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Maiquel José Seleprin
Tipologia: Notas de estudo
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Maiquel José Seleprin^1 RESUMO No presente artigo apresentaremos a idéia de Paradigma de Thomas Kuhn e também a forma como Rubem Alves vê a questão do saber científico. Um texto que passa por toda história humana, desde as comunidades primitivas até a nossa atual sociedade, através de três paradigmas: o teocêntrico, o antropocêntrico e o holístico. Rubem Alves nos diz que a ciência é de uma grande rede, a qual pesca uma determinada espécie de peixes, deixando com que outras escapem, ou seja, a ciência consegue dar uma explicação convincente das coisas sensíveis do mundo, mas impossibilitada de responder e dar uma explicação convincente para outras. Cabendo assim, à filosofia e a religião tentar dar respostas mais apropriadas para essas outras questões. Palavras-chave : Paradigma. Teocêntrico. Antropocêntrico. Holístico. Ciência. Educação. INTRODUÇÃO Ao buscarmos uma definição para o termo Paradigma no dicionário encontraremos a seguinte definição: “modelo; protótipo”. Avançando mais e procurando uma visão mais simples, podemos dizer que paradigma é um modelo de pensamento, um conjunto de princípios, regras e padrões que são compartilhados por toda a comunidade mundial de uma determinada época. O primeiro autor a usar esse conceito foi Thomas Kuhn. Clodoaldo divide a história humana em três paradigmas principiais: Paradigma Teocêntrico, Paradigma Antropocêntrico e Paradigma Holístico. Em nosso texto abordaremos a questão dos paradigmas juntamente com a visão que Rubem Alves tem sobre o saber científico. O autor compara a ciência com uma rede de pesca, a qual quando jogada ao mar (^1) Graduado em Filosofia pela PUCPR.
apanha várias espécies de peixes, entretanto, alguns não são apanhados com esta rede, ou seja, a ciência é um saber que explica muitas e variadas coisas, uma explicação baseada na experiência empírica, mas não consegue dar respostas a todas as indagações do homem. Dessa maneira, a educação científica é algo indispensável para a nossa vida, mas não pode ser a única maneira de lermos a realidade.
Segundo Cardoso, na visão antropocêntrica de ver o mundo, o ser humano assume a responsabilidade por seu próprio destino colocando-se no centro da história e como protagonista na tarefa de adquirir o saber. As verdades reveladas ou provenientes de fontes escolástica já não são mais aceitas. O que havia dado por certo estava sendo contradito por fatos obtidos pela observação. É assim que o método de conhecimento que era baseado na autoridade, na tradição e na especulação torna-se caduco, dando espaço para um novo método científico cujo fundamento é racionalista-empirista. No antropocentrismo o homem é o construtor do próprio conhecimento, e como forma de se contrapor ao modelo anterior chega a afirmar que só pode ser verdadeiro o que faz parte do seu mundo físico e possa passar pelo método científico. Para Alves, existe um sério problema no paradigma vigente porque a ciência se impõe como absoluta. Esse critério acaba por entrar no meio acadêmico e escolar em geral. Ele deseja questionar os limites científicos pois estes fazem com que a educação não atinja seus objetivos de fazer o ser humano sonhar com o belo, com um paraíso terrestre, com uma utopia. E se o Brasil falhar na educação, falhará como nação pois: “O essencial, na vida de um país, é a educação” (ALVES, 2000, p. 23). Ele não sugere que os saberes atuais sejam abandonados. Longe disso. “Nossas escolas têm se dedicado a ensinar o conhecimento científico, e todos os esforços têm sido feitos para que isso aconteça de forma competente. Isso é muito bom. A ciência é um meio indispensável para que os sonhos sejam realizados” (ALVES, 2000, p. 26). Seu desejo é esclarecer seus limites e propor um modelo no qual a pessoa possa exercer suas outras capacidades lúdicas, criativas, artísticas. Mas há algo que a ciência não pode fazer. Ela não é capaz de fazer os homens desejarem plantar jardins. Ela não tem o poder de fazer sonhar. Não tem, portanto, poder de criar um povo. Porque o desejo não é engravidado pela verdade. A verdade não tem o poder de gerar sonhos. É a beleza que engravida o desejo. São os sonhos de beleza que têm poder de transformar indivíduos isolados num povo (ALVES, 2000, p. 26).
