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Este documento discute a importância da expressividade e ação comunicativa dos professores na construção de significados em salas de aula. O texto apresenta uma metodologia que combina abordagens quantitativas e qualitativas, enfatizando a importância do uso da linguagem e outros modos de comunicação na construção de significados. Além disso, o documento discute a importância de estudar a expressividade e a ação comunicativa dos professores para regular interações, realizar ações e direcionar processos de construção de significados. O texto também aponta para a importância de se estudar como os índices ou marcadores de expressividade funcionam em contexto de sala de aula.
Tipologia: Notas de estudo
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R. B. E. C. T., vol 2, núm 1, jan./abr. 2009 ISSN - 1982-873X (^) 1
Resumo Este trabalho relata um estudo piloto realizado no âmbito de um projeto de doutorado em Educação – UFMG. O objetivo desta análise foi investigar os recursos verbais e não-verbais utilizados por discentes do curso de química da UFMG em uma atividade de preparação para a docência. A metodologia foi orientada por uma combinação de abordagens qualitativa e quantitativa e a ação comunicativa do futuro docente foi avaliada por meio de análise perceptiva de fitas de vídeo de aulas ministradas por 15 alunos da licenciatura. Os dados encontrados forneceram indícios sobre a pertinência deste trabalho e apontaram para a necessidade de um refinamento metodológico para os estudos posteriores. Quanto à expressividade, os informantes, de um modo geral, utilizaram adequadamente os recursos verbais. A variação melódica e a expressividade não- verbal constituíram-se os parâmetros em que foram encontradas maiores dificuldades. Palavras-chave : Ação comunicativa; expressividade; comunicação verbal; comunicação não verbal; formação de professores. Abstract This work reports on a pilot study performed in the context of a Doctoral project in Education. The aim of the analysis reported here was to investigate the verbal and non-verbal resources used by university students of Chemistry in activities of teaching training. The methodology was oriented by a combination of quantitative and qualitative approaches and the communicative action of the future teacher was accessed through a perceptive analysis of record lessons in which 15 university students taught Chemistry to high school students. The data
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give evidence of the fusibility of the project and they indicate also that the methodology should be refined for application in the doctoral research. Related to the expressiveness, the study shows that the university teachers used quite well the verbal resources. The main difficulties they faced are related to melodic variation and non-verbal expressiveness. Keywords : Communicative action; expressiveness; verbal communication; non-verbal communication ; professional development of teachers.
A atividade do professor constitui-se como atividade social na qual as interações constroem os sentidos e as relações em sala de aula. Segundo Mortimer e Scott (2003), há o desenvolvimento gradual do interesse sobre o processo de significação em salas de aula, gerando pesquisas que procuram responder como os significados são construídos e desenvolvidos por meio do uso da linguagem e outros modos de comunicação. A linguagem talvez seja o instrumento mais importante utilizado na prática de sala de aula (MORTIMER e SCOTT (2002; 2003); KRESS et al., 2001). O uso da linguagem pelos professores, no entanto, ocorre no contexto de uma ação comunicativa. Muitos professores são extremamente hábeis nesta competência comunicativa e nas práticas de interação, que envolvem aptidões naturais e experiência. A qualidade da ação comunicativa em sala de aula é determinada por múltiplas dimensões de expressividade, entre as quais se manifestam elementos verbais tais como inteligibilidade de fala, intensidade vocal, qualidade vocal, prosódia e fluência, e elementos não verbais utilizados por seus participantes.
Sabe-se que o uso calculado e dirigido de diversos parâmetros da expressividade pode ser construído, ou seja, o docente pode transformar seus discursos e aprimorar sua ação a fim de produzir estratégias comunicativas mais efetivas e estimulantes para seus alunos. A necessidade de se estudar a expressividade e a ação comunicativa dos professores em situação de interação em sala de aula se deve ao fato de que estas habilidades são importantes e podem contribuir para regular os processos de interação, realizar ações e direcionar processos de construção de significados. Além disso, as estratégias de expressividade utilizadas pelo docente também revelam pistas sobre o falante e funcionam como “chaves de interpretação”, sinalizando ao aluno como ele deve agir.
