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Descreve a figura dos mascates na região de Foz do Iguaçu
Tipologia: Notas de estudo
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Por Me. Caio Murilo Lages
A figura do mascate, ligada à imigração árabe no Brasil (Truzzi, 1991), consolida a idéia do comércio como uma atividade que abre espaço para estrangeiros, mesmo em comunidades de atividades econômicas tradicionalmente ligadas à indústria e à agricultura. As atividades comerciais, ou o "negócio", como apontou Simmel, reúnem, por sua vez, várias condições da imigração. Uma das esferas privilegiadas de interação e coordenação do estrangeiro na comunidade, o comércio facilita a entrada em grupos mesmo em lugares em que as posições econômicas estão ocupadas, seja na indústria ou na agricultura (Simmel, 1983). Segundo um entrevistado, "onde o árabe tem um negócio, é ali que ele deve ficar".
Esta situação parece se repetir em Foz do Iguaçu e pode ser visualizada no próprio aumento da densidade populacional, entre as décadas de 1970 a 1980, impulsionando o comércio local e transfronteiriço. Esse período corresponde ao início da construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu, impulsionando o comércio duplamente: primeiro pelo desenvolvimento de bens de serviços para atender as necessidades deste Grande Projeto e, segundo, pelos acordos bilaterais celebrados entre o Brasil e o Paraguai. Esses acordos reforçaram a abertura dos portos brasileiros ao Paraguai e ajudou a consolidar, neste país, quase 20 anos depois, um importante centro comercial. Para se ter uma idéia da importância deste comércio, no biênio 1994/1995 o movimento econômico em Ciudad Del Este foi de 12 bilhões de dólares^4 e isto colocou a cidade paraguaia como a terceira cidade comercial do mundo, depois de Hong Kong e Miami (Rabossi, 2001). Esse comércio atravessou e atravessa a fronteira abastecendo, com diferentes produtos importados, inúmeras cidades no Brasil e na Argentina. No Brasil, em quase todas as cidades grandes e de médio porte há o que se convencionou chamar de paraguaizinho , um local freqüentemente regulamentado pelas prefeituras locais para concentrar barraquinhas e camelôs para vendas de produtos vindos do Paraguai. Segundo o jornal Gazeta do Povo, em 2001, um levantamento da Receita Federal mostrou que "toda semana cerca de 800 ônibus de sacoleiros saem de Ciudad del Este com a média de US$ 20 milhões em produtos ilegais que são injetados no mercado informal das cidades brasileiras".^5 Por tudo isso, o comércio, tanto do lado paraguaio quanto brasileiro, é o grande eixo no qual estão concentradas as atividades dos imigrantes residentes em Foz do Iguaçu, situação que parece se repetir na fronteira do Brasil com Uruguai, com a imigração palestina na fronteira do Chuí/RS (Jardim, 2000).
Atribuir às atividades comerciais as motivações para o deslocamento parece ser reconhecido como um dos grandes impulsos integradores que unifica a "ilusão" da imigração frente aos moradores da cidade, pois identificam a comunidade de grupos árabes como comerciantes. Os outros motivos que colaboram para essa unificação são a língua, escrita e falada, e as profissões de fé religiosas Se esses marcadores podem simplificar a auto-apresentação desses grupos, e com isto atuar como forma de exclusão nas interações locais, dando-lhes reconhecimento de dentro para fora, é porque essa aparente unidade não deixam visíveis suas divisões internas.
Embora não se tenha feito ainda uma etnografia cuidadosa sobre estas divisões, elas podem ser observadas em seus desdobramentos no espaço urbano e social da cidade através do grande número de instituições e associações que as ratificam pelas diferenças. Do ponto de vista religioso, há
a mesquita Omar Ibn Al-Khatab, sunita, mais antiga, oficialmente inaugurada em 23 de março de 1983, e uma mesquita xiita, Sociedade Beneficiente Islâmica, as duas localizadas no mesmo bairro, no Jardim Central. Há também a Igreja Cristã Árabe e a Igreja Adventista Árabe, com seus respectivos rituais religiosos.
No caso das duas primeiras mesquitas islâmicas, as celebrações rituais são um dos meios para objetivar as clivagens religiosas da comunidade árabe, como, por exemplo, no caso dos xiitas, que anualmente celebram o Achura. Frequentemente no mês de março, durante uma manhã, homens, mulheres com seus véus islâmicos e crianças, todos usando trajes pretos em sinal de luto, chegam à mesquita para participar da celebração. Maior festa do calendário xiita, o Achura celebra o aniversário da morte do imã Hussein, neto do profeta Maomé, numa batalha no século VII. Achura é o décimo dia do mês lunar de muharram , dia em que Hussein e seus seguidores pereceram em combate perto de Karbala, no ano 680, por se recusarem a jurar lealdade ao califa Yazid. Hussein foi decapitado e sua cabeça levada para Damasco, capital da dinastia omíada , rival dos descendentes diretos do profeta Maomé pelo poder no nascente mundo islâmico.
Pertencem ainda à comunidade árabe duas escolas. Uma delas é ligada ao
Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu, uma organização
cultural e científica, localizada em frente à mesquita sunita. Tem como meta
"divulgar o Islamismo, a cultura e a civilização árabe", "distribuir matérias de
cunho moral e didático para a imprensa brasileira" como, por exemplo, material
escrito que versa sobre a contribuição árabe à civilização mundial. Essa escola,
de ensino fundamental, ensina a religião sunita e a língua árabe. A segunda
escola, a Escola Brasileira Árabe, iniciou-se há três anos, com autorização da
Secretaria Estadual, e desenvolve atividades de ensino fundamental e de
segundo grau, com estrutura curricular condizente com as exigências do
Estado. A única particularidade dessa escola em relação às demais do
município é a introdução do árabe como língua estrangeira.