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Um estudo sobre a utilização da música e da educação ambiental em atividades escolares no contexto de uma escola rural, com foco nos anos iniciais do ensino fundamental. O objetivo é verificar os efeitos dessa abordagem interdisciplinar na mudança de comportamento dos alunos, especialmente em relação à compreensão da complexidade da relação sociedade-ambiente. O documento aborda as teorias da educação ambiental e da teoria das representações sociais, além de descrever as atividades realizadas e os resultados obtidos.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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e-ISSN 2236-1308 DOI:10.5902/
Revista Monografias Ambientais - REMOA v. 14, 2015, p.03- EDIÇÃO ESPECIAL: PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE
- UNIPAMPA - SÃO GABRIEL – RS Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria
Music and environmental education in a Field School in the municipality of São Gabriel - RS: An interdisciplinary way of signifying the complex reality
(^1) Pós Graduanda – Especialização em Educação, Interdisciplinaridade e Transversalidade, UNIPAMPA, SG, RS, Brasil (^2) Pedagoga e Bióloga do Colégio Tiradentes da Brigada Militar de São Gabriel, SG, RS, Brasil. (^3) Oceanógrafo. Professor Doutor da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, SG, RS, Brasil
Resumo
O antropocentrismo (ser humano como centro do universo), fixado pelo paradigma cartesiano, carrega uma boa parcela de responsabilidade pela crise de percepção quanto ao meio ambiente, visto como objeto de uso, bem como, ao termo Educação Ambiental, entendida tão somente como educação ecológica. A educação possui suas bases apoiadas neste paradigma, o que acarreta na fragmentação das inter-relações de diversos campos do conhecimento. A interdisciplinaridade pode auxiliar na transformação de tal representação isolacionista, por provocar um intenso diálogo entre as áreas, com ações coletivas que visam o todo, entretanto, ainda há resistência em colocá-la em prática nas escolas, devido à complexidade de ser e trabalhar desta forma, tornando-se um desafio aos atores envolvidos por gerar mudanças de comportamentos, paradigmas e, consequentemente, no processo de ensino-aprendizagem. Diante do exposto, buscou-se utilizar a música e a Educação Ambiental, áreas interdisciplinares, em atividades do Macrocampo Acompanhamento Pedagógico do Programa Mais Educação, perpassando os conteúdos curriculares dos anos iniciais do ensino fundamental de uma Escola Rural chamada Escola Municipal de Ensino Fundamental Mascarenhas de Moraes – Polo de São Gabriel/RS, e posteriormente verificar os possíveis efeitos alcançados, através da utilização de uma abordagem qualitativa. Segundo os resultados, ficou evidente a mudança de comportamento e o aumento de interesse dos educandos. Este estudo reúne subsídios que dão embasamento à atuação de novas estratégias educacionais interdisciplinares que podem contribuir para o processo de ensino aprendizagem.
Palavras-chave : Ensino-aprendizagem, Interdisciplinaridade, Educação Ambiental, Escola Rural, Música.
Abstract
The anthropocentrism (human being as center of the universe), set by the Cartesian paradigm, carries a large share of respons ibility for the crisis of perception as to the environment, seen as object of use as well, the environmental education, understood only as education ecological. Education has its foundations supported this paradigm, resulting in the fragmentation of the interrelat ionships of various fields of knowledge. The Interdisciplinary can assist in transforming such isolationist representation, by provoking an intense dialogue between areas, with collective actions aimed at the whole, however, there is still resistance to put it into practice in schools because of the complexity of being and working in this way, making it a challenge to stakehol ders for generating behavior change, paradigms and hence the teaching-learning process. Given the above, we sought to use music and environmental education, interdisciplinary areas, in activities of the Macrocampo pedagogical monitoring in the Educational Program More education, passing between curricular contents of early years elementary school of a Rural School Municipal School called elementary school Mascarenhas
de Moraes - Polo of São Gabriel / RS, and then check the possible effects achieved through using a qualitative approach. According to the results, it became clear behavior change and the increased interest of students. This study brings together subsidies tha t give foundation to the performance of new interdisciplinary educational strategies tha t can contribute to the process of teaching and learning.
Keywords : Learning, teaching Interdisciplinary, Environmental Education, Rural School, Music.
