movimento, animadas, como se dirigidas por uma inquietude interna. A vizinha, que eu reconheci parcamente, trouxe-me leite e, durante a noite, bebi mais de dois litros. Ela não era mais nenhuma Senhora R., mas sim uma bruxa malévola, insidiosa com uma máscara colorida. Até pior que estas transformações endiabradas do mundo exterior, eram as alterações que eu percebia em mim, em meu próprio ser interno. Todo esforço na minha tentativa para pôr um fim na desintegração do mundo exterior e na dissolução de meu ego, parecia ser um esforço desperdiçado. Um demônio tinha me invadido, tinha tomado posse do meu corpo, mente, e alma. Saltei, gritei e tentei me livrar dele, entretanto afundei novamente e me deitei impotente no sofá. A substância, que eu tinha querido experimentar, tinha me derrotado. Era o demônio que desdenhosamente triunfava sobre minha vontade. Fui tomado pelo terrível medo de ter ficado louco. Eu fui levado para um outro mundo, um outro lugar, um outro tempo. Meu corpo parecia estar sem sensações, inanimado, estranho. Estaria eu morrendo? Esta era a transição? Às vezes eu acreditava que estava fora do meu corpo e então percebia claramente, como um observador externo, a completa tragédia da minha situação. Eu nem mesmo tinha tido a oportunidade de me despedir da minha família (minha esposa, com nossas três crianças, tinha viajado naquele dia para visitar seus pais, em Lucerne). Entenderiam eles que eu não tinha experimentado irrefletidamente, irresponsavelmente, mas com uma precaução bastante extrema e isto era um resultado totalmente imprevisível? Meu medo e desespero se intensificaram, não só porque uma família jovem poderia perder seu pai, mas também porque eu temia ter que deixar meu trabalho de pesquisa química inacabado no meio de um desenvolvimento frutífero, promissor. Outra reflexão que tomou forma foi uma idéia cheia de ironia amarga: se eu fosse forçado a deixar este mundo prematuramente, seria por causa deste ácido lisérgico diethylamide que eu mesmo tinha trazido ao mundo. Antes que o doutor chegasse, o clímax da minha desesperada condição já tinha passado. Meu assistente de laboratório o informou sobre minha auto-experiência porque eu não era ainda capaz de formular uma frase coerente. Ele, perplexo, balançou sua cabeça depois de minhas tentativas para descrever o perigo mortal que ameaçava meu corpo. Ele não pôde descobrir nenhum sintoma anormal diferente das pupilas extremamente dilatadas. Pulso, pressão sanguínea e a respiração estavam totalmente normais. Ele não via nenhuma razão para prescrever qualquer medicamento. Ao invés disso
No próximo dia eu escrevi ao Professor Stoll o relato acima mencionado, informando sobre minha experiência extraordinária com o LSD-25 e enviei uma cópia ao diretor do departamento farmacológico, Professor Rothlin. Como esperado, a primeira reação foi de uma incrédula surpresa. Imediatamente uma chamada telefônica veio da administração; o Professor Stoll perguntou: "Você está certo que não cometeu nenhum engano de julgamento? A dose declarada está realmente correta?" Professor Rothlin também me chamou e fez a mesma pergunta. Eu estava certo deste ponto, porque tinha executado o peso e a dosagem com minhas próprias mãos. Ainda que suas dúvidas fossem até certo ponto justificadas, até então nenhuma substância conhecida tinha exibido o efeito psíquico mais leve até mesmo em doses de fração de um miligrama. Uma combinação ativa de tal potência parecia quase incrível. O Professor Rothlin e dois de seus colegas foram os primeiros a repetir minha experiência, com só um terço da dose que eu tinha utilizado. Mas até mesmo naquele nível, os efeitos ainda foram extremamente impressionantes e bastante fantásticos. Todas as dúvidas sobre as declarações do meu relatório foram eliminadas.