Há, no entanto, uma lacuna nos estudos sobre competência comunicativa em sala de aula e, na formação dos professores, o tema é relegado a um segundo plano ou não é abordado. Como
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auditiva, a qualidade da voz, a variação de loudness e pitch, o alongamento da sílaba, a velocidade de fala, a pausa e a articulação, presentes em trechos de fala de quatro professoras do ensino médio, em contexto profissional, partindo do julgamento de futuros professores quanto à sua expressividade oral. A clareza e objetividade da professora mais bem avaliada, destacada pelos alunos, justificou-se pela maneira como essa professora empregou seus recursos vocais. A velocidade de fala, o emprego da pausa, a qualidade da voz e a intensidade vocal foram aspectos valorizados pelos alunos, e determinantes na escolha da ordem de preferência das professoras.
A análise das várias dimensões da expressividade, embora não muito comum, nos parece importante para a compreensão do processo de comunicação e interações em salas de aula. A investigação desse processo foi fortalecida nos últimos anos por meio de trabalhos que procuram analisar a construção do conhecimento científico escolar como um processo que envolve a apropriação pelos estudantes dos significados e da linguagem veiculada pelo professor (MORTIMER e MACHADO, 1997). Ainda assim, algumas questões permanecem, dentre elas: a expressividade do professor apresenta nuances que podem contribuir para delinear diferentes práticas discursivas em sala de aula?
Ser expressivo é uma habilidade comunicativa fundamental e configura um componente essencial e poderoso para permitir a interação do professor com seus alunos em sala de aula. A expressividade pode ser definida como o produto do bom uso dos recursos disponíveis. Os recursos de expressividade escolhidos para este trabalho podem ser divididos em 2 grandes grupos: expressividade verbal e expressividade não verbal.
Na avaliação da expressividade verbal, Behlau e Pontes (1995) indicam que podem ser analisados os seguintes parâmetros: 1) Qualidade vocal, que é a impressão geral que se tem a respeito da voz de um determinado sujeito. 2) Pitch, que é a sensação psicofísica da altura, considerando a variação entre sons graves e agudos. Conforme Servilha (2000), situações mais alegres tendem ao uso de sons mais agudos, enquanto as mais sérias inclinam-se aos sons mais graves. 3) Loudness, que é a impressão psicofísica da intensidade julgando-se ser a voz forte ou fraca. 4) Entonação, que se traduz na melodia ou padrão que engloba inflexões e pausas, entendendo a palavra inflexões a partir de Servilha (2000), como a altura vocal que se desloca durante a emissão, em curvas ascendentes - por exemplo, evidenciada pela colocação de uma pergunta convidando o aluno a intervir, complementar; e/ou descendentes – perceptível nas frases declarativas ou quando se quer concluir sua fala, como se estivesse oferecendo o turno de
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fala para o ouvinte. 5) Articulação da fala, que se expressa nos movimentos harmônicos de língua, lábios, bochechas e palato, entre outras estruturas, que garantem a emissão dos sons da fala de forma inteligível. 6) Velocidade de fala, que é o ritmo próprio que cada sujeito imprime à sua fala, segundo sua personalidade. 7) E finalmente a fluência, que é o fluxo suave e contínuo da fala, que além de ser o produto de uma programação cerebral altamente complexa, é também produto da experiência, da visão de mundo e da imagem pessoal do falante.
Gonçalves (2000) ressalta que para falar deve-se usar o tom de voz natural, e a entonação adequada, pois estes são recursos eficientes para uma boa comunicação. Pode-se, com esses recursos, mostrar autoridade e confiabilidade, sem a necessidade de se recorrer a uma voz de comando. A mesma autora complementa dizendo que as inflexões de voz (entonação) estabelecem diferentes curvas melódicas no discurso e, associadas ao recurso da pausa, são essenciais para o “brilho da fala”, constituindo elementos muito importantes da comunicação verbal. Sem esses recursos, a fala torna-se muito monótona, tornando-se menos inteligível e eficiente, o que pode levar o interlocutor ao desinteresse.
Segundo Kyrillos (2005), a comunicação verbal será considerada eficiente quando o indivíduo possuir a habilidade de persuadir o outro por meio da palavra. Mas, essa palavra deverá vir acompanhada de uma série de elementos fundamentais, sem os quais perde muito da sua força: a postura corporal, a fluência, o tom de voz, os gestos, a forma de olhar, a linguagem corporal, o entusiasmo ao falar, o domínio do conteúdo, bem como a criatividade e a motivação. Assim, temos que os gestos, expressão facial, postura e aparência, são alguns dos canais não- verbais da comunicação muito importantes para a efetividade do discurso, pois podem complementar o discurso, modificar ou reforçar as idéias.