1 Introdução
Um dos desafios que atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem enfrentam é compreender a realidade escolar de forma interdisciplinar e enxergá-la inserida em um contexto socioambiental que precisa ser levado em consideração neste processo. A educação possui suas bases apoiadas no paradigma cartesiano, tendo ele uma boa parcela de responsabilidade pela representação das relações entre áreas voltadas ao meio ambiente, à natureza e as demais áreas do conhecimento, como aquelas relacionadas ao artístico, social, sociocultural, ser de forma fragmentada. A fragmentação das conexões entre os diversos campos do conhecimento prejudica a compreensão da realidade complexa e, consequentemente, de ser e trabalhar de forma interdisciplinar. O antropocentrismo, ideal cartesiano que considera o ser humano centro do universo, gera uma crise de percepção quanto ao meio ambiente, entendido tão somente como objeto de uso. Grun (1996:44) complementa sobre a influência do modelo cartesiano na educação:
A autonomia do sujeito pensante, livre dos valores da cultura e da tradição, e sua independência do meio ambiente, constituem a própria base da educação e não uma possível deficiência. São como mitos da educação moderna. O cogito cartesiano é a própria base dessa educação. Tida como um ideal educacional por séculos, esta separação entre o sujeito conhecedor e o objeto [(meio ambiente)] precisa agora ser repensada (GRUN, 1996:44).
O paradigma cartesiano pode ser considerado um obstáculo para promover uma educação holística^1. Capra (1993, apud GRUN, 1996:64) faz a seguinte observação deste modelo:
Sistemas vivos incluem mais que organismos individuais e suas partes. Eles incluem sistemas sociais – família ou comunidade – e também ecossistemas. Muitos organismos estão não apenas inscritos em ecossistemas, mas são eles mesmos ecossistemas complexos, contendo organismos menores quem têm considerável autonomia e estão integrados harmoniosamente no todo. Todos esses organismos vivos são totalidades cuja estrutura específica surge das interações e interdependências de suas partes (GRUN, 1996:64).
O modelo civilizatório é caracterizado pelo desenvolvimento e uso da tecnologia, pelo cientificismo, pelo capitalismo e pelo excesso no consumo, um estilo de vida em que os bens naturais são tidos com potencial econômico e conhecidos como “recursos naturais”, sendo eles adaptados, comercializados e
(^1) Holístico – do radical grego holos: Significa totalidade. Considerar o todo levando em consideração as partes e suas inter-relações. Disponível em http://www.dicionarioinformal.com.br/hol%C3%ADstico/. Acesso em: 10 fev. 2014.
necessidade e com respeito ao tempo de aprendizado de cada criança, adolescente e jovem (TITTON et al., 2011:4).
Tais atividades realizadas na escola em questão, perduraram do mês de março ao mês de agosto de 2015, e ocorreram com estudantes dos anos iniciais, sendo que, nas terças-feiras, todos que estavam na escola participavam e, nas quartas-feiras, a presença era opcional. Conforme o programa, neste Macrocampo deve-se disponibilizar maior atenção àqueles educandos que apresentem defasagem série/idade em virtude de dificuldades de aprendizagem. Desta forma, optou-se pela formação de turmas multisseriadas, observando a faixa etária, com o intuito de incentivar o convívio e a cooperação entre os mesmos, como forma de motivá-los a aprender e a ensinar, cooperando com os colegas. Todas as atividades realizadas por este Macrocampo foram voltadas ao aprimoramento da conexão entre os saberes escolares e os saberes locais, articulando com atividades do turno regular e do contraturno, levando em consideração o conhecimento adquirido pelo educando nas atividades propostas, valorizando e incentivando sua participação. As atividades foram realizadas de forma lúdica e interdisciplinar, utilizando principalmente a Educação Ambiental como base fundamental deste processo e a música como ferramenta sensibilizadora e, sempre que possível, as atividades eram embasadas no interesse e na demanda dos educandos, perpassando os conteúdos curriculares. Para abordar este tema, fez-se necessário articular a pesquisa bibliográfica com a de campo, na perspectiva de uma pesquisa e análise qualitativa, que Malhotra (2006) conceitua sendo como uma “metodologia de pesquisa não-estruturada e exploratória, baseada em pequenas amostras que proporcionam percepções e compreensão do contexto do problema”, sendo aplicados questionários com perguntas abertas, que são aquelas que permitem liberdade ilimitada de respostas, podendo conter linguagens próprias dos respondentes, sem influência das respostas pré-estabelecidas pelo pesquisador, visto que o informante poderá escrever aquilo que lhe vier à mente. No total foram vinte e cinco questionários respondidos, sendo sete de pais, quatro de funcionários, sete de professoras e sete de estudantes. Com esta ferramenta qualitativa, buscou-se verificar a representação social da comunidade escolar em estudo e, para compreender o material coletado, utilizou-se da Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (1995:42), que define como:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...] destas mensagens (BARDIN, 1995:42).