Depois da descoberta de seus efeitos psíquicos extraordinários, a substância LSD-25, que cinco anos antes tinha sido excluída de investigação adicional depois das primeiras experiências com animais, foi readmitida novamente na série de preparações experimentais. A maioria dos estudos fundamentais com animais foi executada pelo Dr. Aurélio Cerletti no departamento farmacológico da Sandoz, coordenado pelo Professor Rothlin. Antes que uma nova substância ativa possa ser investigada em testes clínicos sistemáticos com seres humanos, devem ser determinados extensos dados de seus efeitos e de efeitos colaterais em testes farmacológicos com animais. Estas experiências têm que analisar a assimilação e a eliminação da substância particular nos organismos e, acima de tudo, sua tolerância e relativa toxicidade. Somente os relatos mais importantes em experiências do LSD com animais e aqueles inteligíveis às pessoas leigas serão vistos aqui. Em muito excederia o âmbito deste livro se eu tentasse mencionar todos os resultados das várias centenas de investigações farmacológicas que foram administradas no mundo inteiro em relação ao trabalho fundamental do LSD nos laboratórios da Sandoz. Experiências com animais revelam pouco sobre as alterações mentais causadas pelo LSD porque efeitos psíquicos raramente são determináveis em animais inferiores e até mesmo nos mais altamente desenvolvidos eles só podem ser estabelecidos até uma extensão limitada. O LSD produz seus efeitos, acima de tudo, na esfera das mais altas funções psíquicas e intelectuais. É então compreensível que só podem ser esperadas reações específicas do LSD em animais superiores. Não podem ser estabelecidas mudanças psíquicas sutis em animais porque, mesmo que eles soubessem o que está acontecendo, o animal não pode nos dar a informação. Assim, só perturbações psíquicas relativamente grandes se expressam no comportamento alterado dos animais de pesquisa e se torna discernível. Quantidades substancialmente maiores que as doses efetiva do LSD em seres humanos são então necessárias, até mesmo em animais superiores como gatos, cachorros e macacos. Enquanto o rato sob a influência do LSD só demonstra perturbações motoras e alterações no comportamento de higiene, no gato vemos, além de sintomas vegetativos como eriçar o cabelo (piloerection) e salivação, indicações que apontam para a existência de alucinações. Os animais fitam ansiosamente o ar e, em vez de atacar o rato, o gato deixa-o ir embora ou até mesmo se levantará com medo dele. Uma pessoa também poderia concluir que o comportamento de cachorros que estão sob a influência do LSD envolve alucinações. Uma comunidade enjaulada de chimpanzés reage muito sensivelmente se um membro da tribo recebeu LSD. Embora nenhuma mudança apareça neste único animal, a gaiola inteira entra em alvoroço porque o chimpanzé do LSD já não observa as leis de sua ordem tribal hierárquica finamente coordenada. Do restante das espécies de animais nas quais o LSD foi testado, só os peixes de aquário e aranhas merecem ser mencionados aqui. Nos peixes foram observadas posturas natatórias incomuns e nas aranhas, alterações na construção da teia foram, aparentemente, produzidas através do LSD. Com doses otimizadas em valores muito baixos, as redes tinham até uma melhor proporção e foram construídas mais exatas do que o normal, porém com doses mais altas as redes estavam mal e rudimentarmente feitas.
A toxicidade do LSD foi determinada em várias espécies animais. Um padrão para a toxicidade de uma substância é o LDso, ou a dose letal média, quer dizer, a dose com que 50 por cento dos animais tratados morrem. Em geral flutua amplamente de acordo com a espécie animal. Assim também acontece com o LSD. O LDso para o camundongo é de 50-60 mgtkg i.v. (quer dizer, 50 a 60 milésimos de um grama de LSD por quilograma de peso do animal em injeção de uma solução de LSD nas veias). No rato, o LDso cai para 16,5 mg/kg e em coelhos, para 0,3 mg/kg. Um elefante, ao qual foi dado 0,97 g de LSD, morreu depois de alguns minutos. Foi determinado que o peso deste animal fosse de cerca de 5.000 kg, o que correspondem a uma dose letal de 0,06 mg/kg (0,06 milésimos de
