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Guias e Dicas
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adorno - engagement, Notas de estudo de Literatura

In ADORNO, Theodor. Notas de Literatura. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991

Tipologia: Notas de estudo

2015
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Compartilhado em 19/04/2015

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já no primeiro dia é tema de seminários em que inevitavelmente morre. O climax ameaçador da antítese adverte quão dúbio se apresenta o problema da arte hoje em dia. Cada uma das duas alternativas nega, ao negar a outra, também a si própria: a arte engajada porque, como arte necessariamente distinta da rea- lidade abole essa distinção; a da arte pela arte porque, pela sua absolutização, nega também aquele relacionamento irrecorrível para com a realidade, que no processo dinâmico de sua indepen- dentização do real, entende-se como seu a priori polêmico. Entre os dois polos dilui-se a tensão de que a arte tem vivido até as mais novas eras. O2 A dúvida da onipotência da alternativa, entretanto, é des- pertada pela própria literatura contemporânea. E esta ainda não está tão totalmente subjugada pelo giro da vida que tivesse que se lançar ao “fronte”, Os bodes de Sartre, os carneiros de Va- léry, não se podem separar. 1 ment desses, mesmo quando politico, permanece politicamente multi-significativo, enquanto não se reduza a propaganda, cuja configuração com- placente escarnece todo engajamento do sujeito. O oposto porém, que no index soviético vem relacionado como formalismo, não é contestado apenas pelos administradores públicos de lá, e nem pelo existencialismo libertário: falta de ira, de agressividade social, são críticas comuns aos chamados textos abstratos feitas Ea ve por alguns “avançados”. [ Ao contrário, pelo quadro. Sartre nutre a maior admiração; em música e pintura sado facilmente de simpatias formalistas) Seu o de cugagement ele reserva à literatura, por sua essência : “o escritor... lida com significações”! Certo, mas amente. N. alavra que. é inserida numa obra ci pletamente das significações que pos- vo mbém em obra alguma, nem iona a significação conserva inal- a palavra ti ora do texto Já o sim- latório de algo que não foi, ganha "a pelo fato de não ter sido. Isso c E uni çãos de uma com- lu como sua idéia, literatura terá que v < od =! on rgo, 1960, p. 10. TES OL VAR AD ou que encontram no he é peculiar e que atitude ostensiva a heza é muito emoções que se descontrolam com Isso, inconsciente do preso à autoridade algo que 1 este de modo um se confessa. Com essa tudo que é estranho ou que venha a causar estran mu! mais compatível o realismo literário de qualquer procedência, quer se co ye ele mesmo crítico ou socialista, do que obras que, sem se fazerem jurar a demagogias políticas, por sua sim- ples presença põem fora de ação o sistema de coordenadas rígido do preso a autoridades, em que aquelas outras formações se fixam tão mais encarniçadamente quanto menos clas são capa- zes da experiência viva de um não-iniciado. O desejo de destruir Brecht da jogada ajusta-se a uma camada relativamente exterior da consciência política; além disso não foi tão violento, senão se teria manifestado depois de 13 de agosto* muito mais crasso. Onde por outro lado o contrato social com a realidade é desfeito, as obras literárias não mais falando como se noticiassem um real, os cabelos arrepiam-se. Não é das menores falhas das discussões sobre “engajamento” que ele nada reflita sobre o efeito desempenhado por obras cuja própria lei formal não leva em consideração os contextos de atuação. Enquanto não se confunde o que é comunicado no embate com o incompreensivel, toda luta se assemelha a uma luta de sombras. Perplexidades no julgamento do problema não o modificam, mas provocam a reilexão da alternativa. 