3 Educação Ambiental, Música na Escola, Percepção e Representação Social
3.1 Educação Ambiental
O escopo da Educação Ambiental (EA) é fornecer ao ser humano conhecimentos básicos para a compreensão da complexa gama de conexões que regem o meio ambiente, tanto os aspectos bióticos e abióticos, físicos, químicos, biológicos, quanto os sociais, políticos, econômicos, culturais, etc. É um processo consecutivo e interligado de ações (teóricas, metodológicas e práticas) voltadas a todas as esferas da sociedade. Leff (1999) afirma que:
A educação ambiental interdisciplinar, entendida como a formação de habilidades para apreender a realidade complexa, foi reduzida à intenção de
incorporar uma consciência ecológica no currículo tradicional (LEFF, 1999: 119).
E ainda que: A educação ambiental foi reduzida a um processo geral de conscientização cidadã, à incorporação de conteúdos ecológicos e ao fracionamento do saber ambiental a uma capacitação aligeirada sobre problemas pontuais, nos quais a complexidade do conceito de ambiente foi reduzido e mutilado (...) (LEFF, 1999:125).
A EA tornou-se importante por discutir conflitos existentes entre questões sociais e ambientais e pela preocupação quanto aos problemas acarretados pelo uso inadequado dos “recursos naturais”. O ato de educar, baseado em preceitos ambientais, trata-se de levar o ser humano a confrontar e a questionar criticamente os diversos valores impostos pela cultura dominante, tornando-se não objeto da prática educativa, e sim, sujeito ativo (GUIMARÃES, 1995:31). Leff (1999:113) afirma ainda que “a emergência da questão ambiental como problema do desenvolvimento e a interdisciplinaridade como método para um conhecimento integrado são respostas complementares à crise da racionalidade da modernidade”. Tendo em vista que muitas ações humanas são predatórias, torna-se imprescindível buscar novas metodologias para minimizar os impactos negativos, e isto interfere principalmente em muitos processos industriais que causam danos ao meio ambiente. Se a ciência e a tecnologia voltarem-se ao sustentável, vão confrontar-se com a complexidade que é o meio ambiente, e terão de alterar suas bases para terem condições de resolver perturbações ambientais complexas, como as diferentes formas de poluição que estão relacionadas ao impacto incitado pela fome e pela miséria. A problemática ambiental é o reflexo das inter-relações sociedade-ambiente, e devido a isso, seu conhecimento carece de uma abordagem holística e um método interdisciplinar que permitam a conexão das ciências da natureza e da sociedade; do âmbito ideal e do material, da economia, da tecnologia e da cultura (LEFF, 2000:20). Diante desta afirmativa, pode-se verificar a preocupação quanto à crise instalada pelo modelo civilizatório, que mantém valores e paradigmas nem sempre favoráveis a todas as classes e ao meio ambiente; percebe-se aí a necessidade da EA, que carrega em sua essência a mudança de comportamento perante tais valores, bem como, de novas metodologias que incitem a compreensão da complexidade dos processos socioambientais e a sensibilização dos atores sociais em se enxergar fazendo parte e influenciando tais processos.