mecanismos psíquicos que provocam a condição inebriante e continuam mesmo na ausência do princípio ativo. O LSD estimula os centros do sistema nervoso simpático no meio do cérebro o que conduz a dilatação das pupilas, ao aumento da temperatura do corpo, e à subida do nível de açúcar no sangue. A atividade uterino-constritora do LSD já foi mencionada. Uma propriedade farmacológica especialmente interessante do LSD, descoberta por J. H. Gaddum na Inglaterra, é seu efeito bloqueador de serotonina. Serotonina é uma substância parecida com hormônio, ocorrendo naturalmente em vários órgãos de animais de sangue quente. Concentrando-se no meio do cérebro, representa um importante papel na propagação de impulsos em certos nervos e então na bioquímica de funções psíquicas. O rompimento do funcionamento natural da serotonina pelo LSD, foi durante algum tempo considerado uma explicação de seus efeitos psíquicos. Todavia foi logo demonstrado que também certos derivados do LSD (compostos no qual a estrutura química do LSD é ligeiramente modificada), que não exibiam nenhuma propriedade alucinógena, inibiam os efeitos da serotonina da mesma maneira forte ou ainda mais fortemente que o LSD inalterado. O efeito bloqueador de serotonina do LSD não é suficiente para explicar suas propriedades alucinógenas. O LSD também influencia funções neurofisiológicas que são conectadas com a dopamina que, como a serotonina, é uma substância parecida com hormônio, ocorrendo naturalmente. A maioria dos centros do cérebro receptivos para a dopamina é ativada pelo LSD, enquanto os outros são deprimidos. Como ainda nós não conhecemos os mecanismos bioquímicos pelos quais o LSD mostra seus efeitos psíquicos, investigações das interações do LSD com fatores do cérebro como a serotonina e a dopamina, porém, são exemplos de como o LSD pode servir como uma ferramenta na pesquisa do cérebro, no estudo dos processos bioquímicos que estão por baixo das funções psíquicas.
Quando um novo tipo de composto ativo é descoberto durante a pesquisa de substâncias química- farmacêuticas, seja pelo isolamento de uma droga de uma planta ou de um órgão animal ou pela produção sintética como no caso do LSD, então o químico tenta, através de alterações na sua estrutura molecular, produzir novas combinações com atividades semelhantes, talvez melhoradas ou com outras propriedades ativas valiosas. Nós chamamos a este processo de uma modificação química do tipo de substância ativa. De aproximadamente 20.000 novos produtos que são produzidos anualmente nos laboratórios de pesquisa de substâncias farmacêutico-químicas do mundo, a maioria esmagadora é de produtos resultantes da modificação da proporcionalidade de poucos componentes ativos. A descoberta de um tipo realmente novo de substância ativa - novo com respeito à estrutura da substância química e do efeito farmacológico - é um raro golpe de sorte. Em seguida a descoberta dos efeitos psíquicos do LSD, foi designada dois outros colaboradores para me ajudar a empreender as modificações químicas do LSD numa base mais ampla e em investigações adicionais no campo dos alcalóides da cravagem. O trabalho na estrutura química dos alcalóides da cravagem do tipo peptídeo, que compreende também o grupo da ergotamina e dos alcalóides da ergotoxina, continuou com o Dr. Theodor Petrzilka. Trabalhando com o Dr. Franz Troxler produzi um grande número de modificações químicas do LSD e tentamos ganhar conhecimentos adicionais na estrutura do ácido lisérgico para o qual os investigadores americanos já tinham proposto uma fórmula estrutural. Em 1949 nós tivemos sucesso corrigindo esta fórmula e especificando a estrutura deste núcleo válida para todos os alcalóides da cravagem, e claro, incluindo o LSD. As investigações dos alcalóides peptídeos da cravagem conduziram às fórmulas estruturais completas destas substâncias as quais publicamos em 1951. Sua exatidão foi confirmada pela síntese total da ergotamina que foi realizada dez anos depois em colaboração com dois colaboradores mais jovens: Dr. Albert J. Frey e Dr. Hans Ott. Outro colaborador, Dr. Paul A. Stadler, foi, em grande parte, o responsável pelo desenvolvimento desta síntese num processo praticável em escala industrial. A produção sintética de alcalóides peptídeos da cravagem que usam ácido lisérgico obtido de culturas especiais do fungo da cravagem em tanques tem grande importância econômica. Este procedimento é usado para produzir a matéria prima para os medicamentos Hydergine e Dihydergot. Então nós retornamos às modificações químicas do LSD. Desde 1945 foram produzidos muitos derivados do LSD em colaboração com o Dr. Troxler, mas nenhum provou ser mais alucinogenicamente ativo do que o LSD. Realmente, os parentes muito mais próximos se provaram essencialmente menos ativo neste respeito. Há quatro possibilidades diferentes de arranjo espacial dos átomos na molécula do LSD. Eles são diferenciados em linguagem técnica pelo prefixo iso e as letras D e L. Além do LSD que é mais corretamente designado como