03 Teoricamente ter-se-ia que distinguir « ngajamento) de ten- d smo) A arte engajada no seu sentido conciso não intenta instituir medidas, atos legislativos, cerimônias práticas, como antigas obras tendenciosas contra a sífilis, o duelo, o parágrafo do aborto, ou as casas de educação correcional, mas esiorça-se por uma atitude: Sartre, por exemplo, pela decisão, como con- lição do existir frente à neutralidade espectadora. À inovação 2 do engajamento, porém, frente ao veredicto tendencioso m favor do qual.o artista se engaja, plurissig- o. À categoria da decisão, : originariamente — acresce-se em Sartre da herança cristã comigo, está contra mim, porém sem o con- co. Remanescente dele é apenas a opção recomendada, indiferente a que a “1956 agrava-se o estado EEE ú cia-noite de 14, em Berlim. Pp p tou dd Ap ERP) FP (SYEM Ê dele, sem dúvida alguma contra sua vontade integra, rig : para a indústria cultural. O alto nível de é 2 EA peças-tese permitiu-lhe levar alguns de seus me hores gr: ag 5, a o filme “Les jeux Sont Fail” ou o drama Les Mains eis E a desempenhar um papel proeminente na política e não apenas À entre as vitimas obscuras : de modo semelhante, porém, a ideolo- gia corrente, odiada por Sartre, confunde ação € sofrimento das “ revistas-em-quadrinhos com o caráter objetivo da história. fica tecido no véu da personalização que homens dirigentes decidem, e não a maquinária anônima, e que nos comandos sociais há vida; os à-boca-da-morte em Beckett divulgam então a palavra oficial. O ponto de partida de Sartre impede-o de reconhecer o inferno, contra o qual se revolta. Muitos de seus slogans po- deriam tornar-se os chavões de seus inimigos mortais. Que sê trata em si de decisão, seria equiparável até mesmo ao “somente a vitima nos liberta” do nacional-socialismo; no fascismo da Itália, o dinamismo absoluto de Gentile também profetiza algo semelhante filosoficamente. A fraqueza na concepção do enga- jamento acomete justamente no a-favor-de-que Sartre se engaja. 3 A Brecht também, que em algumas peças como a dramatização de “Mãe”, de Gorki ou a “Medida”, endeuza diretamente “partido”, queria às vezes, pelo menos segundo suas obras teó- ricas, (des)educar para uma atitude distanciada, intelectiva, experimental, para 9 oposto da ilusionista de sentimentalização e identificação. No pendor para abstração, sua obra draruatica “Johanna” triunfa consideravelmente sobre Sartre. Só que onsequentemente que o último e que o artista maior, mesma à sua lei formal, à lei de uma poesia didática onceitó tradicional de pessoa dramática. Ele soube perfície da vida social, a esfera de consumo ] ações do individuo motivadas a sociedade. Como lei de desconfia da individuali- ideologia. Por isso ele quer fazer -Comportar-se como uma apa- disfarces para a tona. Os amente, sem se aperceberem. tula mais, como Sartre, e a essência social, ou Ei Piel, “4 — do cs a do o do Di mesmo: a soberania absoluta do sujeito. Mas O processo de redução estética, que ele expõe por amor da verdade política, desmente-a frontalmente. A verdade política requer mediações inumeráveis que ele despreza. O que se legitima artisticamente como. infantilismo alienante — as primeiras peças de Brecht “ faziam companhia ao Dadá — torna-se infantilidade, assim que pretende validez teórico-social. Brecht queria captar na imagem o ser-em-si do capitalismo; nesse sentido essa sua intenção era de fato realista — como ele a. camuflou con tra 0. ista, Ele teria recusado citar aquela essência ao mesmo tempo pálida e cega, sem significação por sua mani- festação da vida avariada. Isso porém o cumulou com a responsabilidade da integridade teórica do que inequivocamente intencionava, de que, no quanto sua arte desdenha o quid pro quo, ela, que se pretende doutrina, esteja ao mesmo tempo dispensada do compromisso que doutrina, a bem de sua forma estética. Que'quer critica a ele não pode silenciar que — por razões objetiv:s para além da suficiência do que configurou — ele nunca satisfez a norma que tinha erigido para si, como se ela fosse uma salvação. 4 Santa Joana dos Pátios de Batalha (CDie heiligo “ohanna der SchlachThôfe) foi a concepção central de seu teatro dialético; O Bom Homem de Sezuan (Der gute Mensch von Sezvan”) é uma outra variação com a conversão de que, como Johanna através da imediatez da bondade ajuda o mal, tanibém quem quer o bem tem que se fazer mau, A E=a ne E=a = = E" em es no => n” od bang-i ” do capitalismo de Mahagonny* e a informação eco- anto mais intimamente Brecht então se envolve com quanto menos ele tem em mira uma “imagerie”. tanto “e quanto à essência do capitalismo, a que a pará- reiere, Eventos da esfera da circulação econômica os “A apertam-se mutuamente os pescoços, à lugar da apropriação da mais valia rente à qual as a dos grandes a Pa do seo poE?, ão na espoliação são epifenômenos que Sar a grande crise; e os eventos eco- ludt