3.2 Música na Escola
Nos últimos anos, muitas pesquisas surgiram com o intuito de verificar como se dá o processamento musical no cérebro humano. Tal processamento abrange uma série de regiões cerebrais que se correlacionam com a percepção de ritmos, timbres, alturas, melodias, harmonias, e ao mesmo tempo, com a percepção de prazer e de recompensa (MUSZKAT, 2000:70-75). O referido autor afirma que:
A música não apenas é processada no cérebro, mas afeta seu funcionamento. As alterações fisiológicas com a exposição à música são múltiplas e vão desde a modulação neurovegetativa dos padrões de variabilidade dos ritmos endógenos da frequência cardíaca, dos ritmos respiratórios, dos ritmos elétricos cerebrais, dos ciclos circadianos de sono-vigília, até a produção de vários neurotransmissores ligados à recompensa e ao prazer e ao sistema de neuromodulação da dor. Treinamento musical e exposição prolongada à música considerada prazerosa aumentam a produção de neurotrofinas produzidas em nosso cérebro em situações de desafio, podendo determinar
e respeitá-los em sua criação, suas peculiaridades de qualquer natureza, suas raízes culturais, étnicas ou religiosas. (BRASIL, 1998:190)
Acredita-se que os estímulos sonoros reverberados pela música, poderão auxiliar o educando a desenvolver disposições e aptidões que não se restringem apenas ao domínio da educação musical, pois através da prática ou somente pelo contato com a música, várias regiões cerebrais de ambos os hemisférios são ativadas, levando o educando a apreender e a organizar seus pensamentos e ideias e, a partir do conhecimento de novas informações, aprimorar o saber adquirido, fixá-lo ou reconstruí-lo.
3.3 Percepção
A percepção é um processo psicofisiológico através do qual o sujeito seleciona, organiza e interpreta os estímulos oferecidos pelo meio e os registram no cérebro, permitindo assim, identificar objetos e acontecimentos significativos. Trata-se de um processo que se dá pelos órgãos de sentido. Kant (apud MARTIN, 1999:35) define a percepção com a formulação da seguinte frase: “nós não enxergamos as coisas como elas são e sim como nós somos”. Pode-se dizer, então, que no processo de ensino- aprendizagem, ao se trabalhar qualquer conteúdo com o educando, a percepção destes estímulos estará embasada no contexto social onde ele está inserido, e que o auxiliou a construir sua bagagem de conhecimentos. Maia (2012:95) afirma que:
a percepção depende dos estímulos externos que agem sobre os sentidos através do sistema nervoso, recebendo uma resposta que parte do cérebro, voltando a percorrer o sistema nervoso e chegando aos sentidos sob a forma de uma sensação, tais como um sabor, um odor, um cheiro, ou de uma associação de sensações, caracterizando uma percepção, como ver uma janela azul ou [ouvir uma música] (MAIA, 2012:95).
O autor supramencionado certifica que “a sensação é pontual e independente. A integração das sensações é realizada pela percepção a qual as unifica e organiza-as em uma síntese”. Para Porchat (2005:76), a percepção de tais estímulos externos, podendo ser objetos, imagens, sons, etc., quando provocados, pode vir a se tornar uma representação dos mesmos através da comunicação.
3.4 Representação Social
Um dos grandes desafios para os estudiosos das ciências sociais é entender como o ser humano se relaciona e interpreta a realidade a sua volta em sua infinita busca de respostas, como ele apreende, distribui e assimila as várias explicações que lhe são fornecidas a fim de esclarecer suas dúvidas. Muitas explicações que são dadas aos questionamentos estão baseadas nas teorias do conhecimento científico e nas teorias do senso comum. O conhecimento baseado no senso comum se diferencia do conhecimento científico, tendo em vista este fundamentar-se na teoria científica que possui uma forte ligação com a pesquisa e tem um caráter provisório, ou seja, passível de mudanças. O senso comum, não se contrapondo ao conhecimento científico, se baseia no saber popular, ou seja, no pensamento que é recorrente à maioria, aquele que é passado de “um a um”, e foi com relação a este tipo de conhecimento, que Serge Moscovici construiu a Teoria das Representações Sociais (TRS) (SANTOS; ALMEIDA, 2005:20). Serge Moscovici estudou Psicologia na França em 1948, onde pesquisou e divulgou a Psicanálise e, em 1961, finalizou sua tese Psychanalyse Son Image, Son Public, propondo a TRS que remete ao conceito de representação coletiva do sociólogo alemão Émile Durkhein. Conforme menciona Santos (2010:2), Moscovici demonstra, em sua obra, os resultados de sua observação, nela procura compreender como a ciência da psicanálise, ao sair através da comunicação dos meios especializados no tema, ganha um
outro conhecimento dentro dos grupos populares, ou seja, quando se tornava um conhecimento do senso comum. De acordo com Santos e Almeida (2005:22) a TRS não estuda qualquer tipo de conhecimento do senso comum:
[...] mas a uma forma de conhecimento compartilhado, articulado que se constitui em uma teoria leiga a respeito de determinados objetos sociais. Por sua vez, falar na teoria das representações sociais é referir-se a um modelo teórico, um conhecimento científico que visa compreender e explicar a construção desse conhecimento leigo, dessas teorias do senso comum (SANTOS;ALMEIDA, 2005:22).