Nesse contexto, a utilização das estratégias não-verbais com harmonia de movimentos e naturalidade cumpre o propósito de completar o que se fala, não devendo ser apenas um ato mecânico desvinculado de emoção. Sinais como tristeza, alegria, raiva, medo, dentre outros, podem ser percebidos pela expressão facial, pelos movimentos corporais e pela postura.
Paul Ekman (1999), um dos pioneiros no estudo das expressões faciais, gestos e emoções, classifica os gestos em três categorias: “emblemas”, “ilustradores” e “adaptadores”.
“Emblemas” são atos não-verbais que têm uma tradução verbal específica. Esse tipo de gesto é pouco utilizado em grupos, sendo mais freqüente quando o silêncio é necessário ou quando queremos conversar com alguém que se aproxima, mas estamos em uma conversa com outra pessoa.
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alunos eram do sexo feminino e quatro do sexo masculino. Inicialmente fez-se uma análise mais geral das fitas de vídeo dos informantes com objetivo de ter uma visão mais descritiva e empírica sobre os dados. Em seguida, os recursos de expressividade utilizados pelos futuros professores de Química foram analisados. Esta análise pode ser considerada perceptivo-auditiva-visual, pois foi feita por meio de observação sistemática de parâmetros relativos a variações entonacionais, padrões de pitch e loudness, análise de velocidade de fala, articulação, pausas e padrões de fluência, além da análise da comunicação não verbal que incluiu gestos e postura dos informantes.
A análise da expressividade verbal, para cada indivíduo, foi realizada de acordo com o protocolo adaptado de Behlau & Pontes (1995) e foi dividido em: Qualidade vocal (normal ou alterada); pitch (normal, agudo ou grave); loudness (normal, aumentado ou reduzido); articulação (precisa ou imprecisa); pausas (restritas, médias ou freqüentes); fluência (disfluências mais comuns ou menos comuns); e, finalmente, variação melódica (pobre, neutra ou rica). Cada um dos parâmetros analisados fornece uma informação sobre as características de expressividade verbal.
A análise da expressividade não verbal foi realizada de acordo com adaptação da classificação de gestos proposta por Ekman (1999): emblemas, ilustradores e adaptadores. Para esta pesquisa não consideramos os emblemas, pois este é um tipo de gesto pouco utilizado em grupo, sendo mais freqüente quando o silêncio é necessário. Para a análise da postura, utilizamos as orientações de Behlau & Pontes (1995), que apontam que a postura deve ser equilibrada e têm um importante papel na efetividade da comunicação. A postura foi avaliada como adequada ou inadequada.
Esta análise perceptivo-auditiva e perceptivo-visual, por ser subjetiva, foi realizada por 3 avaliadores: 2 estudantes de Fonoaudiologia da FEAD-Minas (do programa de iniciação científica) e uma fonoaudióloga (especialista em Linguagem, mestre em Lingüística e doutoranda em Educação, primeira autora deste trabalho). Os dados observados por cada avaliador foram comparados e forneceram um relatório com a descrição das estratégias de expressividade utilizadas por cada informante.
A análise quantitativa restringiu-se apenas ao cálculo de ocorrências de respostas, uma vez que, em função do tempo, técnicas estatísticas mais refinadas que envolvem validação de conteúdo, critério e constructo não foram levadas em consideração neste artigo.
Ao final da pesquisa, foi realizada uma palestra para os informantes, com o objetivo de abordar conceitos que tem interesse para o docente e fornecer subsídios para a construção de uma comunicação que facilite a interação e que seja uma ferramenta na ação educacional.
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A fim de facilitar a análise dos dados, os resultados serão divididos em três seções. A primeira caracterizará os informantes quanto aos aspectos de expressividade verbal. A segunda apontará para os resultados referentes à comunicação não verbal e a terceira comparará os resultados obtidos com a os dados de Arruda e Ferreira (2004) e Vasconcellos e Otta (2003). Esses resultados possibilitar-nos-ão averiguar quais são os recursos verbais e não verbais utilizados por discentes do curso de química da UFMG em uma atividade de preparação para a docência.