Mahagonny (Ascensão e q d Brecht (1928/29) musicada a Teu Et Edo de cunho culinário, peça desenrola-se numa Chicago que medeia entre a lenda- . RE ESSE A MG E DA A Siisa de verdureiros, onde se trata ao contrário de posições chaves da economia, o ataque malogra-se. Também o Grande Ditador perde a força satírica e peca na cena em que uma judia o seguidamente com uma caçarola na cabeça de soldados da S-A*, sem ser reduzida a pedaços. Em favor do engagement político, dá-se pouco peso à realidade política: isso reduz também q efeito palítico. A dúvida sincera de Sartre sobre se o quadro Guernica “arrecadou para a causa espanhola um lugar único ; adapta-se também à peça dialética brechtiana. A “fobula docet daí retirade — de que no mundo reina injustiça — quase não se precisa ei sinar; a teoria dialética, em favor da qual Brecht se confessou sumariamente, deixou aí poucos. vestígios. A natu- reza da peça didática faz lembrar o dito americano “preaching to the saved”, orar por aqueles que por si já estão salvos. Em iade, o primado da doutrinação sobre a forma pura, advo- gado por Drecht, torna-se o próprio aspecto formal. Ão ser abolida, ela (a forma) se volta contra seu caráter ilusório. ítica é paralela à objetividade no reino da arte visual A correção da forma, condicionada por fora, 'os enfeites a bem da funcionalidade, aumenta a Essa a substância da criação poética de Brecht: a | 2 como principio artístico. Seu meio, o distancia- no de eventos diretamente aperentes, é pois, antes um meio de constituição formal, do que uma colaboração para a atuação prática. E Brecht não falou dessa atuação com tanta descrença como Sartre. Mas, inteligente e experimentado, dificilmente estava totalmente convencido dela; soberano, escreveu certa vez que quando ele não se ilude, para ele é o teatro que é mesmo mais importante do que aquela transformação do mundo, a que nele (Brecht) diz servir. Pelo princípio artístico da sim- plificação, porém, não se purifica apenas a verdadeira política pseudo-diferenciações no reflexo subjetivo do social ctivo, como ele entendia. Mas fica falsificado justa- nte aquele objetivo, por cuja destilação a peça didática se - Se se toma Brecht ao pé da letra: se se faz d ti Seu tcatro.engajado, este se. patenteia politicamente ce Hege ênci cn no q m tão uma apresentação da essência que ng a de assalto) do 3.º Reich, sob o a a [D) dean ve ste Va [$a bp a. | ] ] Names ignore sua relação com a aparência é em si também tão falsa como a substituição dos homens-que-estão-por-t ascismo pelo proletariado em andrajos. A técnica de Brecht da redução só seria coerente no circulo da Vart pour Part, o qual sua versão do engajamento condena, como ele ao Lukullus. 05 Na Alemanha literária de hoje, costuma-se separar O pocta-Brecht do político. Quer-se salvaguardar para o Ocidente a figura importante, se possível colocá-lo no pedestal de uma Alemanha unificada, e com isso, au-dessus de la mélée, neutra- lizá-lo. Certamente é correto que a força poética de Brecht como também sua inteligência arguta e indomável ultrapassaram “o credo oficial e a estética subjugada dos democratas-do-povo. Do mesmo modo ter-se-ia que defender Brecht de sua defesa. Sua obra não teri »-com suas fraquezas hoje apontadas, .tal força, se não fosse embebida da política. Isso produz, mesmo nos produtos mais problemáticos como a Medida, a consciência de que se trata de algo muito sério. Com isso ele satisfez sua pretensão de através do teatro ocasionar a reflexão. Dehalde. separar as belezas existentes ou fictícias de sua obra; da inten- são política, Uma critica imanente, a única dialética, tem que sintetizar a questão da plausibilidade do todo formado com a de sua politica. Com muita razão diz Sartre em seu ensaio “por que escrever?”: “ninguém deveria crer um momento sequer”: poderia escrever um bom romance em louvor do anti- “mesmo quando antes eram subvencionados, quando matar Sinowjev e Bucharin. A inverdade política guração estética. Onde, em favor do tema a ser blemática social que Brecht reflexiona em seu “des-torcida, o drama se desmorona em seu ' de fundamentação, A Mãe Coragem é uma que quer levar ao absurdo a asserção a guerra alimenta a guerra. A vendedora uerra para manter seus filhos tem Justamente por isso. Mas na on opus cit. p. 41. ) gênio militar italiano a ser-. 