Conforme Jodelet, (2001:8) a Representação Social (RS) pode ser qualificada como sendo: “uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, que tem um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Sêga (2000:129) afirma que, para Jodelet, a TRS têm cinco divisões, sendo elas:
a) é sempre representação de um objeto; b) tem sempre um caráter imagético e a propriedade de deixar intercambiáveis a sensação e a ideia, a percepção e o conceito; c) tem um caráter simbólico e significante; d) tem um caráter construtivo; e) tem um caráter autônomo e criativo (SÊGA, 2000:129).
O conhecimento do senso comum é elaborado a partir de dois processos: ancoragem e objetivação. A ancoragem ocorre com a comparação de algum novo objeto ou ideia, a uma série de conhecimentos já existentes na bagagem de informações, ou seja, conhecimentos já familiarizados, e acabam adquirindo as propriedades desta categoria. Em síntese, o processo de ancoragem é adaptar algo estranho a um conjunto já familiar, através de simplificações ou até mesmo distorções, a fim de tornar confortável a prática de lidar com um novo conhecimento. Já a objetivação trata da materialização do que é abstrato, este processo, pode ser dividido em duas fases, sendo elas, a materialização figurativa das abstrações, como os sentimentos ou ideias. Além da materialização figurativa, a objetivação assume uma materialidade quanto ao senso comum. Sucessivamente as RSs são inventadas e reinventadas, formando novos significados embasados em uma listagem pré-existente dos elementos, sendo que estes se tratam de uma miscigenação entre tradição e a inovação. Baseados nos conhecimentos do senso comum, os conhecimentos científicos são apreendidos e remodelados pelo ser humano, formando um conhecimento leigo e voltado para seus questionamentos sociais. Desta forma, através de um instrumento de pesquisa qualitativa, buscou-se coletar as representações sociais da comunidade escolar em estudo, quanto aos possíveis efeitos alcançados a partir das atividades realizadas no Macrocampo Acompanhamento Pedagógico do Programa Federal Mais Educação, implementado na escola.
4 Resultados e Discussões
Trabalhar por uma educação ou reeducação, visando a pedagogia da complexidade, implica na valorização da sensibilidade, da criatividade, da criticidade e do pensamento reflexivo em busca da ética e de mudanças de condutas isolacionistas e utilitaristas. Esta é a base fundamental da Educação Ambiental, no entanto, colocá-la em prática ainda é um desafio para diversos atores envolvidos no processo educativo. A Escola Muncipal de Ensino Fundamental Mascarenhas de Moraes – Polo, na qual foi realizada esta pesquisa, está localizada no interior do município de São Gabriel, Rio Grande do Sul, mais
Outro exemplo de atividade realizada na Escola foi uma complementação sobre o tema fotossíntese. Após trabalhar conceitos básicos sobre o processo da fotossíntese, com a utilização de vídeos e documentários, buscou-se elaborar um painel confeccionado pelos educandos, a partir da coleta de restos de folhas (o que já havia feito fotossíntese) e resíduos secos (lixo) encontrados na escola, para posteriormente realizarem uma análise e comparação do resultado (Figura 2). Nesta atividade pode-se perpassar temas referentes à Ciências e respeito à Escola e seu entorno.