ácido D-lisérgico diethylamide que eu também produzi e igualmente testei em auto-experiência, as três outras formas espaciais diferentes, isto é ácido D-isolisérgico dietilamida (iso-LSD), ácido L-lisérgico dietilamida (L-LSD), e ácido L-isolisérgico dietilamida (L- iso-LSD). As últimas três formas de LSD não mostraram nenhum efeito psíquico até uma dose de 0, mg, que corresponde a 20 vezes a quantidade de uma dose de LSD distintamente ativa. Uma substância bastante relacionada ao LSD, o ácido lisérgico monoetilamido (LAE-23), no qual um grupo etil é substituído por um átomo de hidrogênio no resíduo dietilamido de LSD, provou ser cerca de dez vezes menos psicoativo que o LSD. O efeito alucinógeno desta substância também é qualitativamente diferente: é caracterizado por um componente narcótico. Este efeito narcótico ainda é mais pronunciado no amido ácido lisérgico (LA-111) no qual ambos os grupos etil do LSD foram deslocados através de átomos de hidrogênio. Estes efeitos, que estabeleci em comparativos nas auto- experiências com o LA-111 e LAE-32, foram confirmados através de investigações clínicas subseqüentes.
Logo depois que o LSD foi experimentado em animais, foi feita a primeira investigação sistemática da substância em seres humanos, na clínica psiquiátrica da Universidade de Zurique. Werner A. Stoll, M.D. (filho do Professor Arthur Stoll), conduziu esta pesquisa e publicou seus resultados em 1947 no "Schweizer Archiv und fur Neurologie und Psychiatrie", sob o título "Lysergsaure-diathylamid, ein Phantastikum aus der Mutterkorngruppe" [ácido lisérgico diethylamide, um fantástico do grupo da cravagem]. Os testes envolveram objetos de pesquisa saudáveis e também pacientes esquizofrênicos. A dosagem, substancialmente abaixo da minha primeira auto-experiência que foi feita com 0,25 mg tartarato de LSD, importou só de 0,02 a 0,13 mg. O estado emocional durante a inebriação do LSD foi aqui predominantemente eufórico, considerando que em minha experiência o humor estava marcado por efeitos colaterais sérios que são resultados de overdose e, claro que, do medo de um resultado incerto. Esta publicação fundamental, que deu uma descrição científica de todas as características básicas da inebriação do LSD, classificou o novo princípio ativo como um fantástico. Porém a questão da aplicação terapêutica do LSD permaneceu sem resposta. Por outro lado, o relatório enfatizou a atividade extraordinariamente alta do LSD, que corresponde à atividade motivada por traços de substâncias [N.T. quantidades ínfimas] que ocorrem naturalmente no organismo e que são com certeza consideradas como responsáveis pelas desordens mentais. Outro assunto discutido nesta primeira publicação foi a possível aplicação do LSD como uma ferramenta de pesquisa na psiquiatria devido a sua tremenda atividade psíquica.
No seu artigo, W. A. Stoll também deu uma descrição detalhada da sua própria experiência com o LSD. Desde que esta foi a primeira auto-experiência publicada por um psiquiatra e que também descreve muitas características específicas da inebriação do LSD, é interessante citar extensivamente este relatório. Eu agradeço calorosamente o autor pela amável permissão para republicar este extrato. Às 8 horas tomei 60 mcg (0,06 miligramas) de LSD. Uns 20 minutos mais tarde, apareceram os primeiros sintomas: peso nos membros, sintomas de ataques leves (i.e., confusos, sem coordenação). Seguiu-se uma fase subjetivamente muito desagradável de males generalizados em paralelo com a queda da pressão sanguínea registrada pelos examinadores. Uma certa euforia então começou, entretanto me pareceu mais fraca do que a que eu experimentara numa vez anterior. A ataxia aumentou e eu comecei a "navegar" ao redor do quarto a largos passos. Eu me sentia um pouco melhor, mas ficava contente em permanecer deitado. Posteriormente o quarto foi escurecido (experiência escura); seguiu-se uma experiência sem precedentes, de uma intensidade inimaginável, que continuou aumentando em força. Isto foi caracterizado por uma profusão incrível de alucinações ópticas que apareciam e desapareciam com grande velocidade, constituindo incontáveis novas imagens. Eu vi uma profusão de círculos, vórtices, faíscas, chuveiros, cruzes e espirais em constante e contínuo fluxo. As imagens pareciam fluir em mim predominantemente do centro do campo visual ou da mais baixa extremidade esquerda. Quando um quadro aparecia no meio, o restante do campo de visão estava simultaneamente cheio com um grande número de visões semelhantes. Tudo era colorido: brilhante, vermelho luminoso, amarelo e verde predominaram.