1 de marechal de campanha y RE digerir melhor, € esganiça-se. Já a masculinidade pubertária (o rouca do jovem Brecht traj uma coragem emprestada de inte- Jectual que desesperado pela força simplesmente passa-se à praxis forçada, que ele tem toda a razão de temer. O rugido selvagem da Medida abafa a desgraça que acometeu o fato e que ele queria propagar inflexivelmente como graça. Mesmo a melhor É Nr : linguagem denuncia a quanto. se distanciam o. sujeito poético e-a-sua mensagem. Para contornar essa defasagem, ela afeta a linguagem do subjugado. Mas a doutrina que ela propagande'a exige a linguagem do intelectual. Sua despretensão e simpli- cidade é ficção. Ela se trai tanto através de sinais de exagero como através da recorrência estilizante a caracteres de expr-s- são antiquados e provincianos. Não raro ela se torna familiar. H Ouvidos que não se deixam roubar a própria capacidade de a diferenciação têm que ouvir que se quer enganá-los com con- ! versa mole. É usurpação e como que ironia para com as vitimas falar com elas como se fosse realmente uma delas. É permitido aorta cit Sagas far pi PRETENDO a É fazer-se qualquer papel, menos o do proletário. O que mais... k pesa contra O engajamento é) que mesmo à intenção correta CN CESie,: H falseia quando é percebida e mais ainda quando justo por essa Rs Se ê razão ela se mascara. No Brecht tardio, a ficção do velho pala camponês saturado de vivência épica como (do) sujeito poético j chega assim no “Gestus”* lingúístico da sabedoria. Nenhum E) homem em nenhum país do mundo é hoje ainda capaz dessa : experiência do camponês sul-alemão; o tom cauteloso “by que? ma meio de propaganda política, que deve fingir que lá o exército vermelho tomou uma vez O poder é que a certo. Como realmente não existe nada em que aquela se possa ancorar, humanidade que entretanto é o realizada, o tom de Brecht se faz eco de relações as, que estão inapelavelmente desaparecidas. O , a muito afastado da humanidade oficial. Í jornalísticas poderia bem louvar o i “como o salmo da maternidade; e , “coração quando a empregada exu- : nplo à patroa acamada com : Da amente planejados virtuosos como à Magis : gende von der Enistehung des Buches Taoteking auf den Weg « dos Laotse in die Emigration” são turvados pela teatralidade de total: despretensão. O que seus clássicos ainda denunciaram "como parvoice da vida campestre, a consciência mutilada de . Eamintos e subjugados, torna-se para ele, como um filósofo da ontologia existencial, a velha grande verdade. Sua obra completa é um esforço de Sisilo para equilibrar alguma vez seu gosto cultivado e diferenciado com as exigências heteronômicas tolas que ele tomou a si desesperadamente,x Ot Eu “não procuraria. desculpar a frase: escrever-se lírica depois de Ausselyitz. é barbaro; aí está negativamente. confes-. sado o impulso que anima a poesia engajada. A pergunta de aleuém em “Morts sans Sepultures”: há sentido viver quando existem homens que batem até que os ossos se quebram nc corpo, é ao mesmo tempo a pergunta se a arte em suma ainda pode existir, se uma regressão do intelecto no conceito de lite- ratura engajada não é sujeitada pela regressão da sociedade mesma. Mas também continua válida a aproximação contrária de Enzensberger: a poesia precisa resistir a esse veredicto; ser portanto de tal modo que não tome a si pela sua simples exis- tência depois de Ausschwitz, o cinismo. Sua própria situação já é paradoxal; e não apenas o modo de comportamento frente a ela. O excesso de sofrimento real não permite esquecimento ; a palavra teológica de Pascal “on nc doit plus dormir” deve-se secularizar. Mas aquele soírimento, segund: g jên- cia de misérias, requer também a permanência da arte que proíbe. Não há quase outro lugar em que o sofrimento encontre a EC g época seguiram-no. O radicalismo e concessões de suas obras, justamente as pros- critas por formalistas, empresta- se re de poesias e and à o dias sine O sivente de Warsdu Rê às vitimas. Mas obrevivente de Warschau fica aprisionado: na apo- configuração autônoma da heteronomia que se e entrega sem reservas. Há uma dor que se Schônberg. E não é absolutamente aqui- to, porque não permite reprimir o que preço. Mas ao ser feita imagem crueza e incompatibilidade, é como Mesmo poemas tão alt RRRRRRRED) Ml y e RR SERES culpa. Ninguém sená: re reconheceu « o relacionamento entre aau mia da obra e um querer, que não é imprimido à + bra, ias que é seu próprio gestus frente à realidade, “A