Figura 2: Trabalho desenvolvido pelos alunos do 4º e 5º anos da Escola
Em outra oportunidade, trabalhou-se com músicas em Espanhol, uma delas chamada “Rie Chinito” (Dolo e Maju), gravada pelo Grupo Perotá Chingó, em que os educandos ouviram-na com os olhos fechados, e após, representaram seus sentimentos e quais imagens foram surgiram em sua mente, para posteriormente, traduzi-la e realizar uma comparação entre as representações manifestadas. Outra música foi uma composição gravada por Mercedes Sosa chamada “Todo Cambia” (Julio Numhauser).
Figura 3: Atividade realizada com educandos do 2º ano
A primeira música carrega informações que auxiliaram os educandos a lembrarem de montanhas e vulcões, demonstrando uma forte demanda pelo assunto, também, devido ao vulcão Calbuco, localizado no Chile, que havia entrado em erupção na semana em que as atividades estavam sendo realizadas. Este tema foi trabalhado, também, e diversas problemáticas foram feitas a respeito, como a sua localização, como formam-se montanhas e vulcões, do que a lava é composta e, ainda, sobre os dinossauros e a respeito da evolução. Diante da demanda sobre o tema, uma das aulas foi dedicada aos fósseis de dinossauros encontrados na região onde está localizada a Escola, o Tiarajudens excentricus e o Pampaphoneus biccai , bem como aqueles fósseis encontrados na região central do Rio Grande do Sul. Através da análise de conteúdo coletado nas entrevistas, constatou-se o interesse dos estudantes quanto às temáticas mencionadas acima, pois dentre as treze ideias relacionadas às atividades que mais haviam gostado, foi a que apresentou maior frequência (4 citações), podendo ser confirmada a partir da descrição das ideias de alguns estudantes e pais:
Eu acho que deveria dar mais coisas de Dinossauros.
Ter aulas de ciências e de dinossauros.
A atividade que eu mais gosto é de ciências, Espanhol e sobre os dinossauros.
Eles falam sobre aula de dinossauro.
Durante algumas aulas, percebeu-se manifestações homofóbicas, motivando um novo debate e o planejamento de uma aula baseada na diversidade sociocultural, com vídeos que abordam sobre este e outros temas, como a tolerância e a inclusão social. A proposta inicial foi de compreender sobre a “História do Funk”, abordadando a história e as influências socioculturais de outros países neste gênero musical, que é apreciado por alguns estudantes da Escola, principalmente do 4º e 5º anos. Nesta atividade, a EA deu todo o embasamento às discussões que surgiram durante a aula, visto que tratavam- se de temas que relacionavam as diferenças e as causas da crise social existente, ao proporcionar o contexto em que algumas letras de músicas deste gênero foram compostas, além de levar outras músicas
Pode-se perceber que os efeitos atingidos pelas atividades realizadas no Macrocampo Acompanhamento Pedagógico, não se restringiram tão somente à melhoria intelectual dos estudantes, pois verifica-se, através dos relatos abaixo, que também influenciaram no relacionamento interpessoal, aumentando a interação e aproximação com a família e com os colegas.
Os alunos certamente adquiriram o hábito de interação com os demais, melhorando consideravelmente a socialização na comunidade escolar.
Como a minha turma sempre foi muito agitada, deu para perceber que eles estão bem mais calmos, mais interessados pelas aulas, estão mais participativos.
Eles passaram a se respeitar mais, houve mais aproximação entre eles.
Eles estão mais atentos e o raciocínio bem mais rápido.
[...] Pode notar que eles superaram algumas dificuldades que eles apresentavam e o interesse nas aulas aumentou.
O rendimento melhorou, os alunos estão mais atentos ao fazer análise e interpretação de textos.
A disciplina melhorou.
Melhorou a interatividade e o convívio social.
Estão almoçando mais.
