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Um estudo sobre as identidades sociais de agricultores envolvidos em atividades e organizações de agroecologia em duas regiões do brasil. O texto aborda a construção da identidade individual dos agricultores, a formação de grupos organizados de agricultores e a relação entre identidade e agroecologia. O autor destaca a importância da interação entre agricultores e a dinâmica de grupos sociais na construção da identidade social.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Márcio André Leal Bauer
Dissertação de Mestrado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.
Orientadora: Profª. Drª. Zilá Mesquita
Porto Alegre, 2004
Profª. Drª. Carmem Lígia Iochins Grisci (PPGA/EA/UFRGS)
Prof. Dr. Jalcione Almeida (PGDR/UFRGS)
Profª. Drª. Neusa Rolita Cavedon (PPGA/EA/UFRGS)
Conceito Final:
Porto Alegre, 29 de janeiro de 2004.
Professora Orientadora: Zilá Mesquita Área de Concentração: Organizações Aluno: Márcio André Leal Bauer Turma: 2002
O presente trabalho tem como objetivo estudar a identidade enquanto fenômeno, verificando seus elementos constituintes e seu processo social de construção. O estudo foi realizado junto a organizações de agricultores ecologistas em duas regiões do Rio Grande do Sul - Zona Sul e Vale do Rio Pardo. O método escolhido foi o fenomenológico porque, além de incorporar a reflexão filosófica, investiga problemas relacionados à experiência vivida. Para captar a experiência dos agricultores foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, visitas a propriedades, acompanhamento de feiras ecológicas, reuniões de grupo e participação em eventos ligados à agroecologia. A análise dos dados foi baseada em três etapas. A primeira buscou uma compreensão intuitiva do fenômeno através de uma visão aberta, tanto do objeto como do campo de estudo. A segunda fase representou uma pré interpretação, onde foi possível a intuição de algumas essências gerais. Já a terceira fase buscou a relação fundamental entre todas as essências. As primeiras essências trataram, respectivamente, das identidades individuais, sociais e culturais presentes nas falas dos agricultores. Outra essência retomou os motivos de adesão e abandono da agr icultura ecológica. O resultado da relação entre as essências foi a constatação de que a agroecologia apresenta dois significados distintos: é uma realidade social vivida pelos agricultores em geral; e é uma identidade, assumida pelas ONGs, em contraste à agricultura convencional. A título de conclusão, pode- se dizer que realidade e identidade estão em uma mútua relação de dependência. A realidade da agroecologia depende das identidades dos agricultores para ser introduzida e mantida. Por outro lado, esta nova realidade é capaz de resgatar, manter ou dar um novo significado às identidades desses agricultores.
Palavras-Chave: identidade, organizações, agricultura ecológica, realidade social.
The present work aims to study the identity phenomenon by verifying its constituents elements and its forming social process. The study was carried out in ecological farmer´s organizations in two regions of the state of Rio Grande do Sul: South Region and Vale do Rio Pardo. It was chosen the phenomenological approach due to the fact of incorporating the philosophical reflection and also investigates problems related to lived experience. In order to understand the farmer´s experience were held detailed interviews, in addition to visiting their properties, attending ecological fairs and meetings and participation in agroecological events. Data analysis were based on three phases. The first one looked for na intuitive comprehension of the phenomenon through a broad view of the scope as well as the field of study. The second phase represented a pre-interpretation where it was possible the intuition of some general essences. In third phase we searched for the basic interaction among essences. The first essences dealt respectively with individua l, social and cultural identities present in the farmer´s dayly speech. The other essence presented the motives for the adhesion and abandon of this reality by the farmers. The interaction among essences revealed that agroecology have two different meanings: it is a social reality lived by the farmers in general; and it is an identity assumed principally by the members of NGOs in contrast to the conventional agriculture. Coming to a conclusion we could say that identity and reality are in a mutual relation of dependence. Ecological agriculture depends on the identities of farmers in order to be kept. Otherwise, this new reality can rescue, keep and rescue the farmer´s identities.
Key-Words: identity, organizations, ecological agriculture, social reality.
− Aos colegas, em especial a turma de organizações, pela contribuição na construção de meu conhecimento nos últimos dois anos.
− À Profª. Drª. Rosimeri Carvalho da Silva, por todo apoio recebido no início de minha trajetória.
− À toda minha família, em especial à minha mãe e meu falecido pai, que, diante de tantas dificuldades, me deram a melhor das oportunidades: a vida.
“Nenhum leitor deste livro achará fácil colocar-se na posição emocional de um autor que é ignorante da linguagem da sagrada escritura, completamente alheio à religião de seus pais – bem como a qualquer outra religião – e não pode partilhar de ideais nacionalistas, mas que no entanto, nunca repudiou seu povo, que sente ser, em sua natureza essencial, um judeu e não tem nenhum desejo de alterar essa natureza. Se lhe fosse formulada a pergunta: ‘desde que abandonou todas essas características comuns a seus compatriotas, o que resta em você de judeu?’, responderia: ‘Uma parte muito grande e, provavelmente , a própria essência.’ Não poderia hoje expressar claramente essa essência em palavras, mas algum dia, sem dúvida, ela se tornará acessível ao espírito científico.”