obra de arte”, escreveu ele, “não tem objetivo alg - mas com ant, Ela é, porém um objetivo, A formulação kan- tiana ignora o apelo que fala de cada quadro, de cada estátua, de cada livro”S, A isso ter-se-ja apenas que acrescentar que esse apelo não está em nenhuma relação intacta com o engajamento temático da poesia. A autonomia brutal das obras, que se furta à “submissão ao mercado e ao consumo, torna-se involuntaria- mente um ataque. Este porém não é abstrato, não é um com- portamento invariável de todas as obras de arte para com O mundo que não lhes perdoa não se adaptarem totalmente a ele. O distanciamento das obras para com a realidade empírica é antes ao mesmo tempo intermediado por esta. A imaginação do artista não é nenhuma creatio ex nihilo; apenas diletantes e sutis imaginam-na assim. Ao oporem-se à empiria, as obras de arte estão a obedecer às forças dessa empiria, que ao mesmo tempo renegam o espiritual da obra, deixam-no ao dispor de si mesmo. Não há um conteúdo objetivo, nem uma categoria formal da poesia, por mais irreconhecivelmente transformado e às escon- “aidas de si mesmo, que não proceda da realidade empírica a que se furta. Com isso e com o reagrupamento dos diferentes aspectos graças a suas leis formais, a poesia condiciona seu comportamento para com a realidade, Mesmo a abstração van- gua “frente à qual o burguês se desarma, e que não tem nada em comum com a conceitual e mental, é o reflexo sobre a abstração da lei, que impera objetivamente na sociedade. Isso poderia ser mostrado nas composições de [Beckett] Elas gozam da única fama hoje digna do homem: todos se horrorizam com elas, e no entanto ninguém pode negar que as peças e romances excêntricos tratam daquilo que todos sabem, e sobre que nin- guém quer falar. Sua obra como esboço antropológico pode agradar a apologetas filósofos. Mas está a serviço de problemas secaram-se as lágrimas, olham mudos de suas frases. ue propalam, e sob o qual vivem presos, desfaz-se ao espelhar-se neles. À mínima promessa de felicidade aí, que não se vende a nenhuma consolação, não se pôde conseguir a preço mais baixo que O da perfeita inter-articulação até a tridade. Todo engajamento em favor do mundo deve dar sc: aviso prévio, para que se faça justiça à idéia de uma obra de arte engajada, ao distanciamento polêmico que o teórico Brecht pensou, e que praticou tanto menos quanto mais se inscreveu na causa humana. Esse paradoxo, que provoca o protesto dos sutis, apóia-se sem mais filosofia, na mais simples experiência : a prosa de Kafka, as peças de Beckett, ou o verdadeiramente terrivel romance “Der Namenlose” (O Sem Nome) provocam uma reação frente à qual as obras oficialmente engajadas des- bancam-se como brinquedos; provocam o medo que o existen- k cialismo apenas persuade. Como desmontagem da aparência, fazem explodir a arte por dentro, que o engagement procia- mado submete por fora, e por isso só aparentemente. Sua irrecorribilidade obriga àquela mudança de cornportamento que as obras engajadas apenas anseiam. Aquele a quem as rodas de Kafka atropelaram um dia, para ele a paz com O mundo N está tão perdida como a possibilidade de acomodar-se com a sentença de que o giro do mundo é ruim: o aspecto confirma- tivo inerente à comprovação resignada da supremacia do real é corroído. Entretanto quanto maior a pretensão, tanto maior a chance do naufrágio e insucesso. O que em pintura e música se observou como perda de tensão — nas composições que se afastavam da reprodução objetiva e da coerência conteudistica captável — comunica-se de vários modos à literatura, segundo “um mau costume da língua vulgarmente chamada de textos. Ela a à margem da indiferença, degenera imperceptiveimente tesanato, para o jogo de repetições de fórmulas perce- outros gêneros, para padronagens de tapeçaria. Isso o muitas vezes à fomentação grosseira do engagement. que exigem a mentirosa positividade de sentido, mente num despropósito de outra espécie, a pro- vista, o vaidoso jogo estocástico com os elementos. u círculo de que se querem desviar. Caso e se troca adialeticamente com ciên-: om a ci Os extremos se se torna presa Ge o traça o limite » do sem-sentido, 67 nico do socialismo estatal, cla efemina-se e impede a ação por causa da ação, O pecado drlgital alemão. Aversão à felicidade, ascetismo, tal espécie de ethos que sempre de novo fala nomes como Lutero e Bismarck, não querem