A partir da análise de conteúdo das ideias manifestadas pelos voluntários da comunidade escolar, percebeu-se que 3 manifestações de ideias foram contrárias das demais, afirmando não ter notado mudanças no comportamento dos estudantes, sendo que uma destas citações, é de uma das 7 professoras da Escola, que afirmaram terem notado aumento no rendimento escolar (5 citações) e no interesse pelos estudos (4 citações), conforme já mencionado acima. Verifica-se que de 8 ideias a respeito das aulas realizadas no Macrocampo, 7 foram consideradas avaliações positivas, ocorrendo maior frequência daquelas referentes às aulas terem sido muito boas, bem como, àquelas ideias que indicaram que os respondentes gostaram das aulas e que não tinham o interesse de mudá-las em nada. Algumas destas representações são também, de pais, mães e responsáveis, que foram relatadas a partir de comentários dos próprios educandos, demonstrando aumento na aproximação destes com seus familiares. Pode-se perceber também, a demanda dos educandos quanto às atividades relacionadas à música, Espanhol, ciência e de brincadeiras no geral, estas representações foram motivadas devido às aulas trabalhadas com eles, pois muitas vezes, a música deu embasamento para diversos diálogos e atividades realizadas em sala de aula, seja a respeito do próprio idioma em espanhol ou através de traduções para o português, sendo que, na oportunidade, regras ortográficas eram inseridas e trabalhadas através de jogos e brincadeias. Os aspectos científicos também foram trabalhados através da música, como exemplo, a canção chamada “Eu sou do Sul”, já relatada neste trabalho. As representações quanto às categorias “aulas da Professora Cibele” e “Professora Cibele”, carregam informações consideradas positivas, afirmando haver respeito dos educandos com a Professora, apresentando a mesma frequência. As ideias relacionadas ao aprender e fazer coisas boas, bem como, aquelas referentes a gostar da aula da Professora, também tiveram a mesma frequência, sendo que, a categoria “Professora Cibele”, teve 6 ideias também consideradas positivas.
Muitas ideias manifestadas pelos respondentes, tiveram correlações umas com as outras, sejam entre professores e funcionários, funcionários e pais, pais e professores, com respostas similares a respeito das mudanças de comportamento percebidas nos estudantes. Estas representações demonstram a eficácia de trabalhar de forma interdisciplinar, sendo que, neste trabalho, a Música e a Educação Ambiental deram todo o embasamento das ações realizadas no Macrocampo Acompanhamento Pedagógico.
5 Considerações Finais
O ato de educar exige do educador imparcialidade, superação e quebra de paradigmas e valores e, muitas vezes, isso requer compreender novos conhecimentos e metodologias que exijam deste profissional um maior empenho ao desenvolver suas atividades em sala de aula. Neste trabalho, a Educação Ambiental e a Música foram tidas como base das ações realizadas em aula e, de forma interdisciplinar, estiveram presentes em diversas atividades realizadas com os educandos, ao perpassarem os conteúdos curriculares trabalhados pelas educadoras da escola. Através da Educação Ambiental objetivou-se auxiliar os educandos a desenvolverem comportamentos críticos perante várias culturas impostas pelo modelo civilizatório contemporâneo e, ao mesmo tempo, compreender a complexa gama de relações existentes no meio ambiente onde o ser humano está inserido, entendendo que sempre haverá consequências em suas ações. A Música esteve presente em diversas situações como ponto de convergência entre vários temas e ao mesmo tempo, através da sensibilização, auxiliou o educando no processo de assimilação de novas informações, visto que os códigos musicais ao ativarem ambos os hemiférios cerebrais, tornaram os neurônios receptivos a adquirirem novos conhecimentos de outros órgãos dos sentidos. Os efeitos das atividades e ações do Macrocampo Acompanhamento Pedagógico, realizadas nos anos iniciais do ensino fundamental, refletiram em mudanças significativas no comportamento dos educandos, que se traduziram em práticas pessoais no dia a dia, como no rendimento escolar e no aumento da socialização entre eles e os demais agentes envolvidos. Torna-se visível a necessidade de ações que estejam voltadas à forma lúdica de ensinar, bem como, da utilização de metodologias inovadoras que busquem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, auxiliando o educando, não somente a compreender teorias e conteúdos em sala de aula, como se fosse o produto final do processo educativo, mas também, como utilizá-las em seu contexto social.
6 Referências
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995.
BRASIL.. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente/saúde. Brasília: Secretaria de Educação Ambiental, 1998.
GRUN, M. Ética e educação ambiental: A conexão necessária / Mauro Grun. – Campinas, SP: Papirus,
GUIMARÃES, M. A dimensão Ambiental na Educação. 2 ed. São Paulo: Papirus, 2007.
JODELET, D. (org.), As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2001.
LEFF, E. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável_._ In : REIGOTA, M. (org.). Verde cotidiano : o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.