Como se pode ver pela Tabela 1, que apresenta a caracterização das variáveis verbais, a expressividade verbal é constituída de parâmetros sonoros audíveis, percebidos pelo ouvinte (qualidade vocal; loudness; pitch; articulação; pausas; fluência; e variação melódica). Esta expressividade verbal ocorre em decorrência do movimento coordenado de órgãos fonoarticulatórios e, do ponto de vista estritamente motor, depende da atividade coordenada das pregas vocais, laringe, faringe, palato mole, mandíbula, lábios e língua (KENT e READ, 1992).
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A maior dificuldade observada diz respeito à variação melódica. Os informantes tiveram dificuldade de utilizar os parâmetros da comunicação verbal para enfatizar, realçar e garantir a expressividade do seu discurso (apenas 13% dos informantes apresentaram esta habilidade). A variação melódica, ou aspecto suprasegmental da fala, ou prosódia, é o componente mais importante do domínio lingüístico, e se refere à proeminência relativa ou ênfase a várias unidades dentro do sinal sonoro como mudanças na variação melódica das unidades de fala que conferem a entonação, o ritmo e os padrões de duração (PAUL et al., 2005). Esse resultado talvez possa ser explicado também pela pouca experiência dos informantes com o uso público da voz na situação de sala de aula.
O uso de estratégias não verbais pode converter-se em recursos interessantes para maximizar a ação comunicativa do professor. No entanto, as maiores dificuldades apresentadas pelos informantes relacionam-se justamente ao uso dessas estratégias. A maioria de nossos informantes parece apresentar dificuldades em enriquecer seu discurso por meio de gestualidade, e postura. O uso preferencial de gestos adaptadores pode indicar que os mesmos foram usados para aliviar o nervosismo e a ansiedade. Além disso, a postura foi considerada inadequada para 60% da amostra, como mostra a Tabela 2. Também esse resultado pode ser explicado pela inexperiência dos informantes. Para muitos, a aula analisada neste trabalho era a primeira experiência docente e o nervosismo e insegurança com a situação se traduziu principalmente numa postura corporal inadequada, que reflete o medo de relacionar-se com os alunos.
Gestualidade Predominância de adaptadores 67%
Predominância de ilustradores 33%
Postura corporal Adequada 40%
Inadequada 60% Tabela 2 – Caracterização das variáveis não verbais em % de ocorrência
Para Santos e Mortimer, 2003, a análise da expressividade e do comportamento não verbal confere visibilidade a muitos aspectos da interação. Assim, a análise das várias dimensões da expressividade, especialmente a não verbal, pode ser essencial para compreender os processos de interação.
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Podemos, a partir dos estudos de Arruda e Ferreira (2004) e Vasconcellos e Otta, 2003, hipotetizar que possivelmente um professor considerado bom comunicador pelos alunos, apresenta recursos de expressividade tanto verbais quanto não verbais. Para confrontar os dados de Arruda e Ferreira (2004) com os dados descritos na Tabela 1, foram selecionados dados de 4 (quatro) discentes, nossos informantes, que se aproximavam da descrição das autoras (embora não tenha havido uma concordância de dados em todos os aspectos). Para eleição dos casos prototípicos, tabelas 3 e 4, as performances foram analisadas separadamente, os dados foram comparados e fizemos uma classificação em que os informantes foram classificados em um continuum. A tabela 3 representa as ações com os melhores parâmetros de expressividade e a tabela 4, os piores.
Parâmetro Qualidade vocal
Pitch Loudness Pausa Velocidade Articulação Fluência Variação Melódica Inform. 5 Normal Normal Aumenta Médias Adequada Precisa + Rica Inform. 13 Normal Agudo Aumenta Médias Rápida Precisa + Rica Tabela 3 – Análise da Expressividade verbal dos informantes que apresentaram melhores parâmetros de expressividade
Parâmetro Qualidade vocal
Pitch Loudness Pausa Velocidade Articulação Fluência Variação Melódica
Inform. 3 Normal Normal Reduzida Freqüente Lenta Imprecisa + Pobre
Inform. 6 Normal Agudo Reduzida Freqüente Adequada Imprecisa + Pobre
Tabela 4 – Análise da Expressividade verbal dos informantes que apresentaram piores parâmetros de expressividade
Ao analisar as estratégias de expressividade dos casos considerados nas Tabelas 3 e 4, temos que a qualidade vocal e a fluência parecem não ser fatores determinantes para a
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Parâmetro Informante 3 Informante 5 Informante 6 Informante 13
Gestualidade Adaptadores Ilustradores Adaptadores Ilustradores
Postura corporal Inadequada Adequada Inadequada Adequada
Tabela 5 – Análise da Expressividade dos informantes 3,5,6 e 13.