Eu nunca consegui me demorar em qualquer quadro. Quando o supervisor da experiência enfatizou minhas grandes fantasias, a riqueza de minhas declarações, só pude reagir com um simpático sorriso. De fato, eu sabia que não podia reter, muito menos descrever, mais que uma fração dos quadros. Tinha que me esforçar para dar uma descrição. Condições como "fogos de artifício" ou "caleidoscópio" eram pobres e inadequadas. Eu sentia que tinha que submergir cada vez mais profundamente neste mundo estranho e fascinante para permitir que sua exuberância, sua riqueza inimaginável, trabalhassem em mim. No princípio, as alucinações eram elementares: raios, feixes de raios, anéis, vórtices, laçadas, sprays, nuvens, etc. Então visões altamente organizadas também apareceram: arcos, filas de arcos, um mar de telhados, paisagens de deserto, terraços, fogos bruxelantes, céus estrelados de um esplendor incrível. As imagens originais, mais simples, continuavam no meio destas alucinações altamente organizadas. Eu me lembro particularmente das seguintes imagens: Uma sucessão de construções muito altas, abóbodas góticas, um coro infinito do qual eu não podia ver as partes mais baixas. Uma paisagem de arranha-céus, quadros rememorativos da entrada para um porto de Nova Iorque; prédios cambaleavam uns atrás e ao lado de outros com inumeráveis filas de janelas. Novamente faltavam as fundações. Um sistema de mastros e cordas que me fizeram lembrar da reprodução de uma pintura vista no dia anterior (dentro de uma barraca de circo). Um céu do anoitecer de um inimaginável azul pálido sobre os telhados escuros de uma cidade espanhola. Eu tive um peculiar sentimento de antecipação, estava cheio de alegria e decididamente pronto para aventura. Todas de uma vez, as estrelas chamejaram, acumularam- se e viraram uma densa chuva de estrelas e faíscas que fluía para mim. A cidade e o céu tinham desaparecido. Eu estava num jardim, via um vermelho brilhante, amarelo, e luzes verdes caindo num trabalho escuro de treliça, uma indescritível e encantadora experiência. Era significante que todas as imagens consistiam em incontáveis repetições dos mesmos elementos: muitas faíscas, muitos círculos, muitos arcos, muitas janelas, muitos fogos, etc. eu nunca via imagens isoladas, mas sempre duplicações da mesma imagem, que eternamente se repetia. Eu me sentia unificado com todos os romanticistas e sonhadores, com os pensamentos de E. T. A. Hoffmann, vi o turbilhão de Poe (embora na ocasião que eu li Poe, sua descrição me pareceu exagerada). Freqüentemente eu parecia me levantar ao pináculo da experiência artística; eu luxuriava nas cores do altar de Isenheim e conheci a euforia e a exultação de uma visão artística. Também devo ter falado novamente e novamente de arte moderna; eu pensava em quadros abstratos e parecia entender tudo de uma vez. Então novamente, havia impressões de uma pobreza extrema, tanto nas suas formas quanto nas suas combinações de cor. Os mais vulgares ornamentos de luminária modernos e baratos e travesseiros de sofá entraram na minha mente. O ritmo do pensamento ficou acelerado. Mas eu tinha a sensação que o supervisor da experiência ainda poderia manter meu ritmo. Claro que eu sabia intelectualmente que eu o estava apressando. No princípio eu tinha as descrições rapidamente sob controle. Com o ritmo crescendo freneticamente, ficou impossível refletir um pensamento até seu fim. Eu devo ter apenas só começado muitas frases. Quando eu tentei me restringir a assuntos específicos, a experiência se revelou mais um fracasso. Minha mente enfocava até mesmo, num certo sentido, imagens contraditórias: arranha-céus em vez de uma igreja, um grande deserto em vez de uma montanha.