Na educação atual não há espaço para sonhos, para uma pesquisa voltada para os fatores qualitativos, somente para busca por informações quantitativas. “Os estômagos das vacas só digerem capim, com resultados magníficos para os seres humanos. É difícil pensar a vida humana sem a presença dos produtos que resultam dos processamentos digestivos dos estômagos das vacas sobre o capim” (ALVES, 2000, p. 89). Como atualmente se dá crédito somente ao conhecimento científico, define-se como inaceitável as outras formas de saber. A ciência, à semelhança das vacas, tem um estômago especializado que só é capaz de digerir um tipo de comida. Se eu oferecer à ciência uma comida não-apropriada ela a recusará e dirá: “Não é comida”. Ou, na linguagem que lhe é própria: “Isso não é científico”. Que é a mesma coisa. Quando se diz: “Isso não é científico” está-se dizendo que aquela comida não pode ser digerida pelo estômago da ciência (ALVES, 2000, p. 90). O conhecimento, a missão do homem é conhecer e dominar o mundo sensível. A partir de então já não era possível propor um sistema de valores absolutos. A ciência é produzida sob novas bases: a partir da experimentação (sensação) e da lógica (razão). Ao tratar do paradigma antropocêntrico, Clodoaldo se refere ao homem que assumiu uma nova tarefa histórica: instalar definitivamente seu império neste mundo junto a um novo modelo de pensar e de ser emergido de uma profunda crise. Podemos dizer que neste momento, o homem que se baseia sob uma convicção de sua racionalidade e a torna um deus, este comete um grave erro, pois, mesmo tendo elaborado o “confronto mais profundo das novas teorias com as verdades estabelecidas a partir do paradigma teocêntrico”, ele deve se ponderar pela busca da ciência até onde as suas redes alcançam, através do método zelando para que o mesmo não acabe se tornando um dogma científico. Ao analisarmos o seu texto podemos também dizer que por ser um paradigma de forte cunho racional, o antropocentrismo se pautou por querer “pescar” em suas redes aquilo que é real, que pode ser comprovado empirica e racionalmente. Para confrontar este ponto de
sua forma de relacionar-se com o mundo somente com a sua linguagem, sem sequer procurar estabelecer conexão com o mundo externo a ele. Um último ponto a ser levantado destaca a questão de o fato de o novo paradigma focalizar o homem, necessariamente, não pode deixar de considerar seus sentimentos, em vista de que ele se constitui de razão e emoção. Rubem Alves exemplifica isto diretamente na relação das pessoas com a casa em que elas habitam. ”As casas, assim, podem ser vistas por dois ângulos diferentes: a casa em si mesma, objeto físico, e a casa como espaço que faz algo às pessoas que moram nela” (ALVES, 2000, p. 118). Alves identifica um erro na arquitetura da construção das casas, ou seja, nem todas as casas podem ser iguais porque as pessoas mesmo não são, diferem de gosto, tamanho, espaço e outros elementos. Eis o que diz o escritor: Há algo errado na casa produzida em série, igual para todos, do tipo grã-fino ou casa de conjunto habitacional. Porque as pessoas são diferentes. (...). A alma humana não pode ser conhecida “em geral”, “cientificamente”. Cada pessoa é única (ALVES, 2000, p. 119) Podemos concluir o estudo deste paradigma, percebendo que dentro de suas qualidades, ele acentuou a pessoa humana, mas, por outro lado, fragmentou tanto a nossa realidade externa (interpessoal), quanto a realidade interna (psíquica). No plano existencial, a ética individualista e os valores materiais cimentam a civilização do ter.
“Isso não é cientifico” é um juízo que está estritamente ligado, hoje, ao que não é verdade. A ciência é a nova inquisição do mundo atual que outrora fora ocupada pela Igreja. Aquilo que não é carimbado pela ciência não merece atenção. Basta ver Auguste Comte: a ciência se tornaria na religião da humanidade; esta explicaria os efeitos, pois perguntar de onde viemos e para onde vamos são questionamentos dos estágios teológico e metafísico. A verdade está na ciência. Entretanto tal veracidade e grau de certeza fora abalado. Com a Teoria da Relatividade e a Física Quântica comprova-se que no campo subatômico reina a indeterminação. Há apenas fenômenos probabilísticos. O universo não é um relógio, mas um grande sistema em forma de holograma. É muito maior que se pensava. Usemos novamente a metáfora da rede. A ciência é uma rede que pesca alguns tipos de peixes. O fato de sua malha apenas capturar carpas não retira a existência de lambaris, traíras, joaninhas, etc. “Há os pianos. Há a música. Ambos são absolutamente diferentes. Os pianos moram no mundo das quantidades. Deles se dizem: Como são bem-feitos! A música mora no mundo das qualidades. Dela se diz: Como é bela!” (ALVES, 2000, p. 123). Embora se viva muito o paradigma newtoniano-cartesiano, estamos num período de mudança de olhar. A ciência normal do antigo paradigma admite falha fundamental e esse período é de crise, de incertezas e espantos. A ciência extraordinária parece ter sua rigidez, mas em muitos âmbitos da sociedade ela é desconhecida. Os caminhos que a ciência tomou devem ser revisados. Com problemas ecológicos, epistemológicos, políticos, sociais a ciência procura rever seus pressupostos. Necessita de novos olhos; de um novo paradigma capaz de responder as novas perguntas. Esse novo paradigma procura a totalidade das coisas onde os eventos não são separados, é uma teia de relações. Cada parte está num todo maior e há uma interdependência entre ambos. Dessa forma o homem não é o centro, mas um fio dessa grande teia. Ele não é só razão, mas também paixão, sentimento, sensação, espírito.
Atualmente, a pesquisa para ser aceita precisa atender a vários requisitos de cientificidade e somente dessa forma são publicadas em artigos internacionais indexados. Há que se abrir espaço para outros tipos de pesquisa que se utilize de outros métodos e outras abordagens, entre elas, a filosofia, religião e o homem com sua racionalidade e subjetividade. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2000. ______. Filosofia da ciência. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995. HUME , David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nacional, 1972.