Esse resultado concorda com os dados de Vasconcellos e Otta, 2003 e pode ser explicado por um maior nervosismo e insegurança com a situação por parte dos informantes 3 e 6. Esta pesquisa não teve por objetivo relacionar os dados obtidos para os informantes com o uso que eles fazem de diferentes ‘abordagens comunicativas’. Esse conceito é central na estrutura analítica proposta por Mortimer e Scott (2002; 2003) para analisar a forma como os professores podem agir para guiar as interações que resultam na construção de significados em salas de aula. Entretanto, acreditamos que diferentes práticas de expressividade podem interferir nesses padrões de interação. Este artigo foi desenvolvido em função de um estudo piloto, a fim de realizar uma primeira aproximação com dados referentes à expressividade do professor e verificar a possibilidade e limites metodológicos ao investigar os recursos verbais e não verbais utilizados por docentes. Uma contribuição desse estudo foi dar um retorno aos informantes para que pudessem refletir sobre os aspectos da expressividade e tentar aprimorá-los no novo estágio que realizariam no contexto da disciplina Prática de Ensino de Química II. Além disso, pelo fato de a maioria dos informantes não terem experiência docente, a gestão das interações e o uso de diferentes abordagens comunicativas também era objeto de aprendizado no estágio no Coltec. No entanto, mesmo levando em consideração que existe a variável “experiência do docente”, bem como a influência de fatores subjetivos, portanto, sem controle absoluto por parte do falante, possam ter influenciado no processo de interações em sala de aula, consideramos a correlação entre expressividade e interação discursiva um aspecto importante que será explorado no trabalho de tese da primeira autora.
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Dificilmente alguém discordaria sobre a importância central da comunicação entre professores e alunos na sala de aula, a chamada interação discursiva, para a elaboração de novos significados pelos estudantes.
Este estudo teve como objetivo geral realizar um exercício analítico dos recursos de expressividade utilizados por docentes. Os dados preliminares demonstraram que é incontestável o fato de que tanto a expressividade verbal quanto a não verbal podem ser parâmetros utilizados para revelar e fornecer a perspectiva sobre como o professor trabalha as intenções e o conteúdo do ensino. Ou seja, o modo pelo qual o docente se comunica pode influenciar na interação e na construção de significados por parte dos discentes.
Pesquisas sobre ação comunicativa de docentes podem ter papel importante na compreensão da atividade do professor em sala de aula. A partir da análise e discussão dos dados aqui apresentados observou-se o uso de diferentes recursos de expressividade por parte dos futuros docentes. A ocorrência de diferentes recursos expressivos ilustra as funções que os mesmos podem assumir como elementos das interações discursivas em sala de aula.
Se partirmos do pressuposto de que o docente tem como atividade atuar como mediador do processo ensino-aprendizagem, uma perspectiva educacional em que as práticas comunicativas são investigadas torna-se importante para os dias de hoje. Assim, coloca-se como uma das questões da investigação dos processos comunicativos de sala de aula, a expressividade do professor, em suas múltiplas dimensões, tanto verbais quanto não verbais. Acreditamos que estudar e analisar como esses índices ou marcadores de expressividade utilizados pelos docentes funcionam em contexto de sala de aula; e em que medida determinam a evolução da interação e construção de significados específicos, seja um elemento importante para o planejamento do ensino e para a formação do professor.
Os dados encontrados forneceram indícios sobre a pertinência deste trabalho e sua possibilidade de execução. Entretanto, apontaram para a necessidade de novas pesquisas bem como de um refinamento metodológico para os estudos posteriores. A fim de analisar a expressividade no contexto das práticas discursivas em sala de aula é imprescindível caracterizar a forma como o professor trabalha, as estratégias que utiliza e a visão que apresenta sobre o processo de ensino-aprendizagem. A fim de visualizar, de forma mais objetiva recursos de expressividade não verbais utilizados pelos docentes, alguns testes podem ser adaptados e aplicados, a fim de melhor caracterizar a
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