nenhuma autonomia esté- : tica; uma subcorrente do heterônimo submisso fundamenta sem maiores razões e pathos do imperativo categórico, que por um lado deve ser a própria razão, mas por outro lado deve ser algo simplesmente dado e que se tem que acatar cegamente . Há 50 anos combatia-se ainda George e sua escola como esteticismo de francesistas. Hoje a podridão que as bombas não fizeram explodir aliou-se ao ódio à pretensa incompreensibilidade da nova arte. Como temário descobrir-se-ia o ódio pequeno burguês ao sexo, nisso coincidem os moralistas ocidentais com os ideó- logos do realismo socialista. Nenhum terror moralista tem o poder de evitar que a face que a obra de arte volta ao obser- vador provoque neste algum prazer, mesmo que fosse apenas através da realidade formal da libertação temporária do domi- nio das finalidades práticas. Thomas Mann expressou isso em lermos de extrema gozação, insuportável aos proprietários da moral. Mesmo Brecht que não estava livre de traços ascéticos — eles retornam metamorfoseados, nos melindres da grande arte autônoma contra o consumo —, Brecht chegou em verdade a = com razão a arte culinária, mãs foi modesto der ignorar que quanto a problemas de atuação e aces: “e obra, não se pode deixar de Jado totalmente o aspecto do prazer mesmo considerando-se a composição mais severa. : Pelo primado do objeto estético como de um todo autenticamente acabado, o consumo e com ele o mau acordo não entram entre- tanto de novo por um atalho de caminho. Pois enquanto aquele pecto, mesmo que fosse extirpado da atuação, está sempre volta nela, o relacionamento de aceitação e efeito não é o pio a que as obras autônomas se submetem, e sim ua estrutura íntima. Elas são sabedoria, como objeto é Nisso se apóia sua dignidade. Não têm que convencer a dignidade, porque ela está em suas mãos. ha hoje chegou antes à época de defender a | engajada. Esta apossou-se com excessiva valores nobres, para detratá-los. Tambun sujeira foi cometida que não se tenho hoje ainda bradam por sua ética e ; perseguir aqueles que segundo 69 is suas normas de jogo são condenados, e na praxis praticar a mesma desumanidade que teoricamente repreendem à nova arte. Na Alemanha o engagement recai reiteradamente em balido, no que todos dizem, ou ao menos no que latentemente todos gos- tariam de ouvir. No conceito da “message”, da mensagem da arte mesma, mesmo da politicamente radical, esconde-se já O aspecto mundano. No Gestus de recitar um acordo secreto com aqueles a quem nos dirigimos, que somente assim poderiam ser ncados da cegueira de compactuar tal acordo. Uma literatura que como à engajada, mas também como Silisteus éticos a querem, existe para O homem, acaba por o, traindo a causa que o poderia auxiliar se não gesticulasse arremedos como se estivesse a ajudá-lo. O que, porém, tirasse dai a conseguência de se pôr a si mesmo absolutamente, de só existir por causa de si mesmo, chegaria, do mesmo modo, à ideologia. Ela não pode ultrapassar as sombras da irraciona- Hidade, a saber, que a arte deve fechar os vihos e os ouvidos para O fato de, mesmo em sua oposição, constituir um momento da: sociedade, Mas se ela mesma recorre a isso, se freia arbi- trariamente o pensamento de seu condicionamento, e disso se deduz sua raison d'être, ela falsifica a maldição que paira sobre si, sob a forma de sua teodicéia. Mesmo na obra de arte mais sublimada, abriga-se um “deve ser de outro modo”; e mesmo onde ela só se igualasse a si mesma, como em sua pura elabo- ração tornada científica, estaria ainda aí descambando no mau, literalmente no pré-artístico. Fica transmitido porém, o aspecto do querer, exclusivamente pela configuração da obra, cuja cris- talização se torna metáfora de algo diverso, que deve vir a Como algo meramente feito, fabricado, as obras de arte, ““m as literárias, são regras de orientação para a praxis se furtam: a fabricação da vida propriamente dita. Essa mediação não é um meio caminho entre engagement e autono- não é uma mistura qualquer de elementos formais avança- à dos e de um valor espiritual visando a uma politica progressiva (concreta ou supostamente). O valor das obras não é absolu- iamonte o que lhe foi incutido de espiritual, antes o contrário. nfase ao trabalho autônomo, entretanto, é por si mesma de ] sócio-politica. A deformação da política verdadeira aqui enrijecimento das relações que não se dispõem a de-