Quadro 1- Oposições entre urbano e rural no imaginário dos agricultores ecologistas................................................................................ 111
AFUBRA – Associação dos Fumicultores do Brasil
Arpa-Sul (associação) – Associação Regional de Produtores Agroecologistas da Região Sul
Arpa-Sul (cooperativa) – Cooperativa Arpa-Sul
CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (IECLB)
CETAP – Centro de Tecnologias Alternativas Populares
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CPT – Comissão Pastoral da Terra (Igreja Católica)
COOLMÉIA – Cooperativa Ecológica Coolméia de Porto Alegre – Porto Alegre / RS
COREDE – Conselho Regional de Desenvolvimento
ECOVALE – Cooperativa Regio nal de Agricultores Familiares Ecologistas – Santa Cruz do Sul / RS
EMATER – Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural
EPAGRI – Empresa de Pesquisa e Extensão da Secretaria de Agricultura de Santa Catarina
IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
MMTR – Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores
ONGs – Organizações Não Governamentais
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
Sul Ecológica – Cooperativa Sul Ecológica de Agricultores Familiares LTDA. - Pelotas / RS
TEIA – Cooperativa de Consumidores Ecologistas Teia – Pelotas / RS
organização. O mestrado foi uma oportunidade de colocar as idéias no caldeirão e buscar respostas para as perguntas. Mas, de forma paradoxal, os encontros com o conhecimento, proporcionados pela experiência das disciplinas, não apenas forneceram respostas nunca antes imaginadas, como acabaram questionando as próprias perguntas. As dúvidas de outrora pareciam sem sentido face aos novos questionamentos que surgiram, em maior número e de forma mais complexa.
Tomei ciência, através da disciplina de Cultura e Linguagem nas Organizações, de que, além da cultura, existe outro elemento importante que é a identidade, o que em minha cabeça estaria ligado a diferenças étnicas. Isto me levava de volta ao meu objeto de estudo, ou seja, às diferenças étnicas. Defini que estudaria duas regiões do Rio Grande do Sul e o que me motivava eram essas afirmações do senso comum de que o problema estava centrado nas diferentes origens étnicas dos habitantes dessas regiões, pois enquanto no norte predominaria a etnia alemã e italiana, no sul seria predominante a portuguesa. Isto, de fa to mexia com minha própria identidade, tanto como descendente de alemães e portugueses, quanto como morador da zona sul. Bem sabia eu que, embora figurasse de forma pouco expressiva na literatura oficial , a colonização alemã no sul deveria ser levada em conta pois representara em outros tempos uma significativa parcela da população. Se a questão era então a etnia, o que explicaria a existência de estilos tão diversos dentro de uma mesma etnia em diferentes regiões?
Fui convidado então por minha orientadora a integrar um grupo de pesquisa que estava estudando a agricultura ecológica. Considerei que esta seria a oportunidade de fazer um estudo comparativo em duas regiões só que, ao invés de estudar empresas estudaria organizações formadas por agricultores familiares. Pensei que isto também remetia à minha origem pois, como filho de agricultores, vivi até os sete anos no meio rural. De certa forma comecei uma busca por minhas próprias raízes e pela minha identidade. O que era antes uma realidade estranha começava a tomar ares de familiaridade.
Empreendi então uma busca por autores que pudessem me auxiliar a esclarecer tanto a maneira de estudar quanto o fenômeno a ser estudado. O diálogo (em alguns momentos discussão) com muitos autores importantes possibilitou preciosas contribuições.
Em primeiro lugar, percebi que muitos autores também buscavam, em suas investigações científicas, responder a questionamentos pessoais muito fortes, alguns deles também ligados à sua própria identidade. O fato de levar em conta essa subjetividade do pesquisador e a importância de ele próprio vivenciar o fenômeno estudado foi o que me deixou entusiasmado com a fenomenologia, a qual, diga-se de passagem, conheci por acaso, quando aceitei apresentar um trabalho sobre o tema (um pouco a contra gosto pois queria falar sobre etnografia) na disciplina de Conhecimento em Administração. Através da Fenomenologia conheci Edmund Husserl que alertou para o fato de que, se eu quisesse fazer um trabalho com profundidade, deveria buscar as essências do fenômeno e isso só poderia ser feito indo ao encontro dos sujeitos no seu “mundo da vida”. Husserl falava que sua briga maior era com o empobrecimento da filosofia, com a matematização do mundo, ou seja com sua transformação em axiomas incontestáveis que devem ser validados ou falsificados.
É verdade que tentei outros métodos de mais fácil aplicação, mas quanto mais procurava mais me convencia da importância da fenomenologia. Muitos autores apontavam para ela em seus estudos. Por exemplo, ao ler Habermas, lá estava o “mundo da vida” e seus elementos: cultura, sociedade e indivíduo. Por falar em Habermas, ele foi muito importante pois mostrou quão dinâmica é esta relação comunicacional entre os indivíduos que interagem no mundo. Ele falava que existe um tipo de ação (a comunicativa) realizada entre indivíduos no processo de entendimento mútuo que coloca em jogo diversos mundos ( objetivo, subjetivo e social), cada um deles com os seus elementos constituintes (cultura, sociedade e personalidade). Pensei que estes elementos também estavam em jogo na “ação identitária” e forneciam a base para a construção de um modelo que buscava a compreensão desta ação. Tomei-os então como centrais para explicar as diferentes denominações que a identidade assume.
Neste meio tempo conheci outros três autores: Erving Goffman, Peter Berger e Thomas Luckmann. O primeiro me chamou a atenção para o indivíduo e seu processo dramático ( e algumas vezes dramatúrgico) de interação com outros indivíduos, o que o leva a desempenhar diversos papéis, mas que não necessariamente significam sua identidade. Já Berger e Luckmann mostraram a construção dessa identidade que tem seu início através dos processos de interação. Além disso eles me levaram a um outro autor importante, Alfred Schutz, que me levou de volta à fenomenologia.